LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
Não é difícil o
entendermos já que a confissão purifica, eleva e fortifica a alma. Na verdade,
caríssimos, quantos se entregam com todo o ardor às suas paixões só porque se
desesperam de quebrar as suas correntes opressoras!? E depois, há alguma coisa
mais funesta do que a demora prolongada do mal na alma? O pecado induz a outro
pecado, um abismo atrai outro abismo, a
alma se deprava cada dia mais e torna-se pouco a pouco a presa duma corrupção secreta,
que seria incurável se a bondade de Deus não fosse infinita como o seu poder. O
mal estabelecendo-se na alma, derrama nela um veneno mortal que altera no
pecador o sentimento divino, mas sem nunca poder extingui-lo; daí esta
indisposição, esta amargura, este desgosto surdo e íntimo, uma indisfarçável
melancolia que se acumula, por assim dizer, no mais profundo da alma, e cujas
explosões são algumas vezes tão terríveis. Dizia Monsenhor Gerbet: "o
remorso, muito tempo concentrado, forma no fundo de certas almas como uma mina
terrível que ameaça destruir existências pacíficas, e, o que é mais triste ainda,
despedaçar corações. A confissão é um meio secreto que previne a explosão desta
bomba".
A Providência divina quis que um padre dos mais zelosos e
dos mais piedosos se encontrasse um dia, à mesa, com uma sociedade de atores e
atrizes. A conversa não poderia ser mais a propósito. O padre ganhou logo a
simpatia dos convivas. E mais do que isto: ganhou toda confiança o que deixou
todos bem à vontade para fazer perguntas. Foi a graça divina que os levou a
perguntar ao padre justamente sobre o sacramento da confissão. E especialmente
qual seria a situação dos atores em face da Igreja. Uma e outra parte discutia
o assunto vivamente, porém, sem nenhum azedume. De fato o zeloso sacerdote
ganhou os corações de todos!
As janelas da sala davam para um magnífico lago. Um barco a
vapor vinha passando. "Tendes ali, senhores, disse o padre, o que vai
fazer-vos compreender para que nos serve a confissão. Vedes este barco a vapor.
Uma força poderosa faz mover a sua máquina e o faz caminhar rapidamente; mas
esta mesma força o poria em perigo de explosão e de destruição sem o que se
chama a válvula de segurança. Por esta válvula
de escape se exala o excesso de vapor, e assim o barco e os viajantes
estão em segurança. O mesmo acontece com todos nós. Temos em nós forças
poderosas, que são as nossas paixões. Para estas forças, para estas paixões, é
preciso uma válvula de segurança, uma abertura sem a qual estamos perdidos.
Pois bem! esta válvula é a confissão, que Deus nos deu para alívio de nossos
corações, para consolação e purificação de nossas consciências. Observa-se que
nos países onde a confissão é desconhecida, há mais casos de loucura e de
suicídio do que naqueles em que existe a confissão". E o padre desenvolveu
esta tese com toda a energia e ciência, sustentando-a com numerosos exemplos.
Quando se despediu da companhia, uma jovem atriz de vinte e três anos
acompanhou-o até a porta da entrada. Quando se viu só com ele, exclamou, com
voz sufocada pelos soluços: "Senhor, vós me salvastes! Foi a Providência
que vos conduziu para junto de nós. Eu estava desesperada; esta noite eu queria
lançar-me no lago e nele acabar com as dores da vida... Agora quero
confessar-me". O padre tranquilizou com doçura aquela pobre moça,
induziu-a a deixar o teatro, o que obteve sem dificuldade, e apressou-se a
reconciliá-la com Deus. Ela tornou-se desde então uma boa e fervorosa cristã.
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