49. CONSEGUIU LUTERO SEU OBJETIVO?
É escusado dizer que nesta doutrina ímpia e absurda Lutero não podia encontrar a paz que almejava para o seu espírito atribulado. Depois do rompimento com a Igreja, continua seu drama interior: remorsos, tentações, inquietações e crises violentas. Ele acusa o demônio como o responsável por tudo isto. E, por mais estranho que pareça, ele aponta, como um dos remédios para estas perturbações interiores, os acessos de cólera contra os seus opositores. "Isto, diz ele, refresca a minha prece, aguça o meu espírito e expulsa todos os pensamentos de desânimo e todas as dúvidas" (Walch XXII-1237).
Além disto, a sua doutrina com que forjou para si uma consolação diabólica, apoiando-se na cega confiança em Cristo para se ver tranquilamente livre de todas as leis, trazia uma consequência capaz de lançar muitas almas no desespero.
Calvino irá ensinar a sua doutrina de que Deus predestina uns para o Céu e outros para o inferno, por um decreto irrevogável que o próprio Calvino chama DECRETO HORRÍVEL (Instituição Cristã III-23). Lutero não usa esta expressão "predestinação para o inferno", mas isto já está contido claramente na sua doutrina sobre o arbítrio escravo, em que nos mostra Deus jogando com as criaturas a seu bel-prazer, operando nelas o bem e o mal, encaminhando-as inelutavelmente para o Céu ou para a perdição. E quando se lhe apresentam os textos da Escritura em que se diz que Deus quer a salvação de todos, ou que não quer a morte do pecador e sim que se converta e viva, Lutero, do mesmo modo que Calvino, faz a distinção entre a vontade de Deus REVELADA e a sua vontade OCULTA. A vontade revelada é a que Deus nos quer fazer crer nas Escrituras; mas a sua vontade oculta é que muitos se percam e que não haja senão um certo número de eleitos no Céu. Distinção, é claro, perfeitamente absurda (nº 215 como mais tarde veremos).
No seu livro "O arbítrio Escravo", diz que Erasmo no Livro "Diatribe" mostra ignorância, porque não distingue "entre o Deus revelado e o Deus oculto, isto é, entre a palavra de Deus e o próprio Deus. Deus faz muitas coisas que não nos mostra na sua palavra. Quer muitas coisas que pela sua palavra não nos mostra querer. Assim não quer a morte, isto é, na palavra; mas quer por aquela sua vontade imperscrutável. É bastante conhecer apenas que existe em Deus uma certa vontade imperscrutável. O que quer esta vontade, por que quer, até onde quer, a nós não é lícito investigar, desejar, procurar ou tocar, mas somente temer e adorar" (Arbítrio Escravo I. c. 730).
Mas como é isto? - perguntamos. Deus vai condenar pessoas sem culpa alguma, uma vez que estas pessoas não são livres nas suas ações? Lutero responde que o valor da nossa fé está precisamente nisto: em achar Deus justo, ou Ele coroe indignos, ou condene inocentes. Diz ele: " - Mas quando condena inocentes, porque isto não agrada, se considera iníquo e intolerável, aqui se reclama, aqui se murmura, aqui se blasfema... Ora, se te agrada Deus coroando os indignos, não te deve desagradar Deus condenando os inocentes. Se Ele é justo de uma forma, por que não será de outra? Aqui espalha graça e misericórdia nos indignos, ali espalha ira e severidade nos inocentes; em ambos os casos pode ser iníquo e exagerado aos olhos dos homens, mas é justo e veraz em si mesmo. Como é justo que Ele coroe os indignos, é incompreensível agora; veremos, porém, quando chegarmos ali onde já não se crê, mas se vê face a face. Como é justo que Ele condene os inocentes, é incompreensível agora; contudo se crê, até que seja revelado o Filho do Homem" (Arbítrio Escravo ibidem I. c. 730 segs).
Aí se apresenta naturalmente uma objeção, e esta Lutero faz a si próprio: se Deus tudo pode, e Ele é quem faz tudo em nós, o bem e o mal (porque é o Único Ser Livre), por que motivo não transforma esta natureza totalmente corrompida do homem, por que motivo não encaminha sempre as nossas ações para o bem e para o Céu? A resposta de Lutero é esta: "É segredo de Sua Majestade" (Weimar XVIII-712).
Para Lutero, Deus "é bom fazendo o mal" (Weimar XVIII p. 709), assim como o homem é mau fazendo o bem.
Não há doutrina mais adequada do que esta para lançar as almas no desespero. De modo que a Lutero que procurou, fosse como fosse, a certeza da salvação PARA SI, pouco se lhe dá que muitos outros... o diabo os carregue para o inferno... e, o que é pior ainda, sem nenhuma culpa dessas pessoas, pois não gozam de livre arbítrio. Para isto ele não foi sentimental...
No seu livro "O arbítrio Escravo", diz que Erasmo no Livro "Diatribe" mostra ignorância, porque não distingue "entre o Deus revelado e o Deus oculto, isto é, entre a palavra de Deus e o próprio Deus. Deus faz muitas coisas que não nos mostra na sua palavra. Quer muitas coisas que pela sua palavra não nos mostra querer. Assim não quer a morte, isto é, na palavra; mas quer por aquela sua vontade imperscrutável. É bastante conhecer apenas que existe em Deus uma certa vontade imperscrutável. O que quer esta vontade, por que quer, até onde quer, a nós não é lícito investigar, desejar, procurar ou tocar, mas somente temer e adorar" (Arbítrio Escravo I. c. 730).
Mas como é isto? - perguntamos. Deus vai condenar pessoas sem culpa alguma, uma vez que estas pessoas não são livres nas suas ações? Lutero responde que o valor da nossa fé está precisamente nisto: em achar Deus justo, ou Ele coroe indignos, ou condene inocentes. Diz ele: " - Mas quando condena inocentes, porque isto não agrada, se considera iníquo e intolerável, aqui se reclama, aqui se murmura, aqui se blasfema... Ora, se te agrada Deus coroando os indignos, não te deve desagradar Deus condenando os inocentes. Se Ele é justo de uma forma, por que não será de outra? Aqui espalha graça e misericórdia nos indignos, ali espalha ira e severidade nos inocentes; em ambos os casos pode ser iníquo e exagerado aos olhos dos homens, mas é justo e veraz em si mesmo. Como é justo que Ele coroe os indignos, é incompreensível agora; veremos, porém, quando chegarmos ali onde já não se crê, mas se vê face a face. Como é justo que Ele condene os inocentes, é incompreensível agora; contudo se crê, até que seja revelado o Filho do Homem" (Arbítrio Escravo ibidem I. c. 730 segs).
Aí se apresenta naturalmente uma objeção, e esta Lutero faz a si próprio: se Deus tudo pode, e Ele é quem faz tudo em nós, o bem e o mal (porque é o Único Ser Livre), por que motivo não transforma esta natureza totalmente corrompida do homem, por que motivo não encaminha sempre as nossas ações para o bem e para o Céu? A resposta de Lutero é esta: "É segredo de Sua Majestade" (Weimar XVIII-712).
Para Lutero, Deus "é bom fazendo o mal" (Weimar XVIII p. 709), assim como o homem é mau fazendo o bem.
Não há doutrina mais adequada do que esta para lançar as almas no desespero. De modo que a Lutero que procurou, fosse como fosse, a certeza da salvação PARA SI, pouco se lhe dá que muitos outros... o diabo os carregue para o inferno... e, o que é pior ainda, sem nenhuma culpa dessas pessoas, pois não gozam de livre arbítrio. Para isto ele não foi sentimental...
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