A interpretação protestante que quer ver neste texto - o homem é justificado pela fé sem as obras da lei - uma prova de que as nossas obras, a observância dos mandamentos não contribuem para a justificação do homem, está completamente em desacordo com a argumentação apresentada por São Paulo. São Paulo apresenta a fé em Cristo, a Religião de Cristo, como remédio contra o pecado. Para prová-lo, deplora aqueles crimes cometidos pelos pagãos, principalmente a idolatria que é contra o 1º mandamento, os pecados de impureza que são contra o 6º, os homicídios que são contra o 5º, a desobediência aos pais que é contra o 4º São Paulo, o que mais deplora nos judeus é a falta de obediência ao 7º, ao 6º e ao 1º mandamento: Tu que pregas que se não deve furtar, furtas; tu que dizes que se não deve cometer adultério, e cometes; tu que abominas os ídolos, sacrilegamente os adoras (Romanos II-21 e 22). E se destes crimes cometidos pelos gentios e pelos judeus, tira a conclusão de que eles não estão justificados diante de Deus, o que se segue daí é que a observância dos 10 mandamentos é necessária para a justificação do homem. Se ele apresenta, portanto, a fé em Cristo como realizadora da justificação do homem, é claro que não está dispensando o homem de observar estes mandamentos para viver como um justo diante de Deus; está mostrando a fé em Cristo como o caminho para melhor observá-los. O remédio para a depravação não seria de forma alguma Deus desobrigar o homem da prática dos 10 mandamentos; isto seria levá-lo a uma depravação ainda maior, a saber: antigamente se fazia o mal, desobedecendo a Deus; agora se faria o mal, sem medo algum de desagradar-lhe, porque Ele, dando-se por vencido, teria desistido de exigir do homem a prática do bem, exigindo somente a fé, e não mais a observância do Decálogo, como meio para obter-se a salvação. Não seria um remédio para o pecado; seria piorar horrivelmente a situação moral do mundo.
A fé em Cristo é o remédio para o pecado, porque, embora Cristo exija a observância dos 10 mandamentos com maior perfeição do que antigamente (Sede vós, logo, perfeitos, como também vosso Pai Celestial é perfeito - Mateus V, 48), Ele nos orienta admiravelmente para a verdadeira santificação, ensinando-nos a não confiar nas nossas próprias forças e a implorar continuamente o auxílio da sua graça (Sem mim não podeis fazer nada - João XV-5); Ele, cheio de graça, de cuja plenitude todos nós recebemos, nos veio distribuir esta vida da graça mais abundantemente: Eu vim para elas terem vida, a para a terem em maior abundância (João X-10).
É neste sentido que o homem é justificado, que a Humanidade toma o caminho da justiça, da santificação, pela fé em Cristo e sem as obras da lei, isto é, sem mais obrigação daquelas cerimônias e prescrições do Antigo Testamento, que serviram apenas de preparação para a justiça cristã que nos foi trazida pelo Evangelho.
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