SANTA PÁSCOA
Desejo aos caríssimos leitores uma FELIZ E SANTA PÁSCOA!
"Vós não sabeis que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo,
fomos batizados na sua morte? Nós fomos, pois, sepultados com Ele, a fim de
morrer (para o pecado) pelo batismo, para que assim como Cristo ressuscitou dos
mortos pela glória do Pai, assim nós vivamos uma vida nova" (Rom. VI, 3 e
4).
Os méritos de Jesus Cristo adquiridos pela sua Paixão e
Morte, subsistem para depois da Sua gloriosa Ressurreição. Para isto
significar, quis conservar as cicatrizes das chagas: apresenta-as ao Pai em
toda a sua beleza, como títulos à comunicação da sua Graça. Como diz São Paulo:
"... (Jesus) porque permanece para
sempre, tem um sacerdócio que não passa. Por isso pode salvar
perpetuamente os que por Ele mesmo se
aproximam de Deus, vivendo sempre para interceder por nós"(Hebr. VII,
25).
É logo no Batismo que participamos da graça da Ressurreição.
É também o que diz S. Paulo, como acima transcrevemos. A água santa em que mergulhamos no Batismo é,
segundo o Apóstolo, a imagem do sepulcro (Na época se administrava o batismo
também por imersão). Ao sair dela, fica a alma purificada de toda a falta, de
toda a mancha, livre da morte espiritual e revestida da graça, princípio da
vida divina. Jesus Cristo tem infinito desejo de nos comunicar a Sua vida
gloriosa, assim como teve um ardente desejo de ser batizado com o batismo de
sangue para nossa salvação. E o que é mister seja feito para correspondermos a
este desejo divino e nos tornarmos semelhantes a Jesus ressuscitado? É preciso
viver no espírito do nosso Batismo: renunciar de verdade (e não só de lábios) a
tudo o que na nossa vida é viciado pelo pecado; fazer "morrer" cada
vez mais o "velho homem". Continuando o texto supracitado no início:
"Porque, se nos tornarmos uma só
planta com Cristo, por uma morte semelhante a d'Ele, o mesmo sucederá por uma
ressurreição semelhante, sabendo nós que o nosso homem velho foi crucificado
juntamente com Ele, a fim de que seja destruído o corpo do pecado, para que não
sirvamos jamais ao pecado" (Rom. VI, 5 e 6). Assim, tudo em nós deve
ser dominado e governado pela graça. Nisto consiste para nós toda a santidade:
afastar-nos do pecado, das ocasiões do pecado, desapegarmo-nos das criaturas e
de tudo o que é terreno, para vivermos em Deus e para Deus com a maior
plenitude e estabilidade possíveis. E
São Paulo continua explicando: "De
fato aquele que morreu, justificado está do pecado. E, se morremos com Cristo,
creiamos que viveremos também juntamente com Cristo"...
Caríssimos, esta obra de santidade inaugurada no Batismo,
continua durante toda a nossa existência. São Paulo dizia: "Eu morro todos os dias". É certo
que Jesus Cristo só morreu uma vez; deu-nos assim o poder de morrer com Ele
para tudo o que é pecado. Nós, porém, devemos "morrer" todos os dias,
pois conservamos em nós as raízes do pecado, raízes estas que o demônio
trabalha para fazer brotar de novo. Portanto, destruir em nós essas raízes,
fugir de toda a infidelidade, desapegar-se de todo criatura amada por si mesma,
afastar das nossas ações todo o motivo, não só culpável, mas puramente natural;
libertar-nos de tudo o que é criado, terreno, conservar o coração livre duma
liberdade espiritual, - eis, caríssimos, o primeiro elemento da nossa
santidade. Mostra-o S. Paulo em termos os mais expressivos: "Purificai-vos do velho fermento para
serdes uma massa nova; pois, desde que Jesus Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi
imolado por nós, tornastes-vos pães ázimos. Participemos portanto do banquete,
não com o fermento antigo, o fermento do mal e da perversidade, mas com os
ázimos da verdade e da sinceridade".
Aqui também faz-se mister uma explicação: Entre os
Israelitas, nas vésperas da festa da Páscoa, deviam desaparecer das casas toda
a espécie de fermento; No dia da festa, depois de imolado o cordeiro pascal,
comiam-no com pães ázimos, isto é, sem fermento, não levedados (Cf. Ex. XII, 26
e 27). Pois bem! Tudo aquilo eram apenas
"figuras e símbolos" da verdadeira Páscoa, a Páscoa cristã. Naquele
momento da regeneração batismal, participamos da morte de Cristo, que fazia
morrer em nós o pecado: tornamo-nos, e assim devemos permanecer pela graça, uma
nova massa, isto é, "nova criatura", "novo homem", a
exemplo de Jesus Cristo saído glorioso do sepulcro.
Os judeus, chegada a Páscoa, se abstinham de todo o fermento para comer a cordeiro pascal,
"assim também vós, cristãos, que
quereis participar do mistério da Ressurreição e unir-vos a Jesus Cristo,
Cordeiro imolado e ressuscitado por vós, deveis, doravante, levar uma vida
isenta de todo o pecado; deveis abster-vos desses maus desejos que são como que
um fermento de malícia e perversidade; deveis conservar em vós a graça que vos
fará viver na verdade e na sinceridade da lei divina.
Não podemos servir a dois senhores ao mesmo tempo. E, se
renunciamos ao demônio, suas obras que são os pecados, e suas pompas e vaidades
que levam ao pecado, digo, se renunciamos a tudo isto, é justamente para
vivermos para Deus. E este viver para Deus encerra em si uma infinidade de
graus. Supõe em primeiro lugar afastamento total de todo pecado mortal; pois,
entre este e a vida divina há incompatibilidade absoluta. Há depois a separação
do pecado venial, das raízes do pecado, de todo o motivo natural; desapego de
tudo quanto é criado. Quanto mais completa for esta separação, mais libertados
estamos, mais livres espiritualmente e mais se desenvolve e desabrocha também
em nós a vida divina; à medida que a alma se liberta do humano, abre-se para o
divino, vive na verdade a vida de Deus.
Caríssimos, permaneceremos em Jesus que é a Vida, pela
graça, pela fé que n'Ele temos, pelas virtudes de que Ele é o modelo perfeito.
E é preciso que Jesus Cristo reine em nossos corações. É mister que tudo em nós
Lhe seja submetido. Jesus deve ser a
nossa vida. Oxalá pudéssemos dizer com todo verdade como São Paulo: "Vivo, mas não sou mais que vivo, é
Jesus Cristo que vive em mim!"
Vamos resumir tudo também com palavras de São Paulo: "Portanto,
se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são lá de cima, onde Cristo
está sentado à destra de Deus; afeiçoai-vos às coisas que são lá de cima, não
às que estão sobre a terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida
com Cristo em Deus" (Col. III, 1-3). Amém!
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