sexta-feira, 12 de abril de 2019

ORAÇÕES JACULATÓRIAS



Caríssimos, devemos ter vida interior, estar sempre em oração, sempre na presença de Deus. Esta vida de oração é essencialmente o que distingue a vida espiritual da vida do mundo. O santo é homem de oração; o mundano é homem que não reza. É necessário, pois, para sermos de Deus e não do mundo, que rezemos sempre. "É preciso orar sempre e nunca deixar de o fazer" (S. Lucas XVIII, 1). E orar sempre é sentir continuamente a doce necessidade da oração; é ansiar por ela, porque a oração fortifica a nossa fé e inflama o nosso amor a Deus.

Os autores espirituais são quase unânimes em aconselhar que nos exercitemos na prática das orações jaculatórias. Caríssimos, elevemos ao céu durante o dia frequentes e espontâneas aspirações, aspirações estas que brotam livremente do grande fervor dos nossos corações. Como já vimos alhures, rezar sempre é também renovar frequentemente nossos atos de reta e pura intenção, isto é, procurando em tudo a glória de Deus. Quem reza sempre, vive num mundo diferente do que os outros homens que não rezam. Ao empreender alguma coisa, o homem interior sempre invoca o Espírito Santo. Recebida a graça, volta-se logo para o Pai Celestial, para o doce Hóspede da alma, e agradece. Reconhecendo suas culpas, pede sempre misericórdia: "Tem compaixão de mim, Senhor, porque sou um pecador". Quando se senta a mesa para a refeição, diz: "Meu Pai do Céu, como sois bom!" E quando vai para o descanso noturno, na oração da noite reza: "Dulcíssimo Coração de Jesus, recomendo-Vos  nesta noite o meu coração e o meu corpo, para que repousem docemente em Vós"; "Fazei que as palpitações do meu coração sejam outros tantos louvores que ofereçais, por mim, à Santíssima Trindade"; "fazei que o meu respirar se torne em atos de ação de graças e de afetos inflamados de amor por Vós"; "Meu Pai do Céu, nas vossas mãos encomendo a minha alma pedindo-Vos me façais tornar a ver a luz do dia para Vos servir e amar, viver e morrer na vossa santa graça, e, por fim, vos gozar na glória eterna. Amém!"

Caríssimos, vou resumir o que diz S. Francisco de Sales sobre as orações jaculatórias (Filotéia, Parte II, cap. XIII). Eleva muitas vezes o teu espírito e coração a Deus, através de jaculatórias breves e ardentes. Volve teu coração para todos os lados e dá a Deus todos os movimentos que puderes (de adoração, de petição, de oferecimento de si mesmo, de louvor, perdão das ofensas olhando para Jesus na cruz, põe a sua cruz em teu coração). Se nossa alma se acostuma a tratar tão familiarmente com Deus, aos poucos copiará em si as perfeições divinas. E este exercício do uso das orações jaculatórias não é incompatível com as nossas ocupações; e até favorece-as tornando a atenção a elas mais eficaz e suave. O viajante  -   diz o santo da doçura  -   que toma um pouco de vinho, para refrescar a boca e alegrar o coração, não perde o seu tempo porque renova as forças e se detém apenas para depois andar mais depressa e percorrer um caminho maior. Devemos dizer com o coração ou com os lábios tudo quanto o amor nos inspirar no momento, pois ele te inspirará tudo o que podes desejar. Quando são cantados com atenção e seriedade, os cânticos espirituais também podem servir como orações jaculatórias.

"Cabe aqui, diz S. Francisco de Sales, o exemplo de pessoas que se amam com um amor humano e natural; tudo nelas se ocupa desse amor. Quantas lembranças e recordações! Quantas reflexões! Quantos enlevos! Quantos louvores e protestos! Quantas conversas e cartas! Está-se sempre querendo pensar e falar disso e até nas cascas das árvores, nos passeios, há de se inscrever uma qualquer coisa. "Assim, continua o santo, aqueles que estão possuídos do amor a Deus só respiram por Ele e só aspiram ao prazer de amá-Lo; nunca deixam de falar e pensar n'Ele e, se fossem senhores dos corações de todos os homens, quereriam gravar neles o nome sacrossanto de Jesus. Nada neste mundo que não lhes fale dos atrativos do divino amor e não lhes anuncie os louvores de seu Dileto. Sim -  diz Santo Agostinho, depois de Santo Antão  -  tudo o que existe neste mundo lhes fala de Deus na eloquência duma linguagem muda, mas muito compreensível à inteligência deles, e seu coração transforma estas palavras e pensamentos em aspirações amorosas e em doces surtos, que os elevam até a Deus".

De tudo que acontece nesta vida mortal se podem deduzir pensamentos salutares e santas aspirações. "Oh! infelizes daqueles - exclama o autor da Filotéia  - que usam das criaturas dum modo contrário à intenção do Criador. Bem-aventurados aqueles que procuram em tudo a glória do Criador e que usam da vaidade das criaturas para glorificar a verdade incriada.

"Grava bem profundamente em tua mente que a devoção consiste principalmente neste exercício de recolhimento espiritual e de orações jaculatórias. A sua utilidade é tão grande que pode suprir a falta de todos os modos de rezar; e, ao contrário, se se é negligente neste ponto, dificilmente se encontra um meio de ressarcir a perda. Sem este exercício não se podem cumprir os deveres da vida contemplativa e, quanto aos da vida ativa, só com muita dificuldade. O descanso seria sem ele um meio ócio e o trabalho não passaria dum estorvo e dissipação. Por estas razões eu te exorto e conjuro a adquirir com todo o teu coração esta prática e a jamais a abandonar". Amém!

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