A Santa Missa
Recolhe-te, meu Padre, vem mais pertinho de mim. Os anjos enchem o meu santuário. Os querubins e os serafins envolvem, trementes, o meu altar, e tu, mísera criatura, vais subir os seus degraus para me ajudares a continuar o meu sacrifício do Calvário.
Eu sou a vítima como sou também o sacrificador, e é ao meu divino Pai a quem ofereço minha vida.
Todavia quis ter necessidade de ti para me dares a existência no altar.
Considera, pois, a que profundeza eu me abati e a que altura te elevei.
Como o corpo humano unido à alma constitui o homem, e como o homem enriquecido pela graça forma o cristão, assim, de maneira análoga, o cristão revestido do caráter sacerdotal dá o sacerdote, outro Jesus.
Quando tu pronuncias a fórmula da consagração, não é um simples mortal quem a pronuncia; sou eu mesmo, o supremo Sacerdote, que vivo em ti, quem a pronuncia contigo e por tua boca.
Não tremes pensando que és com o Onipotente um só e mesmo princípio de ação para produzir o Homem-Deus?
E não se sente comovido e reconhecido teu coração, vendo-te objeto de tanta confiança e de tanta ternura por parte de Deus?
As coisas santas devem ser tratadas santamente. Prepara-te todas as vezes para o grande ato da celebração dos divinos mistérios.
Os meus anjos ficaram abismados em adoração diante do meu altar durante todo o tempo, esperando a tua chegada com santa impaciência e profundo respeito.
Que tristeza e que espanto para eles, quando te vêem chegar turbulento e apressado, sem sequer suspeitares a sua presença, sem lançares um olhar ao divino Prisioneiro a quem eles fazem guarda de honra!
Se tua alma fosse ao menos bastante pura para te pores em contato com o Cordeiro sem mácula!
Oh!, meu filho, guarda-te bem de jamais celebrares com a consciência manchada com um pecado mortal.
Jura-me que jamais no altar me darás o beijo de Judas!
O zelo pela casa de meu Pai devora-me. Eu não posso sofrer no meu santuário a desordem ou a indiferença. A igreja é o palácio do Rei dos reis.
Tem um cuidado cioso da pureza da mesa do altar. É o trono do qual desce a Majestade divina.
Vela pela limpeza dos vasos sagrados que hão de tocar o Cordeiro imaculado, pela decência dos ornamentos que devem cobrir-me na tua pessoa, enquanto nós ambos oferecemos o santo sacrifício.
Meu filho, se verdadeiramente me amas, observarás com dignidade e com imenso respeito as mais pequenas cerimônias da santa Liturgia.
Celebra com atenção e com o espírito e o coração unido a mim, o Sacerdote supremo.
Comigo adora, ama e dá graças ao Pai do céu, de quem vêm todos os benefícios.
Comigo implora do Juiz supremo o perdão dos teus pecados e dos pecados do meu povo.
Comigo e por mim apresenta afoitamente as tuas petições.
Tudo o que pedires em meu nome ao meu Pai, obtê-lo-ás.
Após a Santa Missa não me abandones precipitadamente. Fica comigo algum tempo ainda, em trato íntimo, de coração a coração, para me agradeceres e pedires o meu amor e para obteres o perdão das irreverências cometidas durante as augustas cerimônias.
Desde que és sacerdote, és como o compêndio e o pai comum de toda a Igreja. Leva-la na tua alma dia a dia e oferece-la como vítima, comigo, ao Pai celestial. Nenhum homem sobre a terra pode encontrar-te indiferente aos seus destinos.
Quando celebras, as almas do Purgatório estendem para ti, súplices, as suas mãos. Conjuram-te a que sobre elas faças destilar algumas gotas do meu sangue precioso.
Suplicam-te que acolhas os seus ardentes desejos, os seus prantos amorosos e os seus gemidos, de si mesmos estéreis; que os faças passar pelo teu coração sacerdotal, permitindo-me assim aliviá-las e libertá-las.
Quando celebras, até o céu se inclina para ti com respeito e reconhecimento.
Os anjos e os bem-aventurados rodeiam-te com veneração e dão-te pressa para ofereceres a divina Hóstia. Pedem-te que unas as suas adorações às adorações da divina Vítima que tens nas tuas mãos.
A minha própria Mãe, a Rainha de todos os sacerdotes, está presente cada dia ao teu santo sacrifício. Sente-se feliz de poder renovar, graças a ti, seu filho, a oferta que entre lágrimas fez um dia ao pé da cruz.
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