CARTA PASTORAL
prevenindo os diocesanos contra os
ardis da seita comunista.
Escrita em 13 de maio de 1961 pelo
então Bispo da Diocese de Campos, D. Antônio de Castro Mayer, de saudosa
memória.
(continuação)
Amar os pobres não é odiar os ricos
Amemos, pois,
desveladamente os pobres, sejamos seus protetores, defendamos seus
direitos, - salvando sempre, porém, os direitos das
outras camadas da sociedade, porque a felicidade do corpo social está na
harmonia de todas as classes, com seus direitos e deveres, e não na supremacia
de uma sobre a outra, tripudiando sobre a lei moral.
A laicidade favorece a seita marxista
Nesta mesma
ordem de ideias, convém fazer algumas reflexões a respeito do falseamento
frequente dos movimentos destinados a ajudar e defender os operários,
trabalhadores rurais, empregados domésticos, enfim, a classe dos que ganham
dignamente seu pão com o trabalho assalariado.
Qualquer
iniciativa no sentido de elevar essa classe espiritual, cultural e moralmente,
é digna de todos os encômios. Assim também os movimentos que se propõem a
defesa dos legítimos direitos dela nas relações com os empregadores. Há de
aqui, porém, levar-se em conta, primeiro, que em tais movimentos, vistos em seu
conjunto, jamais se deve recusar a primazia à parte espiritual e moral. Se eles
cuidarem apenas da parte econômica, no fundo estarão auxiliando a difusão dos
erros comunistas, uma vez que estes afirmam precisamente que são os fatores
econômicos os únicos que realizam todo progresso, mesmo cultural e, enquanto
não se pode acabar inteiramente com as crenças, até religioso. É isso falso, e
uma campanha em prol das classes menos favorecidas da fortuna, que não
sublinhasse essa falsidade, estaria indiretamente beneficiando o comunismo. Por
semelhante razão, lamentamos profundamente o caráter laico dos nossos
sindicatos, quer de empregados, quer de patrões. Posta de lado a influência
direta da Religião, resulta impossível resolver os problemas sociais dentro dos
quadros da civilização cristã, baseada em valores espirituais aos quais os
econômicos devem estar subordinados, como meros auxiliares.
A tendência a igualar as condições de
patrões e empregados serve o comunismo
É pelo
esquecimento dos valores espirituais que frequentemente as reivindicações operárias
descambam para a exigência de uma igualdade absoluta de direitos entre
empregados e empregadores. Coisa em si absurda, uma vez que o próprio contrato
de trabalho supõe duas situações distintas, cada qual com seus direitos
legítimos, não porém os mesmos, pois que se fossem os mesmos nem sequer seria
possível contrato. Quando duas pessoas contratam é porque não têm os mesmos
direitos: a uma falta o que a outra tem, e o contrato é feito precisamente para
que se completem, se auxiliem reciprocamente, ficando ambas satisfeitas,
conservando, porém, cada qual, seus direitos. As campanhas a favor dos direitos
dos operários, e empregados em geral, com tendência a igualar as situações,
servem aos comunistas, cujo ideal é a supressão da diversidade de classes
sociais. Eis, pois, um campo em que a defesa de direitos autênticos e até
sagrados pode prestar-se, nas condições em que vivemos, à exploração da seita
comunista.
Ao cuidar dos
operários é preciso marcar bem a função que eles têm na sociedade, função digníssima
e deles própria, que bem desempenhada os leva a dar seu contributo
indispensável para o bem comum, e que no entanto será fundamentalmente viciada,
se, corroídos de inveja porque lhes não coube outra posição mais elevada,
vierem a sabotar a tarefa que executam, ou a colaborar em movimentos que
provocam a desordem no campo econômico-social. Com semelhante procedimento,
eles prejudicariam a sociedade toda, e a si mesmos, espiritual e materialmente.
Sem o concurso das virtudes cristãs nada
se fará de útil para os pobres
Não é preciso
insistir para que se veja como as reivindicações operárias - tão
legítimas e simpáticas - quando feitas nesse espírito ajudam
poderosamente a criar ambiente favorável ao comunismo e contrário à civilização
cristã. Esta é feita das grandes virtudes sociais, a obediência, a humildade e
o amor. Virtudes que falam em desapego e dedicação. Virtudes não só dos
operários, mas também dos patrões. Virtudes cujo concurso impede que as reivindicações
operárias, por mais categóricas e enérgicas que sejam, se transformem em fator
de desordem social. Virtudes que, se vierem a falhar, nem se obterá a salvação
eterna, razão por que fomos criados, nem a paz e a prosperidade social, motivo
por que existe a sociedade civil. Sem elas domina a inveja, a desconfiança, o
ódio, causas da desagregação social, sobre a qual lança o manto negro da
tirania, o despotismo moscovita.
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