Nos oito posts anteriores mostramos o desmantelo e o desiquilíbrio da teoria protestante sobre a salvação pela fé. Estamos falando em teoria e não na prática. Digo isto porque na prática nem sempre se segue a teoria. Um pastor protestante convertido disse-me uma vez que os protestantes em geral vivem muito melhor que a sua doutrina. E eu disse-lhe que, infelizmente muitíssimos católicos não vivem sua fé verdadeira. A doutrina é verdadeira, mas não vivem segundo ela. Têm fé, mas não têm o espírito de fé, ou seja, creem mas vivem como se não cressem, ou vivem em desacordo com a sua fé.
Na verdade os protestantes (embora a gente não possa constatar bem, porque são milhares de seitas) em se tratando de fé e de obras, já não falam como falou Lutero: Peca fortemente, mas crê mais fortemente ainda e estás salvo. Lutero dizia inclusive que as obras eram inúteis ou mesmo nocivas à salvação. Dizem os protestantes de hoje que as boas obras são um meio de exercitar a fé, são um fruto ou, melhor dizendo, uma consequência da salvação pela fé: o indivíduo que jé está salvo pela fé pratica boas obras, mas as boas obras, dizem eles, não são CAUSA da salvação.
A distinção é sutil, capciosa e, sobretudo, confusa para se ensinar ao povo, que precisa saber de uma maneira límpida e clara o que deve fazer e o que não deve fazer para ganhar o Céu. Mas o Protestantismo não está ligando muita importância a isto: discordar da Igreja Católica é todo o seu gosto e prazer.
A fórmula protestante encerra uma linguagem duvidosa e geradora de confusões: "As boas obras são uma consequência da fé: aquele que já está salvo pela fé, pratica boas obras". Procuremos desfazer as confusões ou melhor dizendo, mostrá-las.
Dizem que as boas obras são consequência da fé. Mas, perguntamos: consequência mas de que modo? Seria uma consequência livre, no sentido de que aquele que tem fé praticará as boas obras que bem entender? Isto não se admite. Se Deus nos impôs 10 mandamentos, não está em nosso poder fazer uma escolha entre eles, não nos é lícito nem ao menos escolher nove mandamentos e rejeitar um só; quem peca contra um só mandamento que seja, peca contra toda a lei, pois se rebela contra Deus, Nosso Senhor Supremo, que é autor de toda a lei: Qualquer que tiver guardado toda a lei e faltar em um só ponto, fez-se réu de ter violado todos (Tiago II-10).
Outra confusão: Seria consequência necessária, no sentido de que aquele que tem fé, já não peca mais e só pratica boas obras? Isto é conversa para boi dormir. Ninguém é tolo para acreditar nisto. A experiência de cada dia nos demonstra que não existe sobre a face da terra nenhum homem impecável: Todos nós tropeçamos em muitas coisas (Tiago III-2). Aquele, pois, que crê estar em pé veja não caia (1ª Coríntios X-12).
Outra confusão: Seria consequência necessária, no sentido de que qualquer ação, seja boa, seja má, praticada por aquele que tem fé se torna um obra boa? Mas isto seria o maior dos absurdos. Como é que Deus vai considerar obras boas o roubo, a injustiça, o adultério, o falso testemunho pelo simples fato de serem praticados por um homem que tem fé? Muito pelo contrário; se estes pecados já são graves para o pagão que não conhece a Cristo, mais graves ainda se tornam para o cristão, esclarecido pelas luzes da fé.
Uma última pergunta: Seria consequência necessária, no sentido de que aquele que tem fé se sente forçosamente na obrigação de observar os mandamentos e praticar boas obras? Mas, neste caso, caro protestante, isto é a pura doutrina católica; neste caso os mandamentos são tão obrigatórios como a própria fé. Sua observância é indispensável para a conquista do Céu. Não se trata mais, portanto, de salvação pela fé sem as obras.
Nós católicos, afirmamos que para o homem salvar-se, para ganhar o Céu, não só é necessária a fé em Cristo; é necessária também a observância dos mandamentos, pelo amor de Deus e do próximo, indispensável para a salvação. Não é a fé sem as obras que salva; é a fé acompanhada das obras, a fé CONSUMADA PELA OBRAS (Tiago II-22), como se expressou S. Tiago.
Se se exige o arrependimento dos pecados para o pecador receber o perdão, isto é porque ele, desviando-se da obrigação dos mandamentos, se afastou do caminho do Céu. Dizendo, porém, que a fé salva com as obras, não afirmamos que o homem realiza estas obras, sozinho, por suas próprias forças naturais; realiza-as, sim, ajudado com a graça de Deus, a qual Deus dá a todos; ao que faz o que está ao seu alcance, Deus não nega a sua graça, porém a graça é necessária, não só para a fé, mas para a observância dos mandamentos, como também para fazer qualquer ato bom meritório para a vida eterna, como veremos depois mais detalhadamente, se Deus o permitir. Em suma, existe na obra da salvação a parte de Deus e a nossa. A nossa parte não consiste só na fé, mas também nas obras, na observância dos mandamentos, embora que para isto precisamos que Deus noa ajude. Se cooperamos com a sua graça, pela fé e pela observância dos mandamentos de Jesus, e morremos em estado de graça santificante, seremos salvos. Se com ela não cooperamos e morremos em estado de pecado mortal, seremos condenados. A salvação é, portanto, efeito da graça e das nossas obras, da nossa cooperação, ao mesmo tempo.
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