sexta-feira, 12 de junho de 2020

O CORAÇÃO DE JESUS E A OITAVA BEM-AVENTURANÇA


LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
12º  dia de junho

"Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus".

Esta bem-aventurança vem por último porque, na verdade, é a pedra de toque das demais. É o crisol de toda virtude. O sofrimento suportado por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo é a prova insofismável da verdadeira santidade. Ser zombado e insultado, caluniado e até conduzido à morte, justamente por querer comportar-se como autêntico cristão inteiramente fiel a Nosso Senhor Jesus Cristo, é o testemunho do verdadeiro amor ao divino Salvador, que foi perseguido, alvo de contradição e deu a vida por nosso amor. "Sofrer perseguição" é segundo mostra Jesus,  algo violento que pretende tirar-nos a paz, os bens, a reputação e até a vida. E com esta particularidade que mais assusta a nossa natureza: não é algo que passa, mas que nos segue diuturnamente e com tenacidade. O ouro das virtudes não é jogado no crisol e logo tirado, mas deve permanecer aí até ao fim para só assim sair puríssimo e esplendidamente reluzente. "Tu me provaste com o fogo e não foi encontrada em mim iniquidade" (Salmo 16, 3). "Todos os que querem viver piamente em Jesus Cristo, padecerão perseguição' (2 Timóteo III, 12).

Esta bem-aventurança pressupõe em nós todos os méritos das sete bem-aventuranças precedentes e, outrossim, pressupõe todos os seus prêmios. Já houve milagres da graça pelos quais pessoas que estavam na idolatria passaram imediatamente para o martírio cristão e foram logo para o céu. Mas ordinariamente não acontece assim: para se tolerar com paciência alguma grave perseguição, se exige uma longa prática de todas as virtudes como Nosso Senhor mostrou nas bem-aventuranças anteriores, e é a "justiça", ou seja, o compêndio de todas as virtudes. Como na primeira bem-aventurança, também aqui Jesus diz: "porque deles é o reino dos céus". Assim, quem é perseguido por seguir a Jesus Cristo com fidelidade, é julgado no céu como quem é dono de um reino, mas que ainda não tomou posse dele. Por isso que Jesus também disse alhures: "Aquele que perseverar até ao fim, este será salvo".  Não podemos descer da cruz. Para tanto, Nosso Divino Mestre está sempre nos apresentando o seu Coração coroado de espinhos. Não há um só que nos fira e que, antes, já não O haja amargurado. Caríssimos, é mister ter sempre em mente o mistério profundo da Cruz. É esta a lembrança que nos traz contentamento nas perseguições como, de si mesmo, atesta São Paulo. Contemplemos sempre na Cruz o Coração transpassado de Jesus, coração assim por primeiro contemplado e adorado pela Mãe das Dores e pelo discípulo mais amado.

Enquanto, com relação às outras bem-aventuranças, a cada uma corresponde um dom do Espírito Santo, a esta última correspondem todos os dons do Espírito Santo. Correspondem-lhe: o dom do Temor de Deus, pois, é a primeira armadura contra qualquer perseguição; o dom da Piedade, porque ele dá a reverência, o amor filial; o dom da Ciência, porque esta nos faz conhecer o sumo bem que há em permanecer firme  durante a perseguição. A ciência mostra-nos, também, o mal que há em fugir das perseguições; o dom da Fortaleza, que nos dá a coragem necessária para desprezar a perseguição; o dom do Conselho, porque nos faz escolher os meios mais seguros para conseguirmos a vitória contra nossos perseguidores que são insuflados pelo demônio; o dom da Inteligência que nos ilumina para sabermos orar pedindo o socorro divino, a assistência de Jesus e de Nossa Senhora; o dom da Sabedoria, porque ela nos faz agir nas perseguições com aquela segurança que é própria de um comandante experimentado, aguerrido e destemido.


Caríssimos, vede como é importante pedir sempre a Deus Nosso Senhor as virtudes e também os sete dons do Espírito Santo. Amém!

quinta-feira, 11 de junho de 2020

FESTA DE CORPUS CHRISTI



Sabemos que Deus nunca pode ser atingido em sua Felicidade por causa dos pecados. Para receber humilhações, sofrer e morrer, é que Se fez Homem o Filho de Deus. Mas Nosso Senhor Jesus Cristo quis continuar conosco na Eucaristia, como Deus e Homem. Não podemos, porém esquecer, que Jesus ressuscitou imortal e impassível, e assim está presente na Eucaristia. Portanto não pode sofrer nem morrer. Mas, sendo Deus, na sua Paixão e Morte já sofreu por todos os pecados desde Adão e Eva até a última blasfêmia do Anti-Cristo, até ao ultimo pecado que será cometido sobre a face da terra. À vista deste cortejo fúnebre de pecados que foi passando diante de seus olhos apavorados, e neste cortejo horripilante estavam os pecados cometidos contra a Eucaristia desde a sua instituição,  Jesus Cristo sentiu no Getsêmani uma tristeza mortal a ponto de suar sangue em tanta quantidade que chegou a correr pela terra. O Salvador viu aí todas as profanações do Santíssimo Sacramento  e do Santíssimo Sacrifício do Altar. Se não nos comovermos diante deste amor de Jesus instituindo a Santíssima Eucaristia mesmo prevendo as profanações e sacrilégios de que seria alvo, que mais nos poderá causar compaixão e amor?!

O que mais nos admira nesta "maravilha das maravilhas de Deus" (Cf. Salmo 110, 4), são as humilhações a que o Filho de Deus se sujeitou; e o que mais nos comove é o amor que nos mostra. Mas a ingratidão dos homens é tamanha que à estas humilhações que são da escolha de Jesus e que nos obtêm os maiores bens, acrescentamos ainda outras, que são fruto do nosso crime, e nos atraem horríveis desgraças, como doenças, incapacidades na alma e no corpo e mortes, como afirma S. Paulo em 1ª aos Coríntios XI, 30: "Examine-se, pois, a si mesmo o homem e assim coma deste pão e beba deste cálice, porque aquele que o come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não distinguindo o corpo do Senhor [do pão comum]". É por isso que há entre vós muitos enfermos e sem forças(em latim" imbeciles" = sem força na alma e no corpo) e muitos que dormem (morrem)". 

Caríssimos, que faz então a Santa Madre Igreja? Preocupada com estas duas classes de humilhações, ela esforça-se hoje por nos fazer honrar as humilhações escolhidas por Jesus por nosso amor, justamente com um amor agradecido; e por nos fazer reparar as humilhações que fazemos a Jesus por nossos crimes, com um amor penitente.

1. Na verdade, em nenhum de seus mistérios Jesus Cristo é tão humilhado como na Eucaristia. Em qualquer outra parte, se a sua divindade se encobre, revela-se também de alguma maneira. Por exemplo no Calvário, por entre os opróbrios do Homem moribundo, se divisa o Filho de Deus: há uma tempestade e terremoto e as pedras do Calvário se fendem e muitos exclamam: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus". Pelo contrário na Eucaristia, nem mesmo tem semelhança com o homem. Embora opere milagres, no entanto, são invisíveis e só muito raramente se manifestam como em Lanciano. Enquanto que os prodígios que se manifestaram no Nascimento de Jesus, durante a Sua vida e na Sua morte, eram destinados a patentear as suas grandezas, os que multiplica neste sacramento, são empregados em rodeá-las de uma obscuridade impenetrável. É um grande prodígio ficar a substancia do Corpo, Sangue, Alma e até a Divindade debaixo das aparências humildes do pão. Nem sequer estas aparências tomam alguma qualidade da Carne de Jesus como por exemplo a cor e o gosto. São puramente os acidentes ou aparências de pão comum e não do Pão descido do Céu! Caríssimos, se estas humilhações nos confundem, quanto nos deve comover o amor que as causa?

Na verdade, em nenhum dos outros mistérios Nosso Senhor Jesus Cristo se humilhou tão profundamente; e estas humilhações eram necessárias para o cumprimento dos seus desígnios a nosso respeito. Queria estar conosco, comunicar-se a nós com toda a efusão da amizade mais confiante, renovar incessantemente o seu sacrifício por nós, identificar-se, por assim dizer, conosco, dando-nos a sua própria Carne como comida e o seu Sangue como bebida. E cada um destes favores, máxime o último, obrigava-O a descer até a este abismo de humilhação, onde só a fé O reconhece. E, caríssimos, este mistério não é a humilhação das humilhações, senão porque é, segundo S. Bernardo, o amor dos amores.

E aí temos a razão da Festa de Corpus Christi: quanto mais o Filho de Deus, na Eucaristia, se abate por causa de nós a sua infinita grandeza, tanto mais devemos exalçá-la com o nosso culto . Daí este triunfo público, universal, brilhante, que a Igreja Lhe tributa nesta solenidade.

2.  Mas a Igreja reconhece que esta só reparação não basta: a festa  do Santíssimo Sacramento, não é somente um triunfo conferido a seu divino Esposo; é também a penitência pública de seus filhos. A Igreja emprega esta pompa pública e extraordinária para reavivar a  nossa fé, pondo-nos de alguma maneira diante dos olhos aquela Majestade santíssima e tremenda, para nos incitar a aplacá-la, humilhando-nos na sua presença. Os padres zelosos não deixam de citar e levar o povo a meditar na terrível advertência do Apóstolo na sua Primeira Epístola aos Coríntios XI, 30, já supracitada. Não podemos ignorar que estão reservados os mais terríveis castigos aos que têm pisado aos pés o mesmo filho de Deus, e profanado o seu Sangue: "Imaginai vós quanto maiores tormentos merecerá o que tiver considerado como profano o sangue do testamento, com que foi santificado" (Hebr. X, 29).

Os verdadeiros adoradores devem aproveitar esta ocasião para honrar a Jesus Sacramentado; contribuir para a pompa do seu triunfo, alegrar-se das adorações que recebe, e forcejar para reparar as ofensas que Lhe são feitas principalmente nestes anos lúgubres e sem fé em que vivemos.

Este ano, por causa do Covid-19, não será possível realizarmos a Festa de Corpus Christi. 

CORPUS CHRISTI

CORPUS CHRISTI

                                                                                                                                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*

        Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, ou Corpus Christi.
        A belíssima catedral gótica de Orvieto, na Itália, que já visitei, conserva o relicário com o corporal sobre o qual caíram gotas de sangue da Hóstia Consagrada, durante uma Santa Missa, celebrada em Bolsena, cidade próxima, onde vivia Santo Tomás de Aquino, que testemunhou o milagre. Estamos no século XIII. O Papa Urbano IV, que residia em Orvieto, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a Orvieto, em procissão. Quando o Papa encontrou a Procissão na entrada de Orvieto, pronunciou diante da relíquia eucarística as palavras: “Corpus Christi (o Corpo de Cristo)”. O Papa prescreveu então, em 1264, que na 5ª feira após a oitava de Pentecostes fosse oficialmente celebrada a festa em honra do Corpo de Deus, sendo Santo Tomás de Aquino encarregado de compor o texto da Liturgia dessa festa. O Papa, que havia sido arcediago de Liège, na Bélgica, e conhecido Santa Juliana de Mont Cornillon, atendia assim ao desejo manifestado pelo próprio Jesus a essa religiosa, pedindo uma festa litúrgica anual em honra da Sagrada Eucaristia. Em 1247, em Liège, já havia sido realizada a primeira procissão eucarística, como festa diocesana, sendo estabelecida mundialmente pelo Papa Clemente V, que confirmou a Bula de Urbano IV. Em 1317, o Papa João XXII publicou na Constituição Clementina o dever de se levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas. 
        Por que tão solene festa?  Porque “a Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (C.I.C. nn.1407, 1409 e 1414). “O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam” (C.D.C. cân. 897).
        Por ser tão importante e digna da nossa honra e culto, o Papa São João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções”. 


*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

quarta-feira, 10 de junho de 2020

FESTA DE CORPUS CHRISTI

CORPUS CHRISTI                                                     

                                                                                                                    Dom Fernando Arêas Rifan*


               Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, ou Corpus Christi.
            A belíssima catedral gótica de Orvieto, na Itália, que já visitei, conserva o relicário com o corporal sobre o qual caíram gotas de sangue da Hóstia Consagrada, durante uma Santa Missa, celebrada em Bolsena, cidade próxima, onde vivia Santo Tomás de Aquino, que testemunhou o milagre. Estamos no século XIII. O Papa Urbano IV, que residia em Orvieto, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a Orvieto, em procissão. Quando o Papa encontrou a Procissão na entrada de Orvieto, pronunciou diante da relíquia eucarística as palavras: “Corpus Christi (o Corpo de Cristo)”. O Papa prescreveu então, em 1264, que na 5ª feira após a oitava de Pentecostes fosse oficialmente celebrada a festa em honra do Corpo de Deus, sendo Santo Tomás de Aquino encarregado de compor o texto da Liturgia dessa festa. O Papa, que havia sido arcediago de Liège, na Bélgica, e conhecido Santa Juliana de Mont Cornillon, atendia assim ao desejo manifestado pelo próprio Jesus a essa religiosa, pedindo uma festa litúrgica anual em honra da Sagrada Eucaristia. Em 1247, em Liège, já havia sido realizada a primeira procissão eucarística, como festa diocesana, sendo estabelecida mundialmente pelo Papa Clemente V, que confirmou a Bula de Urbano IV. Em 1317, o Papa João XXII publicou na Constituição Clementina o dever de se levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas.
            Por que tão solene festa?  Porque “a Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (C.I.C. nn.1407, 1409 e 1414). “O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam” (C.D.C. cân. 897).
            Por ser tão importante e digna da nossa honra e culto, o Papa São João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções”.

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

O CORAÇÃO DE JESUS E A QUINTA BEM-AVENTURANÇA


LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
10º dia de junho

"Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (S. Mat. V, 7).

Santo Agostinho no seu livro "De Civitate Dei, livro 9, c. 5 diz: "A misericórdia é a compaixão de nosso coração da miséria dos outros, pela qual nós somos levados para onde podemos, a servir de socorro". Portanto, quem não pode praticar algum gênero de misericórdia, está incluído também nesta bem-aventurança, porque pode realmente ter o coração bem disposto neste sentido. A misericórdia inclui, pois, uma vontade pronta de socorrer os necessitados, mas somente podendo-o. Aconselhava o velho santo Tobias ao seu filho: "Sê misericordioso, quanto puderes. Se tens muito, dá muito. Se tens pouco, dá pouco. E assim acumularás para ti grande recompensa para o dia da necessidade" (Tobias, IV, 8-10). Quem, podendo-o, não usa de misericórdia, já não é mais misericordioso, porque a misericórdia, quando pode, não deve limitar-se a palavras de compaixão ou de pena, mas deve ir aos fatos. É o que ensina São Tiago: "Se um irmão ou uma irmã estiverem sem o necessário para se vestir e precisarem do alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos - porém não lhe der as coisas necessárias ao corpo, de que lhes aproveitará? (Tiago, II, 15 e 16).

Para se chegar à santidade é necessário praticar as virtudes com heroísmo e, assim, acontece com a misericórdia. É mister que ela se estenda também aos inimigos, que seja praticada sem nenhum interesse. Neste sentido diz a Sagrada Escritura: "Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber" (Rom. XII, 20); e "Quando fizeres um banquete, chama os pobres, os aleijados, os coxo, e serás feliz, porque não têm nada com que te pagar" (S. Lucas XIV, 13).

Assim a misericórdia verdadeira, garante-nos o Céu, é sinal de predestinação.  Jesus Cristo diz: "alcançarão misericórdia": a misericórdia da parte dos homens, mas esta é tão imperfeita, tão incerta, que não faz ninguém bem-aventurado. A misericórdia que o próprio Deus usa com os que forem misericordiosos, esta sim faz o homem bem-aventurado, porque é aquela que concede ao homem a maior felicidade, isto é, o morrer na graça de Deus. Deus dá ao pecador que usa de misericórdia heroica, a graça de abandonar em tempo o pecado e a de ficar livre dele até a morte: "Dar esmola vale mais do que juntar tesouros de ouro, porque a esmola livra da morte, é a que apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna" (Tobias, XII, 8 e 9). As obras de misericórdia podem apagar diretamente pecados veniais, e, quanto aos mortais, indiretamente livra deles o pecador misericordioso, enquanto em atenção às obras de misericórdia, Deus lhes concede a graça de um arrependimento perfeito acompanhado do desejo da confissão, ou dá-lhe o arrependimento imperfeito acompanhado da graça do sacramento. Jesus Cristo falando do Juízo Universal, diz que vai dar a sentença eterna de salvação aos que tiverem praticado as obras de misericórdia. Não diz que olhará diretamente para as outras virtudes como: a castidade, a obediência, a humildade, a mortificação ou até o martírio. A explicação não é que os eleitos devam no Paraíso se premiados mais pelas obras de misericórdia do que pela prática das outras virtudes, mas porque por meio destas obras aconteceu que eles dispuseram mais facilmente Deus para lhes dar a graça de ser castos, obedientes, humildes, mortificados e finalmente alcançar a graça sublime do martírio. Em poucas palavras: as obras de misericórdia são como a raiz da qual brotaram tantos frutos. E se a esmola faz encontrar misericórdia, a subtração dela faz que não seja encontrada: "Pela sua celerada avareza irritei-me e o feri-o; escondi dele a minha face, indignei-me e ele foi-se andando vagabundo pelo caminho do seu coração" (Isaías, 58, 17).

Caríssimos, devemos esforçarmo-nos por merecer estar na lista magnífica daqueles que Jesus Cristo chama "bem-aventurados", porque são misericordiosos. Para tanto, devemos ir além da obrigação de nosso estado, além do que nos sobra como supérfluo, e, como acima ficou dito, sem nenhum interesse, e incluir também os inimigos.

O profeta Daniel disse ao rei Nabucodonosor: "Por isso, ó rei, aceita o meu conselho: redime com esmolas os teus pecados" (Daniel, IV, 24).


Esta bem-aventurança está ligada ao dom do conselho. Não é verdadeiramente um bom conselho: dar a terra e ganhar o céu? Quem não segue este conselho é um INSENSATO: "Insensato, nesta mesma noite te será pedida a tua alma: e o que preparaste, de quem será?" (São Lucas XII, 20). Assim, procuremos combater qualquer espírito de avareza e sejamos misericordiosos. Amém!

terça-feira, 9 de junho de 2020

S. JOSÉ DE ANCHIETA

ANCHIETA

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*
                  
Domingo celebramos a vinda do Divino Espírito Santo sobre os Apóstolos, a inauguração da Igreja. Ele é o continuador da obra de Jesus, ele é o santificador. Os santos que veneramos na Igreja são obra dos seus dons. Por isso a Igreja sempre teve santos, de todas as raças, línguas e feições.
Aqui, também fruto da ação do Divino Espírito Santo, temos o Apóstolo do Brasil, cheio de zelo e santo dinamismo, o grande missionário São José de Anchieta, falecido em 9 de junho de 1597, em Reritiba, hoje Anchieta ES. Por isso, nesse dia, celebramos a sua memória.
São José de Anchieta nasceu na verdade em Tenerife, no arquipélago espanhol das Canárias, em 19 de março de 1534. Tendo recebido uma primorosa educação cristã em sua família, foi enviado a estudar em Coimbra, onde dividia o seu tempo entre o estudo e a oração. Sentindo-se chamado por Deus para a vida consagrada e desejando levar a luz do Evangelho aos que não o conheciam, entrou, aos 17 anos, na Companhia de Jesus, sociedade religiosa missionária recém-fundada por Santo Inácio de Loyola. Deus o provou com uma grave doença, com fraqueza e dores em todo o corpo, durante dois anos. Os superiores decidiram enviá-lo ao Brasil, na esperança de que o bom clima da terra lhe fizesse bem. Providência divina! Partiu de Lisboa em 1553, com 19 anos de idade, acompanhando o novo Governador Geral do Brasil, Duarte da Costa, e alguns outros jesuítas. 
Viveu aqui no Brasil dos 19 aos 63 anos, idade em que morreu, sendo ao longo desses 43 anos o verdadeiro “Apóstolo do Brasil”, participando da fundação de escolas, igrejas e cidades, liderando a catequese dos índios, aprendendo perfeitamente a língua deles e escrevendo a primeira gramática brasileira em tupi. É, junto com o Pe. Manuel da Nóbrega, o fundador da cidade de São Paulo, tendo estado também no Rio por ocasião da fundação da cidade, onde dirigiu o Colégio dos Jesuítas. Preparou alas da escola como enfermaria, criando a Santa Casa do Rio de Janeiro, sendo, além disso, diretor do Colégio dos Jesuítas em Vitória ES.
Anchieta lutou para que o Brasil não ficasse dividido entre portugueses e franceses. Quando, apoiados pelos franceses, os Tamoios se rebelaram contra os portugueses, Anchieta se ofereceu como refém, enquanto Manuel da Nóbrega negociava a paz. Ficou cinco meses no cativeiro, resistindo à tentação contra a sua castidade, pois os índios ofereciam mulheres aos prisioneiros. Para manter a virtude, Anchieta fez uma promessa a Nossa Senhora de que escreveria um poema em sua homenagem: é o seu célebre “Poema da Virgem”, de 4.172 versos.
A pé ou de barco, Anchieta viajou pelo Brasil inaugurando missões, catequizando e instruindo os índios e colonos, consolidando assim o cristianismo e o sistema de ensino no país, fundando povoados, sendo o grande promotor da expansão e interiorização do país. Ele amou os pobres e sofredores, amenizando e curando seus males e foi solidário com os índios, ajudando-os conhecer e amar a Deus em sua própria língua e costumes. Sadia enculturação!
                                                                                                                                            
        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal
                                                                         São João Maria Vianney

segunda-feira, 8 de junho de 2020

JUNHO: Mês do Sagrado Coração de Jesus


 O Sagrado Coração de Jesus é a fornalha ardente de caridade. Nosso Senhor disse a Santa Margarida Maria Alacoque: "Eis o Coração que tanto amou aos homens". 

   Dentre todas as faculdades nobres do corpo humano, a mais nobre é o coração, colocado no centro do corpo qual rei no centro de seus domínios. Cercam-no os membros mais importantes, como seus ministros e oficiais, movimentados por ele que, fornecendo-lhes o calor vital de que é reservatório, lhes comunica atividade.

   O coração é a fonte da qual emana com impetuosidade o sangue que se difunde por todas as partes do organismo, regando-o e temperando-lhe o calor. E o sangue, depois de atingir as extremidades do organismo, volta debilitado ao coração para nele se revigorar e readquirir novas forças de vida.

   Tudo isto que se diz do coração humano em geral, é verdadeiro também no Coração adorável de Jesus Cristo. É a parte mais nobre do Corpo do Homem-Deus, unido hipostaticamente ao Verbo e merecendo assim o culto supremo de adoração devido unicamente a Deus.

   É de suma importância não separar, em nossa veneração, o Coração de Jesus da divindade do Homem-Deus, à qual está unido por laços indissolúveis. O culto que rendemos ao seu Coração não se dirige somente a ele mas atinge a adorável Pessoa que o possui e a que ele se uniu para sempre. 

   Temos as imagens pintadas ou esculpidas do Sagrado Coração de Jesus, As imagens ajudam a nossa piedade e o culto que lhes prestamos de mera veneração, é porque representam o Coração de Jesus. O culto relativo não pára na imagem, mas, através dela, vamos à realidade que ela representa. 

   E, em se tratando do Sagrado Coração de Jesus, pode alguém perguntar: mas existe o coração real de Jesus? Claro que sim. Jesus ressuscitado subiu aos Céus e está à direita de seu Eterno Pai, e portanto, lá está o seu Sagrado Coração. Jesus na sua bondade infinita, quis ficar conosco, não nos deixou órfãos: Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado está no meio de nós na Santíssima Eucaristia. É o Coração Eucarístico de Jesus. E aqui não temos uma simples imagem representativa, temos (a modo de substância, como  explica a Teologia) a própria realidade, Jesus como Deus e como Homem. Logo, temos a graça e a suma alegria de poder ADORAR o Sacratíssimo Coração de Jesus na Eucaristia. Oh! que graça e felicidade:  podemos receber em nosso pobre coração, mais pobre do que a gruta de Belém, este Coração Divino-Humano!!! 

   Coração Eucarístico de Jesus, aumentai a nossa fé! Amém.   

   

O CORAÇÃO DE JESUS E A TERCEIRA BEM-AVENTURANÇA

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
8º dia de junho

"Bem-aventurados os que choram porque eles serão consolados".

O adultos geralmente choram quando ficam muitíssimo tristes por alguma perda de algum bem, de um ente querido que morre etc. Há, no entanto duas categorias de bens: os terrenos e os celestiais. Nosso Senhor Jesus Cristo aqui nesta terceira bem-aventurança se refere aos bens sobrenaturais: a graça e a glória celestial. Porque, pelo fato de alguém chorar pela perda de bens terrenos, nem por isso, os recupera pelas lágrimas do pranto. Este choro termina tornando as pessoas mais infelizes ainda. Na verdade são bem-aventurados por causa de seu pranto os que choram as perdas nas quais incorreram com o pecado, porque são os únicos que podem reaver com o choro o quanto perderam. Portanto os que Jesus Cristo aqui proclama bem-aventurados são os que choram a perda da graça e da glória celestial por efeito do pecado. Chorando seus pecados com um compunção profunda do coração, conseguem o perdão dos mesmos e assim recuperam estes bens verdadeiramente preciosos. Devemos reservar nossa dor para este uso mais nobre: chorar o que perdemos pelo pecado: os bens da graça e os bens da glória. Doutro modo o nosso pranto, não só seria inútil, mas  às vezes, danoso.

Chorar os pecados e conservar no coração as lágrimas da compunção é sinal de predestinação, ou seja, é caminho certo do Céu. Jesus Cristo queria falar da consolação futura. Embora já na terra as lágrimas da penitência já trazem consolação, neste mundo, no entanto, tal consolação não é perfeita, porque sempre restam dúvidas sobre a nossa perseverança. Perfeita consolação, pois, será somente no céu onde cada penitente, lá chegando, não só reconquistará com plenitude os bens da graça e da glória pelos quais chora, mas reconquistará os bens temporais dos quais se privou para viver em contrição: o gozo, as glórias, as amizades, as grandezas, as comodidades. No Céu estes bens serão recuperados com grandes juros, porque serão gozos, e glórias infinitamente superiores.  Aliás, o próprio Deus nos consolará: "Eu mesmo, diz o Senhor pela boca de Isaías, vos consolarei" (Is. 51, 12).

Podemos perguntar  por que esta bem-aventurança vem depois da dos pobres e dos mansos? A razão é a seguinte: assim como a pobreza é o que sumamente dispõe à mansidão, assim a mansidão é a que sumamente dispõe para  as lágrimas da contrição. Jesus, outrossim, quis com estas três primeiras bem-aventuranças reordenar todo o homem velho em si mesmo. Primeiramente quis que ele calcasse aos pés os bens das riquezas, que são os espinhos que sufocam os bens da alma. Depois, passando para o interior, quis que primeiro fosse dominada a ira com a mansidão; e a concupiscência com as renúncias da carne. E só depois assim pensar na própria alma e chorar os seus males, privando-se de todos os prazeres, impuros ou imperfeitos. Resumindo podemos dizer que Nosso Senhor Jesus Cristo nesta bem-aventurança quis falar de todos aqueles que têm o coração desapegado de tudo o que é contrário à contrição.

Caríssimos, consideremos a bondade do Coração de Jesus: Jesus quer nos consolar e nos restituir os verdadeiros bens. Nós procuramos consolar alguém enlutado pela morte dum ente querido, mas não temos poder de restitui-lho vivo. Quando Jesus disse à viúva de Naim: "Não chores", realmente a consolava, porque ressuscitou seu filho e lho entregou vivo. Aos mortos espiritualmente, Jesus diz: Chorem seus pecados, e Eu vos restituirei a vida da graça e depois a glória no Céu. 

Deparamo-nos frequentemente com pessoas chorando por causa de perdas terrenas, mas mui raramente, por causa da perda dos bens da graça e da glória eterna. A esta bem-aventurança corresponde o dom da ciência.  Por não possuí-lo muitíssimos, para não dizer a grande maioria não choram pela perda dos verdadeiros bens, que são a graça de Deus e a glória do Céu. Perder estes bens lhes dá uma pena muito menor do que perder um animal de estimação. Mas as pessoas espirituais e que possuem o dom da ciência do Espírito Santo, estas sim, choram quando têm a suma desgraça de cair em pecado mortal. "Noite e dia me alimento de lágrimas, sentindo dizer continuamente: Onde está o teu Deus?" (Salmo 41, 4).


Caríssimos, procuremos manter uma compunção profunda dentro do coração por todos os pecados que já cometemos. Peçamos ao Espírito Santo o dom da ciência para detestarmos o pecado como o sumo mal, o mal extremo, absoluto. E façamos a oração litúrgica da Igreja pedindo o dom das lágrimas: "Deus todo poderoso e cheio de bondade, que para matar a sede de vosso povo sequioso, fizestes brotar do rochedo uma fonte de água viva, fazei sair da dureza dos nossos corações, lágrimas de compunção, para podermos chorar os nossos pecados e merecer, pela vossa misericórdia, obter a sua remissão. Por Cristo Nosso Senhor. Amém!"

domingo, 7 de junho de 2020

FESTA DA SS. TRINDADE

Leituras: Epístola de São Paulo Apóstolo aos Romanos 11, 33-36.
   Continuação do Santo Evangelho de N. S. Jesus Cristo segundo S. Mateus 28, 18-20:

   "Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Todo o poder me foi dado no céu e na terra. Ide, pois, ensinai a todos os povos, e batizai-os em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; e ensinai-lhes a observar tudo o que vos mandei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos". 

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Pelo P. Gabriel de Sta. M. Madalena, LIVRO "INTIMIDADE DIVINA".
  


 "Desde o Advento até hoje a Igreja levou-nos a considerar as magníficas manifestações da misericórdia de Deus para com os homens: a Encarnação, a Redenção e o Pentecostes; agora dirige os nossos olhares para a fonte de tais dons, a Santíssima Trindade, da qual tudo provém, de modo que brota espontaneamente dos lábios o hino de reconhecimento expresso no Introito da Missa: 'Bendita seja a Santíssima Trindade, e a Sua indivisível Unidade. Cantemos-Lhe louvores pela Sua misericórdia para conosco'. Misericórdia de Deus Pai 'que amou de tal maneira o mundo que lhe enviou o Seu Unigênito' (cfr. Jo. 3, 16); misericórdia de Deus Filho que, para nossa redenção, encarnou e morreu na cruz; misericórdia do Espírito Santo que Se dignou descer aos nossos corações para nos comunicar a caridade de Deus, para nos tornar participantes da vida divina. Muito a propósito a Igreja inseriu no Ofício Divino de hoje a bela antífona de inspiração paulina: 'O Pai é caridade, o Filho é graça e o Espírito Santo é a comunicação', quer dizer, a caridade do Pai e a graça do Filho são-nos comunicadas pelo Espírito Santo que as derrama nos nossos corações. Não se poderia sintetizar melhor a maravilhosa obra da Trindade a favor das nossas almas. O Ofício Divino e a Missa do dia são, na verdade, um hino de louvor e de agradecimento à Santíssima Trindade, são como que um Glória Patri e um Te Deum prolongados. E estes dois hinos, um na sua compendiosa brevidade, e outro na sua majestosa sucessão de louvores, são verdadeiramente os hinos do dia destinados a despertar nos nossos corações um eco profundo de louvor, de ação de graças e de adoração.

   2 - A festa de hoje leva-nos a louvar e a engrandecer a Santíssima Trindade, não só pelas imensas misericórdias que tem concedido aos homens, mas também e sobretudo em Si mesma e por Si mesma. Pelo Seu Ser supremo que jamais teve princípio e jamais terá fim; pelas Suas perfeições infinitas, pela Sua majestade, beleza e bondade essenciais; pela sublime fecundidade de vida, pela qual o Pai incessantemente gera o Filho e do Pai e do Filho procede o Espírito Santo (todavia o Pai não é anterior nem superior ao Verbo, nem o Pai e o Verbo são anteriores ou superiores ao Espírito Santo, mas as três Pessoas divinas  são coeternas e iguais entre Si); pela Divindade e por todas as perfeições e atributos divinos que são únicos e idênticos no Pai, no Filho e no Espírito Santo. O que pode dizer e compreender o homem em face de um tão sublime mistério? Nada! No entanto, aquilo que sabemos é certo, porque o mesmo Filho de Deus 'o Unigênito que está no seio do Pai, Ele mesmo é que o deu a conhecer' (Jo. 1, 18); mas o mistério é tão sublime e superior à nossa compreensão que não podemos senão inclinar a cabeça e adorar em silêncio'. 'Ó profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus; quão incompreensíveis são os Seus juízos e imperscrutáveis os Seus caminhos!', exclama São Paulo na Epístola do dia (Rom, 11, 33-36), ele que 'tendo sido arrebatado ao terceiro céu' não soube nem pôde dizer outra coisa senão que ouviu 'palavras inefáveis que não é lícito a um homem proferir' (II Cor. 12, 2-4). Em presença do altíssimo mistério da Trindade, sente-se realmente que o mais belo louvor é o silêncio da alma que adora, reconhecendo-se incapaz de exprimir um louvor adequado à Majestade divina".

   Ó Santíssima Trindade, revesti-me de Vós mesma, para que eu passe esta vida mortal na verdadeira obediência e na luz da fé santíssima que inebriou a minha alma! Amém!

O CORAÇÃO DE JESUS NAS BEM-AVENTURANÇAS (I)

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
7º dia de junho

Vamos, com a graça de Deus, contemplar este tesouro incomparável de sabedoria e de verdadeira felicidade emanado do Coração do Divino Mestre. Sentado na grama, Jesus abre a boca e ensina: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus". O Coração cheio de bondade de Jesus quer iniciar o seu sermão mostrando onde se encontra a verdadeira felicidade. O homem antigo, mesmo no povo de Israel, procurava a riqueza, o gozo, a estima, o poder, e considerava tudo isto como a fonte de toda felicidade. Nosso Senhor Jesus tira-os desta ilusão e mostra outro caminho a ser trilhado. Exalta a pobreza, a doçura, a misericórdia, a pureza e a humildade. Deixava claro a todos a distância infinita entre os pensamentos dos povos do Testamento Velho e as virtudes cristãs do Novo. Jesus Cristo modelo perfeito de todas as virtudes, coloca o amor da pobreza e a humildade como base de seu sermão. Aliás, como diz São Paulo: "Sendo rico, fez-se pobre, para com sua pobreza nos pudesse enriquecer a todos". E na verdade, a pobreza aceita com resignação e até com alegria para imitar a Jesus, torna o homem mais expedito e pronto para correr no seguimento do Divino Mestre. Jesus inicia o seu sermão com esta bem-aventurança porque, na verdade, ela serve de fundamento a todas as outras que vêm depois. Com efeito a pobreza aceita com espírito reto de imitar a Jesus é útil em sumo grau para adquirir as virtudes expressas nas outras bem-aventuranças. Ao pobre é mais fácil ser manso, moderado, humilde, e sacrificar-se como vítima à justiça, ter um coração misericordioso, um coração puro, manter-se em grande paz entre as vicissitudes e turbulências do gênero humano.  Aqui entendemos também como "pobres de espírito" aqueles que, embora, tenham riquezas, não têm nenhum apego a elas, e usa-as para praticar a esmola, e ajudar as obras pias da Igreja.


"Bem-aventurados os mansos porque eles possuirão a terra". Nosso Senhor Jesus Cristo é o modelo perfeito de todas as virtudes, mas quis ressaltar a sua doçura e humildade: "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e assim encontrareis descanso para as vossas almas". A mansidão deve brotar de um grande amor para com Deus, que leve a suportar de boa vontade qualquer ofensa. É uma virtude cristã e heroica. Jesus certamente aludiu a este grau heroico da mansidão, no qual se encontra certamente a verdadeira paz, o verdadeiro descanso. A mansidão deve ser para nós uma virtude de predileção porque nos torna semelhantes a Jesus Cristo, nos preserva de infinitos perigos de pecar enquanto nos preserva da ira e da vingança. Também é uma virtude que nos fornece uma magnífica disposição para aquela graça que nos facilita a prática do bem, mantendo-nos numa grande tranquilidade. O Coração manso de Jesus conquista o nosso coração; e nós também conquistaremos os corações dos homens pela mansidão. Logicamente esta bem-aventurança se segue a primeira, porque não ficaria bem ver um pobre de espírito, altaneiro, rígido, briguento e insolente. Se alguém é pobre de vontade deverá gostar de ser desprezado, como Jesus Cristo foi desprezado por ser pobre. Só o humilde será manso, porque o orgulhoso nunca conseguirá conter o ímpeto de seu furor. Caríssimos, pensemos muitas vezes nos ofensas que fizemos a Deus, e, então, tendo concebido um santo ódio contra nós mesmos, não só gostaremos de ser desprezados, mas nos admiraremos como todos não nos desprezam. Amém!

A GRAÇA SANTIFICANTE - COM EXPLICAÇÃO DO QUADRO


Quadro nº 18 - A graça santificante
  
     EXPLICAÇÃO DO QUADRO: Este quadro nos oferece no alto, à direita, um modelo admirável de fidelidade à graça atual na pessoa de Saulo. Converteu-se, foi perdoado e recebeu a graça santificante, pela gual, de perseguidor da Igreja, tornou-se um santo. São Paulo pôde dizer: "Vivo, mas não sou eu que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim".
   Vemos no alto, à esquerda, Nosso Senhor Jesus Cristo sentado à beira do poço de Jacó e dizendo à Samaritana: "Óh! se conhecesses o dom de Deus"! Este dom de Deus que está acima de todos os bens deste mundo, não é outro senão a graça.
   A alma no estado de graça é representada no meio deste quadro por uma virgem revestida da veste da inocência e tendo um lírio na mão; ela olha o céu e traz o Espírito Santo em seu coração, segundo esta palavra de São Paulo: "Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós"? Ela está na luz, porque a graça é luz.
   A alma em estado de pecado mortal é representada em baixo à direita, por uma moça mergulhada nas trevas, revestida de hábitos de luto e acorrentada pelo demônio que reina com autoridade de dono em seu triste coração. Seu semblante respira pavor e tristeza. Está cercada de animais ferozes e de répteis venenosos e repelentes, símbolos que são dos vícios capitais.
   Em baixo, à esquerda, vemos Judas Iscariotes traíndo Jesus com um beijo. Jesus, momentos antes, havia dito que o Iscariotes não estava limpo porque estava com o demônio, portanto sem a graça de Deus. Ali no horto das Oliveiras, Jesus, poucos minutos antes de ser preso, disse: "Esta é a hora do poder das trevas". Nada mais triste do que o pecado mortal: o pecador, de filho de Deus passa a ser escravo do demônio. De herdeiro do Paraíso, passa a ser merecedor do inferno.
    Esta é a explicação do quadro catequético. Vamos dar agora a explicação da DEFINIÇÃO de graça santificante, também chamada habitual.
   Que é graça santificante ou habitual?
   Graça santificante, também chamada graça habitual é um dom de Deus, sobrenatural e gratuito, inerente à nossa alma, conferido pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo para fazer-nos justos e filhos adotivos de Deus, participantes de Sua natureza divina, capazes de realizar obras sobrenaturais e meritórias e de nos tornar herdeiros do Paraíso.
   EXPLICAÇÃO DOS TÊRMOS DA DEFINIÇÃO: Santificante: porque torna a alma justa e santa aos olhos de Deus.
   Habitual: porque ela permanece na alma. Por isso é chamada estado de graça. A pessoa só perde a graça cometendo pecado mortal. É chamada também a vida da alma. Mesmo a pessoa estando dormindo, a graça habitual ou santificante permanece na alma. Portanto, é diferente da graça atual que é um auxílio de Deus essencialmente transitório.
   Um dom de Deus: não há nenhuma exigência da parte de nossa natureza. Deus concede a graça santificante às almas por Sua bondade e liberalidade infinitas. Só temos a capacidade de recebê-la; o que os irracionais não têm. Mas esta capacidade chamada obediencial também nos foi dada por Deus. Por isso, também, é chamado um dom gratuito.
   Sobrenatural: é um dom que excede toda natureza criada ou criável e que, portanto, só pode ser comunicada por Deus. Como vamos ver a seguir, a graça santificante é uma participação real, embora limitada e acidental da própria natureza de Deus. E a vida de Deus está acima de toda natureza, por mais perfeitas que sejam, como a natureza humana e a natureza angélica. A graça santificante diviniza a nossa alma; e o homem não tem direito algum ou exigência a sua divinização.
   Inerente à nossa alma: Assim como a vida não é alguma coisa externa adicionada ao corpo, mas é unida intrinsicamente ao corpo assim também a graça não é algo adicionado apenas extrinsicamente à alma mas é uma qualidade permanente que dá a vida a nossa alma.  É vida divina, sobrenatural. Vamos entender isto melhor quando falarmos da justificação.
   Conferido pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo: porque Jesus Cristo é a única fonte da graça de tal modo que não se pode separar Jesus Cristo da graça. O homem não se volta para Deus senão por meio do Homem-Deus, único mediador entre Deus e o homem. Unidos a Jesus, participamos da Sua vida divina. Nossa união com Ele mediante a graça é o princípio  e o meio de nossa transformação em Deus. A graça é laço que deve unir cada um de nós ao Nosso Jesus.
   Para fazer-nos justos: quer dizer que Deus faz a justiça aparecer onde ela não estava. Justificação, portanto, é um ato divino pelo qual são remetidos os pecados, original e atuais se for o caso, e que traz os pecadores do estado de culpa ao estado de graça e de justiça. Jesus não cobriu apenas os nossos pecados, mas os lavou inteiramente com o Seu sangue divino. É precisamente o que São João Batista disse de Jesus: "Eis o cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo".
   Para fazer-nos filho adotivos de Deus: Jeus Cristo unindo-nos a ele e nos fazendo participantes da natureza de Deus, nos eleva à diginidade de filhos adotivos de Deus. Mas a adoção feita pelos homens é uma ficção não é uma realidade. Em outras palavras: o pai adotivo transmite o seu nome e os seus bens, porque é uma lei passada no cartório, mas o filho adotivo não recebe dos seus pais adotivos o seu sangue e a sua vida. É como se fosse filho. A graça da adoção divina não é uma ficção; é uma realidade. Não só somos chamados como se fôssemos filhos de Deus, mas somos realmente filhos de Deus. Recebemos pela graça santificante uma participação da própria natureza de Deus. E é uma participação real, embora limitada e acidental da própria vida de Deus. Deus fêz o homem à sua imagem e semelhança. Pela queda o homem perdeu tudo. Mas, Nosso Divino Redentor restituíu-nos tudo de novo. E onde abundou o pecado, superabundou a graça.
   Participantes de Sua natureza divina: Logo acima, acabamos de explicar um pouco. Vamos continuar a explicação, porque é algo extremamente sublime. Aqui está, pois, toda a verdadeira dignidade do homem. Na verdade, a graça santificante é uma vida nova, não igual , mas semelhante à vida de Deus, o que, segundo o testemunho da Santa Bíblia, supõe uma nova geração ou regeneração: "Quem não renascer por meio da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus" (S.João, III, 5). Por isso o batismo é chamado o sacramento da regeneração, pois ele faz-nos nascer para a vida da graça, para a vida divina (Tim. III, 5).
   Capazes de realizar obras sobrenaturais e meritórias: isto porque as ações do homem em estado de graça não constituem uma atividade puramente humana, mas uma atividade divinizada. "Os dons mais extraordinários, diz o beato D. Marmion, os talentos mais caros, as empresas mais generosas, as maiores ações, os esforços mais consideráveis, os sofrimentos mais profundos, carecem de todo mérito para a vida eterna, sem a caridade, isto é, sem a amor sobrenatural que nasce da graça santificante como a flor do galho". Devemos observar ainda, que a vida da graça, embora distinta da vida natural, não se lhe sobrepõe simplesmente; penetra-a totalmente, transformando-a, elevando-a e tornando-a deiforme, isto é, semelhante à vida de Deus. Com efeito, ela assimila tudo o que há de bom na nossa natureza  -  educação, hábitos bons adquiridos, etc.--; aperfeiçoa e sobrenaturaliza todos estes elementos, orientando-os para Deus.
   De nos tornar herdeiros do Paraíso: Por tudo o que já dissemos sobre a graça, fica mais fácil compreendermos como a graça, elevando-nos a ordem sobrenatural nesta vida, nos dá a possibilidade de conseguirmos a vida eterna ou o Paraíso na outra. As Sagradas Escrituras nunca separam nossa adoção divina de nosso destino, a herança de Deus e Sua visão face à face no Paraíso. A graça habitual é, no fundo, da mesma natureza que a glória do céu. É, dizem os Santos Padres, um antegozo da felicidade do céu, a aurora da visão beatífica, o botão que já contém a flor, posto que esta só desabroche mais tarde. A graça é semelhante às lâmpadas acesas, escondidas em vasos de barro, que Gedeão deu aos seus trezentos valentes na batalha contra os Madianitas. Quando no silêncio da noite quebrou-se o vaso, o inimigo foi desbaratado e posto em fuga. Assim também nós. Quando nosso corpo, frágil vaso de barro,  se quebrar na noite da morte, brilhará a lâmpada de nossa alma, acendida com os resplendores da graça de Deus. O demônio será derrotado e como os valentes de Gedeão, cantaremos a vitória, que é toda de Deus.
   Por que  dizemos que a participação da vida divina pela graça, é  acidental e não substancial? Resposta: É para  distigui-la da geração do Verbo, que recebe toda a substância do Pai. Também para distingui-la da união hipostática, que é uma união substancial da natureza humana e da natureza divina na única Pessoa do Verbo. Nós, efetivamente, conservamos a nossa personalidade.
   Por se tratar de algo tão sublime e profundo, os Santos Padres lançam mão de comparações para nos fazerem compreender esta divina semelhança:
   1ª - A nossa alma, dizem, é uma imagem viva da Santíssima Trindade, uma espécie de retrato em miniatura, pois que o próprio Espírito Santo se vem imprimir em nós, como um sinete sobre cera branda, e assim nela deixa a sua divina semelhança. Daqui concluem que a alma em estado de graça é  duma beleza arrebatadora, pois que o artista, que nela pinta esta imagem, é infinitamente perfeito, visto ser o próprio Deus.
   2ª - Comparam ainda a nossa alma a esses corpos transparentes que, recebendo a luz do sol, são como penetrados por ele e adquirem um brilho incomparável que em seguida difundem em torno; assim a nossa alma, semelhante a um globo de cristal iluminado pelo sol, recebe a luz divina, resplandece com vivíssimo clarão e o reflete sobre os objetos que a rodeiam.
   3ª - Para mostrarem que a semelhança com Deus não fica à superfície, senão que penetra até o mais íntimo da nossa alma, recorrem à comparação do ferro e do fogo. Assim como, dizem eles, uma barra de ferro, metida em uma fornalha ardente, adquire bem depressa o brilho, o calor e a maleabilidade do fogo, assim a nossa alma, mergulhada na fornalha do amor divino, ali se desembaraça das escórias e ferrugens, tornando-se brilhante, ardente e dócil às inspirações divinas.
   4ª - Querendo exprimir a idéia de que a graça é uma vida nova, comparam-na a um enxerto divino, inserido na árvore silvestre da nossa naturaza, o qual se combina com a nossa alma para nela constituir um princípio vital novo, e, por isso mesmo, uma vida muito superior. Mas, assim como o enxerto não confere à árvore selvagem toda a vida da árvore boa enxertada, senão tão somente uma ou outra das suas propriedades vitais, assim a graça santificante não nos dá toda a natureza de Deus, mas alguma coisa da Sua vida, que constitui para nós uma vida nova; participamos, pois, da vida divina, mas não a possuímos na sua plenitude.
   Para completar, faremos mais alguns esclarecimentos:
   Como se pode adquirir, aumentar ou perder a graça santificante?
   1º - Adquire-se pela primeira vez a graça santificante no batismo. Quando a temos perdido por nossas culpas, recupera-se por meio do sacramento da penitência ou pelo ato de contrição perfeita. Conserva-se observando fielmente a lei de Deus e fugindo do pecado mortal.
   2º - Aumenta-se a graça santificante pela oração, as boas obras, e especialmente a participação dos sacramentos que recebemos com as dividas disposições. Sempre pode crescer mais e mais; é neste sentido que o Espírito Santo falou: "A senda do justo, qual uma luz pura, eleva-se e alumia sempre mais, até chegar ao dia claro e perfeito" (Prov. IV, 18). No Apocalípse diz: "Quem  é justo, justifique-se ainda; quem é santo, santifique-se ainda" (XXII, 11).
   3º - A graça santificante perde-se pelo pecado mortal, e um único basta para nos arrebatar este tesouro e também todo o mérito de nossas boas obras anteriores. Se, porém, a alma culpada recuperar a graça santificante, seus méritos passados tornam a viver; mas as obras feitas no estado de pecado ficam inúteis para o céu.


   CONCLUSÃO PRÁTICA

   Devemos ter horror ao pecado mortal e também ao pecado venial que termina levando a alma a cair no mortal. Devemos empregar todos os meios para vivermos sempre no estado de graça. Este deve ser o estado normal de um cristão. Devemos, outrossim, trabalharmos sempre para crescermos mais e mais na graça de Deus. Jesus disse que estivéssemos sempre preparados e que trabalhássemos enquanto é dia.
   Há, no entanto, uma reflexão com que não podemos deixar de tremer: é esta palavra das Sagradas Escrituras: "Ninguém sabe se é digno de amor ou de ódio" (Eclesiastes, IX, 1). A Santa Madre Igreja, porém, nos dá a resposta: Ninguém pode, realmente, estar certo, com a certeza da fé, de que se acha justificado. (Conc. de Trento contra os Protestantes). Os teólogos concordam, no entanto, que podemos ter certeza moral de que se possui o estado de graça. Os sinais que nos dão esta certeza são: o sincero amor de Deus, o fervor na oração, o propósito firme de evitar o pecado, o desprezo dos bens deste mundo, a prática da mortificação e, sobretudo, o testemunho da consciência. Todas estas coisas reclamam a presença da caridade e da graça habitual. Nosso Senhor Jesus Cristo dá-nos uma palavra consoladora: "Quem me ama, guarda os meus mandamentos; meu Pai também o amará, nós viremos a ele e faremos nele morada" (S.Jo. XIV, 23). E o apóstolo da caridade, São João, completa esta certeza moral dizendo: "Se o nosso coração não censurar nada, podemos ter plena confiança em Deus". E o apóstolo São Pedro, primeiro papa, diz; "Aplicando todo o cuidado, juntai à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade a caridade... Quem não tem estas coisas é cego e anda às apalpadelas, e esquece-se de que foi purificado dos seus pecados antigos. Portanto, irmãos, ponde cada vez maior cuidado em tornardes certa a vossa vocação e eleição por meio das boas obras, porque, fazendo isto, não pecareis jamais. Deste modo vos será dada largamente a entrada no Reino eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo"(2ªS. Pedro, I, 5-11).
   Há ainda uma outra maravilha da graça santificante: o justo passa a ser Templo da Santíssima Trindade. Mas isto será explanado numa próxima postagem com o título: A SANTÍSSIMA TRINDADE NA ALMA.
  
  
  
  

A SANTÍSSIMA TRINDADE NA ALMA ( Extraído dos escritos teológicos de Tanquerey)

   Era na última Ceia. Jesus Cristo acabava de anunciar aos apóstolos a vinda do Espírito Santo, do divino Paráclito, que ficaria para sempre com eles (S. João, XIV, 19 e 20 ), quando lhes fez esta consoladora promessa: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele a nossa morada (S. João, XIV, 23 ).

   Assim, pois, toda a alma que ama a Jesus e guarda os seus mandamentos é amada pelo Pai, e o Pai vem a ela, com o Filho e o Espírito Santo, e vem não para uma simples visita, mas para se fixar e nela fazer a sua morada; portanto, não por um prazo limitado, mas para sempre, enquanto não tiver a infelicidade de o expulsar com um pecado grave.

   Mas como vem até nós a Santíssima Trindade?

   Deus, diz-nos Santo Tomás, está naturalmente nas criaturas de três modos diferentes: pelo seu poder, porque todas elas estão sujeitas ao seu império; pela sua presença, porque ele vê tudo, mesmo os mais secretos pensamentos da alma; pela sua essência, visto que opera em toda a parte e em toda a parte Ele é a plenitude do ser e a causa primária de tudo o que há de real nas criaturas, comunicando-lhes sem cessar não apenas o movimento e a vida, mas o próprio  ser: "porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser" (Atos, XVII, 28). 

   Entretanto, a Sua presença em nós pela graça é de uma ordem muito superior e mais íntima. É a presença da própria Santíssima Trindade, tal como a fé no-la revelou; o Pai vem até nós e em nós continua a gerar o Verbo; com Ele recebemos o Filho, perfeitamente igual ao Pai, sua imagem viva e substancial, que não cessa de amar infinitamente o Pai como por Ele é amado; deste amor mútuo brota o Espírito Santo, pessoa igual ao Pai  ao Filho, laço mútuo entre os dois, e no entanto distinto de um e de outro. Quantas maravilhas se operam numa alma em estado de graça!

   Se quisermos exprimir em duas palavras a diferença essencial que existe entre a presença de Deus em nós pela natureza e  sua habitação pela graça, podemos dizer que pela sua presença natural Deus está e opera em nós, mas que pela sua presença sobrenatural Ele próprio se nos dá para que gozemos a sua amizade, a sua vida e as suas perfeições: " O amor de Deus está em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rom. V, 5). Assim, pois, é-nos dado o Espírito Santo e com ele a Santíssima Trindade, pois as três pessoas divinas são inseparáveis.; é nosso e, se disso tivéssemos uma consciência viva e profunda, compreenderíamos que a graça é já um início da vida eterna, desta inefável alegria que se experimenta com a posse de Deus.

   Que relações estabelece a graça entre nós e as três pessoas divinas?

   Para aprofundarmos um pouco mais os nossos conhecimentos desta presença íntima, nada mais apropriado e seguro do que a própria palavra de Deus. Por isso escolhemos alguns textos das Sagradas Escrituras, sobre a ação do Pai e do Filho e do Espírito Santo em nós pela graça.

   a) Pela graça o PAI adota-nos como filhos. Este insigne privilégio brota da nossa incorporação em Cristo; desde o momento em que somos membros de Jesus Cristo e como que um prolongamento, uma extensão da sua pessoa, o Pai envolve-nos com o mesmo olhar paternal que a seu Filho, adota-nos como filhos, ama-nos como Ele o ama, não com um amor igual, mas com um amor semelhante. É o que declara o discípulo amado, São João, que foi de todos o que mais aprofundou os segredos do Mestre: "Vede que amor nos testemunhou o Pai, determinando que sejamos chamados filhos de Deus, e que o sejamos com efeito!" ( 1ª Jo. III, 1). Como vimos na postagem sobre a graça santificante, a nossa adoção não é puramente nominal, mas verdadeira e real, embora distinta da filiação do Verbo Encarnado. Porque somos filhos, somos herdeiros de pleno direito do reino celeste, e co-herdeiros daquele que é nosso irmão primogênito (Rom, VIII, 17).  Em vista disto, Deus manifesta para conosco a dedicação e a ternura de um pai. Mais ainda: de uma mãe: "Poderá a mulher esquecer o seu filho? Não terá compaixão do fruto das suas entranhas? Porém, ainda que ela se esquecesse, eu nunca me esqueceria de ti" (Isaías, XLIX, 15). "Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu  Filho unigênito, para que todo o que crê n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna" (S.João, III, 16).

   Poderia Ele dar-nos uma maior prova de amor? Poderemos nós recusar algo Àquele que, para nos salvar e santificar, nos dá o Seu próprio Filho, o Seu Filho unigênito?

   b) O FILHO veio também habitar na nossa alma; chama-nos seus irmãos e trata-nos como amigos íntimos. Ele que é o Filho eterno do Pai, o Verbo gerado desde toda eternidade, em tudo igual ao Pai, trata-nos assim com toda bondade e ternura. Após a Ressurreição, aparece a Madalena, que o seguira até ao Calvário, e, falando-lhe dos discípulos, diz-lhe:"Vai aos meus irmãos e diz-lhes: subo para meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus" (S. João, XX, 17). São Paulo diz: "Porque os que Ele conheceu na sua presciência, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Rom. VIII, 29). Ele terá, pois, para conosco a ternura, a dedicação que um irmão mais velho consagra aos mais novos; irá ao ponto de se sacrificar por nós, a fim de que, lavados e purificados no seu sangue (Apoc. I, 5), possamos participar de Sua vida e entrar com Ele um dia no reino do Pai.

   Quis ser também nosso amigo. Na última Ceia, declara aos apóstolos e, na pessoa deles, a todos os que acreditarem n'Ele: "Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando. Não mais vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai" (S. João, XV, 14 e 15).

   O Filho de Deus deu-nos a maior prova de amor: deu a sua vida por nós. Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos" (S. João, XV, 13). E deu-a numa altura em que, pelo pecado, éramos seus inimigos. Se assim foi, o que não fará por nós,agora que fomos reconciliados pela virtude do seu sangue? Ouçamos o que Ele nos diz: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir  a minha voz e abrir a porta, entrarei nele, cearei com ele e ele comigo" (Apc. III, 20). Podia, se quisesse, entrar como Senhor. Mas não, espera que lho abramos de boa vontade: não quer forçar a entrada, quer que nós mesmos lha vamos abrir, e só depois entrará como amigo. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia com uma candura extraordinária: "Jesus, eu queria amá-lo tanto, amá-lo como nunca foi amado". Em nossas orações, comunhões e visitas ao Santíssimo, procuremos tentar conversar afetuosamente com Jesus, nosso irmão muito amado, com Ele que vem mendigar junto de nós um pouco de amor: "Meu filho, dá-me teu coração" (Prov. XXIII, 26).

   c) O ESPÍRITO SANTO vem habitar em nosso coração a fim de o santificar e adornar com todas as virtudes, produzindo nele a caridade e dando-se a si próprio: "A caridade de Deus é espalhada nos nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado" (Rom. V, 5).

   Ao dar-se  ao homem, o Espírito Santo transforma a nossa alma num templo sagrado: "Não sabeis, diz-nos São Paulo, que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós? ... O templo de Deus é santo, e vós sois santos" (1ª Cor. III, 16 e 17). Ele é, com efeito, o Deus de toda a santidade, e, quando vem à nossa alma, esta torna-se um recinto sagrado e onde se compraz em derramar as suas graça com santa profusão.

   Deste modo o Espírito Santo torna-se nosso colaborador no obra da santificação pessoal e ajuda-nos a cultivar a vida sobrenatural que depositou em nós. Por si, o homem nada pode na ordem da graça (S. João, XV,5); mas o Espírito Santo vem suprir a sua fraqueza. Temos necessidade de luz? Eis que Ele desce para nos fazer compreender e saborear os ensinamentos do Mestre: "O Consolador, o Espírito Santo , que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos lembrará tudo o que eu vos disse" S. João, XV, 26). Precisamos de força para pôr em prática as divinas sugestões? O mesmo Espírito "opera em nós o querer e o agir" (Filip. II, 13), isto é, dá-nos a graça de querer e  de pôr em prática as nossas resoluções. Não sabemos orar? "O Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos o que, segundo as nossas necessidades, devemos pedir; porém, o mesmo Espírito ora por nós com gemidos inefáveis" (Rom, VIII, 26). Ora, as preces feitas sob a ação do Espírito Santo e apoiadas por Ele são forçosamente ouvidas.

   Se se trata de combater as nossas paixões, de vencer as tentações que nos importunam, é Ele ainda que nos dá forças para lhes resistirmos e tirar delas proveito: "Deus, que é fiel, não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação dar-vos-á o poder de lhe resistir" (1ª Cor. X, 13). Quando, cansados de praticar o bem, caímos no desânimo e receamos pela nossa perseverança, Ele virá até nós par sustentar a nossa coragem abalada e dir-nos-á afetuosamente: "Aquele que começou em vós a obra da vossa santificação há de aperfeiçoá-la até o dia de Cristo Jesus" (Filip. I, 6).

   Não temos, pois, que temer, desde que ponhamos a nossa confiança nas três pessoas divinas, que vivem e operam em nós expressamente para nos consolar, fortificar e santificar. Nunca estamos sós: temos em nós Aquele que faz a felicidade dos escolhidos! Eis porque, se tivéssemos uma fé viva, poderíamos repetir com a irmã Santa Isabel da Trindade: "Encontrei o céu na terra, porque o céu é Deus, e Deus está na minha alma. No dia que compreendi isto, tudo se esclareceu em mim, e eu quereria dizer este segredo àqueles que amo". Quantas almas foram transformadas, a exemplo desta Carmelita, no dia em que compreenderam, sob a ação do Espírito Santo, que Deus habita nelas! Quantas conheceram então um novo rumo na sua vida, uma ascensão contínua para Deus e para a perfeição, sobretudo se se esforçaram por viver na intimidade com o hóspede divino. E é justamente isto que vamos ensinar na postagem seguinte: OS NOSSOS DEVERES PARA COM O HÓSPEDE DIVINO.
  
  

sábado, 6 de junho de 2020

O CORAÇÃO DE JESUS NA MANEIRA DE PREGAR

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
6º dia de junho

Em primeiro lugar, contemplemos a maneira como Jesus pregava. Do modo mais simples, sem discursos de profana e rebuscada eloquência. Emprega uma linguagem natural, espontânea, ao alcance de todos. Usa de comparações ou parábolas tomadas ora de objetos familiares conhecidos de todos, ora de seres animados ou inanimados da natureza. Emprega "parábolas sublimes na sua simplicidade, que conservam hoje a mesma vitalidade e majestade que quando se pronunciaram", diz um autor. O povo, ou melhor todos os de coração reto, ouviam a Jesus suspensos de seus lábios divinos, e deixava correr as horas sem cuidar de atender à suas necessidades corporais. Ávidos por alimentar suas almas o bom povo acompanhava, às vezes, a Jesus pelo deserto, até por dias, sem se preocupar com o alimento corporal. Isto porque o Divino Mestre ensinava com dignidade e majestade, com uma autoridade que demonstrava tratar-se de alguém superior aos demais mortais. E a simplicidade, a doçura, a mansidão e a humildade de Seu amabilíssimo Coração, atraíam a todos.

Caríssimos,  façamos brotar em nosso coração sentimentos da mais profunda gratidão, por nos ter deixado o precioso tesouro da sua doutrina, que é luz, caminho e guia para nossa inteligência, consolo e esperança para o nosso coração e doçura para os nossos lábios.

Como nós padres devemos nos esmerar não só em pregar o que Jesus pregou, mas também procurar fazê-lo seguindo o exemplo do Divino Mestre! "Quem vos ouve a mim ouve" disse Jesus aos seus ministros e dispensadores de seus mistérios. Sabemos que infelizmente há muitos Judas Iscariotes, mas não podemos por isso, generalizar e cairmos num anti-clericalismo que, na verdade, é uma atitude e pensamento contrários a ordenação que Jesus deu à sua Igreja, que é hierárquica.


Quando Jesus se transfigurou no Monte Tabor, na presença de seus apóstolos prediletos, Pedro, que seria o primeiro chefe visível da Igreja, Tiago, que seria o primeiro apóstolo a dar testemunho de Jesus pelo martírio, João que era o discípulo especialmente amado por Jesus Cristo, uma nuvem luminosa cobriu-os, e de dentro da nuvem  falou o Pai celestial: "Este é meu Filho muito amado, em quem pus as minhas complacências. Ouvi-O". Caríssimos, se o Pai ama a Jesus, não o devemos amar nós? Se Jesus Cristo era digno de todas as Suas complacências, não devemos nós também colocar Nele todas as nossas complacências, todo nosso amor?! E se nos manda que ouçamos o que nos ensina, não o devemos ouvir? Na verdade, Jesus já subiu para os céus e assim não podemos ouvi-Lo diretamente,   dita esta que teve o povo da Palestina há 20 séculos. Mas Jesus disse claramente, dirigindo-se aos seus apóstolos e, na pessoa deles, aos seus sucessores: "Quem vos ouve, a mim ouve, e quem vos despreza a mim despreza". Amém!

sexta-feira, 5 de junho de 2020

O CORAÇÃO AMABILÍSSIMO DE JESUS E A VERDADE

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
5º dia de junho

Logo no início de sua vida pública, isto é, de apostolado, o Coração adorável de Jesus Cristo quis alimentar as almas com a sua doutrina, com a Verdade. Dissera que a doutrina que pregava recebeu-a do Pai: ""Minha doutrina não é minha mas do Pai que me enviou". A nenhum homem é permitido adicionar ou subtrair algo sequer desta doutrina, nem um pontinho, nem um traço. É tão alta, é tão sublime que só o Divino Espírito Santo, poderá completá-la, no sentido de dar aos Apóstolos a capacidade de entender toda ela. Verdade imutável porque perfeita, porque se identifica com o próprio Jesus que é sempre o mesmo, ontem, hoje e sempre. "Eu sou a Verdade", dissera o Divino Mestre.

Não é sem motivo que Santo Agostinho lamentava: "Ó verdade sempre antiga e sempre nova, quão tarde de conheci, quão tarde de amei!" Caríssimos, a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo brota qual água viva, do manancial inefável de seu Amabilíssimo Coração. Quão pura, quão santa, a mais perfeita, mais humana e mais divina ao mesmo tempo. A doutrina de Jesus é superior a toda a sabedoria criada. Esta doutrina satisfaz plenamente o nosso coração, e só ela! Só a excelência e santidade desta doutrina é por si mesma um testemunho inegável da divindade do divino Mestre.

Tão sublime e tão amável esta doutrina que brota do Coração de Jesus! Pois ensinava que Deus é nosso Pai, e Pai amantíssimo e boníssimo; que nos protege; que nos criou para o céu; e que só serão eternamente condenados os que se afastam voluntariamente do seu amor e da obediência aos seus mandamentos.; que todos os homens são irmãos como filhos de um mesmo Pai; que constituímos uma só família, por termos todos a mesma origem e o mesmo destino e que assim devemos amar-nos uns aos outros como nos amamos a nós mesmos. Jesus ensinava que nunca devemos fazer a outrem o que não desejássemos que nos fizessem a nós; e que fizéssemos ao próximo tudo o que desejássemos que nos fizessem a nós. "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e assim encontrareis descanso para as vossas almas", exortava Jesus. Ensinava enfim todas as virtudes mas sobretudo o amor para com Deus e a caridade para com o próximo, até para os próprios inimigos. Esta caridade, no seu duplo aspecto, é como a alma e a síntese de todos os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, deste princípio da caridade dimanam todos os outros deveres, que ensinava ao povo a colocar em prática. E sabemos como todos os de coração reto ficavam atraídos pelo encanto celestial da palavra e da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todos percebiam que seus lábios divinos transmitiam o amor transbordante daquele Coração Divino.


É bem verdade que o Divino Mestre exigia a abnegação própria, a mortificação da soberba e da sensualidade, o desprezo das riquezas, mas convencia a todos que só assim teriam a verdadeira felicidade, e bondosamente lhes prometia uma grande recompensa nos Céus. O Coração de Jesus ensinava enfim todas as virtudes e combatia tudo o que pudesse afastar os homens de Deus e, portanto, da paz e felicidade verdadeiras. Mas caríssimos, vamos em postagens posteriores meditar sobre o "Sermão da Montanha". Jamais de lábios humanos poderá sair doutrina tão elevada, tão consoladora, tão celestial, tão divina!!! Amém!