96. OUTRA ILUSÃO PROTESTANTE (a).
Outra ilusão protestante é julgar que, para estarmos na graça de Deus, é preciso primeiro que disto estejamos convencidos. Já o próprio Leibnitz, filósofo protestante, chamava a atenção para o contra-senso em que os reformados caem neste ponto: "Se crer-se justificado se requer para a justificação e consequentemente precede a justificação, neste caso deve crer-se justificado quem não está justificado ainda; deve, portanto, crer uma coisa falsa" (Sistema Teológico, Mogúncia; 2ª edição, Pág.. 62).
Nós valemos diante de Deus o que valemos realmente; não o que pensamos que valemos. Não é o fato de me julgar justo que me torna justo, nem o fato de me ter na conta de um pecador que me faz mais pecador do que sou realmente.
Não foi enchendo-se da convicção de que estava salvo, que o publicano da parábola (Lucas XVIII-10 a 14) conseguiu a purificação de sua alma. mas apenas humilhando-se e tendo-se na conta de um desprezível pecador; e não consta do Evangelho que ele tivesse a certeza, nem ao menos a mínima ideia, de que estava em graça de Deus naquela hora. Se havia certeza, era no outro, no fariseu que voltou para casa ainda mais pecador do que dantes.
- Mas a certeza que ele tinha era diferente da nossa, porque era baseada nas obras, dirão os protestantes.
- Perfeitamente de acordo. A dele era certeza baseada nas obras que praticava sem ter a virtude interior, mas sim com verdadeiro espírito de ostentação. Mas ou certeza por causa das obras feitas com orgulho e presunção, ou certeza porque alguém não se julga obrigado às obras para salvar-se, o que é fato é que a parábola mostra que a gente pode facilmente enganar-se nesta matéria.
E o que lemos no Evangelho é que muitos que creem firmemente em Jesus Cristo, que chegam mesmo a profetizar e a fazer prodígios em seu nome e que por isto estão certos, certíssimos da salvação, sofrerão uma decepção tremenda no dia das contas, serão rejeitados por causa de suas OBRAS que não agradaram a Deus: Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não é assim que profetizamos em teu nome, e em teu nome expelimos os demônios, em teu nome obramos muitos prodígios? E eu então lhes direi em voz bem inteligível: Pois eu não vos conheci; apartai-vos de mim, os que obrais a iniquidade (Mateus VII-22 e 23).
Suponhamos que um homem tem dois criados: ambos o servem com boa vontade; mas um está sempre cheio de si, convencido de que o patrão está bem satisfeito com ele e de que receberá com toda a certeza a recompensa prometida pelo amo aos servos que façam bem o seu trabalho; o outro está sempre desconfiado, sempre temeroso de que o patrão tenha alguma coisa a reclamar sobre o seu serviço. ou de que talvez não mereça a recompensa almejada. Isto faz com que este último valha menos perante o patrão ou perca o seu direito à recompensa? Ao contrário, com este receio sobre o valor do seu trabalho, está mais apto a caprichar, a fazer tudo com perfeição do que o outro que está convencido de que tudo quanto faz é uma maravilha que agrada imensamente ao seu patrão. Isto se dá com maioria de razão na vida espiritual, onde a humildade é a virtude mais apta para conquistar as graças de Deus.
Perguntaram um dia a uma santa se ela estava na graça de Deus. Ela respondeu o seguinte: "Se eu estou na graça de Deus, que Deus me conserve neste estado; se não estou, que Deus me ponha nele". Deixou, por acaso, de ser o que realmente era diante de Deus por ter falado desta maneira?
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