LEITURA ESPIRITUAL - Dia 21 de novembro
"Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. Tendo dito
estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.
Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem
os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (S. João XX, 22 e 23).
O Senhor mostra-se misericordioso na absolvição sacramental.
Procuremos compreendê-lo através de uma parábola. - Uma vez havia um rei
poderoso, bom e misericordioso. Esse rei acolheu em seu palácio um homem pobre
e ignorante. Ele mandou vesti-lo de novo, instruir, educar. Depois lhe deu um
alto cargo em sua corte. Um mendigo transformado em cortesão! Mas, ouvi o que
ele fez. Em vez de ser reconhecido e fiel a seu benfeitor, tentou, com uma
traição fazer uma conjura para expulsar do trono o rei. Este, porém, descobriu
tudo a tempo, e com toda justiça condenou-o à forca, já que se tratava de crime
de lesa-majestade. - Quando, na grande praça cheia de gente, lá estava o
carrasco para enforcar o malfeitor, eis que chega um escudeiro do rei, o qual
grita: "O rei quer conceder graça a esse assassino..., mas sob uma
condição...!" O cortesão retoma fôlego e abre o coração à esperança. Mas
pensa: qual será esta condição? Ei-la: arrependido, ele devia confessar a sua culpa (que era
secreta) a um dos Ministros, à sua escolha. Conjecturai o contentamento do
condenado! Ter a salvação por tão pouco preço! É claro: confessou logo o seu
crime, e o Ministro verificando que o culpado estava arrependido, em nome do
rei, deu-lhe o perdão. Depois o bom rei ainda o acolheu em seu palácio.
Aplicação da parábola: Quem é o rei? É Deus. E o malfeitor,
quem é? É o pecador que ofendeu um Rei e um Pai tão bom. Tal pecador mereceu a
condenação ao inferno. Mas como o Senhor quer a salvação de todos, eis que
instituiu um Sacramento, por meio do qual qualquer pecador, manifestando a um
Ministro de Deus os seus pecados, ainda pode obter o perdão e salvar-se. É o
Sacramento da Penitência ou Confissão. O culpado deveria se arrepender do que
fez e ter propósito firme de nunca mais fazer o mal porque ofendeu a um Pai tão
bondoso, ofendeu ao Sumo Benfeitor que é também o Supremo Senhor, e é a própria Bondade. Seria o
ideal! Mas Deus se contenta com um arrependimento imperfeito, isto é, movido
mais pelo medo do castigo do que propriamente por amor a um Pai tão
bondoso! Por este temor o pecador não quer pecar mais e tem esperança do perdão pelos merecimentos de Jesus Cristo. Deus Pai, enviou ao mundo o seu queridíssimo Filho Único, no qual
põe toda a sua complacência. O Filho de Deus se fez Homem, tomou um corpo para
poder sofrer e morrer por nós na Cruz. E antes de subir aos Céus, deixou o
Sacramento da Penitência pelo qual o seu Sangue Divino, lava as nossas almas, e
em atenção ao seu valor infinito, o Pai perdoa o pecador mesmo quando só
apresenta um arrependimento imperfeito, que se chama atrição. Isto constitui grande consolo! Nem sempre estamos certos de atingir aquela detestação do pecado como ofensa ao Sumo Bem, que move infalivelmente Deus a nos conceder o perdão. Sem embargo, as nossas disposições, acaso menos perfeitas, não obstam a que, no Sacramento, obtenhamos, pela absolvição do sacerdote, plena misericórdia. Desde que chaguemos ao confessionário atritos, decididos a não mais recair, ser-nos-ão perdoadas as culpas.
Daí a grande responsabilidade dos sacerdotes quanto aos moribundos. Não deixemos os nossos caros enfermos comparecerem diante do Juiz sem terem recebido o Sacramento da Penitência. Não sabemos se lograrão chegar à contrição perfeita! Estando em pecado mortal, e só conseguem ter a atrição e não recebem o Sacramento, estão condenados para sempre! O Papa S. Celestino I (422-432) exprobrava aos rigoristas de antanho de matarem cruelmente as almas dos doentes, recusando-lhes a absolvição no leito de morte (D. 111). O mesmo crime cometem os progressistas laxistas de hoje, por descaso ou mal entendida misericórdia.
Daí a grande responsabilidade dos sacerdotes quanto aos moribundos. Não deixemos os nossos caros enfermos comparecerem diante do Juiz sem terem recebido o Sacramento da Penitência. Não sabemos se lograrão chegar à contrição perfeita! Estando em pecado mortal, e só conseguem ter a atrição e não recebem o Sacramento, estão condenados para sempre! O Papa S. Celestino I (422-432) exprobrava aos rigoristas de antanho de matarem cruelmente as almas dos doentes, recusando-lhes a absolvição no leito de morte (D. 111). O mesmo crime cometem os progressistas laxistas de hoje, por descaso ou mal entendida misericórdia.
Mas há um detalhe importantíssimo que não consta na
parábola: Imaginemos que aquele culpado da parábola, depois de ser assim tão
misericordiosamente perdoado e restituído à amizade do rei, recaísse ainda
muitas e muitas vezes, mas sempre arrependido embora só imperfeitamente,
confessasse o seu crime ao Ministro do Rei. Seria sempre perdoado em atenção
aos méritos infinitos do Sangue que o Filho do Rei derramou numa Cruz por toda a
humanidade.
E assim, caríssimos, um pecador está no fundo do abismo,
sobrecarregado de enormes e numerosas faltas. Se morresse assim sem ter um
arrependimento perfeito com o desejo de se confessar, ou então com
arrependimento imperfeito mas sem ter recebido a absolvição (às vezes a unção
dos enfermos) estaria condenado eternamente. Mas se confessa com o coração
penetrado de dor, ao menos da contrição imperfeita, com que a divina bondade se
contenta, quando se junta ao sacramento, e ei-lo reconciliado com Deus e
consigo mesmo! Os seus pecados estão perdoados; deixam de chamar sobre a sua
cabeça terríveis vinganças, porque já não existem. "Por amor de mim, diz o Senhor, por amor da glória que tenho
em perdoar, eu mesmo apagarei as tuas iniquidades, e não me lembrarei dos teus
pecados" (Cf. Isaías XLIII, 25). O silêncio absoluto a que é obrigado o
meu confessor, é o sinal do silêncio eterno que Deus guardará a respeito das
minhas prevaricações. Afogam-se no Sangue de Jesus Cristo, como os Egípcios nas
ondas do Mar Vermelho.
Mas o Sagrado Coração de Jesus deseja que creiamos sem
duvidar nunca do seu perdão. Porque ele é Deus, mas Deus de amor! É Pai, mas
Pai que ama com ternura e não com severidade. O Coração de Jesus é
infinitamente sábio, mas também infinitamente santo, e como conhece a miséria e
fragilidade humanas, inclina-se para os pobres pecadores com Misericórdia
infinita. Jesus Cristo ama as almas, depois que cometeram o primeiro pecado
mortal, e vêm pedir humilde e confiantemente o perdão. E ama-as ainda, quando
choram o segundo pecado e, se isso se repetir, setenta vezes sete, ou seja,
sempre, ama-as e perdoa-as sempre, e lava no mesmo Sangue divino o último como
o primeiro pecado. O Coração de Jesus não se cansa das almas, e espera sempre
que venham refugiar-se n'Ele, por mais miseráveis que sejam! Não tem um pai
mais cuidado com o filho que é doente, do que com os que têm boa saúde? Para
com esse filho, não são maiores as delicadezas e a sua solicitude? Assim também
o Coração de Jesus derrama sobre os pecadores, com mais liberalidade do que
sobre os justos, a sua compaixão e a sua ternura. Na verdade a Misericórdia do
Coração de Jesus é inesgotável: às almas frias e indiferentes, o Coração de
Jesus é fogo, e fogo que deseja abrasá-las, porque as ama; às almas piedosas e
boas, o Coração de Jesus é caminho para se adiantarem na perfeição e chegarem
com segurança ao termo feliz. Mas Jesus Cristo quer que todas as estas almas se
aproximem do Sacramento da Confissão com grande confiança na sua Misericórdia.
E ainda mais: o pecador privado de todos os bens e prestes a
cair no desespero pela sentença de condenação, recupera todos esses bens e
inunda-se de alegria pela sentença da absolvição. Tudo quanto tinha perdido,
separando-se de Deus, lhe é restituído ao reconciliar-se com Jesus Cristo: "Não há condenação, para os que estão
incorporados em Jesus Cristo". Os merecimentos adquiridos, poder de
merecer, doce paz, direito ao Céus, eis o que ainda recebe de volta pela
misericórdia divina dispensada na absolvição sacramental. Ó reconciliação cheia
de encantos, quem pode conhecer-te, e recusar a felicidade que tu obténs. Razão
tinha São Paulo em dizer: "Quem não amar a Jesus Cristo, seja
anátema!"
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