domingo, 12 de janeiro de 2020

A FAMÍLIA



   Vemos com tristeza, como a sociedade está moralmente enferma, totalmente invadida e convulsionada pelo paganismo e a imoralidade. Mas não bastam lamentações. Mister se faz atacar o mal pela raiz. Ora, as famílias são as raízes que elaboram o alimento moral da sociedade. É a célula da sociedade; pois esta se forma de indivíduos e estes por sua vez se formam na família.

   Temos, então, que dedicarmos todos os nossos cuidados à família, para termos realmente uma sociedade sadia. A família é obra da mão de Deus. É inútil querer corrigir a crise da sociedade, se não se põe o primeiro cuidado em conservar a família. Os filhos das trevas, como disse Jesus Cristo, são muito espertos e nós vemos com tristeza, como as ideias comunistas estão se espalhando pelo mundo como um gás sumamente venenoso e que destrói em primeiro lugar as famílias, Pela imoralidade, imodéstia nas vestes, televisão, pornografia na Internet, divórcio, maus exemplos, principalmente nos colégios que vão se tornando focos de imoralidade e heresias, em cátedras de pestilências comunistas etc, etc. a indissolubilidade do matrimônio católico está em risco de dissolução quase total.  E, por outro lado, o sal na Igreja está perdendo sua força, deixando a corrupção reinar soberana. As paixões têm campo livre, os vícios, campeiam como chamas num canavial. 

   E não bastassem os comunistas por fora, há-os internos. E, horribile dictu, o próprio Sumo Pontífice reconhece que as últimas mudanças que ele fez nos processos matrimoniais quanto à declaração de nulidade podem colocar em risco a indissolubilidade do matrimônio. Muitos casamentos se dissolveram não porque nulos, mas por causa da ausência total, ou quase, das virtudes cristãs, e, por outro lado pelo reinado desenfreado das paixões as mais nefandas. Para estes não só a "a misericórdia" do divórcio mas a possibilidade de se casarem novamente e até comungarem. 

   Deus fez bem todas as coisas e se existe o mal no mundo, sua causa deve ser procurada na malícia humana que perverte a harmonia do Criador. A formação da família, poderia parecer algo profano, ao passo que, na realidade, ela tanto tem de santo como de sublime. O casamento não é um mal (como muitos hereges pensaram), pelo contrário, é um bem. Foi Deus quem o fez desde o Paraíso Terrestre. É bem verdade que devido o pecado original, o casamento decaiu de sua primitiva dignidade. Mas o Filho de Deus, que veio ao mundo para remir a humanidade e iluminá-la, restituiu o casamento à sua primitiva santidade elevando-o à dignidade de sacramento.

   Jesus Cristo, quis assistir em companhia de sua Mãe Santíssima a uma festa de casamento em Caná da Galileia, aprovando e santificando com sua divina presença. o vínculo conjugal, operando também nesta ocasião o seu primeiro milagre.

   Um dia os fariseus interrogaram a Jesus: "É lícito ao homem repudiar sua mulher? Ele, porém, lhes respondeu: Desde o princípio, Deus criou o homem e a mulher, logo o homem deixará seu pai e sua mãe e viverá com sua mulher. Não separe, portanto, o homem o que Deus uniu".

   Ter esta firme e inabalável convicção sobre a divina instituição do matrimônio, sempre foi de extrema necessidade, mas, hoje, ademais, tornou-se muito urgente. Pois são tantos os homens que ignoram de todo a grande santidade do matrimônio cristão. São inúmeros os que a negam e calcam aos pés. 

   Lacordaire, o grande conferencista francês, queria que seus amigos Ozonam e Luis Veuillot o imitassem e renunciassem o casamento. Mas Veuillot, com todo direito achou por bem se casar. E quando Lacordaire soube, exclamou: "Mais um que ficou na armadilha". Relataram ao papa a frase de Lacordaire e sorrindo comentou o Santo Padre: "Eu não sabia que Nosso Senhor havia instituído 6 sacramentos e 1 armadilha". 

   Outro exemplo bem diferente deste: São Francisco de Sales hospedava em sua casa um amigo. E o santo bispo, com aquela sua grande caridade, tratava o seu amigo com as maiores finezas, inclusive todas as noites ia acompanhá-lo até ao seu quarto. E o hóspede, confundido por tanta delicadeza, disse a São Francisco de Sales que não era digno de ser tratado assim por um bispo, ele que era um simples leigo. Mas o santo bispo perguntou-lhe: "Então o meu amigo não é casado?" - Ainda não, respondeu o amigo.  -  "Ah! , retrucou São Francisco de Sales, então tem razão de protestar: de hoje em diante tratá-lo-ei com mais confidência e com menores finezas". É que o Santo da mansidão pensava que uma pessoa casada devia ser cercada de uma veneração maior, pela dignidade do sacramento do matrimônio que confere aos esposos uma graça que os torna capazes de se amarem sobrenaturalmente, de educarem os seus filhos e de suportarem com serenidade os pesos da vida. 

   O matrimônio é portanto um sacramento, fonte de bênçãos, rico em simbolismos, expressivo no seu programa que é a comunhão da vida toda até a morte com todas as suas manifestações: Comunhão de vida natural: "serão os dois uma úncia carne", disse Deus. Comunhão de interesses: e portanto os bens materiais e as perdas andam em conjunto. Os afetos também se entrelaçam. E é por isso que São Paulo manda que o homem ame a sua esposa como a si próprio. Comunhão de fidelidades e deveres: ambos geram o corpo da criança e ambos concorrem para a geração moral, isto é, para a educação da mesma. Por isso é que Nosso Senhor impôs aos filhos o preceito de honrar "pai e mãe". Comunhão de trabalhos: juntos devem cultivar o mesmo campo e nos mesmos espinhos sangram as mãos e ferem os corações. Comunhão de lutas e vitórias: em todas as fases da vida, e até a morte. 

   Assim é que deveria ser compreendido e sobretudo vivido o matrimônio. Como são belos os componentes de uma família verdadeiramente cristã! A família cristã tem Jesus que a consola e nunca será desolada. Diz o próprio Divino Espírito Santo na Bíblia: "Ditoso o homem que tem uma virtuosa mulher". "A mulher virtuosa é o prêmio dos que temem a Deus, e será dada ao homem em recompensa pelas suas boas obras".  "Cooperadora da Providência e complemento do homem, a mãe gera, nutre, educa, dá forma, brilho e esmalte à existência. É autora maravilhosa e destra escultora dos seres" (Palavras de um poeta castelhano). 

   Uma mãe verdadeiramente cristã, não é mais uma simples mulher, é uma santa!
"Me deem mães verdadeiramente cristãs, e eu salvarei este mundo decadente" (S. Pio X). 

   Outro dom tão precioso na família são os filhos: Frederico Ozonam, o grande literato católico, fundador das conferências de São Vicente de Paulo escrevia estas linhas junto ao berço de sua primeira filhinha:  "Ah! que momento aquele em que ouvi o primeiro vagido de minha filha e vi a criatura imortal que Deus confiava ao meu cuidado, e que tantas doçuras e obrigações era portadora para mim! Não consigo mirar esses olhos que destilam suavidade e pureza, sem descobrir neles, menos apagado que em nós, o retrato sagrado do Criador". Na verdade, os filhos são um dom de Deus.

   Como é belo também o homem virtuoso na família, como a cabeça, o chefe, com a sua autoridade suave, com a sua proteção, como São José na Sagrada Família.  Vêm-nos à mente as palavras de Santa Terezinha: "Deus deu-me pais mais dignos do céu que da terra". Pai e mãe santos! Que graça!

   Não esqueçamos nunca que toda esta beleza e sublimidade da família estão na observância da lei de Deus. Por isso é que São Paulo diz que "o casamento é santo, mas no Senhor". Quantos casamentos, hoje embora válidos, são sacrílegos. Quantos pecados, quantos crimes! Uma coisa tão sublime, tão santa e, no entanto, tratada hoje com tanta leviandade, feita sem nenhuma preparação, . Pior: toda santidade, toda bênção são afastados por tantos pecados cometidos antes e depois do casamento. 

   Não consigo terminar este artigo, embora já longo, sem relatar pelos menos algumas palavras do Papa Pio XII: "Aqueles, pois, que nas igrejas exercem funções diretivas ou de magistério, exortem assiduamente os fiéis a que constituam e mantenham famílias segundo a norma da sabedoria do Evangelho - buscando assim com assíduo cuidado preparar para o Senhor um povo perfeito. Pelo mesmo motivo, cumpre também sumamente atender a que o dogma, que por direito divino afirma a unidade e indissolubilidade do matrimônio, seja compreendido em sua importância religiosa e santamente respeitado por todos os que contraem núpcias. Que tão capital ponto da doutrina católica tenha validíssima eficácia para a sólida estrutura da família, para o bem-estar crescente da sociedade civil, para a saúde do povo e para uma civilização cuja luz não seja falsa..." (Pio XII, "Sertum laetitiae).




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