quinta-feira, 8 de agosto de 2019

REVESTIR-SE DE JESUS CRISTO

LEITURA ESPIRITUAL


São João Eudes faz um belíssimo comentário destes conselhos do Apóstolo S. Paulo: "Revesti-vos de Jesus Cristo"  (Rom. XIII, 14); "Revesti-vos do homem novo" (Efésios IV, 24); "Animai-vos dos sentimentos que animam a Jesus Cristo" (Filipenses II, 5). Diz o Santo propagador da devoção ao Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria: "Jesus, Filho de Deus e Filho do Homem...  não sendo somente nosso Deus, nosso Salvador e soberano Senhor; mas mesmo, sendo nossa cabeça e nós os seus membros e seu corpo, diz S. Paulo, osso de seus ossos, e carne de sua carne (Ef. V. 30) e, por conseguinte, estando unidos a ele pela união mais íntima que possa existir, tal a dos membros à cabeça; unidos a ele espiritualmente pela fé e pela graça que nos deu no santo batismo; unidos a ele corporalmente pela união do seu santíssimo Corpo com o nosso na santa Eucaristia, segue-se daí necessariamente que, como os membros são animados do espírito da cabeça e vivem de sua vida, assim também devemos estar animados do espírito de Jesus Cristo, viver de sua vida, caminhar em suas veredas, revestir-nos de seus sentimentos e inclinações, fazer todas as nossas ações nas disposições e intenções com que Ele faz as suas, em uma palavra, continuar a realizar a vida, a religião e a devoção que Ele exerceu sobre a terra". E S. João Eudes apresenta vários textos das Sagradas Escrituras e comenta-os: "Não ouvis, diz o santo, aquele que é a própria verdade dizer em diversas passagens de seu Evangelho: "Eu sou a vida; e eu vim para que tivésseis a vida. Vós não quereis vir a mim a fim de ter a vida. Eu vivo e vós vivereis Nesse dia sabereis que eu estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós" (S. João VI, 10; V, 40; XIV, 19 e 20). Isto é, assim como eu estou em meu Pai, vivendo da vida de meu Pai, a qual ele me vai comunicando, assim também vós estais em mim, vivendo da minha vida, e eu estou em vós, comunicando-vos essa mesma vida, e assim eu vivo em vós e vós vivereis comigo e em mim. E o discípulo bem-amado não nos clama também que Deus nos deu uma vida eterna e que essa vida está em seu Filho , e que aquele que tem em si o Filho de Deus tem a vida eterna e que essa vida está em seu Filho, e que aquele que tem em si o Filho de Deus tem a vida; e, ao contrário, aquele que não tem o Filho de Deus em si, não tem a vida (1 João V, 11 e 12); e que Deus nos enviou seu Filho ao mundo, a fim de que vivamos por ele (1 João IV, 9); e que estamos neste mundo como Jesus aqui esteve (Hebreus II, 17), isto é, que estamos em seu lugar e que devemos viver como ele mesmo viveu? E no Apocalipse, não nos anuncia que o esposo bem-amado de nossas almas, que é Jesus, vai sempre pregando e dizendo: "Vinde, vinde a mim e que aquele que tem sede venha e tome água da vida gratuitamente" (Apoc. XXII, 17), isto é, que venha e beba em mim a água da vida? ... (S. João VII, 37). E o que nos prega a cada instante o divino apóstolo S. Paulo, senão que estamos mortos e que a nossa vida está escondida com Cristo em Deus (Col. III, 3); que o Pai eterno nos vivificou com Jesus Cristo e em Jesus Cristo (Efésios II, 5); Col. II, 13), isto é, que não somente nos fez viver como seu Filho, porém em seu Filho, e da vida de seu Filho, e que devemos manifestar e fazer transparecer a vida de Jesus em nossos corpos (2 Cor. IV, 10 e 11), que Jesus Cristo é nossa vida (Col. III, 4)?... Em uma passagem, falando aos cristãos, diz que pede a Deus que os torne dignos de sua vocação (do seu chamado), que realize plenamente nesses cristãos todos os desígnios de sua bondade e da obra da fé, a fim de que o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo seja glorificado neles e eles em Jesus".

Caríssimos, como nos consola esta meditação!!! Estarmos cônscios da presença de Jesus em nós; tão unido a nós que a nossa vida é Ele mesmo, é Ele que trabalha, sofre em nós; Jesus é a Cabeça e nós os membros; somos um instrumento que Jesus mesmo deve pôr em movimento. Por nós mesmos não podemos nada de bom, mas se é Jesus que opera em mim, então, posso dizer com S. Paulo: "Tudo posso n'Aquele que me conforta!"

É preciso, dizia S. Margarida Maria a uma visitandina, que nos consumamos todas nessa fornalha ardente do Sagrado Coração do nosso adorável Mestre... e depois de termos lançado o nosso coração, todo cheio de corrupções, nas chamas divinas do puro amor, aí devemos tomar um outro, novo, que nos faça viver para o futuro de uma vida renovada... é preciso que esse divino Coração de Jesus tome de tal modo o lugar do nosso, que só ele viva e atue em nós e por nós, que sua vontade mantenha a nossa por tal forma aniquilada, que possa agir sem resistência alguma da nossa parte; enfim, que seus afetos, pensamentos e desejos tomem o lugar dos nossos, mas principalmente o seu amor, que se amará a  si mesmo em nós e por nós" (Obras, tomo II, p. 468).

Caríssimos, Jesus Cristo ama cada um de nós com um amor inefável e esse amor faz com que Ele se mantenha unido a todos por uma união que deseja tornar cada vez mais perfeita. Daí, devemos ver Jesus em nós mesmos e também no próximo (que d'Ele recebe ao menos graças atuais). É mister que vejamos Jesus em nós e vivamos intimamente unidos a Ele. É preciso que os nossos sentimentos sejam os de Jesus; devemos unir nossas intenções às Suas; as nossas orações ás Suas orações; nossos trabalhos e nossos sofrimentos aos seus trabelhos e aos Seus sofrimentos. Em uma palavra Jesus fará de nós um outro Jesus.

Um ramalhete espiritual que expressa perfeitamente esta doutrina, é esta sublime exclamação de S. Paulo: "VIVO, MAS NÃO SOU EU QUEM VIVE, É JESUS QUEM VIVE EM MIM!" Amém!

terça-feira, 6 de agosto de 2019

ARTIGOS 2º E 3º DO CREDO


    O segundo artigo do Credo é: "E em Jesus Cristo, um só Seu Filho, Nosso Senhor.
   Na parte superior e central do quadro está representada a Transfiguração de Jesus, na qual Deus Pai proclamou Jesus Cristo seu Filho.
  
Jesus Cristo tendo levado consigo sobre o Monte Tabor três de seus discípulos, Pedro, Tiago e João, de repente, transfigurou-se diante deles. Seu rosto tornou-se brilhante como o sol e suas vestes brancas como a neve. Vemos aí Moisés e Elias que conversam com Jesus à vista de seus discípulos. Do meio da nuvem luminosa que os cobre uma voz fez-se ouvir com estas palavras: "Este é meu Filho dileto em quem pus toda a minha complacência; ouvi-o". A esta voz, os apóstolos que haviam acompanhado a Nosso Senhor tiveram grande medo e caíram de bruços. No meio deles São Pedro diz: "Senhor, bom é nós  estarmos aqui; se quiserdes faremos aqui três tendas: uma para Vós, uma para Moisés e uma para Elias".

  Ainda na parte superior do quadro à esquerda, vemos uma espécie de medalha na qual está representado o Pai Eterno enviando Seu Filho à terra no momento em que o Divino Espírito Santo também vai operar o grande mistério da Encarnação, como vamos explicar a figura logo abaixo, na parte inferior e à esquerda do quadro. Aí estão representados os mistérios da Anunciação e da Encarnação do Filho de Deus
   Temos aqui o 3º artigo do Credo: "...o qual foi concebido do Espírito Santo, (sua 1ª parte),
Vemos representado aí o Arcanjo São Gabriel saudando a  Santíssima Virgem Maria em oração em sua casa de Nazaré, e anunciando-lhe que Deus a escolheu para ser a Mãe do Salvador. No mesmo instante, o Divino Espírito Santo opera nela, por um grande milagre, o mistério da Encarnação.
   À direita do quadro, temos representada a 2ª parte do 3º artigo do Credo: ..."nasceu de Maria Virgem",
   Na parte superior do quadro, vemos numa espécie de medalha, representada uma profecia de Isaías sobre  Nosso Senhor Jesus Cristo (Isaías, XI, 1). "Sairá uma vara do tronco de Jessé (=Isaí, pai de David), e uma flor brotará da sua raiz". Podemos dizer que esta profecia se refere também à Santíssima Virgem Maria porque ela é  descendente da família real de Davi; e sobretudo, porque dela é que nasceu Jesus. Vemos na figura um homem deitado(este homem é Jessé). Do seu peito como que nasce uma árvore(é a família de Davi); por isso vemos a figura de Davi nos galhos da árvore. A árvore não tem muitas folhas, para significar que a estirpe real de Davi estava então quase destruída e apagada. Mas do tronco(cujas raízes estão fixadas no pai de Davi) sai um rebento que, uma vez crescido, termina numa flor sobre a qual está a Santíssima Virgem Maria como rainha, trazendo no colo o Menino Jesus, que, por sua vez, ampara o globo terrestre porque Ele é o Rei dos reis, o Salvador do mundo. 

Na parte inferior do quadro,  vemos  representado o nascimento do Menino Jesus. Nasceu de Maria Virgem. O Menino Jesus nasce num estábulo em Belém. É cercado de todos os cuidados de Sua Mãe e de Seu pai de criação, São José. Perto da manjedoura onde repousa o Menino Jesus vemos um boi e um jumento que, segundo a tradição, se encontravam neste lugar.
   Os pastores dos rebanhos vêm adorá-lo e os anjos cantam o hino de alegria: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade".
  
  

domingo, 4 de agosto de 2019

A SANTIDADE E O ECUMENISMO


"Que relação tem um homem santo com um cão?"

"Não deis aos cães o que é santo" (S. Mateus, VII, 6).

"Não vos sujeiteis ao mesmo jugo que os infiéis. Pois, que união pode haver entre a justiça[santidade]e a iniquidade? Que sociedade entre a luz e as trevas? E que concórdia entre Cristo e Belial? E que relação entre o templo de Deus e os ídolos? Com efeito, vós sois o templo de Deus vivo, como Deus diz: 'Eu habitarei neles e andarei entre eles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Portanto, saí do meio deles e separai-vos, diz o Senhor, e não toqueis o que é impuro: e eu vos receberei e serei vosso pai, e vós sereis meus filhos e minhas filhas, diz o Senhor todo poderoso' (2 Cor. VI, 14-18).
"Tendo, pois estas promessas, meus caríssimos, purifiquemo-nos de toda a imundície da carne e do espírito, levando ao fim a santificação no temor de Deus" (2 Cor. VII, 1).

"Os seus sacerdotes desprezaram a minha lei, mancharam meu santuário; não distinguiram entre o santo e o profano; não distinguiram entre o que é puro e o é impuro" (Ezequiel, XXII, 26).

"Revesti-vos do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade verdadeira" (Efésios IV, 24).

Os que possuem a verdadeira santidade são missionários e não ecumênicos. E toda eficácia do apostolado dos santos reside exata e totalmente no fato de estarem revestidos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sua vida é a vida de Jesus Cristo. O divino Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo é o modelo perfeito que os santos seguiram com toda fidelidade possível, sem adaptações e interpretações humanas, desde um São João Batista até um São Pio de Pietrelcina, e assim será até o fim do mundo,  porque Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem, hoje e sempre.

Quando a Santa Madre Igreja é atacada  fisicamente (as perseguições a ferro e fogo) ou moralmente e doutrinariamente (os escândalos e as heresias) foram e serão sempre os SANTOS os seus verdadeiros reformadores. São os santos que, para empregar uma expressão popular atual, fazem toda diferença! Os que se revestem de Jesus Cristo e vivem na verdadeira justiça e santidade (Cf. Ef. IV, 24) imitam o Divino Mestre. Quero, neste artigo, chamar a atenção para duas coisas: o amor da pobreza para si mesmos, e o amor da riqueza e suntuosidade para a Casa de Deus; o amor das humilhações e perdão das ofensas feitas a suas pessoas, e o zelo ardente e intrépido em defender os direitos e interesses de Nosso Senhor e de sua imaculada esposa, a Santa Madre Igreja.

Os falsos reformadores fazem exatamente o contrário: pregam tanto a pobreza na Igreja, mas eles mesmos não se preocupam  tanto em imitar a pobreza de Jesus Cristo; quando as ofensas são feitas às suas pessoas, imediatamente e com todo ardor pulam em cima dos ofensores como víboras e leões; mas quando vêem a Santa Igreja espezinhada e humilhada pelos escândalos, profanações e heresias, ou fazem vistas grossas, ou, pior, se colocam do lado dos inimigos de Nosso Senhor Jesus Cristo, do lado dos zombeteiros de Maria Santíssima, do lado dos perseguidores. São orgulhosos, covardes e vingativos. E o protótipo destes falsos reformadores foi o fatídico, debochado, libidinoso, diabolicamente rebelde e orgulhoso Martinho Lutero.  O Vaticano  não fez mais do que a obrigação ao emitir um selo comemorativo do centenário de Fátima (aliás sem aludir em nada ao principal que é a mensagem de Nossa Senhora e os segredos). Mas o mesmo Vaticano(por conseguinte Francisco) "horribile dictu" fez um em comemoração dos 500 anos da Pseudo-Reforma de Lutero, e este, sim, bem significativo para Lutero e horrivelmente blasfemo para Jesus e Maria Santíssima.

Como dissemos acima, os santos procuram imitar verdadeiramente a Jesus Cristo, no qual reside toda a plenitude da divindade. "Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito" (S. Mat. V, 48 ). Todos os verdadeiros santos, a exemplo de S. Paulo, podem dizer: "Sede meus imitadores como eu o sou de Jesus Cristo" (1 Cor. IV, 16).

 Nos dois aspectos acima enunciados, qual foi o exemplo de Jesus Cristo? Nasceu pobre, viveu mais pobre ainda e morreu paupérrimo. Como diz S. Paulo: "Sendo rico (pois o Criador do céu e da terra) fez-se pobre por vós, a fim de que vós fôsseis ricos pela sua pobreza" (2 Cor., VIII, 9). A Casa de Deus no tempo de Jesus era o Templo de Jerusalém. Pois bem, a primeira manifestação de Jesus na ocupação das coisas de Seu Pai, foi aí no Templo quando tinha apenas doze anos de idade; e na sua vida pública muitas e muitas vezes esteve no Templo e aí pregou. Inclusive dele, certa vez, expulsou com chicote os vendilhões e disse: "Minha casa é casa de oração e vós fizestes dela um covil de ladrões" (S. Luc. XiX, 46). Nunca Jesus falou contra a riqueza e suntuosidade do Templo, pois toda esta riqueza e suntuosidade foi orientada e ordenada pelo próprio Deus e, portanto, por Ele mesmo como Verbo Eterno do Pai.  Quando Jesus predisse a destruição do Templo, não foi obviamente em castigo pela sua suntuosidade e riqueza mas pelos pecados do seu povo, máxime pelo maior, o deicídio.

Quanto ao amor das humilhações S. Paulo resume tudo nestas palavras: "Tende entre vós os mesmos sentimentos que houve em Jesus Cristo, o qual, existindo na forma(ou natureza) de Deus, não julgou que fosse uma rapina o seu ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e sendo reconhecido por condição como homem. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte, e morte de cruz!" (Filipenses II, 5-8).  E a sua primeira palavra no alto da cruz foi de perdão: "Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem".  Jesus fez-se em tudo semelhante a nós, exceto no pecado e sempre combateu o pecado e os falsos profetas: os fariseus e os saduceus. O missionário por antonomásia, Jesus não veio para abolir a lei mas para aperfeiçoá-la. Procurava os pecadores para convertê-los e não para os abraçar com o pecado e tudo. Disse para o mulher adúltera: "Nem eu te condeno; vai e não peques mais"(S. João VIII, 11). Disse ao paralítico da Piscina Probática: "Eis que estás curado, mas não voltes a pecar para que não te aconteça alguma coisa pior" (S. João V, 14). E gostaríamos de citar muitos e muitos outros textos dos Santos Evangelhos, mas não nos é possível por falta de espaço no âmbito de um simples artigo. Aliás os verdadeiros católicos conhecem bem os Santos Evangelhos! Aconselho-lhes que sempre os meditem com o auxílio das explicações dos Santos Padres da Igreja. E aproveitando o ensejo, quero advertir a todos que tomem muito cuidado para não adquirir Bíblias ecumênicas. Sigamos, com toda segurança que a Santa Igreja nos deu, a Vulgata de S. Jerônimo.

Na míngua de espaço, quero apresentar apenas um santo que fez a verdadeira reforma na Igreja que estava se desmoronando: S. Francisco de Assis. É evidente que são inúmeros os Santos que defenderam a Santa Madre Igreja. Aliás é a santidade que eleva o mundo todo! Mesmo assim, sobre o Poverello exporei sucintamente o que em sua vida se relaciona aos dois aspectos supra mencionados e exibidos no Divino Mestre.

São Francisco de Assis, renunciou toda riqueza de seu pai, muito bem sucedido comerciante. Desposou a santa Pobreza. Com muita justeza é conhecido como o "Poverello de Assis". Todos sabem bem que a pobreza foi a característica deste santo reformador, e assim não preciso me deter  sobre isto. Mas os falsos reformadores, querem se basear em S. Francisco para pregar uma Igreja pobre no que se refere às coisas de Deus. E estão totalmente errados.  A exemplo de Jesus, São Francisco de Assis começou a fazer e a ensinar: "quando ainda jovem aconteceu-lhe, muitas vezes, comprar ornamentos preciosos e objetos para a celebração do Santo Sacrifício, e dá-los em segredo aos padres e às igrejas pobres"; "Numa peregrinação que fez a Roma, estranhou a modicidade das esmolas com que se contribuía para a manutenção da Basílica de S. Pedro; "Apesar de sua extrema pobreza quis mesmo mandar Irmãos pelo mundo com preciosos cibórios, para pôr em lugar conveniente o preço da nossa redenção"; também sempre se sentiu instado a restaurar as igreja pobres e, desde o princípio  de sua conversão se pôs a reparar o santuário de S. Damião. Logo depois consertou uma velha igreja beneditina, dedicada a S. Pedro. Em seguida restaurou a Igreja  de S. Maria de Josofat, mais tarde chamada a Porciúncula, ou Nossa Senhora dos Anjos. E até construiu uma igreja em honra da Santa Virgem. Encontramos em seus escritos várias passagens semelhantes a esta:"Onde quer que o Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo for conservado de modo inconveniente ou simplesmente deixado em alguma parte, que o tirem dali para colocá-Lo e encerrá-Lo num lugar ricamente adornado"(Carta a Todos os Clérigos). E é interessante notarmos que S. Francisco, exortava os seus discípulos a amarem os homens sem distinção, e proibia-os severamente de julgarem os ricos: 'Deus  -  dizia ele  -  é seu Senhor, como o é também dos pobres, e pode chamá-los e santificá-los' . Ordenava mesmo que respeitassem os ricos como irmãos e senhores: irmãos diante do Criador; senhores porque proveem às necessidades dos filhos de Deus e ajudam-nos assim a levar a sua vida penitente'.

Agora em relação ao amor das humilhações e do perdão das ofensas, bastaria lermos  o c. VIII do "I FIORETTI":  Como a caminhar expôs S. Francisco a frei Leão as coisas que constituem a perfeita alegria" o qual é seguido desta conclusão: "Irmão Leão, acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, será o  de vencer-se a si mesmo, e voluntariamente pelo amor suportar trabalhos, injúrias, opróbrios e desprezos".  Em outro lugar lemos também: "Ide meus bem-amados, parti dois a dois, para as diferentes regiões do universo, e pregai aos homens a paz e a penitência para remissão dos pecados. Sede pacientes na tribulação e ficai certos de que Deus realizará os seus desígnios e cumprirá a sua promessa. Se vos interrogarem, respondei humildemente; abençoai os que vos perseguirem; dai graças aos que vos cobrirem de injúrias e vos caluniarem, pois, em troca dessas tribulações, o reino eterno vos aguarda". Disse ainda: "Atendemos todos, meus irmãos, nestas palavras do Senhor: 'Amai os vossos inimigos e fazei o bem àqueles que vos odeiam', pois, Nosso Senhor Jesus Cristo, de quem devemos seguir o exemplo, deu a um traidor o título de amigo e entregou-se espontaneamente aos seus algozes. Nossos amigos são, pois, todos aqueles que injustamente nos causam pesares e aflições, humilhações, injúrias, dores, tormentos, o martírio e a morte. Cordialmente os devemos amar, pois o que eles nos fazem alcança-nos a vida eterna".

 Mas, em se tratando de combater o pecado e todo e qualquer erro, qual foi a atitude de São Francisco? O estado da humanidade na época é assim estigmatizado pelo erudito discípulo de S. Francisco, Frei Tomás Celano: "O esquecimento de Deus era tão profundo e negligenciavam-se tanto as suas leis, que mui grande dificuldade havia em sacudir o torpor causado por males antigos e inveterados". O mesmo célebre escritor latino assim fala da ação missionária do Poverello: "No tempo em que a doutrina evangélica era estéril, não só em seu país, mas em todo universo, foi enviado por Deus para pregar a verdade pelo mundo inteiro, como os Apóstolos. Provava à evidência, com os seus ensinamentos, que toda a sabedoria do mundo não passa de loucura e, em pouco tempo, guiado por Cristo, levou os homens à verdadeira sabedoria de Deus pela loucura da sua pregação. Este novo evangelista dos nossos tempos espalhou por todo o universo, como um rio do paraíso, as águas vivas do Evangelho, e pregou com o seu exemplo o caminho do Filho de Deus e a doutrina da verdade. Nele e por ele conheceu o universo um inesperado ressurgimento, uma primavera de santidade, e a semente da antiga religião rejuvenesce de repente este mundo decrépto. Infundiu-se um novo espírito no coração dos eleitos e espalhou-se em sua alma a unção da salvação, quando, como um dos luminares do céu, o santo servo de Cristo brilhou na Terra. Todo tempo que ainda vivia entre os pecadores, percorria o mundo e pregava a todos" . S. Francisco era missionário. Não foi aos muçulmanos para beijar o Alcorão, mas apresentou-se diante do Sultão Malek-Khamil. "Era, diz Frei Celano, essa uma temerária empresa, pois que o príncipe dos Sarracenos pusera a prêmio, e alto prêmio, a cabeça dos cristãos. Mas Francisco apresentou-se a ele com tal mansidão e tal brandura, e, ao mesmo tempo, com uma fé tão intrépida e uma tão santa liberdade, que o tirano não ousou fazer-lhe mal, ouviu-o mesmo com benevolência e permitiu-lhe que pregasse a doutrina cristã. Logo soube, porém, que o mensageiro da fé atacava o erro maometano, fê-lo conduzir com honras militares ao campo dos cristãos". São Francisco de Assim dizia aos seus Irmãos da Ordem: "A obediência suprema, em que a carne e o sangue não tomam parte alguma, é atingida quando, levados por uma inspiração divina, vamos para junto dos infiéis, quer para salvar as almas, quer para colher a palma do martírio".

Caríssimos, podemos dizer que S. Francisco de Assis foi, desde os tempos apostólicos, o primeiro mensageiro da fé que inscreveu na sua bandeira a conversão do mundo inteiro, cumprindo assim à risca a ordem dada pelo divino Salvador, de evangelizar o universo: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas". E como era a pregação deste arauto de Cristo? Darei apenas uma amostra: "Fazei penitência; produzi frutos dignos de penitência, pois deveis saber que dentro em pouco morrereis. Dai, e dar-se-vos-á. Perdoai, e sereis perdoados. E se não perdoardes aos homens as suas ofensas, não perdoará tão pouco o Senhor os vossos pecados... Bem-aventurados os que morrem penitentes, pois irão para o reino dos céus. Infelizes dos que não morrem penitentes, pois serão filhos do demônio, cujas obras cometem, e irão para o fogo eterno. Vigiai e abstende-vos de todo o mal e perseverai no bem até o fim" (Regula I, c. 21). Amém!

sábado, 3 de agosto de 2019

TOTAL CONFORMIDADE DE NOSSA VONTADE COM A DE DEUS



A vontade de Deus é a do Senhor; a minha é a do servo. A vontade de Deus é infinitamente esclarecida; a minha é sujeita a erros sem conta. A vontade de Deus é a mesma santidade e nunca muda; a minha é depravada, inconstante, capaz de todo o mal. É justo, portanto, que eu me deixe dirigir pela vontade de Deus, submetendo-Lhe a minha. A união da nossa vontade com a de Deus, ou melhor dizendo, a fusão da nossa vontade na de Deus, de tal modo que a nossa desaparece, ficando só a vontade divina,  digo, isto é algo sumamente admirável, sublime e santo. Aliás, é a mesma santidade. E aqui, logo nossos olhos, nosso pensamento, se voltam para a Mãe de Deus, pois, entre as simples criaturas humanas (porque Jesus é também Deus) Maria é santíssima justamente, porque mais do que qualquer outro santo, uniu sua vontade à de Deus: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra".

Depois da união da natureza humana com a divina, que adoramos em Jesus Cristo, e da união da maternidade  com a virgindade, que honramos em Maria Santíssima, não há nenhuma mais admirável que a da nossa vontade com a do Senhor. Parece que Deus queria mostrar-nos a alegria que lhe causa este sacrifício da nossa vontade à sua, quando disse: "Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, e que fará todas as minhas vontades" (Atos XIII, 22). Este abandono filial, que nos entrega inteiramente nas mãos de Deus, é a mais bela vitória da graça sobre a nossa vontade, sem ofender o nosso livre arbítrio. Este triunfo da graça sobre a vontade humana, é sem nenhum prejuízo da sua liberdade, porque o vencido quer sê-lo, e se julga infinitamente obrigado para com o seu vencedor. Estou consciente de que assim Deus livra-me de qualquer outra sujeição, para só depender d'Aquele, cujos servos são outros tantos reis, eleva-me até à vida dos Anjos, até à vida de Jesus Cristo, que é a vida do mesmo Deus. Caríssimos, pode haver algo mais honroso?! Diz o Espírito Santo: "Bendizei o Senhor, vós todos os seus anjos, que sois poderosos e fortes, que sois executores da sua palavra, prontos para obedecer à voz das suas ordens" (Salmo 102, 20 e 21). Que honra para quem se conforma com a vontade divina! Eleva-se à altura dos Anjos, cujo único móvel é a vontade de Deus. Mas, há algo mais sublime ainda: adquiro uma admirável semelhança, uma espécie de parentesco com Jesus Cristo, o Rei dos Anjos. Elevo-me até Deus, tomando a sua vontade por norma da minha. Querendo o que Deus quer, como Ele o quer, porque o quer, tenho o mesmo alimento que o Salvador: "Meu alimento é que eu faça a vontade d'Aquele que me enviou" (S. João IV, 34).

Pela total conformidade de nossa vontade à vontade de Deus, participamos de dois atributos divinos, que parecia que a nossa fragilidade nunca poderia alcançar: a infalibilidade e a impecabilidade; porque, quando faço a vontade do Senhor e obedeço à direção de sua suma sabedoria, posso enganar-me? Quando procedo conforme com a santidade infinita, posso pecar? Por tudo isto devemos concluir que o maior empenho em nossa vida espiritual dever ser o de conformar inteiramente e sempre a nossa vontade com a vontade de Deus.

Ademais, querendo sempre o que Deus quer, pratico todas as virtudes: a fé, a confiança, a mortificação, a paciência, a humildade. E pratico-as pelo motivo mais excelente, isto é, o amor e o amor mais puro. E assim, querer o que Deus quer, é amá-Lo como Ele se ama, é querer-Lhe todo o bem que Ele quer a si, e do modo que Ele quer. Caríssimos, quão agradável é encontrar a santidade em uma só virtude que posso praticar a cada instante, e que enche a alma de uma suavidade celeste!
Finalmente, com esta virtude da conformidade com a vontade de Deus, livro-me de todo o mal, e tenho todo bem que desejo. Não mais mal moral, não mais pecado, pois o pecado não é senão a oposição à vontade divina. Não mais mal no ordem natural; porque um sofrimento que eu amo, que me agrada, que eu desejo, longe de ser um mal para mim, é um bem. Refugiando-me na vontade de Deus, evito todos os verdadeiros males.

Digamos com Santa Teresa d'Ávila: "Ó Senhor meu, misericórdia minha e Bem meu, que posso desejar de melhor na terra do que estar de tal maneira unida a Vós que não haja divisão alguma entre Vós e eu?" Amém!

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

MÁXIMAS DE SANTO AFONSO M. DE LIGÓRIO

   "Para viver sempre bem, diz Santo Afonso, é preciso que gravemos profundamente no espírito certas máximas gerais de vida eterna:
   "Todas as coisas deste mundo acabam, o gozo e o sofrimento; mas a eternidade nunca tem fim".

   "De que servem no momento da morte, todas as grandezas deste mundo?"

   "Tudo o que vem de Deus, ou próspero ou adverso, é bom e para nosso bem".

   "É preciso deixar tudo para ganhar tudo."

   "Sem Deus não se pode ter verdadeira paz".

   "Só é necessário amar a Deus e salvar a alma".

   "Só o pecado se deve temer".

   "Perdido Deus, é tudo perdido".

   "Quem nada deseja deste mundo, é senhor de todo o mundo".

   "Quem reza se salva; quem não reza perde-se".

   "Morra-se, mas dê-se gosto a Deus".

   "Custe Deus o que custar, nunca nos sairá caro".

   "Para quem mereceu o inferno, toda pena é leve".

   "Tudo sofre quem considera Jesus na cruz".

   "O que não se faz por Deus, tudo redunda em pena".

   "Quem só quer a Deus, é rico de todos os bens".

   "Ditoso daquele que pode dizer do coração: Meu Jesus, só a Ti quero, e nada mais".

   "Quem ama a Deus, em todas as coisas achará prazer; quem não ama a Deus, em nenhuma coisa encontrará verdadeiro prazer".

   "QUEM REZA SE SALVA; QUEM NÃO REZA SE CONDENA".

quarta-feira, 31 de julho de 2019

A REFORMA

A REFORMA
                                                        
                                                                                                                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*
     
        O século XVI foi um dos séculos mais conturbados da história da Igreja, devido especialmente aos excessos da renascença, que, com a pretensa volta aos valores pagãos nas artes e na vida, trouxe uma onda de mundanismo e devassidão, que atingiu também infelizmente a vida de pessoas da Igreja, até nos altos postos da hierarquia. 
        Martinho Lutero, monge alemão, abalado já na sua vida espiritual, sentiu-se também escandalizado com esse mundanismo e pretendeu salvar, por si mesmo, a Igreja. Entrou assim em um caminho errado de reforma, causando na verdade uma revolução, destruindo a autoridade e o Magistério da Igreja, e implantando o princípio da livre interpretação das Sagradas Escrituras, o livre-exame, causa das grandes divisões religiosas que se seguiram.  
        Mas a verdadeira reforma, talvez vislumbrada por Lutero, não a pseudo-reforma perpetrada por ele, foi realizada, no mesmo século XVI, pelo Concílio de Trento e pelos santos contemporâneos do monge alemão, como Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, São Filipe Nery e, sobretudo, Santo Inácio de Loyola com a Companhia de Jesus, concretizando assim o que dizia São João Paulo II: “A Igreja não precisa de reformadores, mas de santos!” Os Santos, reformando a si mesmos, foram os verdadeiros reformadores do mundo e da Igreja.
        Inácio de Loyola, santo cuja memória celebramos hoje, era um oficial espanhol, que, em 1521, mesmo ano da excomunhão de Lutero, no cerco de Pamplona, teve uma perna quebrada por uma bala de canhão e esperava por várias semanas sua cura no hospital. Enfadado, pediu romances para ler e se distrair. Mas não os encontraram e lhe trouxeram uma Vida dos Santos. Aquela leitura o encantou e transformou aquele oficial frívolo num dos maiores santos da Igreja, fundador da Companhia de Jesus, os Jesuítas, a cujas fileiras pertence o nosso Papa Francisco.
        Seu lema “para a maior glória de Deus” o impulsionava e contagiava seus companheiros, especialmente Francisco Xavier, que se tornou o grande missionário das Índias e do Japão. Enquanto Lutero e Calvino propagavam suas ideias, cujas consequências foram a devassidão e a guerra, Santo Inácio com seus companheiros usavam a oração, a caridade, a união com a Igreja e o espírito missionário. Escreveu os célebres “exercícios espirituais”, programa de retiros que inspirou e inspira todos os que querem levar uma vida espiritual séria e bem fundamentada. 
        Aqui no Brasil, da Companhia de Jesus, tivemos o grande Apóstolo de nossa Pátria, patrono de todos os catequistas, São José de Anchieta, que, com o Pe. Manoel da Nóbrega, fundou a cidade de São Paulo e participou da fundação da cidade do Rio de Janeiro. Embora não santo, temos da mesma companhia, o mais célebre orador do Brasil, o Padre Antônio Vieira. Também os Quarenta Mártires do Brasil, liderados pelo Bem-aventurado Inácio de Azevedo, martirizados pelos piratas protestantes quando vinham para trabalhar nas missões do Brasil, eram da Companhia de Jesus de Santo Inácio de Loyola.

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

LEMAS DE SANTO INÁCIO DE LOIOLA

"TUDO PARA A MAIOR GLÓRIA DE DEUS"

   Só um interesse inspirou a vida deste santo extraordinário: o da glória de Deus e da salvação das almas. A este interesse sacrificou e subordinou tudo. É próprio dos santos fazer sempre e em tudo o que Deus quer: fazer a santíssima vontade de Deus e nunca a própria; ou melhor a própria vontade desaparece unida que foi inteiramente à Vontade de Deus. Fazer só o indispensavelmente necessário, com algum cuidado de evitar o pecado mortal, é característico dos tíbios e não dos santos. É mais perfeito procurar sempre o agrado de Deus e dirigir todos os atos à glória de Deus e à salvação da alma. 

"VENCE-TE A TI PRÓPRIO"

   A própria vida de Santo Inácio, desde a sua conversão, foi a fiel interpretação deste lema. Vencendo-se a si, tornou-se o grande Santo. O "vencer-se a si próprio" deve ser o programa de todos os que pretendem chegar à perfeição. O mundo é um vale de lágrimas e misérias, porque o primeiro homem não se soube vencer. O céu regurgita de Santos, que devem a glória ao combate contínuo, que sustentaram contra a natureza. - "Vence-te a ti mesmo" "Vince te ipsum" e terás garantida a tua salvação. Santo Inácio dizia: "Não há outro caminho para a santidade senão o da abnegação e da mortificação. Anima-te, pois! Começa resolutamente! Uma única mortificação, feita com decisão, é mais agradável a Deus que praticar muitas boas obras". 

"QUÃO DESPREZÍVEL É A TERRA QUANDO OLHO PARA O CÉU"

   "A boca fala da abundância do coração": Santo Inácio era chamado o homem que está sempre em colóquio com Deus e vê o céu aberto. Os olhos procuram o que mais lhes agradam. Caríssimos, nós somos cidadãos do céu. Ele é nossa pátria definitiva. Estamos na terra como peregrinos e estrangeiros. Portanto, despojemo-nos do apego a qualquer coisa da terra: riquezas, prazeres, honras. Olhemos para o céu. "Senhor! dai-me a vossa graça e o vosso amor: e serei suficientemente rico" (Santo Inácio).
   "SANTO INÁCIO DE LOIOLA!  ROGAI POR NÓS!

ATO DE PERFEITO AMOR DE DEUS

  LEITURA ESPIRITUAL  -  dia 31º

"Conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele"... "Nós, portanto, amemos a Deus, porque Deus nos amou primeiro" (1 S. João, IV, 16 e 19). 

 Primeiramente um esclarecimento: Habitualmente, em nosso amor de Deus há mistura de amor puro e de amor de esperança, o que quer dizer que amamos a Deus por Si mesmo, porque é infinitamente bom, e também porque é a fonte de nossa felicidade. Estes dois motivos não se excluem, pois Deus quis que em O amar e glorificar encontrássemos a nossa felicidade. Não nos inquietemos, pois, desta mistura, e, pensando no céu, digamo-nos somente que a nossa felicidade consistirá em possuir a Deus, em O ver, amar e glorificar; então o desejo e a esperança do céu não impedem que o motivo dominante das nossas ações seja verdadeiramente o amor de Deus.
   O Ato de Amor a Deus é a maior e mais preciosa ação que se possa ser feito, tanto no céu como na terra. A alma que faz mais Atos de Amor a Deus, é a alma mais amada por Deus no céu e na terra. O Ato de Amor a Deus é o mais poderoso e eficaz meio para chegar bem depressa, e facilmente, a mais íntima união com Deus, à mais alta santidade e à maior paz da alma. (Beato Olier).
   O Ato de perfeito Amor a Deus realiza imediatamente o mistério da união da alma com Deus. E se esta alma fosse culpada dos maiores erros, ainda que numerosos, adquiriria imediatamente a Graça de Deus com este Ato, com a condição de desejar se confessar o quanto antes. Não pode comungar antes da confissão. Mas queremos dizer que feito o Ato de perfeito Amor a Deus, a alma por mais pecadora é perdoada por este Ato e se morrer antes de se confessar não vai para o inferno. Está salva.
   Este ato purifica a alma dos pecados veniais, das imperfeições, dá o perdão do pecado, dá também a remissão da pena por todos os pecados e restitui os méritos perdidos. O Ato perfeito de Amor a Deus torna a dar a alma imediatamente, a inocência batismal. É este ato o meio eficaz para converter os pecadores, salvar os moribundos, libertar as almas do Purgatório, e para consolar os que sofrem, para ajudar os Padres, para ser útil às almas e à Igreja.
   Um Ato perfeito de Amor a Deus aumenta a glória exterior do próprio Deus, da Santíssima Virgem e de todos os Santos do Paraíso; soergue todas as almas do Purgatório; obtém acréscimo da graça para todos os fiéis sobre a terra, reprime o poder maligno do inferno sobre as criaturas. O menor Ato de amor a Deus chega como bênção e graça até o selvagem que mora na última choupana abandonada nos limites da terra.
   O Ato de Amor a Deus é o mais poderoso meio de evitar o pecado, de vencer as tentações e também para adquirir todas as virtudes e merecer todas as graças.
   "O menor Ato de perfeito Amor a Deus tem mais efeito, mais merecimento e mais importância, que todas as boas obras em conjunto". (São João da Cruz) É óbvio que São João da Cruz está se referindo às obras boas mas não feitas com perfeito amor a Deus.
   O Ato de Amor a Deus é a ação mais simples, mais fácil, mais curta ou rápida que se pode fazer, pois basta dizer com toda simplicidade: "Meu Deus, eu Vos amo".
   É tão fácil fazer um Ato de Amor a Deus. Pode-se realizá-lo a todo momento, em todas as circunstâncias, no meio do trabalho, entre a multidão humana, seja qual for o lugar, e num instante de tempo. O Bom Deus está sempre presente, ouvindo, esperando afetuosamente colher do coração da criatura essa expressão de amor. Ele deseja somente que a alma que faz um Ato de Amor conserve-se atenta um momento para poder Ele, Deus responder-lhe por sua vez: "Eu também te amo; Eu te amo muito!"
   O Ato de amor não requer esforço nem inteligência. Não interrompe a atividade, não exige fórmulas particulares.
   O Ato de Amor não é um ato de sentimento; é um ato da vontade. Elevado infinitamente acima da sensibilidade e é também imperceptível aos sentidos. Basta que a alma diga ou mesmo exprima sem palavras ao bom Deus: "Meu Deus, eu Vos amo!"
   Na dor sofrendo em paz e com paciência, a alma manifesta seu Ato de Amor deste modo: "Eu Vos amo Meu Deus, por isto sofro tudo por amor a Vós!"
   Em meio aos trabalhos e preocupações exteriores, no cumprimento do dever cotidiano: "Meu Deus, eu vos amo, trabalho convosco, para Vós, por Vosso Amor".
   Na solidão, no isolamento, na imolação, na desolação: "Obrigado, meu Deus, sou assim mais semelhante a Jesus. Basta-me amar-Vos muito!"
   Por ocasião de defeitos, mesmo graves: "Meu Deus, sou fraco, perdoai-me. Recorro a Vós, refugio-me em Vós porque Vos amo muito!"
   Nas alegrias, nas horas de felicidade: "Meu Deus, obrigado por este dom. Eu Vos amo".
   Quando a última hora se aproximar: "Obrigado, meu Deus por tudo. Amei-Vos sobre a terra; espero amar-Vos para sempre no Paraíso!"
   Pode-se fazer o Ato de Amor a Deus de mil modos diversos. Mas ele é realizado de modo particular pela vontade sempre disposta a cumprir a Santa Vontade de Deus, de qualquer modo que ela se apresente e nos seja manifestada.
   Faz-se o Ato de Amor a Deus, também, quando se cumpre mesmo uma pequenina obrigação, quando se sofre uma bem pequena pena ou frui-se qualquer ventura ou alegria, tudo por seu Amor.
   "Para o bom Deus, vale mais apanhar um alfinete do chão por seu Amor, do que realizar ações notáveis por outros objetivos, ainda que honestos", - diz um santo.
   Faz-se Atos de Amor a Deus todas as vezes que se Lhe diz pela vontade: "Meu Deus, eu Vos amo".
   Uma pobre alma, ignorada de todos, pode fazer por dia 10.000 Atos de Amor a Deus. Na realidade, uma alma simples, e que vive no meio do mundo, e no meio da agitação e das preocupações, pode repetir cada dia 10.000 vezes: "Meu Deus, eu Vos amo".
   A ALMA PODE FAZER O ATO DE AMOR A DEUS EM TRÊS GRAUS DE PERFEIÇÃO.
   1º) - Vontade de sofrer quaisquer penas e até mesmo a morte para não ofender gravemente o Senhor. "Meu Deus, antes morrer que cometer um pecado mortal".
   2º) - Vontade de sofrer qualquer pena e até mesmo a morte de preferência a consentir num pecado venial. "Meu Deus, antes morrer que ofender-Vos, mesmo levemente".
   3º) - Vontade de escolher sempre o que for mais agradável a Deus. "Meu Deus, uma vez que Vos amo, quero somente o que quereis".
   Cada um destes três atos contém um Ato perfeito de Amor a Deus.
   Santo não é quem faz milagres, tem êxtases ou visões, mas quem faz mais Atos de Amor a Deus no decorrer do dia.
   Santo não é quem nunca consente num pecado, mas quem faz pecados por fraqueza mas logo se reergue e encontra em sua própria fraqueza nova razão de amar ainda mais o bom Deus e de se abandonar melhor nos braços divinos.
   Santo não é quem se flagela, usa de fortes mortificações ou que foge ao mundo, ou que realiza obras notáveis que maravilham os homens, mas quem diz maior número de vezes e com mais amor ao bom Deus: "Meu Deus, eu Vos amo muito, e por vosso amor, quero florescer onde me semeastes".
   Santo é quem repete com maior vontade e maior número de vezes o Ato de Amor pela jornada diária afora: "Meu Deus, eu Vos amo muito".
   A alma mais simples e escondida, ignorada de todos, mas que faz o maior número de Atos de Amor a Deus, é muito mais útil às almas e à Igreja do que aquelas que fazem grandes obras com menor amor.
   As obras grandiosas e maravilhosas de alguns santos tiveram muito valor justamente porque tiveram como motivo o grande amor a Deus que lhes inflamava a alma.

   Esta postagem é um folheto distribuído por Religiosas no alto da "Escada Santa" em Roma. Foi traduzido para o português e publicado em 1958. Recebeu para tanto o Nihil obstat do Cônego Vital B. Cavalcanti ( Censor ad hoc); e o "imprimatur" = pode imprimir-se - foi dado pelo Mons. Caruso , Vigário Geral no Rio de Janeiro.

terça-feira, 30 de julho de 2019

O AMOR A DEUS

LEITURA ESPIRITUAL, dia 30º

O primeiro e o máximo mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas. É sumamente útil e necessário conhecermos bem este assunto.

Em primeiro lugar, devemos  distinguir dois elementos no amor: a complacência e a benevolência. Que é complacência? Vamos dar exemplo do que acontece com o amor entre pessoas aqui na terra e depois aplicaremos subindo até Deus. Assim, as qualidades dos entes queridos nos enlevam: eis aí a complacência. Agora, queremos bem àquelas pessoas cujos dotes nos cativam: eis aí a benevolência. E nosso amor de complacência e de benevolência deve ser afetivo e efetivo. Há amor afetivo quando suscitamos no nosso coração, tais sentimentos tanto de complacência como de benevolência. E, desde já devemos saber que este amor afetivo para com Deus se exerce e se dilata na oração.

Mas, caríssimos, este amor afetivo só será sincero se for acompanhado do amor efetivo, ou seja, é mister que opere e que realmente sirvamos a Deus. Em outras palavras, o nosso amor deve ser provado pela prática das virtudes. Portanto o amor interno deve ser manifestado externamente e é assim que conhecemos  inclusive o seu valor exato. Como disse o Divino Mestre: "Não é aquele que diz Senhor, Senhor, que vai entrar no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu". Diz também: "Quem me ama, guarda os meus mandamentos, faz o que eu mando". Portanto, querer julgar a intensidade do amor apenas pelo surtos do coração é expor-se a ilusões. É na renúncia da própria vontade e na aceitação amorosa e inteira da vontade divina, que encontramos a prova inconfundível do verdadeiro amor de Deus. Se o amor perfeito não pode nascer nem crescer sem o exercício da oração e a prática constante do amor afetivo, tão pouco se pode desenvolver sem as obras, sem a luta generosa contra os nossos defeitos e a fidelidade às virtudes cristãs.

E que vem a ser AMOR PERFEITO a Deus? Caríssimos, devemos evitar dois extremos: Não se trata apenas de um ato PASSAGEIRO de caridade perfeita; isto seria uma resolução sincera de evitar todo pecado mortal, a fim de não ofender o Deus infinitamente bom, infinitamente digno de amor. Na verdade, esta disposição basta à alma para alcançar o perdão das faltas graves e recuperar a graça santificante que perdera, desde que acompanhada do desejo de receber o sacramento da Penitência. Não é permitido, porém comungar, sem antes se confessar. Se Jesus chamar esta pessoa repentinamente sem ter condição de se confessar, ela se salva. Mas este ato passageiro de caridade perfeita não é ainda o AMOR PERFEITO  a Deus, de que falamos aqui. Por outro lado, devemos excluir o outro excesso, isto é, não deva haver nenhuma interrupção nem desfalecimento para que o amor fosse perfeito. Na realidade seria exigir um amor que só será possível no céu. Assim sendo, devemos dizer que uma alma atinge o amor perfeito a Deus aqui na terra, quando se encontra na disposição habitual de renunciar a tudo quanto lhe possa arrefecer o ardor da caridade. Portanto, significa não ter nenhum apego voluntário, nem às faltas ligeiras, nem às imperfeições; quando se propõe a fazer, em tudo, o que Deus quer, e como Deus quer. E prestemos bastante atenção neste particular: esta resolução não pode ser fruto de um ímpeto de entusiasmo, em que a sensibilidade tem grande parte, mas deve ser uma determinação calma, firme e constante da vontade. Conhece as dificuldades, mas sabe vencê-las, porque não há nada mais forte do que o amor perfeito.

Então, resumindo: O amor perfeito a Deus supõe que a alma esteja sempre na presença de Deus. Pelo menos, o pensamento da pessoa se volta frequentemente para Deus. O amor perfeito supõe, portanto, um amor afetivo intenso e freqüente; supõe também um amor efetivo, generoso, habitual, e devemos dizer que também supõe um amor delicado. Porque daria provas de amor vulgar  e um tanto interesseiro, quem não soubesse prestar serviços a um amigo sem deixar perceber o que isso lhe custa. Na realidade, o verdadeiro amor nunca pensa fazer bastante para o ente amado, desprezando suas fatigas e seus trabalhos; raramente fala de seus sacrifícios, e, se falar, é para dizer que é pouca coisa e que está pronto a fazer outros, maiores ainda.

Não há meio melhor para compreendermos bem o que vem a ser o amor perfeito a Deus do que lendo a vida dos santos, porque, na verdade, é neste amor perfeito, onde se procura fazer sempre a vontade de Deus, que encontramos a verdadeira santidade. Amém!

sexta-feira, 26 de julho de 2019

O CORAÇÃO DE JESUS E A HUMILDADE

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, dia 26º

"Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração". Nosso Senhor Jesus Cristo, na verdade, é o modelo perfeito de todas as virtudes. No entanto quis fazer menção especial da humildade e da mansidão, virtudes estas que podemos chamar de irmãs. Os teólogos dizem que a humildade  com sua forma própria não se encontra em Deus, porque ela supõe pequenez e inferioridade. Como a humildade é a verdade, ela só se aplica a nós homens porque a verdade é que somos nada e um nada pecador. Reconhecer isto é humildade de inteligência mas ainda não é virtude. Aceitar ser tratado assim como pecadores e nada merecedores de elogios é a virtude da humildade. A virtude está na vontade. Reconhecer que o que temos de bom não é nosso mas vem de Deus é também humildade, porque esta é a verdade: por nós mesmos não podemos ter nem sequer um bom pensamento. Toda nossa capacidade para o bem vem de Deus. São Paulo diz: "Que tens tu, que não recebesses? E, se o recebeste, porque te glorias, como se o não tiveras recebido? (1 Cor., IV, 7).

A criatura, com efeito, se quiser ser justa e veraz, deve reconhecer que Deus é tudo e que ela é nada; que toda força, toda a virtude, toda a beleza, toda a bondade provêm de Deus, e que, por si mesma, não é senão fraqueza e miséria, ou antes é o próprio nada. A criatura, se quiser ser justa e sincera, não pode desconhecer as grandezas de Deus; e diante d'Ele deve se aniquilar. Deus é santo, a criatura é pecadora; Deus é a Justiça e a Bondade, e ela, injustiça e egoísmo; que Deus é paz e misericórdia, e ela, ira e maldade.

Até aqui falamos de uma humildade comum. Há uma humildade muito mais perfeita, mais difícil e consequentemente mais meritória. Consiste em nos rebaixarmos além do que merecemos. Jesus Cristo é o modelo acabado dessa humildade. O Homem-Deus, o Verbo Encarnado, como escreveu S. Paulo, humilhou-se até ao aniquilamento: "Tende entre vós os mesmos sentimentos que houve em Jesus Cristo, o qual, existindo no forma (=natureza) de Deus, não julgou que fosse uma rapina o seu ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e sendo reconhecido por condição como homem. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte, e morte de cruz!" (Filipenses, II, 5-8).

Na verdade, já desde o início de sua vida terrestre, o Verbo, fazendo-se carne praticou um ato sublime de humildade. E toda Sua vida foi uma série de atos de humildade. Entregou o seu espírito como fez ao recebê-lo no início (Eis que venho, ó Pai, para fazer a Vossa vontade", e fez-se obediente até a morte, e morte de cruz, que é a mais humilhante.

Em Jesus a natureza humana deixou livre campo à graça para realizar suas obras enquanto a vontade humana de Jesus foi plenamente submissa à vontade divina: "Seja feita a vossa vontade e não a minha", esta oração do Horto das Oliveiras é o resumo de toda a vida do Divino Mestre.

Nas leituras anteriores meditamos como o Coração de Jesus sempre renunciou à estima, à consideração, à reputação, coisas estas de que os homens se mostram tão ciosos.  Os Santos contemplando sempre este Divino Modelo de infinita humildade, se tornaram tão humildes, que às vezes, os mundanos são tentados a tachá-los até de loucos, quando eles mesmos, ou seja, os santos consideravam uma verdadeira loucura,  pretender elogios e estima sendo como eram um nada criminoso, enquanto que Jesus, a própria inocência e santidade, fez-se obediente até à morte e morte de cruz.


Caríssimos, já que Deus só dá sua graça e sua luz aos humildes, peçamos sempre a humildade. Pedindo, pois, a humildade, pedimos uma riqueza espiritual que vale bem longos anos de súplica. Deus nos dará a graça das ocasiões de praticarmos a humildade através das humilhações que sofrermos. Não deixemos passar estas graças, que elas não sejam vãs em nós. Rezemos sempre com grande desejo e sinceridade: "Jesus, manso e humilde de coração! Fazei o meu coração semelhante ao Vosso!" Amém!

quinta-feira, 25 de julho de 2019

O CORAÇÃO DE JESUS NA SUA PAIXÃO E MORTE

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
17º dia de junho

São Paulo resume todo o amor do Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo nesta frase: "Amou-me e entregou-se por mim". Outra palavra do divino Espírito Santo que mostra o amor infinito do Salvador pelos homens é esta profecia de Isaías: "Foi oferecido em sacrifício, porque ele mesmo quis" (Isaías 53, 7). Temos aqui a causa da Paixão e morte do amantíssimo Salvador: o amor de seu adorável Coração  por todos e por cada um de nós. Caríssimos, na verdade, só o amor infinito do divino Coração de Jesus pode explicar a maneira tão dolorosa e humilhante com que Nosso Senhor Jesus Cristo quis realizar a obra da nossa redenção. Segundo a profecia de Isaías, assim foi porque "Ele quis". Se, como afirma S. Paulo, entregou-se por mim e fê-lo voluntariamente, é porque foi movido unicamente pelo amor de seu Coração. Porque, por efeito da união hipostática da natureza divina à humana, todo ato do Homem-Deus tinha valor infinito: uma lágrima, uma gota de sangue, uma oração, mesmo um suspiro seriam suficientes para remir toda a humanidade. Mas como diz muito bem São João Crisóstomo: "o que bastava para a redenção não bastava para nos revelar o seu amor". Jesus quis mostrar de um modo bem patente a imensidade do amor de seu Coração. Sendo Ele a própria inocência quis VOLUNTARIAMENTE, padecer tristezas, quis ser saturado de opróbrios, humilhações, dores e angústias. Foi traído, suas faces foram conspurcadas por escarros, machucadas  por tapas e bofetadas, todo seu corpo despedaçado por açoites, sua sacrossanta cabeça ferida por uma coroa de espinhos penetrantes e que se tornaram verdadeiro martírio porque enterrados mais fundos por golpes da cana. Jesus quis que seu Sacratíssimo Coração fosse alvo de todas as humilhações. Pois, quis ser condenado à morte como malfeitor. E morte na Cruz. E ele mesmo carregou o madeiro no qual seria pregado e suspenso da terra. Quis permanecer três horas suspenso e seguro por três pontiagudos cravos. Quis sofrer uma sede horrível. Quis sofrer assim em todo seu corpo exterior e interiormente. E também no espírito: a amargura e desolação infinitas.

E nesta cátedra de amor e de misericórdia, quais foram os sentimentos do Coração amabilíssimo de Jesus? Pediu perdão para os que o crucificaram, concedeu o Paraíso ao bom ladrão que se arrependeu, deu-nos, na pessoa do discípulo amado, Maria Santíssima como nossa Mãe. Declarou que tinha sede, com certeza sede física, mas para significar a sede mística de almas. Inclinando a cabeça e encomendando o espírito a seu Pai, expirou. "Tudo estava consumado": com o seu sacrifício, a obra da nossa redenção estava realmente consumada. O Coração de Jesus desejou ardentemente esta hora do supremo sacrifício, deste batismo de sangue, para salvar a humanidade. Estava estendida a ponte entre o paraíso que perdemos e o paraíso que agora podemos esperar pelos merecimentos infinitos do Coração do Salvador.

Jesus havia dito que Ele era a PORTA,  a porta por onde suas ovelhas podem entrar no Céu. Como tudo isto foi feito pelo amor infinito de Jesus e deste amor é símbolo o coração, Jesus quis, que já consumada esta obra de supremo amor, fosse patenteada esta porta e este refúgio; quis mostrar a ternura do seu Coração, permitindo que fosse aberto o seu lado com uma lança, para dar-nos com isso a entender que nos ficava aberta a entrada para o seu Coração, aonde podemos sempre acolher-nos como a sagrado e doce refúgio.


Caríssimos, contemplemos agora, o Salvador cravado na cruz por nosso amor, com a coroa de espinhos na cabeça, todo o seu corpo coberto de sangue, com as quatro chagas dos cravos e a da lança.  Estas cinco chagas abertas são como outras cinco bocas que estão pedindo amor como explica Santo Agostinho: "Grava, Senhor, as tuas chagas no meu coração, para que me sirvam de livro, onde eu possa ler a tua dor e o teu amor: a tua dor para suportar por Ti toda a sorte de dores; o teu amor para amar-Te ardentemente e para desprezar pelo teu todos os outros amores." Disse S. Paulo: "O amor de Cristo obriga-nos" (2 Cor. V, 14). E assim comenta São Francisco de Sales: "Verdadeiramente nada move tanto o coração dos homens como o amor... Ora, sabendo nós que Jesus Cristo, nosso verdadeiro Deus, nos amou até sofrer por nós a morte, e morte na cruz, não é isto razão para ter os nossos corações apertados e comprimidos para tirar deles todo o sumo precioso do amor, com uma violência que, quanto mais forte é, mais deleitoso se torna?" Amém!

terça-feira, 23 de julho de 2019

OUTRA QUALIDADE DA CONFISSÃO: SINCERA

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, dia 23º

Confissão sincera é aquela em que não há mentira e nem desculpa.

1. Confissão sem mentira: Uma mentira em matéria leve, dita na confissão, torna-se um falta mais grave, sem todavia ser mortal; mas mentira seria um pecado mortal, se a matéria fosse grave, por exemplo: quem acusasse um pecado mortal que não cometeu, ou negasse um pecado mortal que tivesse cometido e que nunca tivesse confessado, ou negasse o hábito contraído, isto seria enganar em matéria grave o ministro de Deus.

Lemos na vida de S. José de Anchieta, jesuíta e missionário no Brasil, que certa mulher,  de grande virtude na aparência, frequentando os sacramentos, com um exterior humilde e modesto, ocultava sob essa aparência enganadora hábitos criminosos. Por sua hipocrisia, tinha ganho a estima de toda a cidade e dos seus diretores. Ora, um dia, não encontrando o seu confessor ordinário, procurou o Padre José de Anchieta. Este, sem dúvida inspirado por Deus, mandou-lhe dizer que se recusava a confessá-la. Como houvesse admiração, disse: "Esta mulher dá-se a um trabalho inútil". Com efeito, logo sua vida infame se tornou pública, e, por um justo castigo de Deus, ela não tardou a morrer com todos os sinais de condenação.

2. Confissão sem desculpa: No tribunal da penitência, o pecador deve ser o acusador de si mesmo: acusador e não advogado de defesa. Quem se acusa sinceramente, sem atenuar as suas faltas, obterá delas o perdão, e receberá de Deus maior abundância de misericórdia. O duque do Osuna, vice-rei de Nápoles, estando um dia em uma galera, pôs-se a interrogar a cada um dos forçados, sobre o crime que tinha cometido. Todos responderam que eram inocentes, exceto um, que confessou merecer um grande castigo. O duque disse então a este último: "Pois, então, não é este o teu lugar: um celerado, como tu, no meio de todos estes inocentes!" Em seguida, mandou pô-lo em liberdade. Deus perdoa mais liberalmente ao penitente que se reconhece culpado, e não procura desculpar-se.

"Quantos não há, diz o teólogo Perriens, que se confessam mal! Alguns dizem ao confessor o pouco bem que fazem, e não falam dos seus pecados: 'Padre, eu ouço a missa todos os dias, recito o terço, não blasfemo, não juro, não roubo ...' Pois, bem! para que dizeis isto? é para que o confessor vos louve? Os vossos pecados é que deveis acusar. Examinai-vos, e encontrareis mil, aos quais deveis remediar: maledicências, palavras desonestas, mentiras, imprecações, aversões, pensamentos desonestos ... Outros não fazem senão desculpar os seus pecados, e parecem advogar a sua causa junto do confessor, por exemplo: 'Padre, eu blasfemo, porque tenho um superior insuportável. Tive ódio a uma vizinha, porque ela falou mal de mim'. De que serve, continua Perriens, semelhante confissão? que pretendeis? Quereis que o confessor aprove os vossos pecados? Escutai o que diz S. Gregório: 'Se vos desculpais, Deus vos acusará; e, se vos acusais, ele vos desculpará'.

Nosso Senhor, numa aparição a Santa Maria M. de Pazzi, queixou-se daqueles que, na confissão, se desculpam dos seus pecados, e os lançam sobre outros.

Se o(a) penitente diz assim: Tal pessoa deu-me ocasião; ou, fulano tentou-me. Confessar-se assim não é senão ajuntar novos pecados; pois, para desculpar as próprias faltas, atacam a reputação do próximo.

Já ouvi contar o seguinte episódio (contado naturalmente pela culpada): Uma mulher que, para desculpar os seus pecados, relatou todo o mal que sabia do marido:   -  Pois bem! diz-lhe o confessor por fim: por vossos pecados, recitarás uma Salve Rainha; e pelos do teu marido jejuarás durante um mês.  - Mas, perguntou a penitente, como sou eu obrigada a fazer penitência pelos pecados do meu marido?  -  E vós, como viestes, respondeu o confessor, acusar os pecados do teu marido, dizendo todo o mal que ele tem feito, para desculpar os teus próprios pecados? Diz o provérbio italiano: "Si non è vero, è bene trovato".

Caríssimos, devemos contar os nossos pecados e não falar dos pecados alheios. O penitente, sendo humilde, nunca vai procurar se desculpar. Pensa sempre assim: sou eu mesmo que, por minha própria maldade e fraqueza, quis consentir em ofender a Deus.

Agora, faz-se necessário aqui uma observação: O penitente, deve algumas vezes descobrir a falta do próximo, para fazer conhecer ao confessor, seja a espécie do pecado de que se acusa, seja o perigo em que se acha, afim de que ele possa julgar o que tem a fazer. Se, neste caso, a pessoa que se confessa, puder se dirigir a um confessor que não conheça a pessoa em questão, então deve procurar este confessor. Mas, se for difícil em mudar de confessor, ou se a pessoa julga que o seu  confessor ordinário, conhecendo melhor a sua consciência, está no caso de lhe dar conselhos acertados, não está  obrigada a procurar um outro. No entanto, a pessoa deve ter o cuidado em encobrir o seu cúmplice o melhor possível. Basta, por exemplo, designar o seu estado: dizer se é uma pessoa casada ou não, ou ligada por voto de castidade, sem pronunciar o seu nome.


Outra coisa: é pura perda de tempo dizer assim na confissão: "Eu me acuso dos sete pecados capitais, dos cinco sentidos, dos dez mandamentos de Deus". Vale mais declarar ao confessor uma falta que há muito vens cometendo, sem dela te corrigires.  Devemos confessar as faltas de que nos queremos corrigir. Pois, de que serviria a pessoa se acusar de todas as maledicências, de todas as mentiras, de todas as imprecações, não querendo desfazer-se destes vícios? Seria mais uma zombaria, um abuso do sagrado tribunal da penitência. Caríssimos, a pessoa deve ter o cuidado quando se confessar de tais faltas, ainda que elas sejam veniais, em formar um bom propósito de não mais recair nelas. 

segunda-feira, 22 de julho de 2019

A CONFISSÃO DEVE SER INTEIRA

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, dia 22º

Se o pecador não se confessar dos pecados mortais de que tem lembrança, não recebe o perdão. Falo dos pecados lembrados, porque, esquecendo involuntariamente um pecado, desde que a pessoa tenha um arrependimento geral de todas as ofensas feitas a Deus, este pecado esquecido será perdoado; mas, se a pessoa se lembrar dele depois, deve então confessá-lo.

No caso, porém, de a pessoa deixar voluntariamente de declarar um pecado mortal, então deve acusar-se desta omissão, e renovar além disso a confissão de todos os outros pecados já declarados; pois, a confissão foi nula e sacrílega.

Santa Teresa d'Ávila, que vira o inferno, não deixava de repetir aos pregadores: "Pregai, pregai contra as más confissões; pois, é pelas más confissões que a maior parte dos cristãos se condena".

Caríssimos, é, na verdade, vergonhoso cometer o pecado, mas não é vergonhoso livrar-se dele pela confissão. Aqui podem-se aplicar as palavras das Sagradas Escrituras: "Há  vergonha que leva ao pecado, e há vergonha que traz consigo glória e graça" (Eclesiástico, IV, 25). Devemos fugir da vergonha que nos torna inimigos de Deus pelo pecado, mas não da que, pela confissão do pecado cometido, alcança a graça de Deus e a glória do céu.

Que vergonha houve para os santos convertidos e penitentes, quando fizeram a confissão de seus grandes e inúmeros pecados? Assim: Santo Agostinho, Santa Maria do Egito, Santa Margarida de Cortona, etc.? Foi pelas suas confissões que adquiriram o céu, onde agora gozam de Deus. Quando Santo Agostinho se converteu, não contente de confessar os seus pecados, ele os consignou em um livro, para os tornar conhecidos de todo o mundo.

Santo Antônio de Lisboa (de Pádua) conta que um bispo viu um dia o demônio ao lado de uma mulher que se dispunha à confissão, e lhe perguntou o que fazia ali. O espírito maligno respondeu: "Estou restituindo o que roubei; quando tentei esta mulher para pecar, tirei-lhe a vergonha; agora, lha restituo, a fim de que não tenha coragem de confessar o pecado". S. João Crisóstomo diz o seguinte: "Deus deu a vergonha para o pecado, e a confiança à confissão. O demônio faz tudo ao contrário: liga ao pecado a confiança, e à confissão a vergonha". 


Cuidado com o demônio mudo, muito cuidado com ele! Faz como o lobo: este toma a ovelha pelo pescoço, para que ela não possa gritar; e, segurando-a assim, a arrasta e a devora. Do mesmo modo age o demônio com certas almas: toma-as pela garganta, impedindo-as de declarar o seu pecado. e, por este meio, leva-as para o inferno. 

domingo, 21 de julho de 2019

OCASIÃO NECESSÁRIA E ABSOLVIÇÃO


LEITURA ESPIRITUAL, dia 21º

Primeiramente quero lembrar que certas ocasiões, remotas para muitos, serão próximas ou quase próximas para aqueles que são mais inclinados ou mais habituados a algum vício, principalmente à impureza; vício este, que como diz Santo Tomás de Aquino, é de grande aderência. Se não afastam essas ocasiões, recairão sempre nas mesmas desordens.

Mas, dirá alguém, não me é possível separar-me dessa pessoa, não deixar aquela casa, sem ter com isso um grande prejuízo. Neste caso esta pessoa quer dizer que a sua ocasião não é voluntária, mas NECESSÁRIA. Dada a fraqueza humana, sobretudo nesta matéria de castidade, é evidente que o confessor não pode acreditar assim tão facilmente. Mas em casos indubitavelmente constatados, como agir? A pessoa que realmente se achar numa ocasião necessária,  deve empregar dois meios para transformar a ocasião próxima em remota, e  são: 1). oração, pedindo muito a Deus a fortaleza para não cair, e 2) evitar toda familiaridade com a pessoa com quem pecava. O confessor deve diferir a absolvição, afim de que o (a) penitente se aplique a fazer uso destes dois meios que consistem em se recomendar frequentemente a Deus e a evitar a familiaridade. É preciso que desde a manhã, ao levantar-se renove o bom propósito de não mais pecar, e suplique ao Senhor, não só de manhã mas ainda várias vezes no dia, diante do Santíssimo Sacramento, ante o crucifixo, ou a imagem da santa Virgem, a graça de não recair.

E que significa evitar toda familiaridade? Primeiro, nunca ficar a sós com a pessoa que foi cúmplice no pecado,  nunca lhe falar senão em caso de necessidade, e, apresentado-se a necessidade não o fazer senão com pesar e o estritamente necessário. Tornamos a frisar: ambos, devem passar algum tempo, e não muito breve, sem receber os sacramentos da penitência e da comunhão.

E perguntamos: Se, apesar de todos estes meios, os penitentes recaírem sempre em seus pecados, que remédio restaria para eles? Então o único é o que o divino Mestre prescreveu no Evangelho: Se o vosso olho vos escandaliza, arrancai-o e lançai-o longe de vós. Vale mais perder o vosso olho do que conservá-lo e ir para o inferno. Assim, em um tal caso, é preciso resolver-se absolutamente, ou a afastar a todo preço a ocasião, ou a sujeitar-se à eterna condenação.


E, caríssimos, hoje muitos dirão que isto é falta de misericórdia, é uma interpretação rigorista dos Evangelhos. Respondemos que as palavras de Jesus foram sempre assim interpretadas pelos Santos Padres da Igreja. E assim, devemos dizer que agir de modo diverso é monstruosa falta de caridade. Porque podemos perder tudo neste mundo, mas nunca podemos perder a nossa alma.  É bom e salutar meditarmos mais na vida dos santos mártires. Pedir uma fé mais viva e um amor mais ardente a Nosso Senhor. Amém!

sábado, 20 de julho de 2019

OCASIÃO PRÓXIMA VOLUNTÁRIA E ABSOLVIÇÃO

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, dia 20º

Como já vimos anteriormente em outro artigo, todos os teólogos tradicionalistas concordam em que o mesmo preceito que nos proíbe pecar nos proíbe também de nos expor à ocasião próxima voluntária. Daí conclui-se que aqueles que estão na ocasião próxima voluntária não podem ser absolvidos, a menos que se proponham firmemente a fugir destas ocasiões; pois, só o fato de se exporem a elas é para todos um pecado grave, mesmo quando lhes acontecesse por vezes não sucumbir.

Quando a ocasião voluntária está atualmente presente, como ensina São Carlos Borromeu, o penitente não pode ser absolvido antes de ter afastado a ocasião; pois, sendo o afastamento de uma tal ocasião um ato que lhe custa muito, se o penitente não o executa antes de receber a absolvição, dificilmente se resolverá a isso depois de a ter recebido.

Com muito maior razão não poderia ser absolvido aquele que se recusasse a afastar a ocasião, prometendo apenas não mais recair no pecado.  Uma comparação: é possível alguém colocar uma estopa no fogo e ela não se queimar? Assim, como pode alguém ter a confiança de evitar o pecado, permanecendo na ocasião? E isso sobretudo em se tratando de ocasião de pecados contra a castidade com outrem. Na verdade,  a mulher é estopa, o homem fogo, e o demônio o soprador e atiçador.  Cabe aqui aplicarmos a palavra do próprio Espírito Santo: "Vossa fortaleza será como uma mecha de estopa, e a vossa obra como uma faísca; uma e outra se queimarão ao mesmo tempo e não haverá quem as apague" (Isaías, I, 31).

Um sacerdote ao exorcizar um possesso, obrigou o demônio a dizer qual de todos os sermões lhe desagradava mais, e confessou: "O sermão sobre ocasião". Contanto que a ocasião permaneça, pouco importa ao demônio que se façam bons propósitos, promessas, juramentos e mesmo muitas penitências; enquanto não se afastar a ocasião, o pecado permanecerá. A penitência que indica o verdadeiro arrependimento é justamente o fugir da ocasião próxima. Por exemplo: aquele e aquela que vivem em adultério, só podem ser absolvidos si se separarem de fato, não só de leito, mas também de casa. E para comungar exige-se um certo tempo que seja suficiente para todo mundo ver que realmente se converteram. Sem isto, dar a comunhão, seria motivo de escândalo, e, portanto, um enorme prejuízo para as almas.

A ocasião, principalmente em matéria sensual, é como que um véu que se tem ante os olhos, e que não mais permite ver nem Deus, nem inferno, nem paraíso. Enfim, a ocasião cega o homem; ora, quando cego, como poderá distinguir o caminho do céu? Tomará o caminho do inferno, sem saber para onde vai. É preciso, pois, que aquele que está em ocasião de pecar se esforce por sair dela; de outro modo, ficará sempre no pecado. Alguém dirá: ninguém pode ir para o inferno sem saber que está indo. Resposta: primeiro para os modernistas que procuram tranquilizar as consciências no pecado, devem ficar sabendo que isto pode enganar, mas não salva, porque o demônio é astuto. Que faz ele: leva a pessoa a encontrar argumentos facilmente com a cumplicidade das pessoas da Igreja, leva-a achar até santo aquilo que lhe é agradável à natureza. Mas o demônio tira esta venda dos olhos do moribundo e tenta-o ao desespero. E muitas almas podem se condenar por isso. Só a verdade é que salva. A mentira e o erro são  obras do demônio e só podem levar à condenação.  


sexta-feira, 19 de julho de 2019

INSTITUIÇÃO DIVINA DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA


LEITURA ESPIRITUAL  MEDITADA, dia 19º

Como rezamos no ato de Contrição: "Senhor meu, Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro...", sabemos que o Messias, o Salvador é o Filho de Deus feito Homem. Foi sempre Deus porque Deus não teve princípio, existiu desde todo sempre, e nunca deixará de existir. Fez-Se Homem, sem deixar, portanto, de ser Deus. E assim, Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Pois bem, todos os sacramentos foram instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus feito Homem. Entre os sete Sacramentos está o da Penitência ou Confissão. O Sacramento da Penitência é, portanto de instituição divina, e não uma coisa criada por um simples homem. Daí devemos dizer que a Confissão é divina. E para demonstrar esta verdade basta-nos consultar o Santo Evangelho, a Tradição e podemos também dar argumentos de razão a favor de sua conveniência.

1. O EVANGELHO:

 O Evangelho atesta em primeiro lugar que Jesus Cristo tem o poder de perdoar os pecados. S. João Batista mostra Jesus ao povo e diz: "Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira os pecados do mundo" (S. João, I, 29). Lemos também no Evangelho que um dia apresentaram a Jesus um paralítico. O Salvador, querendo provar a sua divindade, disse: Teus pecados são-te perdoados. Então os escribas e os fariseus murmuraram entre si dizendo: "quem pode perdoar os pecados senão Deus?" Mas Jesus Cristo, conhecendo seus pensamentos lhes disse: "Que estais vós a pensar nos vossos corações? Que coisa é menos difícil dizer: São-te perdoados os pecados, ou dizer: Levanta-te e caminha? Pois, para que saibais que o Filho do homem tem poder sobre a terra de perdoar pecados, (disse ao paralítico): Eu te digo: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. Levantando-se logo em presença deles, tomou o leito em que jazia e foi para sua casa, glorificando a Deus" (S. Lucas, V, 20 a 25).


 Realmente, trata-se de um poder divino, ou seja, só Deus pode perdoar pecados. Mas Deus em sua infinita misericórdia, delegou este poder aos homens, não a todos mas àqueles que Ele escolheu e escolherá até o fim do mundo para fazer as suas vezes, isto é, para serem seus instrumentos, dispensadores deste poder: são primeiramente os Apóstolos e depois seus sucessores. Este grande poder de perdoar os pecados Jesus Cristo prometera primeiramente a São Pedro quando disse-lhe: Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus: tudo que ligares na terra será ligado no Céu e tudo que desligares na terra será desligado no Céu" (S. Mateus, XVI, 19). Depois Jesus Cristo fez a mesma promessa a todos os Apóstolos reunidos: "Tudo  que ligares na terra, será ligado no Céu, e tudo que desligardes na terra será desligado no Céu" (S. Mateus, XVII, 18). Por estas memoráveis palavras o Divino Redentor prometeu a seus Apóstolos comunicar-lhes o poder de abrir e fechar o Céu. Ora, a porta do Céu não se fecha senão pelo pecado e não se abre senão pelo perdão dos pecados.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

A INSTITUIÇÃO DIVINA DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA PROVADA PELA TRADIÇÃO

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, dia 18º

Antes de expor os argumentos da Tradição é sempre útil ver quais são os adversários da tese e refutá-los. Pois bem, como todos sabem, os grandes adversários do Sacramento da Penitência são os protestantes. Estes, seguindo Calvino, e também os ímpios modernos ousam dizer que a confissão era desconhecida nos primeiros séculos do Cristianismo. Sustentam que a confissão data dos 4º Concílio de Latrão em 1215, época em que o Papa Inocêncio III tê-la-ia inventado. Caríssimos, isto constitui um grave erro que denota a mais grosseira ignorância, ou, pior ainda, é uma demonstração da mais insolente má fé. Vamos ouvir Santo Afonso: este grande Doutor da Santa Igreja diz que o Papa Inocêncio III, não fez senão determinar o tempo em que a confissão deve ser feita pelos fiéis, isto é, ao menos uma vez por ano, como já haviam prescrevido os papas Inocêncio I (+ 417), Leão I (+ 474), Zeferino (+218). Além disso, sabemos que a Tradição e a História da Igreja se apoiam no Santo Evangelho de S. João para provar que a confissão foi instituída por Jesus Cristo. Suponhamos os Sacramento da Penitência como a Igreja o administra, realmente estabelecido por Nosso Senhor Jesus Cristo: Eis aqui os fatos que se devem produzir e dos quais a História Eclesiástica dá, sem dúvida, testemunho; os Padres da Igreja falarão da Confissão em seus escritos, e dirão que ela vem de Jesus Cristo; hão de afirmar que é necessária à salvação, que deve ser feita com sinceridade e com contrição; que só os sacerdotes podem absolver, etc. Os Concílios traçarão as regras aos confessores, para remediar os abusos que nascerão em diversas épocas da história. Conservar-se-ão muitos nomes de confessores que prestaram o socorro de seu ministério a personagens históricos. Talvez se encontre nas mais antigas igrejas o lugar dos tribunais da penitência; enfim, as seitas separadas da Igreja de Jesus Cristo, desde os primeiros séculos, terão provavelmente conservado alguns vestígios dessa salutar instituição.

Consultando as antiguidades eclesiásticas obteremos precisamente estes resultados que acabamos de enumerar. Até historiadores protestantes, devendo ser sinceros diante da evidência, declararam que a Confissão entre os Católicos já era exercida nos quatro primeiros séculos. Por exemplo, o historiador protestante Gibbon diz: "o homem instruído não pode resistir ao peso da evidência histórica que estabeleceu a Confissão como um dos principais pontos da doutrina católica em todo o período dos quatro primeiros séculos".


Entre outras seitas heréticas encontramos também quem dá testemunho histórico da existência da Confissão já nos primeiros séculos da Igreja Católica. Por exemplo: os eutiquianos, os jacobitas, os armênios, os nestorianos, em um palavra, as Seitas do Oriente, separadas da Igreja Romana desde o 4º e o 5º séculos, praticavam a confissão como necessária. Muitos sábios autores atestam que se vêem nas catacumbas de Roma os confessionários próximos aos altares, cujas pinturas, semelhantes às de Pompéia, remontam aos primeiros séculos do Cristianismo.