sábado, 13 de fevereiro de 2016

AS PAIXÕES: Fontes de nossos pecados


LEITURA MEDITADA: Dia 13 de fevereiro

Sendo o pecado o mal absoluto e extremo, devemos empregar todos os meios, todos os esforços, para evitá-lo. E nunca alcançaremos a  pureza de coração que nos dá aquela liberdade e facilidade em compreender as coisas de Deus, senão levarmos o combate ao pecado até às suas fontes. Dos regatos e rios remontaremos às suas fontes, para nos esforçarmos em secá-los. E quais são estas fontes dos rios e regatos de lamas contaminadas do pecado? São as nossas paixões.

I - Devemos temer todas as paixões, porque todas nos conduzem ao pecado: Enganam-nos, lisonjeiam-nos e tiranizam-nos. Três efeitos terríveis. Reflitamos sobre cada um deles.

1 - ENGANAM-NOS: As nuvens encobrem a luz do sol; as inclinações desregradas obscurecem a luz da fé, e até a da razão. O pecador fica cego quando se deixa dominar por alguma paixão. Por exemplo: Que dizia a Caim a inocência de Abel, a voz do sangue? Era seu irmão! Que diziam os cabelos brancos e o seu cargo de magistrados, aos infames anciãos, que tentaram manchar a virtude de Suzana, e não o conseguindo condenando à morte através de calúnia uma mulher santa, quando era obrigação deles defendê-la? Que diziam a Judas Iscariotes a bondade e as ternas palavras de Jesus? Mas, logo que a paixão entra em uma alma, amontoa nela tão densas trevas, que já não vê o que para outros é tão visível como o sol. É o que diz a Bíblia: "Serão destruídos como a cera que se derrete; caiu fogo de cima sobre eles, e não viram mais o sol" (Salmo 57, 9). É que toda paixão nasce do amor desordenado de si mesmo; ora, naquilo que nos lisonjeia, queremos crer sempre que não há mal, como diz Santo Agostinho: "Tudo o que nós queremos, nos parece santo". Na verdade, como diz o mesmo 

Santo Doutor: Somente amando a Deus de todo coração é que poderemos fazer tudo o que queremos, porque aí sim, tudo será santo. Mas, infelizmente, quem é dominado por alguma paixão, seja a avareza, seja a luxúria etc., logo que alguma paixão entra em uma alma, encontra-se sempre alguma desculpa; ou melhor, inventa-se uma, fundada na mesma paixão, na sua violência. Vê-se porém mais do que se quereria ver; e o que faz a iniquidade, é resistir à próprias luzes, porque é raro que a cegueira seja absoluta. Na verdade, apesar da paixão, descobre-se a lei que fala, o crime que a quebranta, e o castigo que a vingará. Por isso que a Bíblia diz que o temor de Deus é o início da sabedoria.


2 - LISONJEIAM-NOS: com os deleites que prometem, seduzem o coração, e arrastam a vontade. Em vão reclama a razão, brada a consciência, avisa a graça de Deus; a nada se atende. A imaginação inflama-se; ela EXAGERA o prazer, faz esquecer as consequências, e o homem cai. Oh! quanto importa que nos arranquemos, desde o princípio, aos atrativos da paixão! Caso contrário, a queda será fatal.

2 - TIRANIZAM-NOS: Concedendo-lhes alguma coisa, aumento o seu poder, torno-as exigentes, imperiosas. Tiro a mim mesmo a força que lhes dou. Cedi primeiramente às suas solicitações importunas, dentro em pouco tempo, já nada sei recusar-lhes, e as minhas condescendências tornam-se um hábito. Ora, o hábito, diz Sto. Agostinho, é como um corrente de ferro, que prende a vontade; e aonde não pode ela arrastar?


II - De todas as paixões, as mais temíveis são as que se disfarçam, porque arrastam aos últimos excessos do pecado:  As paixões disfarçam-se para três coisas: a) ou para esconder o crime; b) ou para o multiplicar; c) ou para tranquilizar a quem o comete.

a) Na verdade, o crime descoberto será sempre odioso, até àquele que o comete, porque a consciência lho representará sempre como oposto à ordem, à razão, e à lei da justiça, escrita no coração de todos os homens; e se ele é odioso até ao culpado, como o não será aos que o presenciam? Para escapar à vergonha e ao ódio que merece, é que a paixão se encobre. Por exemplo, quem acreditaria que o Iscariotes, ladrão, quisesse passar por advogado dos pobres? Contudo, a sua avareza é que lhe inspira esta queixa no episódio da Madalena: "Porque se não vendeu este bálsamo, para se dar aos pobres? Este disfarce é um crime a mais, isto é, a hipocrisia.

b) Raras vezes sucede que uma paixão, que se mostra com descaro, não seja reprimida, ou ao menos perturbada nas suas desordens. Mas, se ela consegue ocultar-se, nada a detém; entrega-se a todos os excessos. A mina explosiva, se é descoberta, é pouco perigosa; pelo contrário, tudo é para temer, quando o inimigo esconde o sua bomba aos olhos que o observam.  Exemplo: Cobrindo a sua inveja contra Jesus com a capa de zelo do bem público e da religião, é que os fariseus, com uma série de iniquidades, chegam ao crime mais monstruoso, ao deicídio.

c) Que artifícios, que subterfúgios, para ocultar aos olhos dos homens a desordem de certas paixões! Como se fosse possível, ocultar também aos olhos de Deus. Como se fosse possível enganar a Justiça divina, que vai pedir contas até de uma palavra ociosa. Muitas vezes até, quando a astúcia hipócrita não pode impedir que o mal transpire, procuram-se abafar as suspeitas à força de impudência. Prova-o o exemplo de Judas Iscariotes: A triste declaração que Jesus fez aos seus discípulos que um deles o atraiçoará, consterna-os. Cada um se consulta a si mesmo, nenhum ousa fiar-se na sua própria consciência; só o pérfido Apóstolo, que bem sabe que aquela palavra é para ele, e que o deve assustar mais que a todos, é o único que parece não sentir o menor susto; e ajuntando o insulto à audácia, pergunta friamente, com a maior cara de pau: "Por acaso sou eu, Mestre?"

Mister se faz uma última observação: Há uma paixão mais impudente que as outras: é a desonestidade ou impureza. A mentira, o embuste, o perjúrio, o sacrilégio estão, por assim dizer, a soldo desta paixão.  Esta paixão hedionda procura até esconder-se algumas vezes com uns ares de descaramento, que bastariam para a fazer conhecer.


Santo Ambrósio compara as paixões àquela febre ardente que padecia a sogra de São Pedro. Mas Jesus entrou na casa desta enferma, e a sarou. Na comunhão, peçamos a Jesus esta cura. Amém. 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

EFEITOS DO PECADO MORTAL

EFEITOS DO PECADO MORTAL
O pecado mortal é um mal absoluto, extremo; é a maior desgraça tanto para a alma como para o corpo. Podemos avaliar este mal pelos seus efeitos: 1- Danos espirituais; 2 - Danos  temporais.

1 - Danos espirituais: a) A PERDA DA GRAÇA DE DEUS E A DEFORMIDADE DA ALMA. - A alma na graça de Deus é tão bela que se pode dizer por pouco inferior aos anjos. É cara a Deus como a menina de seus olhos. Ela é a moradia de Deus: "Quem está na caridade está em Deus, e Deus nele" (1 Jo IV, 16). Os que estão na graça de Deus participam da própria natureza divina: "Participantes da natureza divina" (1 Pedro I, 4). Pois bem, com o pecado mortal, a alma torna-se disforme, feia, asquerosa. Era moradia de Deus, torna-se moradia do Inimigo e parecida com ele. Lemos na vida de São Filipe Neri que quando passava perto de alguém que tivesse pecado mortal na alma, tapava o nariz com o lenço, pois sentia um insuportável mau cheiro.

b) - A PERDA DOS MÉRITOS ADQUIRIDOS. O pecado mortal dá a morte aos méritos de todas as boas obras até então praticadas. Tornam-se obras mortificadas, sem valor. Pela misericórdia infinita de Deus, porém, se o pecador se arrepende e faz uma boa confissão ou tem uma contrição perfeita com o desejo de se confessar na primeira oportunidade, recupera todos estes merecimentos: dizemos que o mérito destas boas obras ressuscita. O pecado mortal pode assim ser comparado a um navio carregado de tesouros e que afunda num naufrágio. 

c) - A INCAPACIDADE DE MERECER. Além de perder os méritos já adquiridos, quem está em pecado mortal não pode adquirir nenhum mérito para a vida eterna. E isto constitui uma desgraça maior ainda, porque todas as obras boas praticadas estando em pecado mortal, são perdidas para sempre, isto é, nunca ressuscitam. É como diz o profeta Ageu I, 6: "O que ajuntou os seus ganhos, colocou-os num saco furado"."Se o justo se afastar de sua justiça e pecar... todas as obras justas que ele haja feito serão esquecidas" (Ezequiel XVIII, 24). É claro que aquele que está em pecado mortal e ainda não se arrependeu para fazer uma boa confissão, não deve deixar de fazer boas obras e de rezar, porque Deus, em sua infinita misericórdia, ainda olha para estas obras, para dar a este pecador a graça da conversão. Se assim fizer, o pecador recupera a graça de Deus, mas não recupera as obras boas que fez estando em pecado mortal, pois, já nasceram mortas.

d) - A ESCRAVIDÃO. "Quem comete o pecado é escravo do pecado" (S. João, VIII, 34), e por isso é escravo do dono do pecado que é o demônio. O diabo tenta e, se o pecador vira as costas para Deus, seu Pai, e volta-se para o demônio para fazer o mal que ele sugere, o Inimigo da alma  tem a vitória e diz: "Agora és meu!"

e) - A MORTE DA ALMA. "A vida de tua alma é Deus",  diz Santo Agostinho . E assim, se se expulsa a Deus, está morta a alma. Trata-se da morte espiritual. A alma é imortal, nunca vai acabar, mas com o pecado mortal ela está sem a vida sobrenatural. E esta morte espiritual é muito pior que a morte temporal. Às vezes, trazem aqui pessoas que parecem possuídas do demônio.  Muitas vezes nem é possessão. Os parentes e amigos ficam preocupadíssimos. E com razão. Mas procuro aproveitar a oportunidade para explicar que o mais terrível é a possessão da alma.  Com o pecado mortal, Deus é expulso, e, em Seu lugar entra o demônio. De Judas Iscariotes, que já estava em pecado mortal, Jesus disse: Há um no meio de vocês (os Apóstolos) que não está limpo, porque está com o demônio. Isto é terrível! Mas como é invisível quase ninguém dá importância. É, como diz a Bíblia: "O pecador comete o pecado como por brincadeira, e depois, ainda diz, que mal me adveio daí" (Prov. X, 23; Eclo V, 4 ) São João, no Apocalipse, diz ao pecador: "Tu te chamas vivo e estás como morto" (Apoc. III, 1).

f) - A PERDA DO CÉU.  O infeliz Lutero (+ 1546), que antes era frade e sacerdote, depois se meteu pelo caminho do pecado, apostatando da religião católica, falando os maiores absurdos do Papado. Dizia que todo mundo era infalível ao interpretar a Bíblia, menos o Anti-Cristo, o Papa. Pois bem, uma noite, ao fitar o céu estrelado, cheio de remorsos,  teve de exclamar: "É tão belo o céu, mas não é mais para mim!". Por um prato de lentilhas, Esaú renunciou o direito de primogenitura e depois, vendo a sua loucura, se afligia e rugia como um leão ferido. Mas aquele direito, a que renunciou era de uma herança terrena: ao passo que o pecador renuncia à herança do Céu!

2 - Danos corporais: a) A PERDA DA PAZ. O Senhor disse: "Não paz para os ímpios" (Isaías 48, 22). Diz ainda dos pecadores o Espírito Santo: "Em seu caminho há aflição e calamidade, e não conheceram o caminho da paz" (Salmo XIII, 3).

b) OS CASTIGOS DE DEUS: Assim diz o próprio Deus: "Muitos são os flagelos do pecador" (Salmo 31, 10). Como já vimos, Deus puniu o pecado já no céu. Jesus disse: "Vi Satanás cair do céu como um relâmpago" (S. Lucas, X, 18). Depois, pune o pecado no Paraíso terrestre. O dilúvio foi castigo do pecado. Lemos na Bíblia que os habitantes de Sodoma e Gomorra eram péssimos e pecadores descomedidos perante Deus (Gên. XIII, 13) E Deus mandou um dilúvio de fogo, que queimou e incinerou aquelas cidades com todos os habitantes. Só escaparam 4 pessoas - a família de Lot - que eram tementes a Deus e não cometeram aqueles pecados que bradam ao Céu. Diz ainda o Espírito Santo: "O pecado faz infelizes os povos" (Prov. XIV, 34).
Caríssimos, e se vedes que uns cometem tantos pecados e no entanto não são castigados por Deus, ficai sabendo que o castigo virá para eles também, cedo ou tarde; e quanto mais tardar a vir, tanto mais tremendo será.


Sigamos o conselho do Divino Espírito Santo: "Fugi do pecado como se foge da serpente" (Eclo XXI, 2). Amém

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O PECADO EM GERAL, CONSIDERADO COM RELAÇÃO A DEUS

O PECADO EM GERAL, CONSIDERADO COM RELAÇÃO A DEUS

"Não estejas sem temor nem mesmo dos pecados que te foram perdoados" (

A gravidade de uma culpa mede-se pela dignidade da pessoa ofendida. Ora o pecado ofende a Deus que é de uma dignidade infinita. Logo, não podemos compreender toda a gravidade do pecado. Daí dizer o Espírito Santo nas Sagradas Escrituras: "Quem pode compreender o pecado?  "Peccata quis intelligit? Mas devemos meditar na gravidade do pecado, para chegarmos até onde for possível. É evidente que a meditação da Paixão e Morte de Jesus Cristo na Cruz é o meio mais próprio para vermos a malícia do pecado. Jesus tomou sobre si os nossos pecados, e os lavou no seu Sangue. O Pai Eterno pôs o seu Filho como demonstração de sua Justiça. Deus, se Deus quiser, faremos também estas meditações. Nossas meditações vão num crescendo: primeiro refletimos sobre os pecados dos Anjos, depois de nossos primeiros Pais, agora, vamos meditar em nossos  próprios pecados, considerando-o com relação a Deus. Em outra meditação considerá-lo-emos em relação ao pecador.
A advertência do Divino Espírito Santo acima enunciada nos ajuda a compreender melhor a gravidade do pecado. Porque é que os cristãos do mundo depois de algumas lágrimas, derramadas por grandes pecados, e depois de uma pequena penitência, muitas vezes mais aparente que real, se julgam inteiramente pagos para com a justiça do Supremo Senhor? É porque se persuadem que o pecado é mais um esquecimento do que uma ofensa de Deus; ou julgam talvez que Deus não é sensível a esta ofensa porque a sua suprema Majestade o põe infinitamente acima dos nossos ultrajes. A estes dois erros oponhamos duas verdades: 1 - O pecado faz a Deus a maior injúria; 2 - O pecado faz a Deus a injúria que mais sente. Vamos meditar baseando-nos sempre na palavra de Deus. Nada mais seguro!
1 - O pecado faz a Deus a maior injúria. - Ouçamos, então, a queixa do próprio Senhor Supremo: "Quebraste o meu jugo, povo infiel, rompeste os laços que te prendiam ao teu benfeitor, ao teu Pai, e disseste: Não servirei" (Jeremias II 20). Eis o pecado com seus caracteres mais odiosos: revolta, desprezo, ingratidão. 1º - Revolta:  contra a autoridade mais sagrada. Deus dá as suas ordens, faz conhecer a sua vontade. É o mesmo Deus que deu a sua Lei no monte Sinai. Promulga-a também no interior das consciências: É o Criador, o Senhor, o Pai, o Salvador, o melhor amigo que quer um penhor do nosso amor. E o pecador responde com suas obras: não vos servirei, só obedecerei a meus apetites. Que audácia! que injustiça! que impiedade! que desprezo! que ingratidão!
É uma audácia insolente: pois um homem não receia medir-se com o Todo-Poderoso: "Porque estendeu sua mão  contra Deus, e se fez forte contra o Onipotente" (Jó XV, 25).
É uma injustiça clamorosa: quantos direitos desconhecidos! Esquecemos que todo poder vem de Deus, e que, na verdade, Ele é o nosso único Senhor: "Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos".
É uma impiedade sacrílega: o pecador desejaria destruir a Deus, e dar-lhe a morte, se pudesse.
2º - O pecado é o desprezo da mais augusta de todas as majestades, da única adorável: "Ouvi, ó céus, e tu, ó terra, escuta, porque o Senhor é quem falou. Criei filhos [diz Ele] e engrandeci-os, porém eles desprezaram-me." (Isaías I, 2). Desprezar a Deus! Fazer pouco caso d'Aquele que é o princípio de toda a excelência e perfeição! A amizade de Deus, a posse de Deus, eis o tesouro que se tratava de conservar. O pecador compara o que Deus vale com o que pode valer o prazer momentâneo. E prefere o aviltamento e o castigo, à honra e ao Céu com a posse eterna de Deus.
É uma ingratidão para com o mais generoso de todos os benfeitores. Jesus dizia aos judeus: Tenho feito no meio de vós um grande número de boas obras... por qual delas me apedrejais?Deus pode dizer o mesmo a todo pecador. Deus deu-me tudo; e o pecador usa de tudo contra seu benfeitor! Para possuir o meu coração e todos os meus afetos, poderia Deus fazer mais do que fez?
2 - Deus sente infinitamente a injúria que recebe do pecador. - Todo o ensino da religião tem por fundamento o ódio que Deus tem ao pecado. Com que indignação o castiga onde quer que o vê, como já meditamos anteriormente: nos Anjos, em Adão e na sua posteridade. Mas a maior demonstração  da Justiça divina contra o pecado é feita pelo Pai que envia seu Filho ao mundo para sofrer o morrer numa cruz. Aproximemos estes dois extremos, o Calvário e o inferno: um Deus morrendo pelo pecador, e o pecador por não ter aceito a misericórdia de Deus é condenado eternamente. Que é, pois, o pecado, que gera tanto ódio n'Aquele Coração divino, em que havia tanto amor?

Mas, ó pecador, por enormes que sejam os vossos pecados, eles serão esquecidos, se, com um sincero arrependimento, pedirdes o perdão deles em nome das Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O PECADO DE ADÃO PUNIDO




A soberba fez cair do Céu a terceira parte dos Anjos; a desobediência do primeiro homem subverte a terra. Adão reinava sobre toda a criatura visível e sobre si mesmo. Que grande paz havia na sua alma! Que inocentes gozos vinham oferecer-se espontaneamente aos seus sentidos, sujeitos à razão! Habitava um deliciosa estância. Deus falava-lhe como um amigo ao seu amigo. E esta felicidade não era mais que o prelúdio de uma felicidade muito superior, prometida à sua fidelidade; e este ditoso destino devia ele transmiti-lo a seus filhos. Mas ai! Só lhes legou lágrimas por herança! Logo que pecou, a ira divina manifesta-se contra ele e contra toda a sua posteridade. Novecentos anos de sofrimentos, de acerbos pesares, e depois a morte; e será necessário que todos os seus descendentes padeçam, chorem e morram, como ele! Que digo? Será necessário que um Homem-Deus, com a sua própria morte, venha dar a devida expiação! Oh! justiça tremenda! Onde achar noutra parte, a não ser no Calvário, um exemplo tão espantoso do castigo que merece o pecado. Deus Pai amou de tal modo os homens que lhes deu o seu próprio Filho e Jesus Cristo nos amou até ao extremo entregando-se a si mesmo livremente a todos os sofrimentos e à morte na cruz. Ó mistério de Justiça e de Misericórdia! Mas também de terror e horror pelo pecado!

Se compararmos a condição de nossos primeiros pais com a nossa:  os primeiros pais nos venceram nos dons da graça e justiça original, nós os superamos nos dons da reabilitação: "Onde abundou o pecado, superabundou a graça", diz São Paulo. Se eles foram criados em graça, nós somos regenerados no batismo. Se eles foram adornados do dom da integridade, nó somos reintegrados na Paixão de Cristo. Se eles podiam alimentar-se da árvore da vida, nós somos alimentados com o pão eucarístico. 

Se compararmos a sua queda com a nossa: o pecado de Adão foi um só, enquanto que os nossos são múltiplos; o de Adão foi sem castigo precedente, os nossos com a certeza do castigo; o de Adão anterior à Redenção, os nossos desprezando o sangue redentor; o de Adão expiado por novecentos anos, os nossos repetidos à vezes lá sem muito arrependimento. 

Se compararmos os castigos: Adão pecou e se envergonhou, eu peco e não sinto pejo do meu pecado, pelo menos o suficiente; Adão pecou e foi castigado, eu peco e glorio-me, que nenhuma mal me aconteceu: Pequei e que me aconteceu de triste? (Ecli V, 4); Adão pecou e foi imediatamente expulso do Paraíso Terrestre, e eu peco e sou perdoado e continuo sobre a terra com o tempo suficiente para fazer penitência, o Senhor não me nega as suas misericórdias: "Foi pela misericórdia do Senhor que não fui consumido" (Lam. III, 22). 

Considerando as males do pecado da Adão e Eva em relação a todas as gerações: os males físicos e os males morais, os males do corpo e os males da alma, as dores, as doenças, as epidemias, as mortes; os crimes mais bárbaros, mias obscenos, mais ultrajantes à majestade divina; as guerras, a peste, a fome, enfim, todos os flagelos que pesam sobre a natureza humana: eis os frutos do pecado! Tudo isto servirá para nos incutir um tão grande horror a este mal, que nos resolveremos a detestá-lo de todo o nosso coração e a evitá-lo a todo o custo. 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A PUNIÇÃO DO PECADO DOS ANJOS

Que eram os Anjos antes do pecado, antes da sua queda? Que vieram a ser pelo pecado? Eram as criaturas mais perfeitas. Eram puros espíritos que Deus criou para sua glória e seu serviço. Parecem refletir-se neles todas as perfeições da divindade. Seus nomes ajudam-nos a compreender a excelência da sua natureza: Anjos, Arcanjos, Tronos, Potestades, Virtudes, Dominações etc. Que feliz estado! Mas que vieram a ser pelo pecado? Ouçamos o próprio Jesus Cristo: "Vi cair do Céu a Satanás, como um relâmpago. E onde cai o anjo que se tornou mau pelo pecado? Falando da sentença no Juízo Final, Jesus diz: "Ide, malditos, para o fogo eterno, preparado para os demônio e seus anjos' (S. Mateus XXV, 41). E quem é o autor de tão tremendo castigo? Um ser infinitamente sábio, sempre tranquilo, sem sombra de paixão; um Deus, que deixaria de ser Deus, cessando de ser justo, se punisse uma falta mais do que ela merece; mais: um pai infinitamente bom, que recompensa com gosto, e só castiga com desprazer. E quais são as vítimas de tão terrível punição? São nobres criaturas, que Deus amava como suas obras primas, e que Lhe teriam dado tanta glória, por toda a eternidade! Finalmente, que repreende e condena Deus nos Anjos? Quantos pecados cometeram? Um só pecado! Mas este único pecado transformou os Anjos em demônios. Ó justiça tremenda! A Bíblia diz: "Delicta, quis intelligit"(Salmo XVIII, 13): Quem é capaz de compreender toda a malícia do pecado?

São Bernardo compara a queda dos Anjos com a dos Homens: "O anjo pecou uma vez, eu muitas; o anjo pecou sem preceder castigo, eu depois de conhecer o castigo dos anjos; o anjo pecou contra seu Criador, eu contra meu Criador e meu Redentor; o anjo perseverou no pecado reprovado pela divina justiça, eu continuo pecando perseguido pela divina misericórdia; o anjo pecou contra Deus que o criou, eu contra Deus que me remiu".

Comparemos agora o castigo: O dos anjos foi imediato, o meu diferido; o castigo dos anjos forçoso, o meu voluntário; o castigo dos anjos justo, o meu misericordioso; o castigo dos anjos sem resgate, o meu expiado na Cruz.

Reflitamos, por último, sobre esta justiça de Deus castigando tão terrivelmente os anjos: Deus não teve contemplação com a multidão de culpados; portanto, não digas que há outros que fazem como tu. Deus não teve contemplação com a dignidade e excelência das vítimas: assim, não te julgues seguro com o alto estado que ocupas. Deus não teve contemplação com os serviços que os anjos arrependidos e perdoados poderiam render à sua glória: portanto, não te fies nos serviços que tens prestado e podes ainda prestar a Jesus Cristo. Deus não teve contemplação com o lugar que os anjos ocupavam no céu: assim, não te fies no lugar santo em que vives, pois também aí podes pecar. Deus não teve contemplação com a sua justiça e castigou sem compaixão; não te fies no perdão dos pecados passados, pois pode ser que não encontrem mais misericórdia para o futuro.

Na verdade, meu Deus, eu merecia o mesmo castigo e muito maior ainda; mas a vossa misericórdia superou as minhas iniquidades, e é por isto que o meu coração está mais oprimido, e aumenta a minha confusão, e também o meu amor por Vós pelo muito que misericordiosamente perdoastes. Amém!

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Jesus pregando Retiro aos seus sacerdotes - ( X )

A  Paixão

   
Jesus Cristo: Pintura de Giotto na Capela Scrovegni
Pádua  -  ITÁLIA
   Como a mãe conta emocionada a seu filho os sofrimentos que passou para lhe salvar a vida, assim eu, meu filho, quero fazer-te meditar as dores da minha paixão. Não sou eu para ti mais do que uma mãe?
   Todos os dias durante o santo sacrifício convido-te, a ti e a teus fiéis, para virdes junto da minha cruz, e ali recordar-te as angústias que sofreu o meu divino Coração, as espantosas torturas e as humilhações infinitas que aceitei para te livrar da morte eterna e dar-te a vida.
   Oh, como é para mim doloroso ver as minhas igrejas quase desertas, enquanto se desenrolam todos os dias as pungentes cenas da tragédia do Calvário!
   E tu mesmo, meu sacerdote, assistes talvez a elas sem emoção, e fazes as cerimônias com uma precipitação e uma irreverência, que no meu Coração tiveram bem doloroso eco!
   Por ordem de meu divino Pai a angústia, o temor e a tristeza invadiram o meu Coração.
   Oh, como me senti só e estranho sobre a terra, sem amigos verdadeiros, no meio de homens perversos, sensuais e ingratos!
   Como suspirava pelo Céu, pela casa de meu Pai, pela companhia dos anjos, santos e puros, pela união amorosa com o meu divino Pai!
   Mas vi o seu rosto irritado pelos pecados com que me apresentava coberto e fui repelido. Mandou-me de novo à terra e conduziu-me a um medonho deserto, sem caminhos e sem água, e ali deu-me ordens de estar, na cruz, humilhado e desprezado.
   O terror apoderou-se do meu Coração e lançou-me em espantosas angústias. Tremia à vista dos cruéis  flagelos que iam lacerar a minha carne, dos espinhos compridos que deviam  perfurar a minha cabeça, e dos cravos que transpassariam as minhas mãos e os meus pés. 
   Vi com espanto aparecer os indignos e cruéis carrascos que me maltratariam escarnecendo-me e me escarrariam no rosto, e os fariseus hipócritas que me insultariam a caminho do Calvário, até mesmo nas agonias da morte.
   O meu Coração confrangeu-se de espanto considerando a minha Mãe Imaculada exposta, por minha causa, às zombarias e aos grosseiros insultos da populaça.
Coroação de espinhos: pintor Anton van Dyck
   Uma confusão inexprimível invadiu-me à vista das humilhações que me esperavam.
   Vi-me coberto com o roupão de insensato no palácio de Herodes, desnudo de todos os meus vestidos e exposto ignominiosamente aos olhares de multidão escarnecedora e sensual, ridicularizado como rei de espetáculo no corte de Pilatos, tido por mais vil que Barrabás e suspenso num patíbulo entre dois facínoras. E, pendente da cruz, o próprio Satanás lançou-me o seu desafio dizendo: "Se tu és o Filho de Deus, desce da cruz. Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo".
   Vi-me como que submerso num mar de pecados. Os crimes dos homens, quais vagas tumultuosas, cobriram-me de toda a parte. Abismado na minha confusão não ousava levantar os olhos ao meu Pai três vezes Santo, nem pedir-lhe que me livrasse de tantos opróbrios.
   Estava triste, triste até morrer, por causa dos inúmeros crimes e torpezas sem conta, cujo peso, eu, o Filho de Deus, levava, e que ultrajavam e irritavam o meu Pai muito amado.
   O meu Coração confrangeu-se de dor ao verificar a esterilidade dos meus sofrimentos para um grande número de almas, vendo o abandono dos meus próprios apóstolos, a negação de Pedro, a traição e perdição de Judas.
Nossa Senhora ao pé da Cruz
Pintor: Anton von Dyck
   O meu olhar penetrou tristemente o futuro e contei um a um todos os sacerdotes que me entregariam um dia a Satanás e lhe venderiam as almas compradas com o meu sangue. Oh, que horror!
   Estava triste não vendo em volta de mim ao pé da cruz senão um pequeno grupo de almas compassivas. Era aquilo toda a minha Igreja, o fruto de tantas fadigas, a recompensa de tantos benefícios, o resultado de tantos milagres!
   A aflição inundou o meu Coração pensando na minha pobre Mãe junto da cruz. Na véspera, as despedidas destroçaram o seu coração como o meu, e o pensamento da sua angústia não me abandonou mais, até à morte.
   Presente ao meu suplício, via bem claramente que era por ela que eu sofria mais que por todos os outros juntos, que sem os méritos dos meus sofrimentos previstos ela não seria a Imaculada. Sabia que, se eu a não tivesse amado tanto, não teria tanto que sofrer. Julgava-se, portanto, a causa das minhas dores, verdugo do seu próprio Filho. Via-se na necessidade de desejar ver-me sofrer e este desejo esmagava o seu coração maternal.
   A piedade de Filho fez com que eu fixasse sobre ela, de pé junto da cruz, um prolongado e doloroso olhar. E este olhar, velado já pelas sombras da morte, penetrou até à medula a sua alma, sem nunca mais o poder afastar de si.
   E enquanto a minha alma estava assim de todo oprimida, um oceano de sofrimentos corporais invadia todo o meu ser.
   A minha carne estava lacerada por unhas de ferro, a minha cabeça atormentada por cruéis espinhos, as minhas mãos e os meus pés trespassados com cravos, os meus ombros martirizados pela pesada cruz, os meus joelhos sangrentos pelas repetidas quedas, os ossos deslocados, os músculos enervados, a língua ressequida por uma sede cruel.
   Os algozes torturavam-me, mas a justiça do meu Pai dirigia certeiros os seus golpes.
   O meu corpo humano era uma harpa misteriosa, maravilhosamente delicado e sensível à dor. A onipotência divina tinha-se deleitado em afinar este instrumento para o fazer vibrar ao menor contato com o sofrimento. O próprio Deus, fazendo violência ao seu Coração paternal, reservou-se a incumbência de tocar todas as suas cordas arrancando-lhes, sem piedade, todos os acordes da dor.
   Sob a sua ação inexorável, mas justa, todas as fibras do meu corpo se abalaram em gemidos, e estas vibrações, como ondas dolorosas, passaram e repassaram todo o meu ser, propagando-se e repercutindo-se até ao infinito.
   Com a alma invadida de mortal angústia e com o corpo martirizado pelos sofrimentos, escarnecido dos meus inimigos, abandonado pelos meus, agonizante de vergonha e de dor, levantei ainda os olhos ao meu Pai, rogando-lhe que se compadecesse do seu Filho e que mostrasse à minha Humanidade esmagada o seu rosto paternal.
   Mas a resposta do justo Juiz foi terrível. O Deus três vezes Santo, vendo-me ainda coberto com a lepra afrontosa dos pecados de toda a humanidade, retirou de mim o seu rosto e senti-me abandonado do meu próprio Pai...!
   Eu aceitei esta suprema desolação para que os meus irmãos não se vissem dele separados e, inclinando a cabeça, morri nas angústias da mais extrema dor. 
   

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O PENSAMENTO DA ETERNIDADE



 LEITURA  MEDITADA - Dia 5 de fevereiro

   1 - Há uma eternidade. - A razão demonstra-me a imortalidade da minha alma; a mais evidente revelação ensina-me a ressurreição do meu corpo e a futura eternidade de todo o meu ser. O Divino Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo falou de maneira tão clara que não há possibilidade de interpretação em outro sentido, mas literalmente deixou claro que existe uma eternidade feliz para os bons e uma eternidade infeliz para os maus: "E estes [os maus] irão para o suplício eterno; e os justos para a vida eterna" (Mateus XXV, 46). Sim, depois desta vida em que tudo passa, entrarei na eternidade em que nada passa. Os céus e a terra, que são obra das mãos de Deus, hão de acabar; mas Deus e eu mesmo pela disposição da suprema vontade de Deus, permanecerei. Eis o que diz o Divino Espírito Santo nos Salma CI, 28 e 29: "Tu porém és sempre o mesmo, e os teus anos não têm fim. O filhos dos teus servos habitarão seguros, e a sua posteridade subsistirá diante de ti". Deus quis que a eternidade estivesse ligada com o meu ser, assim como o está n'Ele. Portanto, Deus e o homem subsistirão eternamente.

   2 - Que é a eternidade? - Com relação a nós, a eternidade é uma duração sem fim: nada pode medi-la; um estado sempre fixo: nada pode mudá-lo; duração que não se pode medir e estado imutável, são as ideias mais simples e mais verdadeiras que eu posso ter da eternidade. Na verdade é uma duração sem fim, pois, qualquer que seja o número que se lhe ajunte, não se aumenta; qualquer que seja a quantidade que se lhe tire, não se abrevia. Sempre! nunca! não se pode exprimir melhor a duração da eternidade. Poder-se-ia dizer, um dia, de um homem: "Começa a us eternidade (quando acaba de morrer)"; e nunca se dirá com verdade, que ele chegou à terceira, à quarta parte, que percorreu a milésima parte da sua eternidade, ela estará sempre para ele tão inteira como no momento em a principiou. Quanto tempo estará um santo gozando da sua suprema felicidade no Céu? Sempre. Quando vai acabar ou mesmo diminuir esta felicidade? Nunca! Quanto tempo estará o condenado nos tormentos? Sempre! Quando vão acabar estes sofrimentos ou, ao menos, diminuir? Nunca! A eternidade nunca acaba e nunca muda. O Divino Espírito Santo no Livro do Eclesiastes  XI, 3,  faz a seguinte comparação: " Se a árvore cair para a parte do meio-dia ou para a do norte, em qualquer lugar onde cair, aí ficará". Quantas gotas d'água há nos oceanos, quantos grãos de areia há em todas as praias, quantas folhas de todas as árvores no mundo, quantas letras em todos os livros e computadores da terra, tudo isto multiplicado por milhões de séculos não é nada em comparação da eternidade.  As mudanças são próprias da nossa condição presente; a imutabilidade está ligada ao nosso destino futuro. Aqui, as horas seguem-se umas às outras, sem se ajuntarem; lá, tudo é invariável e permanente. Nenhuma mudança há de temer no Céu; nenhuma mudança a esperar no inferno. Há uma coisa terrível na eternidade infeliz: assim como há a eternidade do sofrimento, há também o sofrimento da eternidade. A esperança de acabar um dia o sofrimento, não deixa de ser um alívio. Pois bem, no inferno não há esta esperança.

Caríssimos, para terminar, quero fazer uma pergunta. Não há outra alternativa: um dia cairei na eternidade. Qual será a minha eternidade? Ainda bem que só depende de mim! E não posso esquecer nunca : há um só passo entre mim e a eternidade. Pelo que acabamos de meditar devemos concluir que, em se tratando de eternidade, todo cuidado é pouco. E não esqueçamos mais uma verdade: não se pode voltar atrás. "A vós que sois meus amigos, disse Jesus, quero dizer que não deveis temer aqueles que só podem tirar a vida corporal e nada mais podem fazer; direi a quem deveis temer: temei Aquele que tem poder de tirar a vida e depois lançar no inferno o corpo e a alma".


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

EFEITOS DO PECADO MORTAL
O pecado mortal é um mal absoluto, extremo; é a maior desgraça tanto para a alma como para o corpo. Podemos avaliar este mal pelos seus efeitos: 1- Danos espirituais; 2 - Danos  temporais.
1 - Danos espirituais: a) A PERDA DA GRAÇA DE DEUS E A DEFORMIDADE DA ALMA. - A alma na graça de Deus é tão bela que se pode dizer por pouco inferior aos anjos. É cara a Deus como a menina de seus olhos. Ela é a moradia de Deus: "Quem está na caridade está em Deus, e Deus nele" (1 Jo IV, 16). Os que estão na graça de Deus participam da própria natureza divina: "Participantes da natureza divina" (1 Pedro I, 4). Pois bem, com o pecado mortal, a alma torna-se disforme, feia, asquerosa. Era moradia de Deus, torna-se moradia do Inimigo e parecida com ele. Lemos na vida de São Filipe Neri que quando passava perto de alguém que tivesse pecado mortal na alma, tapava o nariz com o lenço, pois sentia um insuportável mal cheiro.
b) - A PERDA DOS MÉRITOS ADQUIRIDOS. O pecado mortal dá a morte aos méritos de todas as boas obras até então praticadas. Tornam-se obras mortificadas, sem valor. Pela misericórdia infinita de Deus, porém, se o pecador se arrepende e faz uma boa confissão ou tem uma contrição perfeita com o desejo de se confessar na primeira oportunidade, recupera todos estes merecimentos: dizemos que o mérito destas boas obras ressuscita. O pecado mortal pode assim ser comparado a um navio carregado de tesouros e que afunda num naufrágio. 
c) - A INCAPACIDADE DE MERECER. Além de perder os méritos já adquiridos, quem está em pecado mortal não pode adquirir nenhum mérito para a vida eterna. E isto constitui uma desgraça maior ainda, porque todas as obras boas praticadas estando em pecado mortal, são perdidas para sempre, isto é, nunca ressuscitam. É como diz o profeta Ageu I, 6: "O que ajuntou os seus ganhos, colocou-os num saco furado"."Se o justo se afastar de sua justiça e pecar... todas as obras justas que ele haja feito serão esquecidas" (Ezequiel XVIII, 24). É claro que aquele que está em pecado mortal e ainda não se arrependeu para fazer uma boa confissão, não deve deixar de fazer boas obras e de rezar, porque Deus, em sua infinita misericórdia, ainda olha para estas obras, para dar a este pecador a graça da conversão. Se assim fizer, o pecador recupera a graça de Deus, mas não recupera as obras boas que fez estando em pecado mortal, pois, já nasceram mortas.
d) - A ESCRAVIDÃO. "Quem comete o pecado é escravo do pecado" (S. João, VIII, 34), e por isso é escravo do dono do pecado que é o demônio. O diabo tenta e, se o pecador vira as costas para Deus, seu Pai, e volta-se para o demônio para fazer o mal que ele sugere, o Inimigo da alma  tem a vitória e diz: "Agora és meu!"
e) - A MORTE DA ALMA. "A vida de tua alma é Deus",  diz Santo Agostinho . E assim, se se expulsa a Deus, está morta a alma. Trata-se da morte espiritual. A alma é imortal, nunca vai acabar, mas com o pecado mortal ela está sem a vida sobrenatural. E esta morte espiritual é muito pior que a morte temporal. Às vezes, trazem aqui pessoas que parecem possuídas do demônio.  Muitas vezes nem é possessão. Os parentes e amigos ficam preocupadíssimos. E com razão. Mas procuro aproveitar a oportunidade para explicar que o mais terrível é a possessão da alma.  Com o pecado mortal, Deus é expulso, e, em Seu lugar entra o demônio. De Judas Iscariotes, que já estava em pecado mortal, Jesus disse: Há um no meio de vocês (os Apóstolos) que não está limpo, porque está com o demônio. Isto é terrível! Mas como é invisível quase ninguém dá importância. É, como diz a Bíblia: "O pecador comete o pecado como por brincadeira, e depois, ainda diz, que mal me adveio daí" (Prov. X, 23; Eclo V, 4 ) São João, no Apocalipse, diz ao pecador: "Tu te chamas vivo e estás como morto" (Apoc. III, 1).
f) - A PERDA DO CÉU.  O infeliz Lutero (+ 1546), que antes era frade e sacerdote, depois se meteu pelo caminho do pecado, apostatando da religião católica, falando os maiores absurdos do Papado. Dizia que todo mundo era infalível ao interpretar a Bíblia, menos o Anti-Cristo, o Papa. Pois bem, uma noite, ao fitar o céu estrelado, cheio de remorsos,  teve de exclamar: "É tão belo o céu, mas não é mais para mim!". Por um prato de lentilhas, Esaú renunciou o direito de primogenitura e depois, vendo a sua loucura, se afligia e rugia como um leão ferido. Mas aquele direito, a que renunciou era de uma herança terrena: ao passo que o pecador renuncia à herança do Céu!
2 - Danos corporais: a) A PERDA DA PAZ. O Senhor disse: "Não paz para os ímpios" (Isaías 48, 22). Diz ainda dos pecadores o Espírito Santo: "Em seu caminho há aflição e calamidade, e não conheceram o caminho da paz" (Salmo XIII, 3).
b) OS CASTIGOS DE DEUS: Assim diz o próprio Deus: "Muitos são os flagelos do pecador" (Salmo 31, 10). Como já vimos, Deus puniu o pecado já no céu. Jesus disse: "Vi Satanás cair do céu como um relâmpago" (S. Lucas, X, 18). Depois, pune o pecado no Paraíso terrestre. O dilúvio foi castigo do pecado. Lemos na Bíblia que os habitantes de Sodoma e Gomorra eram péssimos e pecadores descomedidos perante Deus (Gên. XIII, 13) E Deus mandou um dilúvio de fogo, que queimou e incinerou aquelas cidades com todos os habitantes. Só escaparam 4 pessoas - a família de Lot - que eram tementes a Deus e não cometeram aqueles pecados que bradam ao Céu. Diz ainda o Espírito Santo: "O pecado faz infelizes os povos" (Prov. XIV, 34).
Caríssimos, e se vedes que uns cometem tantos pecados e no entanto não são castigados por Deus, ficai sabendo que o castigo virá para eles também, cedo ou tarde; e quanto mais tardar a vir, tanto mais tremendo será.

Sigamos o conselho do Divino Espírito Santo: "Fugi do pecado como se foge da serpente" (Eclo XXI, 2). Amém

TUDO É DO CRISTÃO, MAS ELE MESMO É DE JESUS CRISTO - ARTIGO 17

LEITURA MEDITADA


"Todas as coisas são vossas, ou seja Paulo, ou seja Apolo, ou seja Cefas, ou seja o mundo, ou seja a vida, ou seja a morte ou sejam as coisas presentes, ou sejam as futuras; tudo é vosso; mas vós (sois) de Cristo, e Cristo de Deus" (1 Coríntios. III, 22 e 23).


Estas palavras mostram-nos, no cristão, a mais gloriosa realeza e a mais nobre servidão. Tudo é seu: mas ele mesmo é de Jesus Cristo.
   1 - Tudo é meu. - Quando Deus me adotou, na fonte do batismo, revestiu-me de uma admirável realeza, dizendo-me, pela boca do grande Apóstolo: Meu filho, tudo é teu: todas as coisas são vossas. Que imenso horizonte se descobre, aqui, aos olhos da minha fé! Desde o momento em que sou filho de Deus, tudo me pertence: em primeiro lugar, a Igreja, representada pelos homens apostólicos, ou Paulo, ou Apolo, ou Cefas. Sim, a Igreja é minha; a Igreja, com o esplendor dos seus mistérios, com as águas vivas de seus Sacramentos, a sua nuvem de mártires, ou testemunhas, de protetores e de modelos; com os seus tesouros de graças, verdadeiramente inesgotáveis. Os trabalhos dos Apóstolos e dos seus sucessores, a sua vida, a sua morte: tudo o que é da Igreja, é meu. Todos os seus ministros, todos os meios de santificação de que dispõe, não me pertencem menos que a luz e o orvalho do céu. Que cuidado devo ter em  aproveitar-me de tamanho tesouro! Uma alma ingrata não pode meditar, sem terror, estas palavras do Apóstolo: "A terra que absorve a chuva que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa a quem a cultiva, recebe a bênção de Deus. Mas, se ela produz espinhos e abrolhos, é reprovada e está perto da maldição, e o seu fim é a queima" (Hebreus VI, 7 e 8).

Mas, se a Igreja é minha, e o mundo é da Igreja, é, por conseguinte, meu o mundo, ou seja todas as coisas criadas, ou o mundo. Oh! quantas vozes me dão as criaturas, para me incitar a amar o meu Deus! Como se doem e gemem, quando faço violência à sua natureza, desviando-as do seu fim, empregando em ofender a Deus, o que me é dado para ajudar-me a servi-Lo!

A vida é minha, ou a vida: sim, a vida, com todas as suas vicissitudes, tristezas, alegrias, dias belos e dias sombrios, tribulações e consolações. Diz a Sagrada Escritura que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam ao Senhor (Cf. Romanos. VIII, 28): sim, a vida, que o Filho de Deus veio trazer à terra: Eu vim para que tenham a vida; e tenham-na com abundância" (S. João. X, 10). E não é Ele mesmo a vida?; ora, Jesus pertence-me: seu Pai deu-mo; Ele mesmo se deu, e se dá, ainda, a mim todos os dias, na qualidade de pão vivo e princípio de vida: "Eu sou o pão vivo que dá a vida aos homens" (S. João, VI, 48 e 51).

A morte é minha, ou a morte. Caríssimos, é verdade que não posso evitá-la, mas posso pôr-me em estado, não só de não a temer, mas, também, de a desejar, como dizia São Paulo: "Tenho o desejo de estar desatado e estar com Cristo" (Filipenses, I, 23). Desde que o meu Salvador venceu a morte, só de mim depende fazê-la minha serva, e tirar dela, grande utilidade; posso constrangê-la a abrir-me as portas da prisão, e a introduzir-me no Céu.

Tudo é, pois, meu: o futuro, assim como o presente; o bem, que Deus me faz, é um penhor seguro do que me prepara. 

   2 - Sou de Jesus Cristo.  - Sou de Jesus Cristo, como preço da sua paixão e morte. Jesus fez a aquisição de todo o meu ser, entregando-se a si mesmo por mim. Não sou de mim mesmo; como custei caro ao meu amável Redentor! Pagando o meu resgate, e incorporando-me em si, pelo batismo, Jesus quis ter mais uma inteligência, para contemplar a seu Pai adorável, mais uma vontade, para O seguir com amor, mais um coração, para o amar, mais uma boca, para cantar eternamente os seus louvores. Ser de Jesus Cristo é o meu título de nobreza. Mas cumpre não esquecer que  - Nobreza, obriga. Para ser de Jesus Cristo, é necessário ter o seu Espírito: "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, este não é d'Ele" (Romanos VIII, 9).

Terminemos com Santo Ambrósio: "Os homens do mundo têm tantos senhores como paixões. A luxúria vem, e diz: Sois meu, porque cobiçais os prazeres da carne. A avareza vem, e diz: Sois meu; o ouro e a prata, que possuís, são o preço da vossa liberdade. Vêm todos os vícios, e cada um diz: Sois meu. Não pode ser inteiramente de Jesus Cristo, senão aquele que está livre de todo o apego culpável, e mostra sempre, com o seu procedimento, que é servo deste adorável Senhor".

Sou vosso, ó Jesus: isto explica os cuidados paternais da vossa Providência a meu respeito e nisto fundo a esperança da minha salvação. E poderia eu perder-me nas vossas mãos? Não, Senhor; e, salvando-me, será um bem vosso que salvareis. Arrependo-me e espero vossa misericórdia, ó Jesus, por tantas e tantas vezes que ousei dispor de mim, em detrimento dos vossos direitos mais incontestáveis: usando do meu espírito, do meu coração, do meu corpo, da minha saúde, do meu tempo, como se tudo isto me pertencesse; e que uso, meu Deus, fiz eu de tudo isto? Mas, pela vossa graça, tomo a resolução de combater, energicamente, tudo o que pode separar-me de Vós. Amém!


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

MEIOS SOBRENATURAIS CONCEDIDOS AO HOMEM PARA ALCANÇAR O SEU FIM ÚLTIMO

LEITURA MEDITADA - Dia 3 de fevereiro

Deus, que é Pai, concede-nos a sua graça e dá-Se a si mesmo ao homem. Quis ser o nosso fim e também o Meio para chegarmos a Ele. "Amou-nos tanto, que nos deu o seu Filho unigênito" (João, III, 16).

   1º - Deus concede a sua graça. São todos os auxílios que nos são dados, pelos merecimentos de Jesus Cristo, para nos conduzirem à salvação: graças exteriores: como a palavra de Deus, os exemplos do Salvador e dos Santos, as ocasiões favoráveis que nos são oferecidas para nos santificarmos; tudo o que, fora de nós, pode nos desviar-nos do mal, e induzir-nos ao bem.

  Graças interiores: graça habitual, graça atual; luz que nos ilumina, moção interior que nos move. Temores, desejos, impressões salutares; tudo o que nos desapega das criaturas e de nós mesmos, para nos unir a Deus; tudo o que nos mantém na prática da virtude, e nos ajuda a vencer as tentações. E, meditando sobre a graça, podemos pensar no que Jesus disse a mulher samaritana: "Ó se tu conhecesses o dom de Deus!" (Jo. IV, 10). Na verdade, a graça é um bem, que excede, sem comparação, todos os tesouros do mundo; e esta graça é oferecida a todos, sob tantas formas diversas! Deus concede-ma com prodigalidade: os  exercícios de piedade todos os dias, para muitos há a possibilidade da santa missa também todos os dias, ou, ao menos, frequentemente; quase a todo momento, alguma luz da verdade, alguma santa inspiração. E qual tem sido minha correspondência? Receio muito, que Deus lance o mesmo anátema que a Saul: "Como tu rejeitaste a palavra do Senhor, o Senhor te rejeitou a ti; as graças e os favores novos, que eu te destinava, dei-os a outro melhor que tu" (1 Reis XV, 23 e 28). Caríssimos, pode alguém reconhecer-se infiel à graça, e não tremer, vendo este precioso dom passar de Heli a Samuel, de Saul a Davi, de Judas Iscariotes a S. Matias? Mas, Senhor, já que vos lembrais da vossa misericórdia, ainda quando estais irado (Habacuc, III, 2) suplico-Vos que me faleis de novo; o vosso servo escuta-Vos com um coração dócil.
   2º - Deus dá-se a si mesmo. - A liberalidade de Deus para com o homem chegou ao mais prodigioso excesso. Achou que era pouco ter-nos dado os Anjos para nossa guarda, e ter posto ao nosso serviço, as suas inumeráveis criaturas; quis, Ele que é o nosso fim, ser, também, o nosso meio.  "Deus amou-nos de tal modo que nos deu o seu Filho Unigênito" (Jo III, 16). Este filho adorável deu-se a si próprio: " (Tit. II, 14). Nascendo no presépio de Belém, fez-se nosso irmão; no Cenáculo, nosso alimento; no Calvário morrendo na cruz, fez-se nosso resgate; reinado no Céu dá-se-nos como nosso prêmio eterno.  E este dom máximo de si mesmo é justamente para nos facilitar a salvação, isto é, como meio de soberana eficácia.
Tendo a Jesus, que nos falta, para preenchermos todas as condições da salvação? É na verdade, a inefável misericórdia de Nosso Pai do Céu! Eis: O Eterno Pai diz-me: Toma o meu Filho, dou-to; o Filho diz: Toma-me, e oferece-me, por ti, a meu Pai. Meditemos nisto: sem Jesus Cristo, que valeriam as minhas adorações, as minhas ações de graças, as minhas orações, as minhas satisfações? Mas, quando uno o meu pensamento ao pensamento de Jesus Cristo, os meus afetos aos seus, as minhas fracas penitências às suas infinitas satisfações,  os testemunhos do meu respeito, do meu amor aos que Ele mesmo oferece a seu Eterno Pai, em seu nome, e em nome de todos os seus membros; quando uno a minha oração à sua, a voz do meu coração contrito à voz do seu sangue: é óbvio que o Pai fica satisfeito; e, assim, já não temo que rejeite as minhas homenagens e as minhas petições! Sou muito feliz em ter certeza que assim posso cobrir a minha soberba com a humildade do meu Salvador, as minhas revoltas com a sua obediência, as minhas culpas com a sua santidade, a minha vida abominável com a sua vida adorável! Assim, não obstante o meu nada e a minha profunda indignidade, posso desempenhar-me para com o meu Deus. Basta recorrer ao seu Filho; n'Ele encontro tudo o que me falta a mim.

Caríssimos, tomemos a resolução de nos unirmos muitas vezes, a Jesus Cristo, à sua intenção, à sua ação. Façamo-lo principalmente quando participarmos da Santa Missa. Amém!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

ARTIGO 16

  ATO DE PERFEITO AMOR A DEUS

"Conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele"... "Nós, portanto, amemos a Deus, porque Deus nos amou primeiro" (1 S. João, IV, 16 e 19). 

 Primeiramente um esclarecimento: Habitualmente, em nosso amor de Deus há mistura de amor puro e de amor de esperança, o que quer dizer que amamos a Deus por Si mesmo, porque é infinitamente bom, e também porque é a fonte de nossa felicidade. Estes dois motivos não se excluem, pois Deus quis que em O amar e glorificar encontrássemos a nossa felicidade. Não nos inquietemos, pois, desta mistura, e, pensando no céu, digamo-nos somente que a nossa felicidade consistirá em possuir a Deus, em O ver, amar e glorificar; então o desejo e a esperança do céu não impedem que o motivo dominante das nossas ações seja verdadeiramente o amor de Deus.

   O Ato de Amor a Deus é a maior e mais preciosa ação que se possa ser feito, tanto no céu como na terra. A alma que faz mais Atos de Amor a Deus, é a alma mais amada por Deus no céu e na terra. O Ato de Amor a Deus é o mais poderoso e eficaz meio para chegar bem depressa, e facilmente, a mais íntima união com Deus, à mais alta santidade e à maior paz da alma. (Beato Olier).

   O Ato de perfeito Amor a Deus realiza imediatamente o mistério da união da alma com Deus. E se esta alma fosse culpada dos maiores erros, ainda que numerosos, adquiriria imediatamente a Graça de Deus com este Ato, com a condição de desejar se confessar o quanto antes. Não pode comungar antes da confissão. Mas queremos dizer que feito o Ato de perfeito Amor a Deus, a alma por mais pecadora é perdoada por este Ato e se morrer antes de se confessar não vai para o inferno. Está salva.

   Este ato purifica a alma dos pecados veniais, das imperfeições, dá o perdão do pecado, dá também a remissão da pena por todos os pecados e restitui os méritos perdidos. O Ato perfeito de Amor a Deus torna a dar a alma imediatamente, a inocência batismal. É este ato o meio eficaz para converter os pecadores, salvar os moribundos, libertar as almas do Purgatório, e para consolar os que sofrem, para ajudar os Padres, para ser útil às almas e à Igreja.

   Um Ato perfeito de Amor a Deus aumenta a glória exterior do próprio Deus, da Santíssima Virgem e de todos os Santos do Paraíso; soergue todas as almas do Purgatório; obtém acréscimo da graça para todos os fiéis sobre a terra, reprime o poder maligno do inferno sobre as criaturas. O menor Ato de amor a Deus chega como bênção e graça até o selvagem que mora na última choupana abandonada nos limites da terra.

   O Ato de Amor a Deus é o mais poderoso meio de evitar o pecado, de vencer as tentações e também para adquirir todas as virtudes e merecer todas as graças.

   "O menor Ato de perfeito Amor a Deus tem mais efeito, mais merecimento e mais importância, que todas as boas obras em conjunto". (São João da Cruz) É óbvio que São João da Cruz está se referindo às obras boas mas não feitas com perfeito amor a Deus.
   O Ato de Amor a Deus é a ação mais simples, mais fácil, mais curta ou rápida que se pode fazer, pois basta dizer com toda simplicidade: "Meu Deus, eu Vos amo".
   É tão fácil fazer um Ato de Amor a Deus. Pode-se realizá-lo a todo momento, em todas as circunstâncias, no meio do trabalho, entre a multidão humana, seja qual for o lugar, e num instante de tempo. O Bom Deus está sempre presente, ouvindo, esperando afetuosamente colher do coração da criatura essa expressão de amor. Ele deseja somente que a alma que faz um Ato de Amor conserve-se atenta um momento para poder Ele, Deus responder-lhe por sua vez: "Eu também te amo; Eu te amo muito!"
   O Ato de amor não requer esforço nem inteligência. Não interrompe a atividade, não exige fórmulas particulares.
   O Ato de Amor não é um ato de sentimento; é um ato da vontade. Elevado infinitamente acima da sensibilidade e é também imperceptível aos sentidos. Basta que a alma diga ou mesmo exprima sem palavras ao bom Deus: "Meu Deus, eu Vos amo!"
   Na dor sofrendo em paz e com paciência, a alma manifesta seu Ato de Amor deste modo: "Eu Vos amo Meu Deus, por isto sofro tudo por amor a Vós!"
   Em meio aos trabalhos e preocupações exteriores, no cumprimento do dever cotidiano: "Meu Deus, eu vos amo, trabalho comVosco, para Vós, por Vosso Amor".
   Na solidão, no isolamento, na imolação, na desolação: "Obrigado, meu Deus, sou assim mais semelhante a Jesus. Basta-me amar-Vos muito!"
   Por ocasião de defeitos, mesmo graves: "Meu Deus, sou fraco, perdoai-me. Recorro a Vós, refugio-me em Vós porque Vos amo muito!"
   Nas alegrias, nas horas de felicidade: "Meu Deus, obrigado por este dom. Eu Vos amo".
   Quando a última hora se aproximar: "Obrigado, meu Deus por tudo. Amei-Vos sobre a terra; espero amar-Vos para sempre no Paraíso!"
   Pode-se fazer o Ato de Amor a Deus de mil modos diversos. Mas ele é realizado de modo particular pela vontade sempre disposta a cumprir a Santa Vontade de Deus, de qualquer modo que ela se apresente e nos seja manifestada.
   Faz-se o Ato de Amor a Deus, também, quando se cumpre mesmo uma pequenina obrigação, quando se sofre uma bem pequena pena ou frui-se qualquer ventura ou alegria, tudo por seu Amor.
   "Para o bom Deus, vale mais apanhar um alfinete do chão por seu Amor, do que realizar ações notáveis por outros objetivos, ainda que honestos", - diz um santo.
   Faz-se Atos de Amor a Deus todas as vezes que se Lhe diz pela vontade: "Meu Deus, eu Vos amo".
   Uma pobre alma, ignorada de todos, pode fazer por dia 10.000 Atos de Amor a Deus. Na realidade, uma alma simples, e que vive no meio do mundo, e no meio da agitação e das preocupações, pode repetir cada dia 10.000 vezes: "Meu Deus, eu Vos amo".
   A ALMA PODE FAZER O ATO DE AMOR A DEUS EM TRÊS GRAUS DE PERFEIÇÃO.
   1º) - Vontade de sofrer quaisquer penas e até mesmo a morte para não ofender gravemente o Senhor. "Meu Deus, antes morrer que cometer um pecado mortal".
   2º) - Vontade de sofrer qualquer pena e até mesmo a morte de preferência a consentir num pecado venial. "Meu Deus, antes morrer que ofender-Vos, mesmo levemente".
   3º) - Vontade de escolher sempre o que for mais agradável a Deus. "Meu Deus, uma vez que Vos amo, quero somente o que quereis".
   Cada um destes três atos contém um Ato perfeito de Amor a Deus.
   Santo não é quem faz milagres, tem êxtases ou visões, mas quem faz mais Atos de Amor a Deus no decorrer do dia.
   Santo não é quem nunca consente num pecado, mas quem faz pecados por fraqueza mas logo se reergue e encontra em sua própria fraqueza nova razão de amar ainda mais o bom Deus e de se abandonar melhor nos braços divinos.
   Santo não é quem se flagela, usa de fortes mortificações ou que foge ao mundo, ou que realiza obras notáveis que maravilham os homens, mas quem diz maior número de vezes e com mais amor ao bom Deus: "Meu Deus, eu Vos amo muito, e por vosso amor, quero florescer onde me semeastes".
   Santo é quem repete com maior vontade e maior número de vezes o Ato de Amor pela jornada diária afora: "Meu Deus, eu Vos amo muito".
   A alma mais simples e escondida, ignorada de todos, mas que faz o maior número de Atos de Amor a Deus, é muito mais útil às almas e à Igreja do que aquelas que fazem grandes obras com menor amor.
   As obras grandiosas e maravilhosas de alguns santos tiveram muito valor justamente porque tiveram como motivo o grande amor a Deus que lhes inflamava a alma.
   Esta postagem é um folheto distribuído por Religiosas no alto da "Escada Santa" em Roma. Foi traduzido para o português e publicado em 1958. Recebeu para tanto o Nihil obstat do Cônego Vital B. Cavalcanti ( Censor ad hoc); e o "imprimatur" = pode imprimir-se - foi dado pelo Mons. Caruso , Vigário Geral no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

FIM DO HOMEM


LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA: Dia 1 de fevereiro

   Para que fim Deus criou o homem: Para conhecer, amar e servir a Deus aqui na terra e assim ser feliz depois para sempre no céu. 

   Deus é o meu princípio; é o meu fim e é a minha recompensa. 

   1- Deus, meu princípio: Percorrendo toda a cadeia dos seres, chego ao primeiro elo, chego a Deus. Deus é o Ser que existe por Si mesmo e é eterno: não teve princípio, nem terá fim. Ser único antes da criação. Devo adorá-Lo nessa eternidade que precedeu o mundo. Mas Deus é a própria Bondade. A Sagrada Escritura diz que Deus nos amou primeiro, porque nos amou sempre, antes mesmo de ter criado o mundo. E assim, de preferência a tantos outros que poderiam ter vindo ao mundo e nunca virão, amava-me e me criou. E como não tenho em mim a razão de minha existência, Deus ao criar-me continua me sustentando no ser. Seria como uma criação continuada. Deus é meu Pai. "Pai Nosso que está no Céu". Ah! a quanto reconhecimento e amor estava eu obrigado! Ouço, no entanto o Divino Espírito Santo dizer-me: "Abandonaste a Deus que te criou, e esqueceste-te de teu Senhor e Criador" (Deut.XXXII, 18). 

   2 - Deus é o meu fim. Assim como, sendo Deus a própria Bondade, amou-me deste toda eternidade e depois criou-me, assim também sendo a própria Sabedoria, teve um fim, ao dar-me a vida: conhecê-Lo, amá-Lo e servir a Ele. Isto porque Deus sabia que o homem só poderia ser feliz cumprindo esta finalidade. Se, preencho este fim, tudo está salvo para mim. Fim único, fim necessário, fim glorioso, fim de todo o meu ser. Sou de Deus em todos os tempos, em todos os lugares. Tudo o que sou e tudo o que faço deve ser de Deus. 

   3 - Deus é a minha recompensa. Como servi-Lo é o meu fim próximo, assim possuí-Lo é o meu fim último. A minha existência na terra só começou; há de completar-se no Céu. "Para mim é bom unir-me a Deus!" Salmo 72, 28). 

   Resumindo: Sou todo de Deus, sou todo para Deus e Deus é tudo para mim.

   a) Sou todo de Deus. Se tudo em mim é d'Ele, tudo em mim lhe pertence. Sou mais de Deus que o súdito do seu soberano, o filho de seu pai, o painel do pintor que o fez.

   b) Sou todo para Deus. O que sou, é obra sua; deu-me o que possuo, para lhe render a obediência que lhe devo. Que nobre é meu fim! Assemelha-me aos Anjos, a Jesus Cristo, ao próprio Deus, que nada faz que não seja para sua glória.

   c) Deus é tudo para mim. Quis que a minha felicidade estivesse vinculada ao seu serviço: felicidade eterna, felicidade presente. Quero ser feliz; sei onde está a felicidade; como tenho eu podido obstinar-me, tanto tempo, em buscá-la onde sei que ela não está? Deus é meu Pai; quero ser feliz com Ele agora e depois para sempre no Céu!

EXEMPLO

   São Francisco de Assis topou certa vez um pedreiro que trabalhava, e amistosamente o interrogou: "Que fazeis, meu irmão?" - Faço paredes da manhã à noite". - "E por que fazeis paredes?" - "Ora essa! para ganhar dinheiro!" - "E para que quereis ganhar dinheiro?" - E o outro meio aborrecido: "Para comprar pão e viver", - "Bem, prossegue São Francisco; e para que fim viveis?" -  Desta vez o pedreiro não sabia o que responder; mas São Francisco aproveitou para explicar para aquele homem o fim para qual estamos aqui na terra. Vamos morrer e não estará tudo acabado, como acontece com os irracionais. Temos uma alma e Jesus Cristo disse: "Que adianta o homem ganhar o mundo todo se vier a perder a sua alma?"

sábado, 30 de janeiro de 2016

LEITURA ESPIRITUAL - Dia 30 de janeiro

Do amor de Deus


  Diz o Apóstolo São João: "Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele" (1 João. IV, 16). 
  Não podemos esquecer, no entanto, que o amor tem seus tempos de prova, com seus momentos de consolação; e esta vida transitória deve ser o contínuo exercício de amor, ou a consumação dum grande sacrifício de amor, cujo prêmio será uma vida eterna ou um amor imutável.
  Todos os caracteres da caridade, enumerados por São Paulo, nos recordam a ideia de sacrifício; e o mesmo amor infinito não pôde manifestar-se plenamente a nós senão por um sacrifício infinito. "Deus amou de tal modo o mundo, que deu por ele seu Filho único" (S. Jo. III, 16).
  E nosso amor para com Deus não pode tão pouco manifestar-se senão por um sacrifício, não igual, o que é impossível, mas semelhante pelo dom de todo o nosso ser ou uma perfeita obediência de nosso espírito, de nosso coração e de nossos sentidos à vontade d'Aquele que tão extremosamente nos amou.
  Então se verifica aquela união inefável que, na sua última hora pedia Jesus Cristo a seu eterno Pai operasse entre Ele e a criatura resgatada. Enquanto a natureza viver ainda em nós, alguma coisa nos separa de Deus e de Jesus, e o amor de Jesus Cristo urge que acabemos o sacrifício e pronunciemos aquela última palavra que o mundo não compreende, mas que regozija o céu: "Tudo está consumado". Quando pronunciarás tu, minha alma, esta palavra decisiva? 
  O amante fiel permanece firme na tentação. Tanto na prosperidade como na adversidade, é sempre igual seu amor para com Jesus. O que ama a Nosso Senhor com amor generoso põe sua glória em Deus e não nos Seus dons.
  Mas, não te julgues perdido, se alguma vez te acontecer sentir, para com Jesus, menos amor do que desejarias. O verdadeiro sinal de virtude sólida e de grande merecimento é combater os movimentos desordenados da alma, e desprezar as sugestões do demônio. Por isso não te perturbem as imaginações que te ocorrem de qualquer espécie que sejam. Conserva teu firme propósito de servir a Deus e vive na intenção reta de Lhe agradar. Está certo que o inimigo antigo, de todos os modos se esforça para sufocar os teus bons desejos e apartar-te dos exercícios devotos: como é honrar os Santos, ter compunção dos pecados, guardar teu coração, formar propósito firme de emenda e progredir na virtude. O demônio sugere-te mil pensamentos maus para te causar enfado e turbação, para te apartar da oração e das santas leituras. Aborrece-lhe a humilde confissão dos pecados, e, se pudesse, faria que deixasses de comungar. Não lhe dês crédito, nem faças caso dele ainda que muitas vezes te arme laços para te seduzir. Diga-lhe, como Jesus, vai-te daqui satanás, retira-te de mim. Antes quero sofrer e morrer que consentir na tua malícia. E não devemos dar mais atenção a ele. Digamos com todo fervor: "Graças e louvores se deem a todo momento ao Santíssimo e diviníssimo Sacramento". E pronto!
  Peleja como valente soldado; e se alguma vez caíres por fraqueza de coração, entra outra vez no combate, ainda mais valoroso que dantes, persuadido de que a graça de Deus te sustentará mais fortemente, sobretudo a graça sacramental da confissão humilde. Guarda-te, porém, muito da vã complacência e soberba. Sirva-te de exemplo e de motivo de humilhares a ruína dessas almas soberbas que loucamente presumem de si. 
  O ramalhete espiritual de hoje será: "Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho único".

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

LEITURA ESPIRITUAL - Dia 29 de janeiro

Dos admiráveis efeitos do divino amor

  A ALMA: Graças vos dou, Pai celestial, Pai de meu Senhor Jesus Cristo, porque houvestes por bem lembrar-Vos de mim, pobre criatura. "Ó Pai de misericórdia e Deus de toda consolação", graças Vos dou porque, apesar de minha indignidade, algumas vezes me recreais com vossa consolação. Sede bendito para todo sempre e glorificado com vosso Filho Unigênito e o Espírito consolador por todos os séculos dos séculos. Ó Senhor Deus, santo objeto de meu amor! Quando entrardes em meu peito, exultará de alegria o meu coração. Sois a minha glória e o júbilo de meu coração; sois a minha esperança e o meu refúgio no dia da tribulação.
  Mas, porque ainda sou fraco no amor e imperfeito na virtude, por isso necessito de que me fortaleçais e consoleis. Vinde, pois, Senhor, muitas vezes à minha alma e instruí-a com santas doutrinas. Livrai-me das paixões más, sarai meu coração de todos os afetos desordenados para que, santo e bem purificado interiormente, seja apto para amar-Vos, forte para sofrer e firme para perseverar no Vosso serviço. 
  Grande coisa é o amor! Por certo que é um bem admirável. Ele sozinho faz leve tudo o que é pesado, e suporta com ânimo sereno todas as inconstâncias da fortuna. Pois leva a carga sem sentir-lhe o peso, e faz doce e saboroso o que há mais amargo. O amor de Jesus é generoso; faz-nos empreender grandes ações e sempre nos excita ao que é mais perfeito. O amor quer estar sempre elevado e não ser detido com coisas baixas. Quer viver livre e isento das afeições mundanas, para que suas aspirações se elevem até a Deus sem obstáculo, e não seja retardado pelos bens terrenos nem abatido pelos males do mundo. Não há no céu nem na terra coisa mais doce, mais forte, mais deliciosa, mais completa nem melhor que o amor a Jesus. O amor nasceu de Deus e não pode descansar senão em Deus, elevando-se acima de todas as criaturas. Quem ama, corre, voa; vive alegre, é livre e nada o embaraça. Por amor a Jesus, dá tudo a todos; e possui tudo em todas as coisas, porque sobre todas descansa no único Sumo Bem, do qual manam e procedem todos os bens. Não olha as dádivas, mas eleva-se acima de todos os bens, até àquele que os liberaliza. O amor muitas vezes não sabe ter medida, mas vai além de todos os limites. Nada lhe pesa, nada lhe custa; empreende mais do que pode; não se desculpa com a impossibilidade, pois crê que tudo lhe é possível e permitido. Por isso pode tudo e põe por obra muitas coisas impossíveis a quem não ama. 
  O amor sempre está vigilante e até no mesmo sono não dorme. Nenhuma fadiga o cansa; nenhum terror o assusta, mas, qual outra ardente chama e cintilante labareda, sobe ao alto e vence todos os obstáculos. Só quem ama é que pode compreender a voz do amor. Grande clamor faz nos ouvidos de Deus aquele ardente afeto de que se acha penetrada a alma quando diz: Meu Deus! meu amor! Sois todo meu e eu todo vosso!
  Dilatai-me no amor para que aprenda a gostar no íntimo de minha alma quão doce é o amar-Vos, viver de vosso amor e nele me abrasar. Possua-me o amor e eleve-me acima de mim mesmo, pelo impulso de seus transportes. Cante eu cânticos de amor; que eu vos siga meu amado Jesus; que desfaleça em vosso louvor a minha alma, alegrando-se pelo amor. Ame-Vos eu mais do que a mim, nem me ame a mim senão por amor de Vós, e em Vós a todos os que verdadeiramente Vos amam como ordena o lei do amor, que de Vós recebe a sua luz.
  O amor é diligente, sincero, pio, alegre, deleitável, forte, sofredor, fiel, prudente, magnânimo, varonil, sem procurar nunca o seu próprio interesse; porque quando alguém procura o seu próprio cômodo, logo perde o amor. O amor é circunspecto, humilde e reto; não é frouxo, nem leviano, nem vaidoso; é temperado, casto, firme quieto e recatado na guarda de todos os sentidos.
  Quem não está disposto a sofrer tudo e a fazer sempre a vontade de seu amabilíssimo Jesus, não merece que lhe chamem amante. É mister que aquele que ama a Jesus, abrace de boa vontade por Ele tudo o que há de mais duro e amargo, e que d'Ele se não aparte ainda quando a adversidade o persiga. 
   O ramalhete de hoje será a sentença de São Paulo: "Quem não amar a Jesus, seja anátema".
   Sejam anátemas os blasfemadores de Jesus Crucificado. 
   "QUIS UT DEUS!"; "DEUS NON IRRIDETUR".


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

PROFISSÃO DE FÉ DO CONCÍLIO DE TRENTO

  Eu..N.............creio firmemente e confesso tudo o que contém o Simbolo da fé usado pela Santa Igreja Romana, a saber: Creio em um só Deus, Pai Onipotente, [etc. como no post do dia 17/10/12: é o Símbolo de Niceia-Constantinopla, que se reza ou canta nas Missas que têm Credo].
  Aceito e abraço firmemente as tradições apostólicas e eclesiásticas, bem como as demais observâncias e constituições da mesma Igreja. Admito também a Sagrada Escritura naquele sentido em que é interpretada pela Santa Madre Igreja, a quem pertence julgar sobre o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Escrituras. E jamais aceitá-la-ei e interpretá-la-ei senão conforme o consenso unânime dos Padres.
  Confesso também que são sete os verdadeiros e próprios sacramentos da Nova Lei, instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo, embora nem todos para cada um necessários, porém para a salvação do gênero humano. São eles: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio, os quais conferem a graça; mas não sem sacrilégio se fará a reiteração do Batismo, da Confirmação e da Ordem. Da mesma forma aceito e admito os ritos da Igreja Católica recebidos e aprovados para a administração solene de todos os supraditos sacramentos. Abraço e recebo tudo o que foi definido e declarado no Concílio Tridentino sobre o pecado original e a justificação.
  Confesso outrossim que na Missa se oferece a Deus um sacrifício verdadeiro, próprio e propiciatório pelos vivos e defuntos, e que no santo sacramento da Eucaristia estão verdadeira, real e substancialmente o Corpo e o Sangue com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, operando-se a conversão de toda a substância do pão no corpo, e de toda a substância do vinho no sangue; conversão esta chamada pela Igreja de transubstanciação. Confesso também que sob uma só espécie se recebe o Cristo todo inteiro e como verdadeiro sacramento.
  Sustento sempre que há um purgatório e que as almas aí retidas podem ser socorridas pelos sufrágios dos fiéis; que os Santos, que reinam com Cristo, também devem se invocados; que eles oferecem suas orações por nós, e que suas relíquias devem ser veneradas. Firmemente declaro que se devem ter  e conservar as imagens de Cristo, da sempre Virgem Mãe de Deus, como também as dos outros Santos, e a eles se deve honra e veneração. Sustento que o poder de conceder indulgências foi deixado por Cristo à Igreja, e que o seu uso é muito salutar para os fiéis cristãos.
  Reconheço a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, como Mestra e Mãe de todas as Igrejas. Prometo e juro prestar verdadeira obediência ao Romano Pontífice, Sucessor de São Pedro, príncipe dos Apóstolos e Vigário de Jesus Cristo.
Pio IV governou a Igreja de 1560-1565
Sucedeu-lhe São Pio V, que, também
como barreira contra a heresia
protestante, codificou e canonizou
a  Santa Missa de Sempre. 
  Da mesma forma aceito e confesso indubitavelmente tudo o mais que foi determinado, definido e declarado pelos sagrados cânones, pelos Concílios Ecumênicos, especialmente pelo santo Concílio Tridentino ( e pelo Concílio Ecumênico do Vaticano I, principalmente no que se refere ao Primado do Romano Pontífice e ao Magistério infalível).Condeno ao mesmo tempo, rejeito e anatematizo as doutrinas contrárias e todas as heresias condenadas, rejeitadas e anatematizadas pela Igreja. Eu mesmo, N......., prometo e juro com o auxílio de Deus conservar e professar íntegra e imaculada até ao fim de minha vida esta verdadeira fé católica, fora da qual não pode haver salvação, e que agora livremente professo. E quanto em mim estiver, cuidarei que seja mantida, ensinada e pregada a meus súditos ou àqueles, cujo cuidado por ofício me foi confiado. Que para isto me ajudem Deus e estes Santos Evangelhos!

  (Da Bula de Pio IV "Iniunctum nobis" de 13 de novembro de 1564). 

LEITURA ESPIRITUAL - Dia 28 de janeiro

Devemos andar na presença de Deus em verdade e humildade

1. JESUS CRISTO

 Filho, anda diante de mim em verdade, e busca-me sempre com simplicidade de coração. A verdade o livrará dos enganos e das murmurações dos maus. A verdade te libertará e nenhum cuidado te dará o que os homens de ti injustamente disserem.

2. A ALMA

  Senhor, eu Vos peço a graça de ser como Vós desejais. A vossa verdade me ensine, me defenda e me conserve em Vós até alcançar a minha salvação. Ela me livre de todos os maus desejos e afetos desordenados, e andarei no vosso serviço em grande paz de coração.

3. JESUS CRISTO

  Eu sou a verdade; eu te ensinarei o que é justo e o que me agrada. Pensa em teus pecados com grande detestação e tristeza e não imagines que és digno de consideração por tuas boas obras. És, na verdade, pecador, sujeito a muitas paixões e preso em seus laços. Mas humilha-te, e serei cheio de misericórdia e bondade para contigo. Certamente a própria experiência já te mostrou que  de ti sempre tendes para o nada; depressa cais, facilmente és vencido e a menor infelicidade te desanima e perturba. Nada tens de que possas gloriar-te; muito, porém, de que te devas humilhar; porque és mais fraco do que podes pensar. 
 Meu filho, não tenhas por grande, precioso, admirável, elevado nem digno de ser estimado e apetecido, senão o que é eterno. Ama, sobre todas as coisas, a verdade eterna, e despreza a tua extrema fraqueza. Nenhuma coisa temas, vituperes e abomines tanto como teus vícios e pecados, os quais devem entristecer-te mais que todas as perdas do mundo. 
  Alguns não andam diante de mim com singeleza; porém, levados de certa curiosidade e arrogância querem saber meus segredos e penetrar os mistérios de Deus, não cuidando de si mesmos, nem de sua salvação. Estes tais muitas vezes caem em grandes tentações e pecados por sua soberba e curiosidade, castigando-os deste modo a minha justiça. 
  Teme os juízos de Deus; Não queiras esquadrinhar as obras do Altíssimo; examina porém tuas iniquidades, o mal que tantas vezes cometeste e o bem que por negligência deixaste de fazer. Alguns me trazem na boca, mas poucos no coração. Mas, para consolo de meu Coração, há também aqueles que, tendo a alma ilustrada e o coração puro, suspiram continuamente pelas coisas eternas, não cuidam dos passatempos terrestres e com repugnância se submetem às necessidades da natureza. Estes compreendem perfeitamente o que o Espírito de Verdade lhes diz no coração. Porque Ele lhes ensina a desprezar as coisas terrenas e amar as celestiais, a esquecer o mundo e desejar o céu de dia e de noite. 
  "Eu sou o Deus onipotente; anda em minha presença e sê perfeito": assim falava o Senhor a Abraão. Mas este preceito se dirige ainda com mais força aos cristãos que contemplaram-Me quando fiz-me Homem, o modelo de toda a perfeição. Por isso eu lhes disse: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito". Eu disse também: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Sou o caminho seguro que leva os homens a Deus, fora do qual só há extravio e perdição. Sou a verdade eterna e visível que falou convosco, fora da qual só há engano e mentira. Sou a vida que vos livrou da morte do pecado e vos anima com minha graça e vos prepara a vida eterna, fora da qual só há trevas e eterno horror! Assim, meu filho, teus pensamentos unidos aos meus, tuas afeições e obras unidas às minhas, divinizam-se; e como a perfeição do Filho é a mesma perfeição do Pai, por vossa união comigo, o Filho, que começa na terra e se consumará no Céu, nos tornamos perfeitos como o Pai é perfeito. Assim se cumpre aquela minha oração: "Pai Santo, conservai todos aqueles que me destes, para que eles sejam unidos como nós o somos! Santifica-os na verdade; eu mesmo me santifico por eles para que eles sejam santificados na verdade" (S. Jo. XVII, 17-19). 

4.A  ALMA

  Ó Jesus! se nada me apartasse de Vós! Alumiai-me, verdade incriada, sustentai-me, fortaleza soberana; alentai-me, vida eterna; guiai-me, sabedoria infinita. Ó Jesus, dai-me vossa graça no tempo e o prêmio de vosso amor na eternidade. Amém!.
   O ramalhete espiritual será: "Anda na minha presença e serás perfeito" e "quem se humilha será exaltado". 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

LEITURA ESPIRITUAL - Dia 27 de janeiro

Que as palavras de Deus se devem ouvir com humildade

1. JESUS CRISTO

   Ouve, filho, minhas palavras, palavras suavíssimas, que excedem toda a ciência dos filósofos e sábios deste mundo. "Minhas palavras são espírito e vida", e não podem ser avaliadas pela balança do juízo humano. Não se há de usar delas para vão agrado, mas devem ouvir-se em silêncio, e receber-se com toda a humildade e grande afeto.
   
2. A ALMA

   Davi disse: "Bem-aventurado aquele a quem vós instruirdes, Senhor, e a quem ensinardes vossa lei; para que o guardeis dos dias maus e não seja desamparado na terra" (Sl.93, 12 e 13).

3. JESUS CRISTO

   Eu, diz o Senhor, ensinei os profetas desde o princípio, e não cesso ainda de falar a todos; porém muitos são surdos e rebeldes à minha voz. De melhor vontade ouvem mais ao mundo que a Deus, e mais facilmente seguem os apetites da carne, que os preceitos divinos. Promete o mundo coisas temporais e pequenas, e é servido com grande ânsia; eu prometo bens soberanos e eternos, e não acho nos homens senão frouxidão e desprezo. Onde estão os que me servem e me obedecem em tudo com o cuidado com que servem ao mundo e a seus senhores? Empreendem-se grandes viagens para conseguir um pequeno benefício; e apenas se acham alguns que queiram dar um passo para adquirir os bens eternos. Trabalham muito os homens por uma vil recompensa; armam, às vezes, ignominiosos processos sobre um interesse ridículo; e não duvidam sofrer noite e dia mil incômodos por uma coisa vã, ou por uma fraca promessa.
   Mas, ó vergonhosa cegueira! Quando se trata dum bem imutável, duma recompensa infinita, duma honra suprema e duma glória sem fim não há de empregar o homem ao menos uma pequena diligência para conseguir tantas felicidades! Envergonha-te, pois, de ver que haja homens mais ardentes em buscar a perdição, do que tu o que convém à tua salvação. Buscam com mais gosto a vaidade do que tu a verdade. Contudo, algumas vezes os engana sua esperança; porém, minha promessa a ninguém engana, nem deixa frustrado o que em mim confia. Eu lhe darei o que prometi, cumprirei o que lhe disse, com tanto que seja fiel em me amar até ao fim. Eu sou o remunerador de todos os bens e justo examinador de todos os devotos.
   Escreve as minhas palavras em teu coração, e considera-as atentamente; porque te serão muito necessárias no tempo da tentação. O que agora não entendes quando lês, tu o entenderás quando eu te visitar. E de dois modos costumo visitar meus escolhidos: provando-os com alguma cruz, e consolando-os. Dou-lhes cada dia duas lições: repreendo-lhes os vícios, e exorto-os a que progridam mais e mais na virtude.

   O ramalhete de hoje será esta oração: "Ensinai-me, Senhor, a fazer vossa vontade; e ensinai-me a estar em vossa presença digna e humildemente. Amém!"