Continuando na sua obra dissolvente, os judaizantes procuram induzir os Gálatas à profissão de judaísmo. E como São Paulo se lhes opõe vivamente, eles procuram diminuir a autoridade do Apóstolo, fazendo ver que ele não era como os outros, não tinha convivido com o Mestre, e assim não tinha o mesmo valor que os outros Apóstolos.
É contra eles que São Paulo escreve sua Epístola aos Gálatas a qual, do princípio ao fim, se refere a esta questão. Logo no primeiro versículo vai São Paulo defendendo a sua autoridade que os adversários procuram diminuir: Paulo Apóstolo, não pelos homens, nem por algum homem, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que O ressuscitou dentre os mortos (Gálatas I-1). E logo depois da saudação de costume, ele começa: Eu me espanto de que, deixando aquele que vos chamou à graça de Cristo, passáveis assim tão depressa a outro Evangelho; porque não há outro, se não é que há alguns que vos perturbam e querem transformar o Evangelho de Cristo. Mas ainda quando nós mesmos, ou um anjo do céu vos anuncie um Evangelho diferente do que nós vos temos anunciado, seja anátema (Gálatas I-6 a 8).
Este Evangelho diferente, de que fala São Paulo, é a doutrina daqueles que queriam obrigar os cristãos convertidos dentre os gentios a serem circuncidados; e um dos argumentos de que usa para mostrar como estão errados, é o seguinte: Ele esteve conferindo a sua doutrina com os outros Apóstolos e levou consigo a Tito, mas nem Tito foi impelido a circundar-se: Comuniquei com eles o Evangelho que prego entre os gentios, e particularmente com aqueles que pareciam ser de maior consideração, por temor de não correr em vão, ou de haver corrido. Mas nem ainda Tito, que estava comigo, sendo gentio, foi compelido a que SE CIRCUNCIDASSE (Gálatas II-2 e 3).
Basta ler com atenção a Epístola para se ver como o que São Paulo está condenando aí não é a doutrina católica de que a observância dos mandamentos, ou seja, a caridade para com Deus e com o próximo, seja necessária para a salvação. Esta é também a doutrina de Jesus, como provamos n capítulo 4º, e, consequentemente, a doutrina de São Paulo.
O que São Paulo condena é a heresia daqueles que, mesmo depois do que foi decidido pelos Apóstolos no Concílio de Jerusalém, ainda ensinam que para o homem ser um justo perante Deus, é necessária a observância daquelas cerimônias e prescrições da lei mosaica, a começar pela circuncisão.
Vejamos estas passagens da nossa Epístola aos Gálatas: Olhai que eu, Paulo, vos digo que se vos fazeis CIRCUNCIDAR, Cristo vos não aproveitará nada. E de novo protesto a todo homem que se CIRCUNCIDA que está obrigado a guardar TODA A LEI. Vazios estais de Cristo os que vos justificais pela LEI: decaístes da graça (Gálatas V-2 a 4).
Todos os que querem agradar na carne, estes vos obrigam a que vos CIRCUNCIDEIS, só por não padecerem eles a perseguição da cruz de Cristo. Porque estes mesmos que SE CIRCUNCIDAM não guardam a lei; mas querem que vos CIRCUNCIDEIS, para se gloriarem na vossa carne (Gálatas VI- 12 e 13).
E a conclusão a que chega São Paulo é que agora na religião de Cristo não há mais nenhuma distinção entre os que são circuncidados e os que não são, entre os judeus e os gentios; Não há JUDEU NEM GREGO, não há servo, nem livre, não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Jesus Cristo (Gálatas III-28).
São Paulo continua a considerar a prática dos 10 mandamentos como necessária à salvação, é o que se vê claramente na sua enumeração das obras da carne (Gálatas V-19 a 21) entre as quais ele inclui a impureza (pecado contra o 6º mandamento), a idolatria (contra o 1º), os homicídios (contra o 5º), as contendas, as invejas, as iras, as brigas que são contra a caridade para com o próximo, e finda dizendo: os que tais coisas cometem não possuirão o reino de Deus (Gálatas V-21). (Extraído do Livro "Legítima Interpretação da Bíblia", autor: Lúcio Navarro).
Nenhum comentário:
Postar um comentário