Caríssimos, devemos ter vida interior, estar sempre em
oração, sempre na presença de Deus. Esta vida de oração é essencialmente o que
distingue a vida espiritual da vida do mundo. O santo é homem de oração; o
mundano é homem que não reza. É necessário, pois, para sermos de Deus e não do
mundo, que rezemos sempre. "É preciso orar sempre e nunca deixar de o
fazer" (S. Lucas XVIII, 1). E orar sempre é sentir continuamente a doce
necessidade da oração; é ansiar por ela, porque a oração fortifica a nossa fé e
inflama o nosso amor a Deus.
Os autores espirituais são quase unânimes em aconselhar que
nos exercitemos na prática das orações jaculatórias. Caríssimos, elevemos ao
céu durante o dia frequentes e espontâneas aspirações, aspirações estas que
brotam livremente do grande fervor dos nossos corações. Como já vimos alhures,
rezar sempre é também renovar frequentemente nossos atos de reta e pura
intenção, isto é, procurando em tudo a glória de Deus. Quem reza sempre, vive
num mundo diferente do que os outros homens que não rezam. Ao empreender alguma
coisa, o homem interior sempre invoca o Espírito Santo. Recebida a graça,
volta-se logo para o Pai Celestial, para o doce Hóspede da alma, e agradece. Reconhecendo
suas culpas, pede sempre misericórdia: "Tem compaixão de mim, Senhor,
porque sou um pecador". Quando se senta a mesa para a refeição, diz:
"Meu Pai do Céu, como sois bom!" E quando vai para o descanso
noturno, na oração da noite reza: "Dulcíssimo Coração de Jesus,
recomendo-Vos nesta noite o meu coração
e o meu corpo, para que repousem docemente em Vós"; "Fazei que as
palpitações do meu coração sejam outros tantos louvores que ofereçais, por mim,
à Santíssima Trindade"; "fazei que o meu respirar se torne em atos de
ação de graças e de afetos inflamados de amor por Vós"; "Meu Pai do
Céu, nas vossas mãos encomendo a minha alma pedindo-Vos me façais tornar a ver
a luz do dia para Vos servir e amar, viver e morrer na vossa santa graça, e,
por fim, vos gozar na glória eterna. Amém!"
Caríssimos, vou resumir o que diz S. Francisco de Sales
sobre as orações jaculatórias (Filotéia, Parte II, cap. XIII). Eleva muitas
vezes o teu espírito e coração a Deus, através de jaculatórias breves e
ardentes. Volve teu coração para todos os lados e dá a Deus todos os movimentos
que puderes (de adoração, de petição, de oferecimento de si mesmo, de louvor,
perdão das ofensas olhando para Jesus na cruz, põe a sua cruz em teu coração).
Se nossa alma se acostuma a tratar tão familiarmente com Deus, aos poucos
copiará em si as perfeições divinas. E este exercício do uso das orações
jaculatórias não é incompatível com as nossas ocupações; e até favorece-as
tornando a atenção a elas mais eficaz e suave. O viajante - diz
o santo da doçura - que
toma um pouco de vinho, para refrescar a boca e alegrar o coração, não perde o
seu tempo porque renova as forças e se detém apenas para depois andar mais
depressa e percorrer um caminho maior. Devemos dizer com o coração ou com os
lábios tudo quanto o amor nos inspirar no momento, pois ele te inspirará tudo o
que podes desejar. Quando são cantados com atenção e seriedade, os cânticos
espirituais também podem servir como orações jaculatórias.
"Cabe aqui, diz S. Francisco de Sales, o exemplo de
pessoas que se amam com um amor humano e natural; tudo nelas se ocupa desse
amor. Quantas lembranças e recordações! Quantas reflexões! Quantos enlevos!
Quantos louvores e protestos! Quantas conversas e cartas! Está-se sempre
querendo pensar e falar disso e até nas cascas das árvores, nos passeios, há de
se inscrever uma qualquer coisa. "Assim, continua o santo, aqueles
que estão possuídos do amor a Deus só respiram por Ele e só aspiram ao prazer
de amá-Lo; nunca deixam de falar e pensar n'Ele e, se fossem senhores dos
corações de todos os homens, quereriam gravar neles o nome sacrossanto de
Jesus. Nada neste mundo que não lhes fale dos atrativos do divino amor e não
lhes anuncie os louvores de seu Dileto. Sim -
diz Santo Agostinho, depois de Santo Antão - tudo
o que existe neste mundo lhes fala de Deus na eloquência duma linguagem muda,
mas muito compreensível à inteligência deles, e seu coração transforma estas
palavras e pensamentos em aspirações amorosas e em doces surtos, que os elevam
até a Deus".
De tudo que acontece nesta vida mortal se podem deduzir
pensamentos salutares e santas aspirações. "Oh! infelizes daqueles -
exclama o autor da Filotéia - que usam
das criaturas dum modo contrário à intenção do Criador. Bem-aventurados aqueles
que procuram em tudo a glória do Criador e que usam da vaidade das criaturas
para glorificar a verdade incriada.
"Grava bem profundamente em tua mente que a devoção
consiste principalmente neste exercício de recolhimento espiritual e de orações
jaculatórias. A sua utilidade é tão grande que pode suprir a falta de todos os
modos de rezar; e, ao contrário, se se é negligente neste ponto, dificilmente se
encontra um meio de ressarcir a perda. Sem este exercício não se podem cumprir
os deveres da vida contemplativa e, quanto aos da vida ativa, só com muita
dificuldade. O descanso seria sem ele um meio ócio e o trabalho não passaria
dum estorvo e dissipação. Por estas razões eu te exorto e conjuro a adquirir
com todo o teu coração esta prática e a jamais a abandonar". Amém!
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