O P. Prat, S. J., em seu célebre livro "La Théologie de
Saint Paul", dá a definição de CARISMA e, em seguida, a explica: "O
carisma, diz Prat, pode ser definido: Um
dom gratuito. sobrenatural, transitório, conferido tendo em vista a utilidade comum,
para edificação do corpo místico de Cristo".
Gratuito: no sentido de que não tem nenhuma conexão necessária com a graça santificante e que, não sendo requerido para a salvação, o Espírito Santo "concede-o a quem quer e quando quer" (I Cor XII, 11). Sobrenatural: porque ele é uma operação especial do Espírito Santo em nós, podendo, no entanto, se enxertar sobre uma aptidão natural, como a graça em geral supõe a natureza que ela transforma e sobre naturaliza. Transitório: porque o Espírito o concede ou retira a seu bel-prazer; ele é transitório em contraposição às virtudes teologais que permanecem, sobretudo à caridade que não acaba; mas ele possui pelo menos uma certa estabilidade, em virtude da qual o homem habitualmente dotado do carisma profético será denominado profeta. Finalmente o carisma é conferido em vista da utilidade geral (comum): assim, claramente o afirma Paulo (I Cor XII, 7 e Ef IV, 27). Em nota de rodapé diz Prat: "No entanto Paulo não conclui daí que os carismas sejam sem proveito para os que os possuem" (Cf. I Cor XIV, 4). A comparação dos carismas aos membros do corpo humano, cuja função é concorrer para a ação e bem-estar comuns, prova no fundo a mesma coisa. Assim os carismas são avaliados em vista de sua utilidade: quanto mais são proveitosos à comunidade cristã, tanto mais são perfeitos. Outorgados em razão do bem comum antes que em favor dos indivíduos, eles poderão um dia desaparecer, sem com isto privar a Igreja de algum órgão indispensável".
O filósofo Tanquerey dá a seguinte definição das graças gratuitamente dadas (=carismas): "São dons gratuitos, extraordinários (= não comumente dados) e transitórios, conferidos diretamente para bem dos outros, posto que podem indiretamente servir também para santificação pessoal".
A existência de carismas é provada pela Igreja através da Tradição e da Sagrada Escritura. Os teólogos, incluindo Santo Tomás de Aquino, provam não só sua existência, mas também os explicam. No tocante ao dom de línguas, há, porém, divergências nas explicações dadas pelos teólogos. Já falamos sobre ele, e falaremos ainda no próximo post.
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica diz na pergunta nº 424: "Além da graça habitual, há: as graças atuais (dons circunstanciais); as graças sacramentais (dons próprios de cada sacramento); as graças especiais ou carismas (que têm como fim o bem comum da Igreja), entre os quais as graças de estado (que acompanham o exercício dos ministérios eclesiais e das responsabilidades da vida).
Quanto à Tradição, dou o testemunho de apenas um Padre Antigo da Igreja, Santo Irineu (135 - 202): "Uns (entre os primeiros cristãos), expulsam os demônios com firmeza e em realidade, de tal modo que muitas vezes os que se viram livres dos espíritos malignos crêem e permanecem na Igreja. Outros têm presciência do futuro, visões, palavras proféticas, outros curam os doentes por imposição das mãos e restituem-lhes a saúde... Impossível calcular o número dos carismas que, no mundo inteiro, a Igreja recebe de Deus, em nome de Jesus Cristo, crucificado sob Pôncio Pilatos. Ela os emprega diariamente para beneficiar os gentios, sem defraudar, nem reclamar dinheiro. Recebeu gratuitamente da parte de Deus (Mt X, 8), distribui grátis" (L. Contra as Heresias, II, 31, 2).
Quanto às Sagradas
Escrituras: S. Marcos XVI, 17 e
18: "Eis os milagres que
acompanharão os que crerem: Expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas
línguas, manusearão as serpentes, e, se beberem alguma coisa mortífera não lhes
fará mal; imporão as mãos sabre os enfermos e serão curados". Atos dos Apóstolos II, 4: "Foram todos cheios do Espírito Santo e
começaram a falar várias línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que
falassem". Atos VIII, 6: "As multidões prestavam muita atenção
ao que Filipe dizia. Todos o escutavam e viam os milagres que ele fazia. Os
espíritos maus, gritando, saiam de muitas pessoas, e muitos coxos e paralíticos
também eram curados". Atos X,
44-48: "Quando Pedro ainda estava falando, o Espírito Santo desceu
sobre todos os que estavam ouvindo a mensagem. Os judeus seguidores de Jesus,
que tinham vindo de Jope com Pedro, ficaram admirados porque Deus havia
derramado o dom do Espírito Santo sobre os que eram pagãos. Pois eles os ouviam
falar em línguas e glorificar a Deus". S. Pedro mandou que fossem
batizados. Atos XIX, 6: "Ouvindo isto, foram batizados em nome
do Senhor Jesus. E, tendo-lhes Paulo imposto as mãos, veio sobre eles o
Espírito Santo, e falavam (diversas) línguas e profetizavam". Aqui se
trata de seguidores de Jesus, mas que só tinham recebido o batismo de
penitência de João Batista. Primeira
Epistola aos Coríntios XII, 4-11: "Há
diferentes tipos de dons espirituais, mas é o mesmo Espírito quem dá esses dons.
Os ministérios são diversos, mas um mesmo é o Senhor; e há diversidades de
operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Para o bem de todos,
Deus dá a cada um alguma prova da presença do Espírito Santo. Porque a um pelo
Espírito a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da
ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito,
o dom das curas; e a outro, o dom de operar milagres; a outro, a profecia; a
outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; e a
outro, a interpretação das línguas. Mas todas estas coisas as opera um só
e o mesmo Espírito, repartindo a cada um
como quer".
S. Paulo neste mesmo capítulo XII, versículos 28 a 30 dá uma lista um pouco maior. Na Epístola aos Romanos XII, 6 a 8; e aos Efésios IV, 11 oferece duas listas mais breves e que não se coincidem. Vamos considerar apenas os nove carismas enunciados pelo Apóstolo em I Cor XII, 8, 9 e 10.
1º - A PALAVRA DE SABEDORIA: é o dom de expor os mais altos mistérios do Cristianismo. Ajuda a tirar das verdades de fé, conclusões que enriquecem o dogma. Era repartida aos apóstolos.
2º - A PAALAVRA DE CIÊNCIA: dom que nos faz utilizar as ciências humanas para explicar as verdades da fé. Os doutores e os catequistas deviam dela gozar.
3º - A FÉ: não é a virtude teologal da fé, mas se baseia nela. É uma confiança sobrenatural em Deus que impele a pessoa a empreender as coisas mais difíceis. Em outras palavras: é uma certeza especial que é capaz de operar prodígios. Santo Tomás diz: é a certeza das coisas invisíveis, supostas como princípios da doutrina católica.
4º - O DOM DAS CURAS: é o poder de curar os doentes. E aqui está incluído o poder de expulsar demônios (geralmente o "grappin" ao possuir o corpo da pessoa, provoca doenças ou delas se aproveita; tanto isto é verdade, que, quando o demônio é expulso, a pessoa que estava possessa, geralmente fica curada de alguma enfermidade de que padecia). Sempre houve, mas hoje talvez, a influência do demônio neste mundo paganizado, é muito maior, pela falta de vida de oração e pelo apego ao mundo do qual o demônio é príncipe (Jo XIV, 30).
5º - O PODER DE OPERAR MILAGRES: é o poder de suspender as leis naturais para manifestar assim o poder de Deus. Por ex.: no Antigo Testamento, os milagres de Moisés, p. ex. abrindo as águas do mar; o milagre de Josué fazendo parar o sol etc. No Novo Testamento e nos nossos tempos, p. ex. certos milagres que foram operados pelo P. Pio de Pietrelcina. O prodígio da bilocação do P. Pio, para atender moribundos é algo muito extraordinário!
6º - O DOM DE PROFECIA: é o dom de ensinar em nome de Deus, e, se preciso for, de confirmar o ensino com profecias.
7º - O DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS: é o dom infuso de ler os segredos dos corações e de discernir o bom espírito do mau, ou seja, se vem do Espírito Santo ou não.
8º - O DOM DE LÍNGUAS: há exegetas que interpretam como sendo o dom de orar em língua estranha com certo sentimento de exaltação. Mas há teólogos que dizem ser o dom de falar várias línguas ou, então, de o pregador fazer se entender por pessoas de outros idiomas, embora use sua língua materna em sua pregação (nesta última hipótese, o milagre estaria nos ouvidos dos ouvintes e não na língua do pregador). De fato, o Espírito Santo sopra onde quer: ou na língua do pregador, ou nos ouvidos dos assistentes ou em ambos. Por isso, Deus pode conceder a alguém os dois modos ( ora um, ora outro) para levar outros à conversão ou edificação.
9º - O DOM DA INTERPRETAÇÃO DAS LÍNGUAS: é a faculdade de dar o sentido das palavras estranhas proferidas nas orações em língua. S. Paulo, trata destes dois últimos dons no capítulo XIV da sua 1ª Epístola aos Coríntios. É o que veremos melhor no próximo post, se Deus quiser.
Que o Espírito Santo me ilumine a mim que vos escrevo; e a vós que me ledes! Amém!
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