CARTA PASTORAL
prevenindo os diocesanos contra os
ardis da seita comunista.
Escrita em 13 de maio de 1961 pelo
então Bispo da Diocese de Campos, D. Antônio de Castro Mayer, de saudosa
memória.
(continuação)
O desvirtuamento dos documentos
pontifícios aproveita aos comunistas
Ainda neste
assunto, queremos fazer uma última advertência aos Nossos amados filhos,
pondo-os de sobreaviso com relação à maneira como, por vezes, se interpretam os
ensinamentos pontifícios que tratam das questões sociais.
Como é sabido,
os Papas, especialmente Leão XIII e Pio XI, se ocuparam dessas questões, em
documentos solenes, entre os quais as famosas Encíclicas "Rerum
Novarum" e "Quadragesimo
Anno". Neles, a par das obrigações registram-se e defendem-se também os
direitos dos operários. Por este lado, podem os comunistas e comunistizantes
abusar dos próprios documentos eclesiásticos. É preciso, pois, ao fazer deles
uso, cuidar que nossa atitude não venha a favorecer a consecução de objetivos
socialistas e comunistas. Cautela tanto mais oportuna, quanto é requente em
certos movimentos sociais salientar-se apenas a parte econômica desses
ensinamentos pontifícios, deixando-se em segundo plano, ou inteiramente no
esquecimento, a insistência dos Papas sobre o indispensável revigoramento da
Fé, a imprescindível reforma dos costumes, e outros meios de ordem espiritual
necessários para que se elimine a inquietação provocada pela economia laica
moderna. Além disso, mesmo na parte econômica, é comum apegarem-se muitos ao
que é acidental e até marginal nas Encíclicas, como se fora o núcleo central, o
objetivo primeiro delas.
Exemplo: o alarido em torno da
co-gestão e da participação nos lucros
É o que se
dá, por exemplo, com a participação dos operários nos lucros das empresas,
preconizada na "Quadragesimo Anno" (cf. A. A. S., vol. 23, p. 199).
Fala o Papa de modo opinativo - "Julgamos que dentro do
possível" - e incidentemente, pois que se pode tirar todo
o trecho, sem que se mude em nada o sentido da Encíclica. E, não obstante, faz-se
tanto alarido em torno desse ponto
- erigido até em programa de
partidos políticos que pretendem ser cristãos
- como se constituísse a grande
lição da "Quadragesimo Anno". Não forçamos a expressão. Mais ou menos
por toda parte, como que sob uma palavra de ordem, difundiu-se essa opinião.
Tanto assim
que Pio XII se sentiu na obrigação de dar ao trecho e questão o seu justo valor
dentro da Encíclica e da doutrina de seu Predecessor. Fê-lo em várias
oportunidades. Citemos uma: a alocução que dirigiu em 3 de janeiro de 192 ao
Conselho Nacional da União Cristã dos Diretores de Empresa. Advertiu então o
Pontífice: "Fala--se hoje muito de
uma reforma de estrutura da empresa, e os que a promovem pensam em primeiro
lugar em modificações jurídicas entre os que dela são membros, sejam os
empresários, ou os dependentes incorporados na empresa em virtude do contrato
de trabalho.
À Nossa consideração não podiam
escapar as tendências que se infiltram em tais movimentos, as quais não
aplicam - como se aduz
- as incontestáveis normas do direito
natural às condições mudadas do tempo, mas simplesmente as excluem. Por isso,
em Nosso discurso de 7 de maio de 1949 à União Internacional das Associações
Patronais Católicas, e no de 3 de junho de 1950 ao Congresso Internacional de
Estudos Sociais, Nos opusemos a tais tendências, não tanto, na verdade, para
favorecer os interesses materiais de um grupo antes que os de um outro, mas
para assegurar a sinceridade e a tranquilidade de consciência de todos aqueles
a quem se referem estes problemas.
Nem Podíamos ignorar as alterações com
as quais se deturpavam as palavras de alta sabedoria de Nosso glorioso
Predecessor Pio XI, atribuindo o peso e a importância de um programa social da
Igreja, em nosso tempo, a uma observação totalmente acessória sobre as
eventuais modificações jurídicas nas relações entre os trabalhadores sujeitos
ao contrato de trabalho e a outra parte contratante" ("Discorsi e Radiomessaggi",
vol. 13, p. 465).
Mais tarde,
em 14 de setembro do mesmo ano de 1952, na já citada radiomensagem aos
católicos austríacos, torna o Papa a dizer que a Igreja se recusa
terminantemente a deduzir do contrato de trabalho qualquer direito do empregado
à co-direção ou à co-propriedade da empresa
(cf. "Discorsi e Radiomessaggi", vol. 14,. p. 313).
Pretender,
pois, impor tais participações, como se constituíssem exigência da doutrina da
Igreja, é um erro que favorece o ambiente de agitação e antagonismo de classes
propício à consecução dos objetivos comunistas. É, ainda que inconscientemente,
colaborar com o maior inimigo da civilização cristã.
Ao estudo e à
difusão das Encíclicas aplica-se o axioma dos escolásticos: "Bonum ex integra causa, malum ex
quocumque defectu". Assim, a doutrina delas é doutrina de salvação
quando tomada na sua integridade harmoniosa, e pode produzir péssimos frutos
quando mutilada pela consideração de uma só parte isolada do todo. Nas relações
com patrões e operários, não nos esqueçamos do exemplo do Filho de Deus. Jesus
amou os pobres, deles Se compadeceu, aliviou-lhes as misérias. Nem por isso
desprezou os ricos, que ele também veio salvar. Assim, dedicou profunda amizade
à família rica e principesca de Lázaro, Marta e Maria, em cuja casa gostava de
repousar das labutas do apostolado.
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