Com a graça de Deus, veremos que havemos de ressuscitar, não
com um corpo etéreo ou outro qualquer, mas com a mesma carne que agora temos e
da qual sairá a alma na hora da morte.
A fé na ressurreição da carne neste sentido supra explicado,
existia, segundo o testemunho da Sagrada Escritura, já no Antigo Testamento: "Eu sei, diz Jó, que o Redentor vive
e que no último dia ressurgirei da terra, serei novamente revestido da minha
pele, e na minha própria carne verei meu Deus" (Jó XIX, 25 e 26).
Também o Espírito Santo louva a Judas Macabeu, quando, fazendo menção da coleta
que tinha feito e oferecido ao Templo
para o sacrifício pelos que tinham caído no campo da batalha: "Obra bela e santa, inspirada pela
crença na ressurreição, porque se ele não esperasse que os mortos haviam de
ressuscitar, seria uma coisa supérflua e vã orar pelos defuntos" (2
Macabeus XII, 43 e 44). "A multidão
dos que dormem no pó da terra, acordarão uns para a vida eterna e outros para o
opróbrio, que terão sempre diante dos olhos" (Daniel XII, 2).
Esta doutrina da ressurreição foi ensinada muitas vezes
sobretudo no Novo Testamento. Primeiramente pelo próprio Jesus e de uma maneira
a mais clara possível: "Virá tempo
em que todos os que se encontram nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus;
e os que tiverem feito obras boas, sairão para a ressurreição da vida; mas os
que tiverem feito obras más, sairão ressuscitados para a condenação" (S.
João V, 28 e 29). Refutando os saduceus, Jesus deduzia da ressurreição dos
corpos de que as almas eram imortais. Pois tendo-lhe os saduceus proposto uma
questão capciosa com respeito à ressurreição dos mortos, para O poderem acusar
de alguma contradição ou absurdo na doutrina, disse-lhes: "Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus
falou, dizendo-vos: eu sou o Deus de Abraão, de Isaac e Jacó? Não é Deus dos
mortos, mas dos vivos" (S. Mat. XXII, 31 e 32). É como se dissesse:
Vós, saduceus, negais a ressurreição dos mortos, porque não credes na
imortalidade das almas. Pois, a alma é imortal. E se morrera com o corpo então
o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, que morreram segundo o corpo, seria Deus
dos mortos e não, como ele é, Deus dos vivos. Portanto, se a alma vive depois
da morte corporal, segue-se que ela se reunirá um dia com o corpo que ela
animou, e que os mortos ressuscitarão.
Jesus ressuscitou a Lázaro depois de quatro dias já
sepultado, e, portanto em estado de putrefação. Para Deus nada é impossível.
Como será impossível à Onipotência divina ressuscitar os nossos corpos
convertidos em pó e cinza, sendo Ele quem os formou do nada? É porventura o
mistério da ressurreição o único deste gênero que se apresenta à nossa vista?
Olhai para o grão que cai na terra e se corrompe. O que sucede? Uma planta viva
nasce da semente corrompida, e depois dá flores e frutos.
A mesma doutrina ensinam os Apóstolos. São Paulo se serviu
inclusive desta figura logo acima citada: "Mas
dirá alguém: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão? Néscio, o que
tu semeias não toma vida, se primeiro não morre. Quando tu semeias, não semeias
o corpo que há de nascer, mas um simples grão, como, por exemplo, de trigo ou
de qualquer outra coisa" (1 Cor. XV, 35-37). Com isto o Apóstolo
significa precisamente que aquela corrupção e dissolução do corpo é uma
condição prévia e indispensável para a ressurreição, assim como a corrupção da semente para dela brotar a
planta.
São Paulo falou da
ressurreição nos seus discursos públicos diante do Grande-Conselho (Atos XIII),
diante do governador Félix (Atos XXIV); nas suas epístolas: "Se os mortos não ressuscitam, então Jesus Cristo não
ressuscitou" (1 Cor. XV, 16). "Porém, Jesus Cristo ressuscitou de
entre os mortos com o seu próprio corpo; logo também vós ressuscitareis como
Ele. Pois, aquele que ressuscitou de entre os mortos também ressuscitará os
vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vós"
(Rom. VIII, 11).
Terminemos com mais um símbolo belíssimo da ressurreição: O
bicho da seda, sendo verme disforme e quase asqueroso, fabrica o seu sepulcro,
descansa nele largos meses, e depois rompe o seu invólucro, e levanta-se
brilhante mariposa que se eleva nos ares. Porventura Deus, autor sapientíssimo
da natureza, nos põe em vão diante dos olhos esta imagem viva da ressurreição?
Com certeza que não. Ressuscitaremos. A fé no-lo ensina, e até a natureza
visível no-lo recorda. Caríssimos, ressuscitaremos! Amém!
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