terça-feira, 30 de agosto de 2016



   Depois de mostrar o fracasso de ambos os lados, da parte dos gentios e dos judeus, depois de resolver uma objeção sobre as vantagens da circuncisão até aquele tempo, São Paulo vai enfeixar, no capítulo 3º, o seu argumento: Já que temos provado que judeus e gentios estão todos debaixo do pecado, assim como está escrito: Não há, pois, nenhum justo; não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis, não há quem faça bem, nem sequer um. A garganta deles é um sepulcro aberto; com as suas línguas fabricaram enganos; um veneno de áspides se encobre debaixo dos lábios deles, cuja boca está cheia de maldição e de amargura; os pés deles são velozes para derramar sangue. A dor e a infelicidade se acha nos caminhos deles, e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante dos olhos deles (Romanos III-9 a 18).

   Alguns protestantes de hoje ainda não compreendem este texto, porque se mostram apegados ao erro de Lutero, o qual aí enxergava a prova de que a natureza do homem está depravada completamente pelo pecado, de tal modo que não possa haver nenhum homem justo. Aí não se diz que não pode haver justos na terra, mas sim que o mundo tinha degenerado de tal forma, que os justos praticamente haviam desaparecido, nos tempos que antecederam a vinda de Cristo. Não há nenhum - explica Santo Tomás que é um modo de falar por hipérbole, figura pela qual se procura exagerar para encarecer. Desta figura usamos frequentemente dizendo - não vejo nada - quando o que vemos é muito pouca coisa. Uma hipérbole usou São João quando disse: Muitas outras coisas, porém, há ainda que fez Jesus; as quais, se se escrevessem uma por uma, creio que NEM NO MUNDO TODO PODERIAM CABER os livros que delas se houvessem de escrever (João XXI-25) e os judeus, quando disseram a respeito de Jesus: eis aí vai após ele todo o mundo (João XII-19); todo o mundo, isto é, muita gente. 

   Que podem existir justos na terra, que havia um ou outro naquele tempo, isto se mostra em outros textos da Escritura: E José, seu esposo, como era JUSTO... (Mateus I-19). Para serdes filhos de vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre JUSTOS e injustos (Mateus V-45). Eu não vim a chamar os JUSTOS, mas os pecadores (Mateus IX-13). O que recebe um JUSTO na qualidade de justo receberá a recompensa de justo (Mateus X-41). Herodes temia a João, sabendo que ele era varão JUSTO e santo (Marcos VI-20). Haverá maior júbilo no céu sobre um pecador que fizer penitência que sobre noventa e nove JUSTOS que não hão de mister penitência (Lucas XV-7). Havia, então em Jerusalém um homem chamado Simeão; e este home JUSTO e timorato esperava a consolação de Israel (Lucas II-25). O centurião Cornélio, homem JUSTO e temente a Deus... (Atos X-22).

   O caso de Cornélio é típico: era um gentio, não era circuncidado, nem observava a lei de Moisés, ainda não conhecia a Religião de Cristo e já é chamado justo. O que mostra que São Paulo fala de um modo geral. Em regra geral os gentios e os judeus, ou seja, todos os homens, não eram justos diante de Deus, mas esta regra geral tinha exceções. No meio da depravação geral, alguns cooperavam com a graça de Deus e a Ele eram agradáveis. 

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