LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, Dia 4º
O mal não é morrer, o mal é morrer mal. O próprio Espírito
Santo ordena-nos a meditar na morte como meio de evitar o pecado que pode levar
à morte eterna: "In omnibus operibus
tuis, memorare novissima tua et in aeternum non peccabis", "Em todas
as tuas obras lembra-te dos teus novíssimos, e nunca jamais pecarás" (Eclesiástico
VII, 40). Meditando na nossa morte, já nos lembramos dos demais novíssimos,
porque a morte os desencadeia. Pois, logo após a morte, vem o juízo particular
e, dependendo dele, a alma já sabe se será eternamente feliz no Paraíso, ou
eternamente infeliz no Inferno.
Nada mais sério do que a morte! É a separação da alma do
corpo. É um separar, sem remédio, de amigos, de irmãos, de pai e mãe, de bens
materiais e dignidades! É a passagem de
um mundo conhecido para um desconhecido; do tempo para a eternidade onde nada muda; é
uma partida desta vida onde tudo passa; é a chegada aos séculos eternos, onde
nada passa. É deixar esta vida onde temos à nossa disposição os merecimentos
infinitos de Jesus Cristo e onde podemos colocar em dia as contas da
administração dos dons que Deus nos deu; é a entrada na eternidade, onde não se
pode mais trabalhar, merecer, se converter, voltar atrás. E a morte tem quatro
certezas: virá inevitavelmente, virá brevemente; despojar-nos-á de tudo; fixará
a nossa sorte por toda a eternidade. Tem também quatro incertezas: quando? em que
lugar? em que circunstâncias? em que estado: o de graça ou o de pecado mortal? E
essa última incerteza é a mais terrível! Seguindo a orientação do próprio Deus,
meditemos na morte e nos outros novíssimos para vivermos sempre preparados.
Nosso Senhor Jesus Cristo disse que a morte virá como um ladrão. Todos os dias
e noites tomamos as devidas providências para evitarmos os roubos. Devemos
estar dia e noite preparados para a morte.
Caríssimos, se meditarmos atentamente em tudo isso, é certo
que evitaremos sempre o pecado e estaremos sempre preparados para morrer, tanto
na vigília como no sono, tanto na mocidade como na velhice. Com a graça de
Deus, iniciemos a nossa meditação.
A MORTE É INEVITÁVEL: S. Paulo diz claramente: "Está decretado que os homens morram
uma só vez e (que) depois disso (se siga) o juízo" (Hebreus IX, 27). A
fé no-lo ensina e a razão também o demonstra. Por toda parte encontramos o luto
da morte. Nunca encontraremos uma cidade onde não haja cemitério. À direita, à
esquerda, na própria família e nas dos nossos conhecidos encontramos o lúgubre
espectro da morte. A terra é uma cadeia de condenados à morte. Todos sabemos
que, num dia incerto, a morte rangerá a porta desta prisão, e dirá, apontando
para sua vítima, É VOCÊ!!!
Caríssimos, meditemos demorada e atentamente nas seguintes
verdades: No Céu nunca se morre, lá é a Vida Eterna; no Inferno, morre-se
sempre, lá é a morte eterna; pois, até o fim do mundo, a alma condenada está
morta porque fixada no pecado, separada da Vida que é Jesus; e depois da
ressurreição final, os mortos espirituais ressuscitarão para o suplício eterno,
como afirmou o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo (S. Mateus XXV, 46); e, então,
alma e corpo do condenado sofrerão a segunda morte pelos séculos dos séculos.
Na terra, vive-se algum tempo, depois morre-se uma vez, para viver ou morrer
para sempre, conforme a morte, boa ou má, abrir o Céu ou o Inferno.
A MORTE ESTÁ PRÓXIMA: Não há senão um passo entre mim e a
morte. Na verdade a vida não é mais que uma luta contínua contra a morte.
Olhemos para uma vela acesa. À medida que vai iluminando e pelo próprio fato de
a chama estar viva, a vela vai se consumindo. Assim, a medida que vivemos, porque o coração está batendo, estamos
morrendo; por mais que eu faça, morro todos os dias e a cada instante do dia;
cada pulsação do coração é uma brecha feita na vida e, na verdade, como o rio
que não pára até morrer no mar, assim caminhamos sem parar em direção ao
túmulo. Devemos, então, tirar como lição não nos apegarmos a nada deste mundo,
em que só estamos de passagem. Devemos sim nos ocuparmos daquele mundo em que a
morte nos introduzirá e onde estaremos por toda a eternidade. Caminhamos
continuamente para a casa de nossa eternidade (Cf. Eclesiastes XII, 5). Meditemos
nesta realidade: nossa vida é curta mas dela depende nossa eternidade. Juntemos
um tesouro no Céu onde não há o ladrão da morte.
A MORTE É ESPOLIADORA: Quando a morte chegar, teremos que
abandonar tudo; todos os laços que nos prendem à terra, serão quebrados: bens,
prazeres, projetos, parentes e amigos. E abandonar tudo PARA SEMPRE! Nossa vida
é uma viagem que termina com a morte, e não tem retorno. Assim como uma árvore
tomba para um lado, um dia ela cairá para aquele lado, e caída, ficará no chão,
estendida no mesmo lugar. Geralmente, quanta preocupação com o corpo, quanta
vaidade! E a morte lançá-lo-á em uma
cova e será aí entregue aos vermes. Na verdade, a morte não nos deixa senão as
nossas obras, a alegria ou o pesar, segundo forem obras boas e virtuosas, ou de
pecado. Caríssimos, muito ajuda a viver santamente, pensar no efeito principal
e melhor para os que viverem bem: a morte os unirá a Deus para sempre!!!
A MORTE FIXARÁ NOSSA
SORTE PARA TODO SEMPRE: Tal vida, tal morte; tal morte, tal sorte por toda a
eternidade! A morte má é a mais irreparável de todas as desgraças. Se a morte
surpreende uma pessoa no estado de pecado mortal, a sua vontade se tornará
imutável no pecado, e a vontade de Deus imutável no castigo. Se este pensamento
estivesse sempre presente em nosso pensamento, santificaríamos todos os nossos
momentos!
Vejamos, agora, as quatro incertezas da morte:
QUANDO VIRÁ? Deus oculta o nosso último dia, porque ao
contrário não teríamos paz; mas também para que não se fosse tentado a deixar
para se converter para perto do dia fatal. "Deus ocultou-nos o último dia,
diz Santo Agostinho, para que santificássemos todos os dias". Jesus Cristo
manda a gente ficar sempre vigilante e preparado: ocultando-me o termo da
minha vida, obriga-me a vigiar sobre
mim, e a servi-Lo todos os instantes da minha vida. E caríssimos, vemos como é
grande o número de mortes repentinas: daí estejamos sempre preparados.
EM QUE LUGAR? Em casa, na rua, na estrada, no hospital, em
terra, no mar? Não sabemos! Nem se sabe com certeza, se morrerá em sua terra e
em terras estrangeiras.
EM QUE CIRCUNSTÂNCIAS: Como será minha morte? Não sei se
será repentina ou depois de longa e dolorosa doença; não se sabe se morrerá
cercado dos cuidados dos familiares ou, se só e, talvez até abandonado. Será a
morte violenta em algum acidente ou por doença? Não se sabe! Será no fogo, na
água, numa queda, causada por catástrofes naturais ou por guerra. Não sabemos!
NO ESTADO DE GRAÇA OU DE PECADO MORTAL: Eis a incerteza mais
terrível, mas, por outro lado, a que
mais depende de nós mesmos. Como vimos no início, o próprio Espírito Santo nos
aconselha a meditação dos Novíssimos, para evitarmos sempre o pecado. Devemos
empregar todos os meios para evitarmos o pecado, porque ele separado da morte é
o maior de todos os males; e unido à morte, o pecado mortal é a consumação de
todos os males. Ó meu Deus, deixai-nos a morte, mas tirai-nos o pecado!
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós! Amém!
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