sábado, 13 de fevereiro de 2016

AS PAIXÕES: Fontes de nossos pecados


LEITURA MEDITADA: Dia 13 de fevereiro

Sendo o pecado o mal absoluto e extremo, devemos empregar todos os meios, todos os esforços, para evitá-lo. E nunca alcançaremos a  pureza de coração que nos dá aquela liberdade e facilidade em compreender as coisas de Deus, senão levarmos o combate ao pecado até às suas fontes. Dos regatos e rios remontaremos às suas fontes, para nos esforçarmos em secá-los. E quais são estas fontes dos rios e regatos de lamas contaminadas do pecado? São as nossas paixões.

I - Devemos temer todas as paixões, porque todas nos conduzem ao pecado: Enganam-nos, lisonjeiam-nos e tiranizam-nos. Três efeitos terríveis. Reflitamos sobre cada um deles.

1 - ENGANAM-NOS: As nuvens encobrem a luz do sol; as inclinações desregradas obscurecem a luz da fé, e até a da razão. O pecador fica cego quando se deixa dominar por alguma paixão. Por exemplo: Que dizia a Caim a inocência de Abel, a voz do sangue? Era seu irmão! Que diziam os cabelos brancos e o seu cargo de magistrados, aos infames anciãos, que tentaram manchar a virtude de Suzana, e não o conseguindo condenando à morte através de calúnia uma mulher santa, quando era obrigação deles defendê-la? Que diziam a Judas Iscariotes a bondade e as ternas palavras de Jesus? Mas, logo que a paixão entra em uma alma, amontoa nela tão densas trevas, que já não vê o que para outros é tão visível como o sol. É o que diz a Bíblia: "Serão destruídos como a cera que se derrete; caiu fogo de cima sobre eles, e não viram mais o sol" (Salmo 57, 9). É que toda paixão nasce do amor desordenado de si mesmo; ora, naquilo que nos lisonjeia, queremos crer sempre que não há mal, como diz Santo Agostinho: "Tudo o que nós queremos, nos parece santo". Na verdade, como diz o mesmo 

Santo Doutor: Somente amando a Deus de todo coração é que poderemos fazer tudo o que queremos, porque aí sim, tudo será santo. Mas, infelizmente, quem é dominado por alguma paixão, seja a avareza, seja a luxúria etc., logo que alguma paixão entra em uma alma, encontra-se sempre alguma desculpa; ou melhor, inventa-se uma, fundada na mesma paixão, na sua violência. Vê-se porém mais do que se quereria ver; e o que faz a iniquidade, é resistir à próprias luzes, porque é raro que a cegueira seja absoluta. Na verdade, apesar da paixão, descobre-se a lei que fala, o crime que a quebranta, e o castigo que a vingará. Por isso que a Bíblia diz que o temor de Deus é o início da sabedoria.


2 - LISONJEIAM-NOS: com os deleites que prometem, seduzem o coração, e arrastam a vontade. Em vão reclama a razão, brada a consciência, avisa a graça de Deus; a nada se atende. A imaginação inflama-se; ela EXAGERA o prazer, faz esquecer as consequências, e o homem cai. Oh! quanto importa que nos arranquemos, desde o princípio, aos atrativos da paixão! Caso contrário, a queda será fatal.

2 - TIRANIZAM-NOS: Concedendo-lhes alguma coisa, aumento o seu poder, torno-as exigentes, imperiosas. Tiro a mim mesmo a força que lhes dou. Cedi primeiramente às suas solicitações importunas, dentro em pouco tempo, já nada sei recusar-lhes, e as minhas condescendências tornam-se um hábito. Ora, o hábito, diz Sto. Agostinho, é como um corrente de ferro, que prende a vontade; e aonde não pode ela arrastar?


II - De todas as paixões, as mais temíveis são as que se disfarçam, porque arrastam aos últimos excessos do pecado:  As paixões disfarçam-se para três coisas: a) ou para esconder o crime; b) ou para o multiplicar; c) ou para tranquilizar a quem o comete.

a) Na verdade, o crime descoberto será sempre odioso, até àquele que o comete, porque a consciência lho representará sempre como oposto à ordem, à razão, e à lei da justiça, escrita no coração de todos os homens; e se ele é odioso até ao culpado, como o não será aos que o presenciam? Para escapar à vergonha e ao ódio que merece, é que a paixão se encobre. Por exemplo, quem acreditaria que o Iscariotes, ladrão, quisesse passar por advogado dos pobres? Contudo, a sua avareza é que lhe inspira esta queixa no episódio da Madalena: "Porque se não vendeu este bálsamo, para se dar aos pobres? Este disfarce é um crime a mais, isto é, a hipocrisia.

b) Raras vezes sucede que uma paixão, que se mostra com descaro, não seja reprimida, ou ao menos perturbada nas suas desordens. Mas, se ela consegue ocultar-se, nada a detém; entrega-se a todos os excessos. A mina explosiva, se é descoberta, é pouco perigosa; pelo contrário, tudo é para temer, quando o inimigo esconde o sua bomba aos olhos que o observam.  Exemplo: Cobrindo a sua inveja contra Jesus com a capa de zelo do bem público e da religião, é que os fariseus, com uma série de iniquidades, chegam ao crime mais monstruoso, ao deicídio.

c) Que artifícios, que subterfúgios, para ocultar aos olhos dos homens a desordem de certas paixões! Como se fosse possível, ocultar também aos olhos de Deus. Como se fosse possível enganar a Justiça divina, que vai pedir contas até de uma palavra ociosa. Muitas vezes até, quando a astúcia hipócrita não pode impedir que o mal transpire, procuram-se abafar as suspeitas à força de impudência. Prova-o o exemplo de Judas Iscariotes: A triste declaração que Jesus fez aos seus discípulos que um deles o atraiçoará, consterna-os. Cada um se consulta a si mesmo, nenhum ousa fiar-se na sua própria consciência; só o pérfido Apóstolo, que bem sabe que aquela palavra é para ele, e que o deve assustar mais que a todos, é o único que parece não sentir o menor susto; e ajuntando o insulto à audácia, pergunta friamente, com a maior cara de pau: "Por acaso sou eu, Mestre?"

Mister se faz uma última observação: Há uma paixão mais impudente que as outras: é a desonestidade ou impureza. A mentira, o embuste, o perjúrio, o sacrilégio estão, por assim dizer, a soldo desta paixão.  Esta paixão hedionda procura até esconder-se algumas vezes com uns ares de descaramento, que bastariam para a fazer conhecer.


Santo Ambrósio compara as paixões àquela febre ardente que padecia a sogra de São Pedro. Mas Jesus entrou na casa desta enferma, e a sarou. Na comunhão, peçamos a Jesus esta cura. Amém. 

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