LEITURA MEDITADA: Dia
13 de fevereiro
Sendo o pecado o mal absoluto e extremo, devemos empregar
todos os meios, todos os esforços, para evitá-lo. E nunca alcançaremos a pureza de coração que nos dá aquela liberdade
e facilidade em compreender as coisas de Deus, senão levarmos o combate ao pecado
até às suas fontes. Dos regatos e rios remontaremos às suas fontes, para nos
esforçarmos em secá-los. E quais são estas fontes dos rios e regatos de lamas
contaminadas do pecado? São as nossas paixões.
I - Devemos temer
todas as paixões, porque todas nos conduzem ao pecado: Enganam-nos,
lisonjeiam-nos e tiranizam-nos. Três efeitos terríveis. Reflitamos sobre cada
um deles.
1 - ENGANAM-NOS: As nuvens encobrem a luz do sol; as
inclinações desregradas obscurecem a luz da fé, e até a da razão. O pecador fica
cego quando se deixa dominar por alguma paixão. Por exemplo: Que dizia a Caim a
inocência de Abel, a voz do sangue? Era seu irmão! Que diziam os cabelos
brancos e o seu cargo de magistrados, aos infames anciãos, que tentaram manchar
a virtude de Suzana, e não o conseguindo condenando à morte através de calúnia
uma mulher santa, quando era obrigação deles defendê-la? Que diziam a Judas
Iscariotes a bondade e as ternas palavras de Jesus? Mas, logo que a paixão
entra em uma alma, amontoa nela tão densas trevas, que já não vê o que para
outros é tão visível como o sol. É o que diz a Bíblia: "Serão destruídos como
a cera que se derrete; caiu fogo de cima sobre eles, e não viram mais o
sol" (Salmo 57, 9). É que toda paixão nasce do amor desordenado de si
mesmo; ora, naquilo que nos lisonjeia, queremos crer sempre que não há mal,
como diz Santo Agostinho: "Tudo o que nós queremos, nos parece
santo". Na verdade, como diz o mesmo
Santo Doutor: Somente amando a Deus de todo coração é que poderemos fazer tudo
o que queremos, porque aí sim, tudo será santo. Mas, infelizmente, quem é
dominado por alguma paixão, seja a avareza, seja a luxúria etc., logo que
alguma paixão entra em uma alma, encontra-se sempre alguma desculpa; ou melhor,
inventa-se uma, fundada na mesma paixão, na sua violência. Vê-se porém mais do
que se quereria ver; e o que faz a iniquidade, é resistir à próprias luzes,
porque é raro que a cegueira seja absoluta. Na verdade, apesar da paixão,
descobre-se a lei que fala, o crime que a quebranta, e o castigo que a vingará.
Por isso que a Bíblia diz que o temor de Deus é o início da sabedoria.
2 - LISONJEIAM-NOS: com os deleites que prometem, seduzem o
coração, e arrastam a vontade. Em vão reclama a razão, brada a consciência,
avisa a graça de Deus; a nada se atende. A imaginação inflama-se; ela EXAGERA o
prazer, faz esquecer as consequências, e o homem cai. Oh! quanto importa que
nos arranquemos, desde o princípio, aos atrativos da paixão! Caso contrário, a
queda será fatal.
2 - TIRANIZAM-NOS: Concedendo-lhes alguma coisa, aumento o
seu poder, torno-as exigentes, imperiosas. Tiro a mim mesmo a força que lhes
dou. Cedi primeiramente às suas solicitações importunas, dentro em pouco tempo,
já nada sei recusar-lhes, e as minhas condescendências tornam-se um hábito.
Ora, o hábito, diz Sto. Agostinho, é como um corrente de ferro, que prende a
vontade; e aonde não pode ela arrastar?
II - De todas as
paixões, as mais temíveis são as que se disfarçam, porque arrastam aos últimos
excessos do pecado: As paixões
disfarçam-se para três coisas: a) ou para esconder o crime; b) ou para o
multiplicar; c) ou para tranquilizar a quem o comete.
a) Na verdade, o crime descoberto será sempre odioso, até
àquele que o comete, porque a consciência lho representará sempre como oposto à
ordem, à razão, e à lei da justiça, escrita no coração de todos os homens; e se
ele é odioso até ao culpado, como o não será aos que o presenciam? Para escapar
à vergonha e ao ódio que merece, é que a paixão se encobre. Por exemplo, quem
acreditaria que o Iscariotes, ladrão, quisesse passar por advogado dos pobres?
Contudo, a sua avareza é que lhe inspira esta queixa no episódio da Madalena:
"Porque se não vendeu este bálsamo, para se dar aos pobres? Este disfarce
é um crime a mais, isto é, a hipocrisia.
b) Raras vezes sucede que uma paixão, que se mostra com
descaro, não seja reprimida, ou ao menos perturbada nas suas desordens. Mas, se
ela consegue ocultar-se, nada a detém; entrega-se a todos os excessos. A mina
explosiva, se é descoberta, é pouco perigosa; pelo contrário, tudo é para
temer, quando o inimigo esconde o sua bomba aos olhos que o observam. Exemplo: Cobrindo a sua inveja contra Jesus
com a capa de zelo do bem público e da religião, é que os fariseus, com uma
série de iniquidades, chegam ao crime mais monstruoso, ao deicídio.
c) Que artifícios, que subterfúgios, para ocultar aos olhos
dos homens a desordem de certas paixões! Como se fosse possível, ocultar também
aos olhos de Deus. Como se fosse possível enganar a Justiça divina, que vai
pedir contas até de uma palavra ociosa. Muitas vezes até, quando a astúcia
hipócrita não pode impedir que o mal transpire, procuram-se abafar as suspeitas
à força de impudência. Prova-o o exemplo de Judas Iscariotes: A triste
declaração que Jesus fez aos seus discípulos que um deles o atraiçoará,
consterna-os. Cada um se consulta a si mesmo, nenhum ousa fiar-se na sua
própria consciência; só o pérfido Apóstolo, que bem sabe que aquela palavra é
para ele, e que o deve assustar mais que a todos, é o único que parece não
sentir o menor susto; e ajuntando o insulto à audácia, pergunta friamente, com
a maior cara de pau: "Por acaso sou eu, Mestre?"
Mister se faz uma última observação: Há uma paixão mais
impudente que as outras: é a desonestidade ou impureza. A mentira, o embuste, o
perjúrio, o sacrilégio estão, por assim dizer, a soldo desta paixão. Esta paixão hedionda procura até esconder-se
algumas vezes com uns ares de descaramento, que bastariam para a fazer
conhecer.
Santo Ambrósio compara as paixões àquela febre ardente que
padecia a sogra de São Pedro. Mas Jesus entrou na casa desta enferma, e a
sarou. Na comunhão, peçamos a Jesus esta cura. Amém.
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