9. LIVRES DE TODAS AS LEIS!...
Segundo Lutero, Cristo observou a lei por todos aqueles que creem, estes não têm mais obrigação de observar a lei, observância que, segundo ele, é impossível, porque não há liberdade: "A palavra Evangelho significa boa nova, doutrina grata e consoladora para as almas... ouvir que a Lei já foi observada por Cristo, que nós não temos o dever de observá-la, mas só o de unir-nos pela fé Àquele que por nós a observou" (Weimar I-52). "Esta é a nossa doutrina que sabemos eficaz para consolar as consciências. Viveremos sem a lei e nos persuadiremos que os nossos pecados nos foram perdoados" (Weimar XXV-249). "Com propriedade pode definir-se o cristão: o homem livre de todas as leis no foro interno e externo" (Weimar XL, Abt 235). "Assim vês quão rico é o homem cristão ou batizado que, mesmo querendo, não pode perder a sua salvação, por maiores que sejam os seus pecados, a não ser que não queira crer. Nenhum pecado pode condená-lo, a não ser somente a incredulidade. Todos os outros... se houver fé na promessa divina feita ao batizado são absorvidos pela mesma fé". (Weimar VI-529).
Lutero se insurge contra a ideia de que Cristo é um legislador que nos veio ensinar uma moral sublime, promulgada no Evangelho:
"Erasmo e os papistas cuidam que Cristo é um novo legislador; na sua demência nada entendem do Evangelho, representam-no fantasticamente como um código de novas leis, à semelhança do que sonham os turcos do seu Corão" (Weimar XL, 1 Abt. p. 259).
"O Evangelho não prega o que devemos fazer, não exige nada de nós. Antes, em vez de dizer-nos: faze isto ou aquilo, manda-nos simplesmente estender as vestes e receber: Toma, meu caro, eis o que Deus fez por ti; por teu amor Ele vestiu de carne humana o próprio Filho... aceita este dom; crê e serás salvo" (Weimar XXIV-4).
"Não só com as palavras, mas também com as nossas ações e com o nosso procedimento, exercitemo-nos com diligência em separar Cristo de qualquer ideia de legislador, afim de que, apresentando-se-nos o demônio sob a figura de Cristo para molestar-nos em seu nome, saibamos que não é Cristo, mas que é verdadeiramente o diabo" (Weimar XL, 1 Abt. p. 299).
"A isto se reduz todo o Cristianismo: a sentir que não tens pecado ainda quando pecas, a sentir que teus pecados aderem a Cristo, que é salvador do pecado" (Weimar XXV-331).
Mas, dirá o leitor, com posso seguir uma doutrina destas? E onde está a minha consciência que me acusa quando dou um passo errado?
Ora consciência! Lutero manda abafar a sua voz. Diz ele: "Se a consciência do pecado te acusa, se põe ante os teus olhos a ira de Deus... não deves ouvi-la, mas contra a consciência e contra os teus sentimentos deves julgar que Deus não está irado, que tu não estás condenado" (Weimar XXV-330).
Já identificado agora com o pensamento do fundador do Protestantismo, o leitor pode por si mesmo decidir a seguinte questão: se se pode dar boa interpretação às célebres palavras de Lutero na sua carta a Melanchton, escrita em agosto de 1521: "Sê pecador, peca fortemente, porém mais fortemente ainda crê e rejubila-te em Cristo!" Vamos citar todo o trecho: "Se pregas a graça, prega uma graça verdadeira e não falsa; se a graça é verdadeira, que o pecado seja verdadeiro e não falso. Deus não pretende salvar falsos pecadores. Sê pecador e peca fortemente, mas confia e rejubila-te mais fortemente ainda no Cristo, vencedor do pecado, da morte e do mundo. Temos que pecar enquanto somos o que somos. Esta vida não é a estância da justiça, mas esperamos, segundo a palavra de São Pedro, novos céus e uma nova terra, nos quais habita a justiça. É o bastante, para nós, haver conhecido, pelas riquezas da glória, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele nos tirará o pecado, ainda quando mil vezes por dia nos tornássemos fornicários ou assassinos. Considera como nos sai tão barata a redenção de nossos pecados em um tal e tão grande Cordeiro!" (De Wette II-37).
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