Pelo Servo de Deus
Padre Mateo Crawley-Boevey SS. CC.
"Verão aquele a quem trespassaram" (Zacarias XII,
10; S. João XIX, 37).
Quero apenas acrescentar este tema da Sagrada Escritura, e observar que a primeira
a ver e adorar o Coração trespassado de Jesus Cristo na Cruz, foi Sua Mãe
Santíssima , a sempre Virgem Maria. Agora, demos a palavra ao grande
Missionário do Sagrado Coração de Jesus, Pe. Mateo Crawley-Boevey:
"Jesus todo
inteiro pertence a Maria, mas há algo em Jesus que é mais especialmente de sua
Mãe: seu Coração.
O que São Francisco de Assis, Santa Gertrudes ou Santa
Margarida Maria conheceram desse Coração adorável, é apenas um átomo do sol
radiante que foi o conhecimento íntimo com que a Virgem Maria penetrou nesse
abismo de amor e de misericórdia.
Daí a semelhança prodigiosa, muito mais ainda que no físico,
no moral, entre o Coração de Jesus e o de Maria. Porque, se na fisionomia de
Jesus estavam seguramente muito marcados os traços de rara formosura da Virgem,
que diremos das outras semelhanças, as dessas duas almas e dos seus sentimentos
interiores? A este Filho-Deus, esta Mãe única!
Por isso os dois títulos que para nós têm um significado e
importância e sabor especialíssimos: "Mãe do Belo Amor" e Mãe de
Misericórdia".
Mãe d'Aquele que é o Amor dos amores, d'Aquele que se define
como Caridade e Amor. E foi Ele mesmo quem criou à sua imagem e semelhança a sua
própria Mãe, a mais amante e amorosa de
todas as criaturas, por se a que mais perfeitamente reproduz em seu Coração
Imaculado o atributo por excelência do Senhor: a Caridade.
Toda a grandeza, toda a formosura, todo o poder e toda a
fecundidade desta Filha e Mãe do Rei está no seu amor. E por isso Deus colocou
n'Ela todas as suas complacências e depositou em seu Coração todos os seus
tesouros, porque como nenhum outro ser criado, nenhum serafim ou santo, dilexit multum, "amou muito".
Devia ser Imaculada por ser Mãe d'Aquele que é a Santidade
substancial, e também porque devia amar com capacidade de amor que nenhum
coração manchado pôde jamais ter ao dar-se a Deus. Amou, portanto, com
plenitude de amor, porque pôde amar e amou com um Coração Imaculado.
Amou como criatura, a única perfeita, com amor perfeito;
amou como Esposa, a eleita entre milhares, e como Virgem cuja integridade,
realçada pelo milagre da fecundidade divina, centuplicara em Maria a potência
de amor pelo seu Criador, convertido em Esposo divino e em Filho seu. Maria
amou a Deus como Mãe, pois que o Verbo foi na realidade seu Filho, envolto nos
panos da carne mortal. Que de incêndios não comunicaria o Filho à Mãe, pagando
seus desvelos, seus beijos e ternuras com chamas de caridade abrasadora,
infinita!
Daí seguiu-se para esse Coração virginal e materno, feito
brasa viva de amor divino, aquela suavidade e doçura, piedade e misericórdia da
Rainha: Mater misericordiae.
Chega o Senhor à terra, trazendo-nos na forma encantadora de
Irmão nosso a benignidade do Pai celestial, o seu perdão.
Mas chegou até nós nos braços de uma criatura incomparável,
mulher como nossas mães, mil vezes mais terna ainda que todas elas. Do berço do
seu regaço, apoiado no Coração da Rainha, sorriu à terra, olhou-a com piedade
infinita. Dos seus braços maternais, Jesus deu a primeira bênção ao mundo
culpado, chorando já, nesse altar que era Maria, e oferecendo-se nele ao Pai,
como Salvador de infinita misericórdia.
Ah! Como a Hóstia de misericórdia, Jesus, assim também trono
e ara de misericórdia, Maria!
Quem jamais reproduziu como a Virgem a infinita compaixão do
Coração de Jesus? Quem jamais melhor que Ela pregou e prodigalizou toda a
doutrina do Amor misericordioso de Deus, encarnado não para julgar, mas para
salvar?
Como deve ter dilacerado o Coração de Maria o grito de
pânico e de gelo lançado pelo jansenismo! Como deve ter protestado com lágrimas
de sangue, em união com a Igreja católica, quando se esforçavam por fechar a
ferida do lado, ou ao menos ocultá-la à caravana de almas débeis e pecadoras
que a buscavam com afã, para asilo e farol, manancial e porto!
Ela, que sabia por que chorava o Menino, ainda tão pequeno,
nos seus braços; Ela que sabia o motivo pelo qual sofreu o desterro do Egito;
Ela, que sabia o porquê misterioso daqueles trinta anos de solidão, de
humilhações e silêncio em Nazaré; Ela que, como ninguém, sabia o último porquê
do prodígio de amor da Quinta-Feira Santa e de todas as ignomínias e dores da
Sexta-Feira Santa; Ela que recebeu o Coração do Salvador e o da Igreja, ambos
arcas de salvação e não tribunais de condenação... Ah! como deve ter desviado os
olhos e fechado os seus ouvidos quando algum filho degenerado, de sobrolhos
carregados, gesto inclemente e palavras destituídas de misericórdia, desfigurou
ao seu Jesus!
Bebei, devotos do Divino Coração, bebei a sorvos largos, no
Coração de Maria, a doutrina suave e forte do amor, a doutrina sólida,
autêntica e tão consoladora da misericórdia. Aprendei na escola de Maria que
ser bom com as almas, ser compassivo, ser misericordioso não é oh!, não!
- nenhuma debilidade, nenhuma
condescendência ridícula e indevida, mas o mais substancial, o mais forte e
puro da farinha com a qual se engendra e forma a Jesus nas almas.
Em vossos momentos de filial intimidade com a Mãe do Belo
Amor, suplicai-Lhe que infunda em vós, como fez a S. João Eudes, o verdadeiro
espírito do amor e do apostolado do Coração de Jesus, aquele espírito que não
se aprende nem se adquire em toda a sua pureza senão nessa escola do Puríssimo
Coração de Maria.
Por isso encontrareis sempre nos grandes servidores da
Rainha, como São Grignon de Montfort e o S. Antônio Claret, aliada à santa
intransigência de princípios, aquela unção, aquela ternura apostólica, aquela
imensa compaixão e indulgência que aprenderam sem dúvida, dos lábios de Maria.
Por isso comoveram o mundo das almas, por isso foram os mensageiros vitoriosos
do Evangelho e os renovadores providenciais, na sua época, do verdadeiro
espírito cristão." (...)
Caríssimos, sede filhos amantes da Mãe do Belo Amor, da Mãe
de Misericórdia! Amém!
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