"Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o coração, e a teu
próximo como a ti mesmo" (S. Luc. X, 27 e 28). Jesus disse que estes dois
mandamentos contêm toda a Lei e os profetas (Cf. S. Mat. XXII, 40). Portanto,
todos os nossos deveres se resumem no amor de Deus e do próximo. Cumprindo-os,
portanto, conseguiremos a vida eterna. Na verdade, a vontade, guiada pelo amor,
não quererá senão o bem. O amor de Deus é o princípio do amor ao próximo.
Quando uma alma possui a verdadeira caridade, é sinal de que está em paz com
Deus: "Sabemos que passamos da morte
para a vida, porque amamos os nossos irmãos" (1 S.João III, 14).
Dizia S. Paulo aos Coríntios: "Não
passais, na vida espiritual, de criancinhas, que só podem alimentar com leite;
sois ainda muito carnais, já que existem entre vós inveja e discórdias" (1
Cor. III, 1-3).
Há duas espécies de amor do próximo: o natural e o
sobrenatural. É natural, por exemplo, ao homem amar sua família, seus amigos,
seus semelhantes. Disse um autor pagão: "Sou homem e nada do que é humano
me pode ser indiferente". Assim, instintivamente nos compadecemos dos que
sofrem e procuramos oferecer-lhes nossos préstimos. Naturalmente temos prazer
em fazer alguém feliz. Dizia o pagão Virgílio, grande escritor latino:
"Haut ignara mali miseris succurrere disco"; em Português:
"Conhecendo a desgraça, sei prestar auxílio aos desgraçados". Este
sentimento, embora, puramente natural, é obra de Deus e por conseguinte não
podemos desprezá-lo. A inclinação de
fazer bem ao próximo foi colocada na alma humana por Deus. E nos planos
divinos, esse amor natural deve servir de começo para o amor sobrenatural, porque
a graça sobrenatural não destrói a natureza feita por Deus, mas, pelo
contrário, a supõe. A lei de Moisés já rezava: "Amarás o teu próximo como
a ti mesmo" (Levítico XIX, 18).
Mas, caríssimos, nossa natureza foi vulnerada pelo pecado
original. Daí necessitamos daquela recomendação feita por Tobias a seu filho: "Não faças a outrem aquilo que não
queiras que te façam" (Tobias XVI). Como já dissemos, se o homem traz
em si uma inclinação para querer bem ao próximo, por outro lado, é levado,
quase que sem perceber, a colocar-se acima do próximo, a achar-se que merece
atenções que ele mesmo não emprega em relação aos seus semelhantes. Daí, de um
lado, é-lhe agradável fazer o bem, de outro, custa-lhe ser contrariado. E como
os interesses dos homens, às vezes, são opostos, isto é, o que constitui a
felicidade de um, causa tristeza a outro, as vontades de um e outro se opõem.
De tudo isto devemos concluir, que, para haver caridade é
mister renúncia de si mesmo. Não podemos ceder ao amor próprio um tanto
excessivo, porque ele leva o homem a ter invejas e aversões. Daí, os corações
apaixonados por si mesmos, são mesquinhos e amam poucas pessoas, e mesmo assim,
levados pelo mesmo amor de si mesmos. Na verdade, gostam daqueles que têm os
mesmos defeitos, daqueles que lhe são simpáticos ou que os lisonjeiam. Por
outro lado, criticam os que não
concordam com eles.
Devemos dizer que assim como existe um amor de Deus perfeito
e outro imperfeito, assim também existe um amor do próximo que podemos chamar
de perfeito, e existe o amor do próximo que é imperfeito.
O egoísmo é a fonte do amor imperfeito ao
próximo. É ele que causa a maior parte das faltas contra a caridade. A Lei
mosaica contentou-se com "amar o próximo como a nós mesmos", mas o
Coração de Jesus fez e quis que fizéssemos muito mais: "Eu vos dou um novo
mandamento, é que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei" Jesus quer
que nos amemos, porque somos filhos de Deus. S. Paulo dizia aos Filipenses: "Trago-vos todos em meu coração, eu vos
amo com o coração de Cristo" (Filip. I, 8).
O perfeito amor do próximo vem de uma fé viva, perfeita. O
Divino Espírito Santo se compraz em dar esta virtude da caridade perfeita
também àqueles que são generosos e se esforçam em imitar a Jesus. E também cada
sacrifício feito em favor do próximo aumenta-lhes a caridade. Assim,
caríssimos, devemos esforçar-nos para obter esta caridade perfeita e já a tendo
adquirido, tomarmos todo cuidado em evitar tudo que possa diminuí-la. Devemos,
portanto, ter em nós os mesmos sentimentos do Coração de Jesus.
"O meu
mandamento, disse Jesus, é que vos ameis uns aos outros como eu vos amei" e
acrescenta: "Sereis meus amigos se
fizerdes o que eu vos ordeno". Que felicidade ser amigo do próximo e ser
assim amigo de Jesus! Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário