quinta-feira, 4 de abril de 2019

ECUMENISMO DO APÓSTOLO PAULO?



1 Coríntios IX, 19-22
"Porque sendo livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar um maior número. Fiz-me judeu com os judeus, para ganhar os judeus; com os que estão sob a lei, (fiz-me) como se estivesse sob a lei, (não estando eu sob a lei), para ganhar aqueles que estavam sob a lei; com os que estavam sem lei, (fiz-me) como se estivesse sem lei (não estando sem a lei de Deus, mas estando na lei de Cristo), para ganhar os que estavam sem lei".

Este texto de S. Paulo pode ser mal interpretado no sentido de justificar o ecumenismo. Devemos afirmar que nada justifica tal interpretação, porque Santos Padres, como Santo Agostinho e S. Jerônimo, já deram o legítimo significado, segundo veremos neste artigo.

"Sendo livre em relação a todos", isto é, não sendo eu (afirma S. Paulo) sujeito a nenhum poder e domínio de algum homem, fiz-me voluntariamente como se fosse servo de todos, adaptando-me às fraquezas e necessidade de todos afim de ganhar o maior número possível de pessoas para o Evangelho.

"Fiz-me judeu com os judeus..." etc.: S. Paulo quer dizer simplesmente naquelas observâncias e cerimônias exteriores, as quais não eram contrárias ao Evangelho; se acomodara somente ao gênio dos judeus apaixonados pelos seus antigos costumes, para assim insinuar-se com tal condescendência, em seus corações. É que vemos o grande Apóstolo fazer, como lemos em Atos XVI, 3 e XXI, 23  e seguintes.

"Chegou a Derbe e a Listra. Havia lá um discípulo chamado Timóteo, filho de uma mulher judia convertida à fé, e de pai gentio. Os irmãos, que estavam em Listra e em Icônio, davam bom testemunho dele. Quis Paulo que ele fosse consigo. Tomando-o, o circuncidou, por causa dos judeus que havia naqueles lugares. Porque todos sabiam que o pai dele era gentio" (Atos XVI, 23).  Já em Gálatas II, 3 e seguintes, S. Paulo mesmo escreve que não permitiu que Tito fosse circuncidado porque ele quis retirar aos falsos irmãos que eram os judaizantes, todo pretexto para ensinar a necessidade da Lei mosaica, da qual os cristãos haviam sido libertados por inspiração do Espírito Santo no Concílio de Jerusalém: "Ora nem mesmo Tito, que estava comigo, sendo gentio, foi obrigado a circuncidar-se, e isto por causa dos falsos irmãos, que se intrometeram a explorar a nossa liberdade, que temos em Jesus Cristo, para nos reduzirem à escravidão. Aos quais nem só uma hora quisemos estar sujeitos, para que permaneça entre vós a verdade do Evangelho".

Não há nenhuma contradição no modo de agir de S. Paulo, porque a circuncisão em si era uma coisa indiferente; tornou-se obrigatória por determinação do próprio Deus e, portanto, antes do Concílio de Jerusalém, quem desobedecesse a ordem de Deus, cometeria pecado. Depois do Concílio de Jerusalém, foi, por inspiração do Espírito Santo, retirada a obrigatoriedade da lei da circuncisão, e portanto, quem não a cumprisse não mais cometeria pecado. Isto tudo por se tratar de algo em si indiferente. Assim o mesmo S. Paulo resistiu a Cefas em face, porque a dissimulação do Apóstolo Pedro, dava a impressão que quem não observasse a lei da circuncisão estaria cometendo pecado, sendo que já tinha sido abolida sua obrigatoriedade no Concílio de Jerusalém. Em se tratando de algo indiferente, mesmo após o Concílio de Jerusalém, quem quisesse praticar a circuncisão, não cometeria nenhum pecado; mas quem dissesse ou mesmo desse a entender (como fez Cefas) que a circuncisão continuava obrigatória sob pecado, estaria completamente errado, "não estaria agindo segundo a verdade do Evangelho" (Cf. Gálatas II, 11-14).

S. Paulo foi a Jerusalém e foi recebido com alegria pelos irmãos na fé, ou seja pelos cristãos que fizeram a Paulo a seguinte observação: "Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus são os que têm crido e todos são zeladores da lei. Ora eles têm ouvido dizer que tu ensinas os judeus, que estão entre os gentios, a separarem-se de Moisés, dizendo que não circuncidam os seus filhos, nem vivam segundo os costumes mosaicos. Que fazer pois? Certamente ouvirão dizer que tu chegaste. Faze, pois, o que te vamos dizer: Temos aqui quatro homens, que têm um voto sobre si. Toma-os contigo, purifica-te com eles, faze por eles os gastos dos sacrifícios, a fim de que rapem as cabeças. Saberão assim todos que é falso o que ouviram de ti e que caminhas ainda guardando a lei. Quanto àqueles gentios que creram, nós já escrevemos, ordenando que se abstenham do que for sacrificado aos ídolos, do sangue, do sufocado e da fornicação". S. Lucas nos versículos seguintes deste capítulo diz que S. Paulo seguiu o conselho. Mas humanamente falando não deu nada certo porque os judeus o prenderam no templo, arrastaram-no para fora e quiseram matá-lo. A polícia interveio para livrar Paulo da morte. Mas, assim, o Apóstolo teve oportunidade de fazer uma pregação à toda multidão.

"Com os que estão sob a lei"... etc.  Os prosélitos eram aqueles que estavam sob a lei, os quais se submetiam voluntariamente a ela. O espírito e a mente de S. Paulo atinente a esta passagem estão maravilhosamente expressas por Santo Agostinho numa célebre carta a S. Jerônimo onde se lê: "Fiz-me judeu com os judeus, e as outras coisas que disse, exprimem uma compaixão de misericórdia, não um fingimento para enganar. Da mesma maneira quando disse que "se fazia doente com os que estavam doentes" não enquanto fingisse estar com febre junto daquele que estivesse doente; mas queria dizer que tinha ânimo compassivo pensando como tratar o doente do mesmo modo como gostaria de ser assistido caso estivesse realmente doente. Paulo verdadeiramente era Judeu; tornando-se cristão, não havia contudo abandonado as cerimônias judaicas, dadas legitimamente àquele povo num tempo em que eram convenientes e necessárias; e ele, mesmo sendo apóstolo de Cristo, praticava estas cerimônias (em si indiferentes como era a circuncisão) afim de ensinar que elas não eram nocivas àqueles que as quisesse praticar, sem, porém, repor nas mesmas, a esperança de salvação, porque a salvação apenas figurada nestas cerimônias [a circuncisão p. ex. era figura do batismo; e Santo Agostinho nesta carta chama tais cerimônias judaicas de "sacramentos dos judeus"] já havia sido realizada por Nosso Senhor Jesus Cristo".

"Com quem era sem lei, fiz-me como se estivesse sem lei". Queria dizer: Com os gentios (=pagãos) me faço como se não tivesse sido Judeu, mas Gentio, não observando entre eles a Lei Cerimonial, mas, pelo contrário, me comportando como se fosse um dos seus que não receberam a lei; embora eu não seja nem viva sem a Lei de Deus, porque observo a lei de Cristo ao qual estou sujeito. S. Paulo acrescentou aquelas palavras "não sendo eu sem lei etc.", talvez para não dar azo à uma má interpretação, ou seja, que ele houvesse dito de não praticar a lei para ganhar os pagãos que eram privados da lei.

Outro exemplo bem característico do Apóstolo foi o discurso que fez no Areópago de Atenas, discurso este que já no início atrai a simpatia dos atenienses chamando-os de religiosos porque construíram um altar ao deus desconhecido. E S. Paulo aproveita disto para justamente pregar sobre o verdadeiro Deus, deles ainda desconhecido, criador do mundo, Senhor do céu e da terra. Neste sermão cita também um poeta pagão ateniense, o que certamente não deixou de agradar aos ouvintes. É bem verdade que o resultado do discurso não foi tão grande, pelo menos aparentemente. Na verdade, algumas pessoas abraçaram a fé; entre as quais foi Dionísio, o areopagita e uma mulher, chamada Dâmaris e outros com eles (Atos XVII, 15-33). E sabemos o quanto bem fez às almas o grande São Dionísio!

Do exposto, creio que todos nós podemos ver com facilidade o espírito MISSIONÁRIO do Apóstolo e, de modo algum, espírito de ecumenismo à Vaticano II. Basta compararmos o que fez S. Paulo nestas circunstâncias acima mencionadas com o que foi feito nos famigerados ENCONTROS DE ASSIS. 

NB. Peço desculpas pela grande demora em dar a resposta aos que me solicitaram uma exegese deste texto de S. Paulo.

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