quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ARIO E SUA DOUTRINA

Por São João Bosco  -  Compêndio de História Eclesiástica


  "Nosso Divino Salvador nos deixou dito no Evangelho, que sua Igreja sempre seria perseguida, e que o inferno poria em campo todas as suas más artes para destruí-la, nunca, porém, poderia prevalecer contra ela. Os três primeiros séculos foram tempos de perseguições, de sangue e de estragos; mas a fé de Jesus Cristo passou gloriosa e triunfante por entre esses desastres. À perseguição seguiu-se o triunfo e a paz, mas assim que pôde respirar a Igreja, ao cessarem as perseguições, acometeram-na ferozmente a heresia e o cisma, especialmente por meio de um sacerdote de Alexandria chamado Ario. Era Ario homem ambicioso que se achava disposto a cometer qualquer crime para satisfazer sua vaidade. Teve o atrevimento de pregar contra a divindade de Jesus Cristo afirmando que o Filho de Deus não é igual ao Pai, mas sim criatura sua. Esta doutrina foi desprezada no mesmo instante com o horror que merecia, ouvindo-se reprovar em todas as partes essas impiedades e blasfêmias. Bispos e doutores se levantaram contra Ario com a voz e com escritos; encontrou não obstante partidários enganados por sua hipocrisia, e conseguiu perturbar a Igreja em todas as partes. 

  CONCÍLIO DE NICEIA.  - "Conhecendo o imperador os progressos da nova heresia, concordou com o Papa São Silvestre, em opôr-se a ela, convocando um Concílio Ecumênico, isto é, uma reunião geral dos bispos. Nesse ínterim ordenou a todos os governadores de províncias que os provessem de todo o necessário para a viagem. O Pontífice consentiu de bom grado e resolveu que o Concílio se reunisse em Niceia, cidade principal de Bitínia. Abriu-se o Concílio no ano 325 e achavam-se presentes 318 bispos. O Papa, não podendo ir pessoalmente, mandou para o representar a Ósio, Bispo de Córdova, e dois sacerdotes romanos chamados Vito e Vicente. Eram, pois, eles os legados do Papa, que deviam presidir em seu nome ao Concílio. Foi uma reunião imponente, nunca vista e impossível de se descrever: parte dos prelados que a compunham distinguia-se já por doutrina, santidade e milagres, e muitos deles traziam as cicatrizes dos tormentos que tinham sofrido na última perseguição. No dia em que devia inaugurar o Concílio, reuniram-se todos os bispos em uma grande sala. Constantino, como sinal de repeito aos que se achavam presentes, quis entrar por último, e não quis tomar assento até que o tivessem feito os demais. Tomou parte no Concílio, não como juiz, senão como protetor dos bispos e para impedir que os hereges causassem turbulências.
  Ario, que também tinha sido admitido, atreveu-se a sustentar jactosamente sua blasfêmia em presença do Concílio. Horrorizaram-se os Padres, e com argumentos tirados dos Livros Sagrados e da Tradição, provaram e definiram que Jesus Cristo é igual ao Pai e verdadeiro Deus, e que tem a mesma substância e a mesma natureza que o Pai. Para exprimir este dogma, empregaram os católicos a palavra consubstancial. Ósio, como presidente do Concílio e legado do Vigário de Jesus Cristo compôs uma profissão de fé conhecida sob o nome de Símbolo de Niceia. Os bispos pronunciaram anátema contra Ario, e o imperador apoiou o juízo dogmático da Igreja com a força do braço secular, desterrando o herege e seus partidários. Tal foi a conclusão desta célebre reunião, cuja memória sempre será venerada pelos católicos, por ter constituído o primeiro Concílio Geral da Igreja. 

Continua no próximo post.

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