sexta-feira, 29 de junho de 2018

PEDRO, A PEDRA

PEDRO, A PEDRA  

                                                                                                                                                                 Dom Fernando Arêas Rifan*

            Depois de amanhã, e também no domingo próximo, celebraremos a solenidade de São Pedro, apóstolo escolhido por Jesus para ser seu vigário aqui na terra (“vigário”, o que faz as vezes de outro), seu representante e chefe da sua Igreja. São Pedro era pescador do lago de Genesaré ou Mar da Galiléia, junto com seu irmão, André, e seus amigos João e Tiago. Foi ali que Jesus o chamou: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. Eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram” (Mt 4, 19-20).
            Pedro se chamava Simão. Jesus lhe mudou o nome, significando sua missão, como é habitual nas Escrituras: “Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas! (que quer dizer Pedro - pedra)” (Jo 1, 42). Quando Simão fez a profissão de Fé na divindade de Jesus, este lhe disse: “Não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (a Igreja): tudo o que ligares na terra será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 13-19).
            Corajoso e com imenso amor pelo Senhor, sentiu também sua fraqueza humana, na ocasião da prisão de Jesus, na casa de Caifás, ao negar três vezes que o conhecia. “Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32).  E Pedro, depois de ter chorado seu pecado, foi feito por Jesus o Pastor da sua Igreja. 
           São Pedro, fraco por ele mesmo, mas forte pela força que lhe deu Jesus, representa bem a Igreja de Cristo. Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica, edificada por Jesus Cristo sobre a pedra que é Pedro... Cremos que a Igreja, fundada por Cristo e pela qual Ele orou, é indefectivelmente una, na fé, no culto e no vínculo da comunhão hierárquica. Ela é santa, apesar de incluir pecadores no seu seio; pois em si mesma não goza de outra vida senão a vida da graça. Se realmente seus membros se alimentam dessa vida, se santificam; se dela se afastam, contraem pecados e impurezas espirituais, que impedem o brilho e a difusão de sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por esses pecados, tendo o poder de livrar deles a seus filhos, pelo Sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo” (Credo do Povo de Deus).
             “Enquanto Cristo ‘santo, inocente, imaculado’, não conheceu o pecado, e veio expiar unicamente os pecados do povo, a Igreja, que reúne em seu seio os pecadores, é ao mesmo tempo santa, e sempre necessitada de purificação.... A Igreja continua o seu peregrinar entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, anunciando a paixão e a morte do Senhor, até que ele venha. No poder do Senhor ressuscitado encontra a força para vencer, na paciência e na caridade, as próprias aflições e dificuldades, internas e exteriores, e para revelar ao mundo, com fidelidade, embora entre sombras, o mistério de Cristo, até que no fim dos tempos ele se manifeste na plenitude de sua luz” (Lumen Gentium, 8).  

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

sábado, 23 de junho de 2018

RESSURREIÇÃO DA CARNE



Com a graça de Deus, veremos que havemos de ressuscitar, não com um corpo etéreo ou outro qualquer, mas com a mesma carne que agora temos e da qual sairá a alma na hora da morte.

A fé na ressurreição da carne neste sentido supra explicado, existia, segundo o testemunho da Sagrada Escritura, já no Antigo Testamento: "Eu sei, diz Jó, que o Redentor vive e que no último dia ressurgirei da terra, serei novamente revestido da minha pele, e na minha própria carne verei meu Deus" (Jó XIX, 25 e 26). Também o Espírito Santo louva a Judas Macabeu, quando, fazendo menção da coleta que tinha feito e oferecido  ao Templo para o sacrifício pelos que tinham caído no campo da batalha: "Obra bela e santa, inspirada pela crença na ressurreição, porque se ele não esperasse que os mortos haviam de ressuscitar, seria uma coisa supérflua e vã orar pelos defuntos" (2 Macabeus XII, 43 e 44). "A multidão dos que dormem no pó da terra, acordarão uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, que terão sempre diante dos olhos" (Daniel XII, 2).

Esta doutrina da ressurreição foi ensinada muitas vezes sobretudo no Novo Testamento. Primeiramente pelo próprio Jesus e de uma maneira a mais clara possível: "Virá tempo em que todos os que se encontram nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que tiverem feito obras boas, sairão para a ressurreição da vida; mas os que tiverem feito obras más, sairão ressuscitados para a condenação" (S. João V, 28 e 29). Refutando os saduceus, Jesus deduzia da ressurreição dos corpos de que as almas eram imortais. Pois tendo-lhe os saduceus proposto uma questão capciosa com respeito à ressurreição dos mortos, para O poderem acusar de alguma contradição ou absurdo na doutrina, disse-lhes: "Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus falou, dizendo-vos: eu sou o Deus de Abraão, de Isaac e Jacó? Não é Deus dos mortos, mas dos vivos" (S. Mat. XXII, 31 e 32). É como se dissesse: Vós, saduceus, negais a ressurreição dos mortos, porque não credes na imortalidade das almas. Pois, a alma é imortal. E se morrera com o corpo então o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, que morreram segundo o corpo, seria Deus dos mortos e não, como ele é, Deus dos vivos. Portanto, se a alma vive depois da morte corporal, segue-se que ela se reunirá um dia com o corpo que ela animou, e que os mortos ressuscitarão.

Jesus ressuscitou a Lázaro depois de quatro dias já sepultado, e, portanto em estado de putrefação. Para Deus nada é impossível. Como será impossível à Onipotência divina ressuscitar os nossos corpos convertidos em pó e cinza, sendo Ele quem os formou do nada? É porventura o mistério da ressurreição o único deste gênero que se apresenta à nossa vista? Olhai para o grão que cai na terra e se corrompe. O que sucede? Uma planta viva nasce da semente corrompida, e depois dá flores e frutos.

A mesma doutrina ensinam os Apóstolos. São Paulo se serviu inclusive desta figura logo acima citada: "Mas dirá alguém: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão? Néscio, o que tu semeias não toma vida, se primeiro não morre. Quando tu semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas um simples grão, como, por exemplo, de trigo ou de qualquer outra coisa" (1 Cor. XV, 35-37). Com isto o Apóstolo significa precisamente que aquela corrupção e dissolução do corpo é uma condição prévia e indispensável para a ressurreição, assim como  a corrupção da semente para dela brotar a planta.

 São Paulo falou da ressurreição nos seus discursos públicos diante do Grande-Conselho (Atos XIII), diante do governador Félix (Atos XXIV); nas suas epístolas: "Se os mortos não ressuscitam, então Jesus Cristo não ressuscitou" (1 Cor. XV, 16). "Porém, Jesus Cristo ressuscitou de entre os mortos com o seu próprio corpo; logo também vós ressuscitareis como Ele. Pois, aquele que ressuscitou de entre os mortos também ressuscitará os vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vós" (Rom. VIII, 11).

Terminemos com mais um símbolo belíssimo da ressurreição: O bicho da seda, sendo verme disforme e quase asqueroso, fabrica o seu sepulcro, descansa nele largos meses, e depois rompe o seu invólucro, e levanta-se brilhante mariposa que se eleva nos ares. Porventura Deus, autor sapientíssimo da natureza, nos põe em vão diante dos olhos esta imagem viva da ressurreição? Com certeza que não. Ressuscitaremos. A fé no-lo ensina, e até a natureza visível no-lo recorda. Caríssimos, ressuscitaremos! Amém!


sexta-feira, 22 de junho de 2018

A REENCARNAÇÃO É UMA TEORIA ESPÍRITA SEM NENHUMA BASE



Para os espíritas não morremos uma só vez, porque depois da morte nos encarnamos de novo e tornamos a viver. É bom que todos saibam que este é, por assim dizer, "O DOGMA" do espiritismo; e assim o chamava Allan Kardec. Em consequência desta teoria mentirosa (porque sem nenhuma base bíblica, filosófica e científica), seguem-se outras teorias mentirosas do Espiritismo: não existem os juízos particular e universal, não existem nem purgatório, nem inferno, nem céu. O espírita fica insensível diante da morte.  
Quanto a contradição com as Sagradas Escrituras, basta citarmos um texto e mesmo assim para os cristãos, porque o Espiritismo também não acredita na Bíblia. Aliás, a doutrina espírita é a negação completa e total da Doutrina Cristã. Qual é este texto das Sagradas Escrituras que destrói totalmente a possibilidade de reencarnação? É este de S. Paulo: "Foi decretado que os homens morram uma só vez, e que depois disso se siga o juízo" (Hebreus IX, 27). Logo, depois da morte, sentença imediata, prêmio ou castigo. Na verdade, o Espiritismo transforma fantasias em dogmas de fé, e assim destroem os verdadeiros dogmas da fé.
Quanto ao fundamento filosófico para a reencarnação, também não existe. É mais ou menos assim: existe Saci-Pererê? Prá quem acredita, existe; prá quem não acredita, não existe. Assim há espíritas que não acreditam na reencarnação; para eles não existe. Há outros que acreditam: para estes existe. Que belo argumento filosófico! Allan-Kardec dizia: "Generalidade e concordância no ensino, esse é o caráter essencial" da doutrina espírita. Ora, em matéria de reencarnação não há concordância. Os espíritas latinos, com Allan-Kardec è frente, aceitam a reencarnação, porque "os espíritos superiores revelaram". Já os anglo-saxões, com Staidon Moses, D. Home condenam a reencarnação, porque "os espíritos superiores revelaram". Portanto, a base filosófica do Espiritismo não passa de balela, contradita pelos próprios espíritas.
E quanto à base científica? Vejam o que dizia Allan-Kardec: "O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência..." e "o Espiritismo  -  em suma  -  é uma sociedade científica, como tantas outras, que se ocupa de aprofundar os diferentes pontos da ciência espírita". Mas, nada mais falso! Que é ciência? É o conhecimento metódico de uma coisa, pelas suas causas. O que diferencia conhecimentos científicos de conhecimentos vulgares, não científicos, é o método. O método leva à certeza. Porque não fica no achismo, mas tudo é comprovado metodicamente pelas experiências. Portanto, sem certeza demonstrada metodicamente não há ciência. Só é científico o que é demonstrado metodicamente.
Mas, que significam para os espíritas estes "espíritos superiores". O Espiritismo engana a muitos com " a comunicação com os espíritas". Os intermediários são os MÉDIUNS. Mas o próprio Allan-Kardec fala em médiuns trapaceiros, interesseiros, ignorantes, velhacos, mistificadores...
Agora, não poderia deixar de falar sobre o papel do demônio no Espiritismo. Quando em 1975, havia há poucos dias tomado posse de minha primeira paróquia (Paróquia da Igreja de Nossa Senhora do Terço em Campos, RJ, apareceu um senhor estranho e pediu-me uma conversa em particular. Perguntei se era confissão e ele disse que não. Disse-me o tal homem: Desde de novo que pertenço ao Espiritismo, e sei de tudo a respeito, mas por fim o meu chefão, pediu que eu entregasse minha alma ao demônio e, só assim, poderia conseguir o máximo. E perguntou-me: que você acha? Demorei muito tempo explicando a doutrina católica, a única verdadeira. Mas despediu-se e nunca mais o vi. Qual foi sua intenção não sei. Mas Deus permitiu isso no início de meu ministério, e com certeza muito me incentivou para lutar contra o Espiritismo que já naquela época grassava terrivelmente em Campos. Contei esta passagem para meu pai e ele disse-me que iria contar o que se passou com meu avô: "Certo dia,  -   disse-me meu pai  -   um grande amigo de papai convidou-o para ir á uma sessão espírita. Ele disse que sendo católico, não iria, porque o espiritismo tem ajuda do demônio. Mas tanto o amigo insistiu, dizendo que ele também era católico e que só queria um companheiro para ver como funcionava aquilo. Por fim meu pai consentiu, mas que ele ficaria de lado rezando o seu santo terço. Assim foram. Chegando lá pela meia noite, estando todos na sala, o meu pai rezando discretamente o seu terço, eis que chegam os médiuns e começam a invocar alguém com nome diferente. Mas ficaram todos parados durante algum tempo, porque nada diferente aconteceu. Então o dono do Centro Espírita, voltou-se para os assistentes e perguntou se ali havia alguém descrente de seu trabalho. Meu pai, respondeu que era ele, que estava rezando o Terço. O homem chamou-o lá fora e disse-lhe: Filipe Murucci (era o nome de meu avô), não diga nada prá ninguém, mas, na verdade, isto aqui é um meio de vida, com a ajuda do demônio. Mas hoje falhou, porque você estava rezando o Terço, e, em verdade, sei que a Igreja verdadeira é a Católica".
Caríssimos, o que reina no Espiritismo é a fraude, mas não podemos negar que, às vezes, há intervenção do demônio, que, como todos sabem, é o pai da mentira, da trapaça. Aliás o Espiritismo teve inícios em trapaças numa família de sobrenome Fox, como depois veremos. Realmente, há certos fatos no Espiritismo que só se explicam por intervenção do demônio. Não pode ser Deus, nem Anjo bom, nem alma. As almas dos  defuntos estarão ou no purgatório, ou no céu, ou no inferno. Mas estão sob o domínio de Deus como os Anjos bons. Elas e os Anjos só poderiam aparecer ou intervir com permissão especial ou desígnios de Deus, como aconteceu com o Rei Saul (Cf. 1 Samuel XXVIII  e neste caso, de acordo com a maioria dos exegetas, Samuel apareceu realmente, não porém, por força das palavras da necromante (a qual ficou aterrorizada), mas por obra de Deus, que quis anunciar por boca de Samuel o grande castigo. Na verdade, Deus proíbe a necromancia como se lê em Levítico XIX, 31 e XX, 6).  Ora, Deus não poderá manifestar-se ao permitir que os Anjos bons ou almas se manifestem de algum modo em sessão espírita. Se Deus se manifestasse, ou permitisse seus Anjos bons ou almas se imiscuírem nas sessões espíritas, Deus estaria favorecendo a mentira e a trapaça; o que seria blasfêmia afirmá-lo. Trapaça não é de Deus mas do demônio. São Paulo escreve umas coisas na Bíblia que parecem estar se dando no Espiritismo: "Aparecerá aquele tal na virtude de Satanás, com toda sorte de portentos e prodígios, procurando a todo transe levar à iniquidade os que se perdem por não abraçarem o amor à verdade, que os poderia salvar. É por isso que Deus lhes manda o poder da sedução, para darem fé à mentira e serem entregues ao juízo todos os que não deram crédito à verdade, mas antes se comprazeram na iniquidade" (II Tess. II, 9 -14).
Poderiam os espíritas dizer: nem tudo é demônio, mas há mensagens boas, de amor e fraternidade... Resposta: nem tudo pode ser demônio, é sobretudo o médium que se engana e engana os outros. E mesmo o demônio, como diz a Bíblia, "se transforma em anjo de luz" (II Cor. XI, 14), para melhor enganar.
Para terminar: Em 1959, quando eu estudava em Tombos, MG. o nosso Bispo D. José Eugênio Corrêa, da Diocese de Caratinga, escreveu um livrinho "O ESPIRITISMO".  No c. 2 . O ESPIRITISMO NASCEU DE UMA TRAPAÇA diz o seguinte: "Sob o título de um grande acontecimento na história do Espiritismo, "La Revue Spirite", uma das principais e mais antigas do Espiritismo, fundada pelo próprio Allan Kardec em 1858, resume uma solenidade de quatro dias em Hydesville, por motivo da inauguração de um monumento comemorativo das primeiras manifestações espíritas, que ali se deram em 1848. A ideia do monumento veio do Congresso Espírita de Paris, realizado em 1925. Entre as cerimônias oficiais realizadas em Hydesville, conta-se uma peregrinação espírita que ali foi colocar uma lápide de granito onde se lê: "Aqui nasceu o movimento espírita moderno. Neste lugar em Hydesville estava a casa de habitação das irmãs Fox, cuja comunicação mediúnica com o mundo espírita foi estabelecida a 31 de março de 1848".
A família Fox compunha-se de Dr. João, Margarida sua esposa, e as filhas Margarida e Catarina. Os filhos, Davi e Ana Lah, moravam fora. A casa dos Fox era tida por mal assombrada.
A mãe começa a ouvir ruídos estranhos, que pareciam vir do quarto das meninas, com a particularidade de só se produzirem, quando elas estavam acordadas. A mãe ia ficando muito alarmada, enquanto que as meninas não se incomodavam.
A 31 de março de 1848, dia célebre para o Espiritismo, a mais moça da meninas teve a idéia de dizer estas palavras: "Ouve tu, pés de cabra, como eu faço". E batia com os dedos da mão. E golpes misteriosos repetiam o que ela fazia. Isto na presença da mãe, enquanto que as meninas estavam na cama, cuja cabeceira e  pés eram de tábuas de madeira. Note-se, ainda, que a mãe era supersticiosa e medrosa. E as meninas brincalhonas.
Depois a própria mãe pergunta: "Serás um espírito?" Se assim és, dá dois golpes". E os dois golpes se fizeram ouvir. E as experiências se repetiram de diversos modos. E a notícia dos acontecimentos ia-se espalhando.
As irmãs Fox mudaram-se para Rochester e o espírito as acompanha. Veio juntar-se a elas a irmã Lah, espírito prático e interesseiro. Foi ela que se lembrou de atribuir as pancadas aos espíritos do outro mundo.
Depois de quatro meses, mudam-se para Nova Iorque e de lá o incipiente Espiritismo alastrou-se pelo mundo.
Seria mesmo espírito do outro mundo? Nenhuma prova. Ao contrário, os sinais de trapaça são evidentes.
Em fevereiro de 1851, uma comissão de médicos e professores de Buffalo inspecionam tudo, examina as meninas e se pronuncia contra a autenticidade dos fatos.
Em 1888 Margarida revelou ao New York Herald que ela e sua irmã Catarina haviam sido, desde o início, vítimas da Lah. O que faziam eram imitar pancadas com os dedos e responderam elas mesmas para enganar a mãe. Depois, por sugestão de Lah e outras pessoas interessadas, acharam bom o "negócio" e assim mantiveram e alimentaram a mentira. Disse textualmente: "Nossa irmã servia-se de nós nas suas exibições, e nós ganhávamos dinheiro para ela..." (N. Y. Herald, de 24 de dezembro de 1888).
Pouco depois, a 9 de outubro, sua irmã Catarina chagava da Europa e fazia idênticas declarações ao New York, diante de uma multidão de pessoas, entre as quais numerosos espíritas.
Dizem os espíritas que dois meses depois houve uma contra-retratação. Mas, a portas fechadas, perante espíritas, e nenhuma prova. Eles dizem e é só...
Devemos notar que a retratação foi pública, solene e livre, com todas as características da sinceridade. E da contra-retratação nada consta de claro.
Catarina morreu em 1893, vítima de excesso de álcool Margarida fez-se católica (eram antes de família protestante).
Estava desfeita a trapaça. Acontece, porém, que em França, Léon Hippolyte Denizart Rivail  (Allan-Kardec), havia-se feito codificador e doutrinador do espiritismo. Foi ele propriamente o Fundador do Espiritismo como Religião.
Uma ideia em marcha, por muito absurda e ilusória que seja, não volta mais atrás e encontrará sempre adeptos. Como diz a Bíblia: "É infinito o número dos estultos" (Eclesiástico I, 15).

quinta-feira, 7 de junho de 2018

GREVE

GREVE: PALAVRA DA IGREJA 

                                                                                                                                   Dom Fernando Arêas Rifan*

            Por ocasião das recentes greves, sobre a sua legitimidade e devidos limites, há que se recordar aos católicos o que a Igreja ensina a respeito: quando houver conflitos e problemas, a solução normal é a negociação e o diálogo de conciliação; a greve deve ser o último recurso, um meio extremo, que pode ser legítimo e até necessário; mas tem seus limites, que são o bem comum e os serviços essenciais assegurados, além de não dever ser usada para uso político.
           
Ao agirem em prol dos justos direitos dos seus membros, os sindicatos lançam mão também do método da ‘greve’, ou seja, da suspensão do trabalho, como de uma espécie de ultimatum dirigido aos órgãos competentes e, sobretudo, aos fornecedores de trabalho. É um modo de proceder que a doutrina social católica reconhece como legítimo, observadas as devidas condições e nos justos limites. Em relação a isto os trabalhadores deveriam ter assegurado o direito à greve, sem terem de sofrer sanções penais pessoais por nela participarem. Admitindo que se trata de um meio legítimo, deve simultaneamente relevar-se que a greve continua a ser, num certo sentido, um meio extremoNão se pode abusar dele; não se pode abusar dele especialmente para fazer o jogo da política. Além disso, não se pode esquecer nunca que, quando se trata de serviços essenciais para a vida da sociedade, estes devem ficar sempre assegurados,inclusive, se isso for necessário, mediante apropriadas medidas legais. O abuso da greve pode conduzir à paralização da vida socioeconômica; ora isto é contrário às exigências do bem comum da sociedade...” (S. João Paulo II, Encíclica Laborem Exercens, nº 20, 14/9/1981).     
            A sua atividade (dos sindicatos) não está... isenta de dificuldades: pode sobrevir a tentação... de aproveitar uma situação de força, para impor, principalmente mediante a greve - cujo direito, como meio último de defesa permanece, certamente, reconhecido - condições demasiado gravosas para o conjunto da economia ou do corpo social, ou para fazer vingar reivindicações de ordem nitidamente política. Quando se trata de serviços públicos em particular, necessários para a vida cotidiana de toda uma comunidade, dever-se-á saber determinar os limites, para além dos quais o prejuízo causado se torna inadmissível” (B. Paulo VI, Octogesima Adveniens, 14). “Quando... surgem conflitos econômico-sociais, devem fazer-se esforços para que se chegue a uma solução pacífica dos mesmos. Mas ainda que, antes de mais, se deva recorrer ao sincero diálogo entre as partes, todavia a greve pode ainda constituir, mesmo nas atuais circunstâncias, um meio necessário, embora extremo, para defender os próprios direitos e alcançar as justas reivindicações dos trabalhadores. Mas procure-se retomar o mais depressa possível o caminho da negociação e do diálogo da conciliação” (Gaudium et Spes, 68).
        greve é moralmente legítima, quando se apresenta como recurso inevitável, senão mesmo necessário, em vista dum benefício proporcionado. Mas torna-se moralmente inaceitável quando acompanhada de violências, ou ainda quando por feita com objetivos não diretamente ligados às condições de trabalho ou contrários ao bem comum” (Cat da Igreja Cat, nº 2435).

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

terça-feira, 29 de maio de 2018

DESEJO ARDENTE DA COMUNHÃO



Além da fé viva, da humildade e máxime da pureza de coração, tão perfeita quanto nos é possível, disposições estas gerais para a sagrada comunhão, devemos ademais ter um desejo ardente por unirmo-nos a Jesus, já que Ele instituiu a Eucaristia desejando ardentemente se unir a nós.

Caríssimos, assim como a fome dos alimentos materiais indica ordinariamente a boa disposição em que está o corpo para os tomar e aproveitar, assim também um grande desejo de receber a Eucaristia é uma excelente disposição para participar abundantemente de seus benéficos efeitos. Santo Agostinho exprime-o com estas palavras: "Panis iste famem hominis interioris requirit" (Trat. XXVI in Joan.). Traduzido: "O homem interior deve ter fome do pão celestial (para o comer santamente)". Comentando o versículo 11 do Salmo 80: "Abre a tua boca e eu te encherei" o grande Santo Padre da Igreja, S. Jerônimo assim muito bem se exprime: "Quereis receber o alimento do Senhor? Ouvi o que Ele vos diz: Abri a vossa boca, e eu a encherei. Abri a boca do coração, porque recebereis à proporção que a abrirdes. A medida das graças que vos serão dadas, não depende de Mim, mas de vós". Caríssimos meditemos profundamente nestas palavras: Se desejas a Jesus Cristo, se O desejas com todo o ardor de que és capaz, recebê-Lo-ás todo, a Ele e todo o bem que quer fazer. Portanto, nunca jamais aproximemos da mesa eucarística com tibieza, por rotina, quase sem pensar na grandeza e sublimidade do ato que realizamos. Porque Jesus por nosso amor quis se ocultar tão humildemente, não vamos esquecer a sua grandeza e santidade, não O desprezemos nem O tratemos com indiferença. Avivemos a nossa fé e procuremos comungar com a mesma devoção e o mesmo respeito como se víssemos a imagem viva de Jesus na Hóstia em atitude de nos abençoar. Mas, "bem-aventurados os que não viram e creram".

Nunca estamos melhor dispostos a receber as graças deste sacramento, do que quando podemos dizer ao divino Salvador: "Minha alma vos desejou de noite; e despertarei de manhã, para vos buscar com o meu espírito e com o meu coração" "Anima mea desideravit te in nocte, sed et spiritu meo in praecordiis meis de mane vigilabo ad te" (Isaías XXVI, 9). Os primeiros cristãos viviam pela Eucaristia, e por isso, "era como se fossem um só coração e uma só alma". E eles chamavam à Eucaristia "DESIDERATA", porque ela era o centro de todos os seus desejos.

Caríssimos, consideremos duas coisas que contribuem precipuamente para excitar em nós o desejo de comungar: a REFLEXÃO e a MORTIFICAÇÃO. Na verdade, que é o desejo? É um movimento da alma, pelo qual, conhecendo o valor de um bem de que está privado, aspira a possuí-lo. É mister pois refletir sobre os maravilhosos frutos da sacramento dos nossos altares. Uma alma apaixonada pela sua união cada vez mais íntima com Jesus, que é já a santidade, e que conhece a virtude da Eucaristia, seja para destruir em si o pecado até à sua raiz (pois Ela amortece as paixões) seja para a elevar à mais sublime perfeição, arde necessariamente em desejos de A receber. Por esta razão quem não medita nos benefícios da comunhão bem feita, termina comungando sem o desejo ardente, e por conseguinte, pouco fruto tira da comunhão. Continua frio como dantes, embora tenha recebido dentro de si uma fornalha de amor, que é o Coração Eucarístico de Jesus. Coisa triste, lamentável e que, no entanto, não parece ser tão rara assim!!!

Mas ainda aqui é necessário juntar o jejum à oração, isto é, a mortificação dos sentidos à meditação dos bens infinitos, que obtém uma fervorosa comunhão. A procura dos prazeres terrestres diminui as forças da alma, e torna-a menos capaz de desejar os celestes. As alegria sobrenaturais têm pouco atrativo para um coração todo ocupado de gozos puramente humanos; mas se o privam desses gozos, como não poderia viver sem prazer, corre com todas as forças pelo caminho que lhe abrem, mostrando-lhe a doçura que experimentará no banquete eucarístico. Os hebreus deviam cingir os rins para comer o cordeiro pascal; deviam misturar com este alimento alfaces bravas e amargosas: para nos ensinar, com estes símbolos de mortificação, quão conveniente é dispor-nos para a comunhão com os exercícios da penitência.

Diz Deus no Livro do Apocalipse: "Darei ao que vencer um maná escondido" (II, 17). Assim Deus não promete o maná e a sua secreta consolação senão ao vencedor, isto é, ao homem que sabe domar as suas paixões. A Eucaristia é uma fonte de inefáveis delícias, mas para os que dominam a sua sensualidade, e não para os que são escravos dela.

Caríssimos, nada melhor do que terminar estas breves reflexões com as sábias e não menos ardentes palavras de Santo Agostinho: "Ó Senhor aproximar-me-ei com fé da Vossa mesa, participando dela para ser por ela vivificado. Fazei, Senhor, que eu seja inebriado pela abundância da Vossa casa, e dai-me a beber da torrente das Vossas delícias. Porque junto de Vós, está a fonte da minha vida: não fora de Vós, mas ali junto de Vós, está a fonte da vida. Quero beber para viver; não quero atuar por mim, pois posso perder-me, não quero saciar-me no meu coração para não ficar árido; quero antes aproximar a minha boca da fonte onde a água não se esgota. Suprirei as desculpas vãs e mesquinhas e aproximar-me-ei da ceia que me deve fortalecer interiormente. Não me detenha a altivez da soberba: não, não me torne orgulhoso a soberba; nem sequer me detenha a curiosidade ilícita, agastando-me de Vós; não me impeça o deleite carnal de saborear o deleite espiritual. Fazei que eu me aproxime e me fortaleça; deixai que me aproxime embora mendigo, fraco, aleijado e cego. À vossa ceia não vêm os homens ricos e saudáveis que julgam caminhar bem e possuir a agudeza de vista, homens muito presunçosos e por consequência, tanto mais incuráveis quanto mais soberbos. Aproximar-me-ei qual mendigo, porque me convidais Vós que, de rico, Vos fizestes pobre por mim, para que a vossa pobreza enriquecesse a minha mendicidade. Aproximar-me-ei como fraco, porque o médico não é para os que têm saúde senão para os doentes. Aproximar-me-ei como aleijado e Vos direi: 'Dirigi Vós os meus passos pelas Vossas veredas'. Aproximar-me-ei como cego e Vos direi: 'Iluminai os meus olhos, a fim de que eu jamais durma o sono da morte'". Amém!

domingo, 27 de maio de 2018

AS SANTAS DELÍCIAS DA COMUNHÃO BEM FEITA



Quem tem fé viva não pode ficar insensível ao comungar com as devidas disposições, pois, está convicto que recebe o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sabe que permanece em Jesus e Jesus nele, sabe que adquire o penhor da vida eterna, da ressurreição gloriosa no Juízo Final. Estar com Jesus é um doce paraíso, é fonte de consolações espirituais inefáveis.

Ao comungar, ainda que eu não experimente alguma consolação sensível, não é para a minha alma uma grande consolação saber com certeza que Jesus Cristo se dá a mim, e que possuindo-O, possuo o sumo bem, a fonte de todo o bem? Caríssimos, quando o Filho de Deus vem a nós, vem com as mãos cheias de dons, e o coração cheio de amor. Mas ainda que, vindo a nós na comunhão, deixasse no Céu as suas riquezas espirituais e os seus favores, e viesse só, não bastaria Ele para a minha felicidade? Afinal não é Jesus o mais precioso de todos os tesouros? Posso eu ignorar que os gozos e as consolações SENSÍVEIS são um dos menores frutos da comunhão, e que este bom Senhor priva deles muitas vezes os seus mais devotos servos e servas, para os levar a estimar mais os seus dons?

Caríssimos, os santos é que sabem falar sobre isso! Vamos ouvir alguns: "Este pão celeste, dizia S. Cipriano, encerra, à semelhança do maná, todos os gozos imagináveis, e por uma admirável virtude, faz sentir a quem o recebe dignamente aquele gosto que eles desejam, e excede em suavidade todos os outros gostos" (Serm. de Coena Domini). S. Macário afirma que a alma bem disposta acha na comunhão delícias inexplicáveis; que descobre nela riquezas que os olhos não viram nem os ouvidos ouviram" (Hom. IV). S. Boaventura põe nos lábios de Jesus estas palavras: "Ó alma, não tens tu conhecido por experiência, ao receber-Me, que saboreavas o mel com o favo que o contém, a doçura da minha divindade unida ao meu Corpo e Sangue?" Todas as obras dos Santos Padres exprimem os mesmos sentimentos.

E a Sagrada Escritura que é a Palavra de Deus escrita por inspiração do Espírito Santo, que diz à respeito da Eucaristia? Ela dá a entender, pelos símbolos de que se serve quando fala da Eucaristia, quão delicioso é este sagrado alimento para as almas bem dispostas. O próprio Jesus lembra o maná que, segundo as Escrituras Sagradas, era um pão descido do céu e que continha em si todos os gostos. E acrescenta o Divino Mestre que Ele mesmo é o Pão vivo descido do Céu; que sua Carne é verdadeira comida, e o seu Sangue verdadeira bebida e que, quem come a sua Carne e bebe o seu Sangue, permanece n'Ele e Ele no que o recebe. E pode haver maior delícia do que ter Jesus como alimento da nossa alma, e nela permanecendo?! O Divino Mestre quis ressaltar que os judeus que comeram o maná no deserto, morreram apesar disso, mas quem come sua Carne e bebe o seu Sangue não morrerá eternamente. E pode haver delícia maior do que ter a certeza de, neste mundo estar sempre com Jesus e mais ainda, ter a segurança de possuí-lo eternamente no Céu?  S. João Bérchmans dizia ternamente: "Ó meu Salvador, que há, depois da divina comunhão, que possa dar-me cá na terra doçura e contentamento?" 

São Francisco de Sales dizia que é muito avaro aquele a quem Deus não basta. Ao comungarmos com as devidas disposições é certo que Jesus nos dá o seu Corpo em alimento, o Seu Sangue como bebida, a sua vida como resgate, a sua divindade como amparo, o seu paraíso como herança. Ele esclarece o nosso entendimento, aumenta o nosso amor, purifica o nosso coração, mortifica os nossos sentidos, enfraquece as nossas paixões; comunica-nos as suas virtudes, em uma palavra: SANTIFICA-NOS!

A nossa alma, pela comunhão bem feita, é embalsamada de celestiais perfumes, abrasa-se em amor divino, canta os louvores Àquele que é todo dela; e dá-se toda a Ele. Dedica-se ao Seu serviço, experimenta suma repugnância a todos os prazeres da terra, e torna-se insensível a todas as adversidades da vida, de sorte que nem a comovem as injúrias, nem as contradições, nem o abandono das criaturas. A vista da perfeições de Jesus e o amor das suas bondades dão à alma do comungante bem disposto, a força para disposições tão heroicas e santas.

Caríssimos, creio que não seja supérfluo observar que estas grandes delícias da comunhão não são concedidas a todos, nem no mesmo grau aos que a recebem; na verdade, são poucas as almas tão puras, tão desapegadas do mundo e de si mesmas, tão crucificadas com Jesus Cristo que saboreiem toda a doçura dessas puras consolações. Quanto ao gozo espiritual, gozo este produzido pelo conhecimento dos grandes bens contidos neste sacramento, não há cristão algum, que não possa senti-lo. Basta para isto estimar os bens da graça, desejar a salvação, suspirar pelo Céu, e não esquecer que a Eucaristia é o melhor meio de realizar estes santos desejos.

Caríssimos, devemos meditar sempre nos misericordiosos desígnios que Jesus teve ao instituir este sacramento que é o amor dos amores. Quis unir-se a nós, quis tronar-Se semelhante a nós, quis encher-nos de delícias, e deste modo, inspirar-nos um amor mais perfeito, em que consiste a vida santa. Este Pão descido do Céu, é o princípio aqui na terra de uma vida santa; e é o penhor da vida eterna no Céu. Ó que nobre e ditosa vida esta de amar a Jesus e ser amado por Ele! Amém!

quarta-feira, 23 de maio de 2018

A BELEZA QUE ENCANTA

                                                                                                                               Dom Fernando Arêas Rifan*
            Foi lançado recentemente um bom filme, intitulado “Paulo, o Apóstolo de Cristo”, mostrando os primórdios do cristianismo, na pessoa do seu maior evangelizador, que, como os primeiros cristãos, sofreu e deu a vida por algo que valia a pena! 
          Saulo - esse era o seu nome antes da conversão – foi formado no judaísmo como fariseu convicto, por isso odiava o cristianismo, que ele julgava ser uma doutrina perversa, contra as suas tradições, como ele mesmo atesta: “Eu persegui de morte essa doutrina, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres” (At 22,4).  
        Mas, o que teria transformado Saulo, de perseguidor fanático em Apóstolo apaixonado por Jesus Cristo e seu Evangelho, conversão total, imediata e extraordinária? Foi, na estrada de Damasco, seu encontro pessoal com Cristo vivo, que ele julgava morto.  

            Esse seu encontro com Jesus marcou a sua vida. Ele ficou assombrado com Jesus.  Deslumbrado, fascinado, apaixonado por Jesus. É claro que não foi uma emoção passageira, algo apenas sentimental e irracional. Foi algo profundamente sentido e racional, que transformou a sua vida e que permaneceu nele até o fim, fazendo-o capaz de desprezar tudo o mais, de sofrer por ele, de querer salvar a todos, e de morrer por ele: “Julgo que tudo é prejuízo diante deste bem supremo que é o conhecimento do Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele perdi tudo, e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e estar com ele..., porque eu também fui conquistado por Cristo Jesus” (Fl 3, 8-12).  
            O que nos fascina e encanta é a beleza, o belo. Nós só podemos viver com intensidade na medida em que nos sentimos fascinados por alguém ou por algo que consideramos belo. Assim acontece em qualquer trabalho, profissão, luta, estudo, contemplação, utopia, etc. A apatia generalizada dos nossos dias se explica pela ausência deste fascínio por algum ideal.
           A pessoa de Jesus encantou Saulo pela sua beleza. Mas o que é a beleza, que deve nos fascinar? Na filosofia aprendemos que o bem, a verdade e o belo se confundem. A beleza corresponde à compreensão do verdadeiro e do bem, ou seja, do verdadeiro enquanto tem razão de bem. Da verdade, que satisfaz o intelecto, e do bem, que satisfaz a vontade, procede o belo. A estética (que estuda o belo - pulchrum) está integrada na Lógica (que estuda a verdade -verum) e na ética (que estuda o bem - bonum) e delas como que brota.
      
Esse Jesus, que encantou Paulo pela sua beleza e que deve nos encantar, é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6). Jesus é a beleza personificada, que inclui a verdade e o bem. Essa é a “via pulchritudinis o caminho da beleza! Aconteceu com Paulo aquilo que deve acontecer com qualquer um de nós, quando nos convertemos realmente: “Torna-se cristão não a partir de uma decisão ética ou de uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo (Bento XVI, Deus Caritas est, n. 1).” 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

sábado, 19 de maio de 2018

PREPARAÇÃO PARA A VINDA DO ESPÍRITO SANTO



A Santa Madre Igreja ensina-nos a rezar: "Vinde Espírito Criador, visitai as almas daqueles que são vossos; enchei de graça infinita os seus corações". Caríssimos, quais são os motivos destes santos desejos? Percorrendo os mistérios de nossa salvação, vemos como as três Pessoas da Santíssima Trindade, por assim dizer, fazem da felicidade do homem a sua ocupação especial e contínua. Amemos a Deus, porque Ele nos amou primeiro. É por causa de nós que o Pai criou tudo pelo seu poder, e conserva e dirige tudo pela sua Providência. É por causa de nós que o Filho é Salvador, e o Espírito Santo completa a obra da nossa salvação com as graças santificantes que nos prodigaliza. Caríssimos, como poderíamos ficar insensíveis diante deste amor infinito das três Pessoas divinas?! Devemos render a cada uma um culto particular, pelos benefícios que recebemos delas. Pois bem, o tempo de Pentecostes é destinado a este culto especial ao Divino Espírito Santo. Pois, é ele que sugere à Igreja as piedosas devoções que ela fomenta ou ordena. Devemos desejar ardentemente a visita do divino Paráclito: "Veni Creator Spíritus, mentes tuorum visita, imple superna gratia quae tu creasti pectora".

"O mesmo Espírito, dizia Bourdaloue, que desceu visivelmente sobre os Apóstolos, desce ainda atual e verdadeiramente sobre nós, não com o mesmo esplendor nem com os mesmos prodígios, mas com os mesmos efeitos de conversão e santificação" (Exórdio do Sermão do Espírito Santo). Assim, podemos dizer que, enquanto quase todas as festas do ano se limitam a lembrar-nos um mistério, cumprido de uma vez para sempre (como por ex. o Santo Natal); quando estamos preparados, a festa do Pentecostes é para nós uma nova realização deste mistério.

O Espírito Santo purifica-nos, ilumina-nos, abrasa-nos no divino amor e põe-nos em estado de realizar todos os desígnios da misericórdia do Senhor relativamente à nossa salvação. Pela fé, esperança e caridade, de que Ele é o princípio em nós, coloca-nos na posse de Jesus Cristo; pois, aplica-nos seus merecimentos, constitui-nos seus membros, comunica-nos sua vida, e imprime assim o selo à nossa redenção, que Ele completa. É como que uma fonte divina, que se infunde na alma por sete admiráveis canais: são os seus sete dons. Três deles aperfeiçoam a vontade: o temor de Deus, a piedade e a fortaleza; os outros quatro, que são o conselho, a ciência, a sabedoria e a inteligência, operam de um modo imediato sobre a nossa inteligência. Assim, o TEMOR DE DEUS, temor filial que torna uma alma timorata (não escrupulosa) e delicada em matéria de infidelidades, e lhe inspira sumo respeito para com a Divina Majestade. A PIEDADE nos dá o gozo espiritual que nos faz experimentar em todos os exercícios que se referem à honra e ao serviço de Deus na meditação, na oração vocal, e também nos cânticos espirituais etc. A FORTALEZA é a coragem que nos faz desprezar todos os bens, todos os males da vida presente, e nos tornar capazes dos mais generosos sacrifícios. O dom do CONSELHO:  por ele o Espírito Santo fala-nos, ora como um amigo que dá conselho ao seu amigo nas ocorrências difíceis, sugerindo-nos um ótimo expediente para sairmos delas; ora, como um mestre que nos ensina a mais nobre de todas as ciências, a CIÊNCIA dos Santos, com a qual nós julgamos discretamente de todas as coisas, dando-lhes exatamente o grau de estima ou de desprezo que lhes é devido. Assim, descobrimos claramente o nada de tudo o que passa; vemos na pobreza o preço de um reino eterno, nas enfermidades do corpo a saúde da alma, na mesma morte um princípio de imortalidade. O dom da SABEDORIA preserva-nos da horrível loucura dos pecadores no que respeita à salvação; retira as nossas afeições das criaturas para as levar para Deus; eleva os nossos corações de terra ao Céu. O dom da INTELIGÊNCIA ou ENTENDIMENTO faz-nos penetrar os mistérios e dá-nos uma luz tão viva, que a fé torna-se tão forte como se a gente estivesse no Céu vendo o que cremos. Este dom, outrossim, tira toda obscuridade àquelas verdades práticas, cruciantes para a natureza, como são a abnegação e o amor da cruz. Ele faz-nos compreender o que os mundanos sempre ignorarão, isto é, como pode achar-se a felicidade nos sofrimentos, a honra no desprezo, e como são os Santos os únicos sábios nesta terra.

Caríssimos, devemos alimentar em nós a firme esperança de obter a visita do Espírito Santo. E esta esperança funda-se na mesma natureza do Espírito Santo, nos direitos mais incontestáveis e nas promessas mais infalíveis. "Bonum est sui diffusivum", "O que é bom, procura comunicar-se"; ora, o Espírito Santo é a mesma Bondade; é como o coração de Deus. Além disso, pedindo o Espírito Santo, na verdade, estamos reclamando o nosso bem, pois Ele nos foi obtido pela morte de Jesus Cristo. Temos também as promessas de Deus que não podem enganar-nos. Caríssimos, por nós mesmos não podemos absolutamente nada, em ordem à salvação. Só o Espírito Santo é que pode ajudar eficazmente nossa fraqueza! Desejemos, portanto, ardentemente a vinda e permanência em nós deste Doce Hóspede Divino!!! Diz S. Gregório Nazianzeno: "Sitit sitiri", quer dizer em português: "Deus tem sede da nossa sede". Obriguemo-Lo, pedindo-Lhe que nos obrigue. Amém!


sexta-feira, 18 de maio de 2018

PREPARAR O CORAÇÃO PARA O ESPÍRITO SANTO



 Esta preparação consta de doas coisas: remover os obstáculos e empregar os meios para atrair a nós o Espírito Santo.

Primeiramente é mister remover os obstáculos, ou seja, o pecado, o espírito do mundo, a concupiscência. Falemos um pouco de cada um deles. Caríssimos, o pecado é o grande inimigo do Espírito Santo: o mortal simplesmente expulsa da alma o doce Hóspede Divino; o venial contrista-o, o que também não é algo de somenos gravidade, já que o ofendido é Deus. O pecado mortal obriga o Espírito Santo a se retirar da alma. Por isso adverte S. Paulo: "Não queirais expulsar o Espírito Santo" (1 Tessalonicenses V, 19). O pecado grave destrói a caridade que este divino Espírito derrama em nosso coração segundo afirma o Apóstolo: "A caridade de Deus está derramada em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos V, 5). Portanto o pecado mortal contraria todos os intuitos de santificação que o Espírito Santo tem a nosso respeito. E assim, o nosso  primeiro cuidado, caríssimos, deve ser combater o pecado mortal, caso haja na alma ainda algum apego a ele, seja lá contra qualquer mandamento. Na explicação de Santo Agostinho, os nossos corações são os vasos destinados a receber o precioso licor da graça divina; daí é necessário que comecemos por purificá-los. E já é uma grande graça o arrependimento que o Espírito Santo nos inspira; o remorso é o primeiro passo, e ele pode levar ao arrependimento, condição sem a qual não há perdão nem mesmo recebendo a absolvição sacramental. Devemos estar profundamente convencidos que o pecado mortal é um mal absoluto, extremo; e depois do mortal, o pecado venial é o maior mal que existe sobre a face da terra, já que trata mal, não a um bispo, a um papa, mas o próprio Deus Onipotente, perfeitíssimo e a própria Bondade.

Embora o pecado venial não chegue ao extremo de expulsar o Espírito Santo, no entanto, contrista este doce Hóspede da alma, o nosso Consolador e Santificador. Por isso diz também o próprio Espírito Santo através do escritor sagrado S. Paulo: "Não queirais contristar o Espírito Santo" (Efésios IV, 30). Os pecados veniais (portanto plenamente deliberados) e máxime se frequentemente repetidos, leva à tibieza que torna a alma de tal modo desagradável a Deus que Ele chega a dizer: "Porque não és nem quente nem frio, mas morno (=tíbio) começarei a vomitar-te de minha boca" (Apoc. III, 15 e 16).  Deus merece que o sirvamos com amor ardente, e o tíbio o faz de maneira negligente. Isto como que causa náuseas ao Espírito Santo. E Ele já não dá ao tíbio tantas forças e tanta luz como faz com os fervorosos. Por bondade, o Espírito Santo aflige os tíbios com salutares remorsos no intuito de abrir os olhos destas almas  que ficam como que cegas pelas suas frequentes negligências no amor e serviço de Deus. O divino Paráclito lança em rosto dos tíbios a facilidade com que Lhe fazem tantas ofensas que julgam leves. O Espírito Santo trazendo à memória dos negligentes esta vida que causa náuseas a Ele, pergunta-lhes se depois de tantos perdões, não deveriam estes tíbios sentir o remorso do coração. Assim o Espírito Santificador excita os tíbios a deplorar suas negligências, sua vontade fraca, seu amor debilitado, e, por conseguinte, seus pecados veniais.

Caríssimos, o espírito do mundo é outro obstáculo à presença e ao reino do Espírito Santo. Este espírito do mundo eleva o estandarte: orgulho, avareza, luxúria.  São Paulo pergunta: "Que união pode haver entre a luz e as trevas" (Cf. 2 Cor. VI, 14), entre a verdade e a mentira? Eis a razão porque o Salvador, rogando a seu Pai que envie o Espírito Santo a seus discípulos, para os santificar na verdade, observa que eles não são do mundo, como também Ele não é do mundo (Cf. S. João XVII, 17; que não roga pelo mundo, incapaz que é de receber este Espírito de Verdade, porque O não vê, e porque é tão grande a sua cegueira, que precisa de apalpar e ver, antes de admitir e crer (Cf. S. João XVII, 14, 17 e 19).

Na verdade as apreciações do mundo e as do Espírito Santo são diametralmente opostas; sucede o mesmo, diz S. Bernardo, com os sentimentos que inspiram: O Espírito Santo aparta os corações do amor das criaturas para os unir a Deus; o mundo aparta-os de Deus para os unir às criaturas.

Caríssimos, durante esta novena do Espírito Santo devemos, mais do que em outro tempo, examinar com cuidado nossos pensamentos e afetos, para conhecer se é o espírito de mentira ou o espírito de verdade que nos anima. Combatendo o espírito do mundo, combateremos ao mesmo tempo o da carne, terceiro obstáculo aos desígnios misericordiosos do Espírito Santo a nosso respeito.

São Paulo diz que a carne e o espírito são duas potências que estão sempre em guerra: "Efetivamente, a carne tem desejos contrários ao espírito, e o espírito desejos contrários à carne; são contrários entre si, para que não façais tudo aquilo que quereis" (Gálatas V, 17). Quando, porém, o Espírito Santo encontra a alma dócil e forte em renunciar à carne por amor a Deus, então a dirige para que tudo seja feito segundo o espírito. É neste sentido que diz Santo Agostinho: "Ama e podeis fazer o que quiseres". O amor de Deus é forte como a morte, e assim vence sempre a carne. Os modernistas são mestres em deturpar o sentido desta palavra de Santo Bispo de Hipona, mas o verdadeiro sentido é este e nem se pode imaginar que o maior gênio do Cristianismo tenha ensinado esta aberração modernista: ama e podes fazer tudo que tua carne apetecer, nada será pecado!

Fujamos o máximo do barulho e das vaidades do mundo; procuremos uma vida de mais recolhimento penitente, cheia de caridade para com o próximo; vida de oração auxiliada pela mediação de Maria Santíssima, como na Santa Novena do Cenáculo. Amém!

sábado, 12 de maio de 2018

ALEGRIA NO SOFRER



 Parece algo estranho, mas, na verdade, Jesus alegrou-se em sofrer porque sabia que seus sofrimentos e morte seria a vitória que Lhe havia de garantir a conquista do mundo: "Quando eu for elevado da terra, (ou seja, quando for crucificado) atrairei tudo a mim" (S. João XIII, 32). Jesus desejou ardentemente o momento de sua Paixão e Morte: "Eu tenho que ser batizado num batismo de sangue; e quão grande é a minha ansiedade, até que ele se conclua!" (S. Lucas, XII, 50). E este batismo de sangue Jesus anunciou-o  por diversas vezes aos seus apóstolos como o coroamento de toda a sua missão: "Ponde bem estas palavras em vossos corações: O Filho do homem será entregue às mãos dos homens que o matarão" (S. Lucas IX, 44); "O Filho do homem vai ser entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, e esses mesmos o entregarão aos gentios; ele será exposto à zombarias e às injúrias, coberto de escarros, flagelado, depois morto, e ao terceiro dia ressuscitará" (S. Mateus XX, 18 e 19). E ao começar a Paixão disse: "Eis que agora o Filho do homem é glorificado e que Deus é por ele glorificado" (S. João XIII, 31).

E Nosso Senhor Jesus Cristo queria que seus discípulos tivessem também estes mesmos sentimentos: "Bem-aventurados (=felizes) os pobres"; bem-aventurados os que choram; bem-aventurados os que são perseguidos... Sereis felizes quando vos insultarem e disserem injustamente toda sorte de mal contra vós por minha causa. Regozijai-vos então e alegrai-vos" (S. Mateus V, 10). Jesus queria que seus discípulos tivessem o amor da cruz, levado até ao amor dos sofrimentos. É claro que estranho seria alguém sofrer como um estoico, mas o normal para um cristão é imitar o seu Divino Mestre, amando como Ele e por amor a Ele, os sofrimentos.

O mundo não compreende esta verdade; aliás, nem os Apóstolos, antes do Pentecostes, a entendiam. Vede: Jesus Cristo, sempre tão bondoso e manso, empregou palavras muito severas ao censurar Pedro porque o chefe dos apóstolos não queria admitir que Jesus precisasse padecer e morrer: "Afasta-te, Satanás (=tentador) - disse-lhe Jesus - porque tu me escandalizas, nada compreendes das coisas de Deus, não tens senão pensamentos humanos" (S. Mateus XVI, 23). Também tratou de estultos os discípulos de Emaus, porque não compreendiam que Lhe fosse preciso sofrer para entrar na glória: "Ó estultos e tardos de coração para crer!" (S. Lucas XXIV, 26).

Mais tarde, porém, já santificados e esclarecidos, alegraram-se por terem sido flagelados pelo nome de Jesus (Atos V, 41). São Lucas, resumindo toda a pregação de S. Paulo e de S. Barnabé, disse: "Fortaleciam seus discípulos e mostravam-lhes que é por meio de muitas tribulações que devemos entrar no reino de Deus" (Atos XIV, 21). Também, a exemplo de seu Mestre, S. Paulo recomenda aos fiéis que suportem tudo, não só com paciência, mas também com alegria: "Que sejais confortados com toda fortaleza pelo seu [de Deus] poder glorioso, para suportar tudo com paciência e longanimidade e alegria"... (Col. I, 11). E S. Tiago escreve: "Meus irmãos, tende por um motivo da maior alegria para vós as várias tribulações que vos afligem..." (S. Tiago I, 2).

Caríssimos, o sofrimento, como veremos a seguir, é tão salutar, que toda alma de fé deveria sentir-se feliz em sofrer. Pois o sofrimento triunfa do pecado e do demônio, que reina pelo encanto do prazer, mas é vencido pela cruz. Na verdade, o pecado não é outra coisa senão o desprezo de um dever a cumprir ou a procura de uma satisfação ilícita. Daí o remédio do pecado está nas privações e nos sofrimentos. Jesus disse: "O reino dos céus padece violência, e só os violentos (i. é, os fortes no sofrimento e nas renúncias) arrebatam-no". 

As cruzes, as renúncias, os sofrimentos e as privações tornam a alma forte e viril, enquanto o bem-estar, o repouso e as doçuras da vida amolecem. A dor purifica a alma e Deus nela se compraz quando a vê acrisolada pela dor. O sofrimento, outrossim, alimenta a mantém o amor de Deus e do próximo. Caríssimos é mais fácil padecer bem do que agir bem porque hã menos perigo de amor próprio, menos de espírito puramente humano. "Sofrer - dizia S. Francisco de Sales, é quase que o único bem que possamos fazer na terra... uma onça de paciência vele mais que uma libra de ação".

Ademais, os sofrimentos preparam delícias imensas e eternas na Pátria Celestial. As dores suportadas por amor de Deus produzem suaves alegrias: "Vossa tristeza  -  disse Jesus aos seus apóstolos  -  se converterá em alegria" (S. João XVI, 20).
Caríssimos, se uma chuva torrencial, uma tempestade devastar todas as nossas plantações, teríamos imensa alegria, caso os granizos fossem grãos, uns de ouro e outros de diamantes. Pois bem assim, são os sofrimentos desta vida quando aceitos e suportados por amor a Jesus e em união com Ele, são tesouros que ajuntamos para a Vida Eterna. Amém!

sábado, 5 de maio de 2018

A ALMA NO ESTADO DE GRAÇA É MORADA DA SS. TRINDADE



Na parte superior: Vemos um símbolo de uma alma no estado de graça.
Na parte inferior: um símbolo de uma alma em pecado mortal. 
Há duas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo que deixam esta verdade bem clara. Uma sobre o Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade; outra sobre o Pai, a primeira Pessoa, e sobre o Filho, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Antes da Ascensão, para consolar os homens da sua ausência, disse-lhes: "Se me amais, observareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito [=Consolador], para que fique eternamente convosco, o Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós" (S. João XIV, 15-18). E Jesus continua: "Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós. Resta ainda um pouco, e depois já o mundo me não verá. Mas ver-me-eis vós, porque eu vivo e vós vivereis. Naquele dia vós conhecereis que eu estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós. Aquele que retém os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama; e aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei também, e me manifestarei a ele... Se alguém me ama guardará a minha palavra, meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos nele morada" (S. João XIV, 15 e 18-22 e 23).

Assim por estas palavras do Divino Mestre compreendemos perfeitamente que toda a alma que ama a Jesus e guarda os seus mandamentos, isto é, toda alma no estado de graça, é amada pelo Pai, e o Pai vem a ela, com o Filho e o Espírito Santo. A Santíssima Trindade vem não para uma simples visita, mas para se fixar e nela fazer a sua morada. Daí, não existe coisa mais bela e sublime entre os homens do que as almas em estado de graça, pois, são moradas da Santíssima Trindade, são templos de Deus. Que felicidade para Maria Santíssima ter junto de si em sua pobre casa, o Filho de Deus, e isto por trinta anos! Mas, cheia de graça, puríssima, santíssima, o Senhor estava sempre com ela. A Santíssima Trindade preparou para si esta digna morada. Mas, as outras almas, embora nunca tão santas como a Mãe de Deus, mas estando em estado de graça, são também morada da Santíssima Trindade, e isto não por um prazo limitado, mas para sempre, enquanto não tiver  a infelicidade de, com um pecado mortal, expulsar de si a próprio Deus.

É óbvio que quem ainda não sabe, gostaria de saber como a Santíssima Trindade vem até a uma alma em estado de graça. Ouçamos Santo Tomás de Aquino: "Deus está NATURALMENTE na criaturas de três modos diferentes: pelo seu PODER, porque todas elas estão sujeitas ao seu império; pela sua PRESENÇA , porque Ele vê tudo, mesmo os mais secretos pensamentos da alma; pela sua ESSÊNCIA, visto que opera em toda a parte e em toda a parte Ele é a plenitude do ser e a causa primária de tudo o que há de real nas criaturas, comunicando-lhes sem cessar não apenas o movimento e a vida, mas o próprio ser: "porque é n'Ele que temos a vida, o movimento e o ser" (Atos XVII, 29). Entretanto, a Sua presença em nós pela graça é de uma ordem muito superior e mais íntima. Não é somente a presença do Deus criador e conservador que sustenta os seres que criou, mas a da própria Trindade, tal como a fé no-La revelou; o Pai vem até nós e em nós continua a gerar o Verbo; com Ele recebemos o Filho, perfeitamente igual ao Pai, sua imagem viva e substancial, que não cessa de amar infinitamente o Pai como por Ele é amado; deste amor mútuo brota o Espírito Santo, pessoa igual ao Pai e ao Filho, laço mútuo entre os dois, e no entanto distinto de um e de outro" (Cf. Summa Theologica, 1ª Parte, q. VIII, a. 3º).

Caríssimos, quantas maravilhas se operam numa alma em estado de graça! Façamos uma comparação no intuito de entendermos melhor esta maravilha: É só vermos a diferença essencial que existe entre a presença de Deus em nós pela natureza e a sua habitação pela graça. Podemos dizer que pela presença NATURAL de Deus na alma, Ele está e opera em nós, mas pela Sua presença sobrenatural pela graça, Ele próprio se nos dá para que gozemos a sua amizade, a sua vida e as suas perfeições. É o que exprime o Apóstolo S. Paulo: "O amor de Deus está em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rom. V, 5). Assim, pois, nos é dado o Espírito Santo e com Ele também o Pai e o Filho, pois as três pessoas divinas são inseparáveis; é nosso e, se disso tivéssemos uma consciência viva e profunda, compreenderíamos que a graça é já um início da vida eterna, dessa inefável alegria que se experimenta com a posse de Deus.

Eis porque, caríssimos, se tivéssemos fé viva, poderíamos repetir com Sóror Isabel da Trindade: "Encontrei o céu na terra, porque o céu é Deus e Deus está na minha alma. No dia em que compreendi isto, tudo se esclareceu em mim, e eu quereria dizer este segredo àqueles que amo". Quantas almas foram transformadas, a exemplo desta Carmelita, no dia em compreenderam, sob a ação do Espírito Santo, que Deus habita nelas! Quantas conheceram então um  novo rumo na sua vida, uma ascensão contínua para Deus e para a perfeição! Amém!

quinta-feira, 3 de maio de 2018

A AÇÃO DO PENTECOSTES SOBRE OS APÓSTOLOS



É só olhar para a atitude dos Apóstolos antes e depois. Antes, ou seja, na Paixão de Jesus, e depois que receberam o Espírito Santo.

 E vamos começar por S. Pedro, o chefe dos Apóstolos. Na véspera da Paixão de Jesus, Pedro promete seguir a Jesus até à morte. Mas, logo naquela noite, à voz duma criada, nega o divino Mestre; mente, jura, fazer imprecações dizendo que não conhece aquele homem. Se envergonha de Jesus a tal ponto que nem pronuncia Seu Santíssimo Nome! Vamos vê-lo agora no dia do Pentecostes. Anuncia Cristo a milhares de judeus; mais, lança-lhes em rosto, em linguagem cheia de ousadia o terem-No crucificado; prova a sua Ressurreição, exortando-os a fazerem penitência e a receberem o Batismo (Cf. Atos II, 23, 24 e 39). Vemos que não é mais aquele apóstolo tímido que receia o perigo e "fica de longe"; é, ao contrário, a testemunha que proclama diante de todos, com palavras corajosas, que Jesus Cristo é o Filho de Deus. É outro, nem parece ser a mesma pessoa de 50 e poucos dias antes! O que aconteceu? É que a virtude do Espírito Santo transformou-o; o amor que consagra a Jesus é agora forte e generoso. O próprio Nosso Senhor tinha predito esta transformação, quando disse aos Apóstolos, antes da Ascensão: "Ficai em Jerusalém até serdes revestidos da luz do alto".

Vejamos agora a atitude não só de Pedro mas também de todos os Apóstolos: Poucos dias depois da descida do divino Espírito Santo sobre eles, pregam aos judeus e estes se comovem com as suas palavras, com os milagres que operam, com as conversões que fazem invocando o nome de Jesus. Os príncipes dos sacerdotes e os saduceus que mataram a Jesus, chamam os discípulos e proíbem-lhes pregar o Salvador. Responderam: "Não podemos obedecer às vossas ordens, não podemos deixar de dar testemunho do que vimos e ouvimos" (Atos IV, 18-20). Sabemos que na noite da Paixão todos eles tinham abandonado a Jesus e fugiram; e, mesmo depois da Ressurreição de Jesus "ficaram escondidos numa casa, com as portas e janelas fechadas, com medo dos judeus", como agora, isto é depois da vinda do Espírito Santo, falam assim com tanta coragem? É porque o Espírito Santo é o Espírito de verdade, o Espírito de amor, o Espírito de força.

Agora os Apóstolos se entregam aos suplícios porque, pela vinda do Espírito Santo, o seu amor a Jesus é muito mais forte do que antes. E os judeus, vendo que eles não se importavam com a proibição, chamam-nos aos tribunais. Pedro, em nome de todos, declara que devem "obedecer antes a Deus do que aos homens" (Atos V, 29). Os judeus querendo vencer aquela constância, açoitaram os Apóstolos, antes de os soltar. Mas, após aquele suplício humilhante eles "estavam cheios de alegria por terem sido julgados dignos de sofrer opróbrios pelo nome de Jesus" (Atos V, 41). Essa alegria nos sofrimentos e nas humilhações vinha justamente do Espírito Santo, pois, Ele é o Espírito de CONSOLAÇÃO.

Jesus Cristo que é o Filho de Deus feito homem, também é consolador: "Vinde a mim, vós todos, que estais aflitos, e eu vos consolarei" (S. Mat. XI, 20). E como ensina S. Paulo, Ele é um Pontífice que sabe compadecer-se dos nossos sofrimentos, porque Ele próprio foi também sujeito à dor" (Hebr. IV, 15). Este divino Consolador, porém, devia desaparecer das vistas carnais dos discípulos, porque subiu para os Céus. Por isso, pedia ao Pai que lhes enviasse OUTRO Consolador, igual a Ele, Deus como Ele. Este outro Consolador é o Espírito Santo.

Porque é o Espírito de verdade, este Consolador acalma as necessidades da nossa inteligência; porque é o Espírito de amor, satisfaz os desejos do nosso coração; porque é o Espírito de força, sustenta-nos nos combates e lágrimas na conquista da Pátria do repouso eterno.

Rezemos com a Santa Igreja: "Ó Consolador por excelência, doce hóspede da alma, doce refrigério!" Amém!

quarta-feira, 2 de maio de 2018

A VINDA DO ESPÍRITO SANTO SOBRE OS APÓSTOLOS



Antes de subir aos céus, Nosso Senhor Jesus Cristo ordenou que os Apóstolos se reunissem no Cenáculo de Jerusalém e permanecessem ali por alguns dias. Eis o que diz S. Lucas: "Ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas esperassem a promessa do Pai, a qual ouvistes (disse ele) da minha boca; porque João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo, daqui a poucos dias... recebereis a virtude do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e me sereis testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, na Samaria e até às extremidades da terra... Então voltaram para Jerusalém... Logo que chegaram, subiram ao cenáculo, onde permaneceram Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago. Todos estes perseveraram unanimemente em oração, com as mulheres, e com Maria, mãe de Jesus, e com os parentes dele" (Cf. Atos, I, 4 e 8 e 12 -14).

"Quando se completaram os dias do Pentecostes, estavam todos juntos no mesmo lugar; e, de repente, veio do céu um estrondo, como de vento que soprava impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceram-lhes repartidas umas como línguas de fogo, e pousou sobre cada um deles. Foram todos cheios de Espírito Santo e começaram a falar várias línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem" (Atos II, 1-4).  Segundo S. Lucas, o Espírito Santo desceu sobre eles ao décimo dia, e, portanto, foram nove dias de preparação no recolhimento e na oração em companhia de Maria, Mãe de Jesus. Podemos, então dizer, que foi a primeira novena na Igreja, e, coisa admirável e sublime, sob a presidência da Santíssima Mãe de Jesus!!!

Devemos considerar como foi necessária a descida do Espírito Santo. Jesus, para amenizar a tristeza que havia de causar aos Apóstolos a sua ausência, disse-lhes: "Mas eu digo-vos a verdade: A vós convém que eu vá, porque, se eu não for, não virá a vós o Paráclito; mas, se for, eu vo-lo enviarei... Quando vier, porém, o Espírito de verdade, ele vos ensinará toda verdade" (S. João XVI, 7 e 13). Daqui se segue que, terminada que foi a obra da Redenção, Jesus subiu aos céus, e o Espírito Santo é o que aplica os méritos dessa obra divina, ele é que a desenvolve nas almas; é a fonte das graças, o inspirador das virtudes, o fogo das luzes. S. Francisco de Sales no Sermão III, pág. 315, afirma que o Espírito Santo é o dom mais excelente que Deus fez à terra, o qualifica como "o dom dos dons"; e compara-o a uma fonte cujas águas jorram para a vida eterna". Devemos meditar que, para enviá-Lo foi necessário que Jesus Cristo viesse ao mundo e morresse na cruz. Devemos considerar, outrossim, que sem o Espírito Santo os outros dons, graças e méritos do Salvador, ainda que inestimáveis, de nada nos serviriam, assim como um remédio de nada serviria ao doente se não houvesse quem o levasse  a tomá-lo. Igualmente, ainda que o sangue de Jesus e sua Paixão sejam um remédio infalível e de uma eficácia tal que podem dar a vida e a saúde a todo o mundo, no entanto, de nada aproveitaria ao pecador que de fato não  recebe sua divina virtude. Pois bem, o Espírito Santo é para a alma do justo o que o sol é para o mundo que ilumina e vivifica, o que é o pai de família que preside, o que é o professor para os alunos a quem ensina; o que é um rei para o País que governa, o que é um jardineiro para o jardim que cultiva. O Espírito Santo é o que nos dá os ouvidos do coração para escutar o que Deus nos fala, olhos para vê-Lo, mãos para obrar o que nos manda, e pés para avançar mais e mais no caminho da perfeição. Sem o Espírito Santo, nosso coração é terra árida que não produz senão abrolhos de vícios, sem o Espírito Santo o homem é um soldado sem armas entregue a seus inimigos. Na verdade, nada há de bom no homem sem a graça de Divino Espírito Santo.

O que é o Espírito Santo na adorável Trindade? É o termo, o remate supremo, a consumação da vida em Deus. E assim, para nos lembrarmos desta propriedade que Lhe é pessoal, a Igreja atribui-Lhe especialmente tudo o que, na obra da graça, da santificação, diz respeito ao fim, complemento e consumação: podemos dizer que o Espírito Santo é o artista divino que, com os últimos retoques, dá à obra a sua divina perfeição. É neste sentido que Ele é chamado no "Veni Creator": "Dextrae Dei tu digitus" (És o dedo da destra paterna). A obra atribuída ao Espírito Santo, na Igreja como nas almas, é levar ao fim, ao termo, à última perfeição, o trabalho incessante da santidade.

Minha consciência não ficaria tranquila se aqui não aproveitasse o ensejo para desfazer uma interpretação errônea que hoje os modernistas procuram dar a estas palavras de Jesus: "Ele (o Espírito Santo) vos ensinará toda verdade". Dizem os modernistas que Jesus não ensinou todas as verdades, e que, portanto, o Espírito Santo até o fim do mundo, vai ensinar novidades.

Um dia falava Jesus ao povo: "Se alguém crer em mim, do seu seio manarão torrentes de água viva". E S. João Evangelista explica: "Dizia isto do Espírito Santo que deviam receber aqueles que cressem n'Ele. O Espírito Santo não tinha ainda sido dado, porque Jesus não fora ainda glorificado" (S. João VII, 38 e 39). A fé era a fonte, para assim dizer, da vinda do Espírito Santo aos discípulos e a todos nós. Ora, enquanto Jesus Cristo vivia neste mundo, a fé dos discípulos era imperfeita. Não seria total senão depois de a Ascensão ter ocultado aos seus olhos a presença humana do divino Mestre: "Por isso que viste, creste", dizia Jesus a Tomé, depois da Ressurreição; "bem-aventurados aqueles que não viram e creram!" (S. João XX, 29). Depois da Ascensão, a fé dos discípulos, mais esclarecida, irá procurar Cristo mais longe, mais alto, sentado junto do Pai, igual ao Pai" (Cf. S. Leão, Sermão II sobre a Ascensão c. 4). Concluímos: Foi porque a fé dos Apóstolos, depois da Ascensão, se tornou mais pura, mais interior, mais viva, mais eficaz, que "os rios de água viva" se derramaram sobre eles com tanta abundância!

Devemos dizer que Jesus já ensinou toda verdade, pois, dizia de si mesmo: "Eu sou a verdade". Viera a este mundo para dar testemunho da verdade (S. João XVIII, 37), e sabemos que cumpriu inteiramente a Sua missão: "Opus consumavi" = terminei a obra. Então devemos dizer que agora que Jesus deixou os Apóstolos, o Espírito Santo é que se vai tornar o mestre interior. "Não falará de Si mesmo", dizia Jesus, querendo com isso significar que o Espírito Santo (que procede do Pai e do Filho e d'Eles recebe a vida divina) nos dará a verdade infinita que recebe pela Sua inefável processão. "Ele vos dirá tudo o que ouviu, isto é, toda a verdade"; "lembrar-vos-á tudo o que vos ensinei"; "dar-me-á a conhecer a vós; mostrar-vos-á quanto sou digno de toda a glória: "Ele me glorificará" (S. João XIV, 26).

 Que mais? Disse Jesus: "Recebereis a virtude do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e me sereis testemunhas em Jerusalém, na Samaria e até às extremidades da terra" (Atos I, 8). Os Apóstolos, afirmou Jesus, não deveriam preocupar-se com o que haveriam de responder, quando os judeus os chamarem aos tribunais; o Espírito Santo lhes inspirará as respostas" (S. João XIV, 26 e XVI, 13 e 14). Deste modo "poderão dar testemunho de Jesus". E como é pela língua, órgão da palavra, que se dá testemunho e a pregação do nome de Jesus se deve espalhar pelo mundo, este Espírito, no dia do Pentecostes, desce visivelmente sobre os Apóstolos em forma de línguas de fogo.  Por que de fogo? Porque o Espírito Santo vem encher de amor os corações dos discípulos. O Espírito Santo comunica-lhes aquele amor que é Ele próprio. É mister que os Apóstolos sejam cheios de amor para que, ao pregarem o nome de Jesus, façam brotar na alma dos seus ouvintes o amor do Mestre; é preciso que o seu testemunho, ditado pelo Espírito, seja tão cheio de vida, que prenda o mundo a Jesus Cristo.

Quando um Papa define um dogma é assistido pelo Espírito Santo para afirmar de maneira infalível que aquela verdade havia sido ensinada por Jesus Cristo, e já estava no Depósito da Revelação Pública que, na verdade, ficou completo com a morte do último Apóstolo. Portanto, nada de novidades, nada de surpresas!  Muitas coisas, sermões e milagres, que Jesus fez não foram escritas mas transmitidas pelos Apóstolos e depois pelos Santos Padres, inclusive a verdadeira interpretação do que foi escrito. Isto é a Tradição que passa como de mão em mão ininterrupta e fielmente pela assistência do Espírito Santo. Assim, as Sagradas Escrituras foram escritas sob a inspiração do Espírito Santo; e o que não foi escrito na Bíblia, foi transmitido pela assistência do Espírito Santo para que não houvesse nenhuma alteração e adição do que Jesus Cristo ensinou.

Caríssimos, devemos, pois, apresentar todas as disposições para receber o Espírito Santo. Vimos acima: "Do monte das Oliveiras, voltaram a Jerusalém, diz S. Lucas, e subiram ao cenáculo, onde permaneceram unânimes em oração com as santas mulheres e Maria, Mãe de Jesus e seus parentes". Vemos, portanto, que fizeram três coisas: recolhimento, oração vocal e meditação. É o que devemos fazer, na medida do possível (porque só num Retiro fechado podemos imitar perfeitamente os Apóstolos) para obtermos a mesma graça; e sempre em companhia da Virgem Mãe de Deus, e Esposa do Espírito Santo. Façamos com toda devoção, a novena do Divino Espírito Santo.

Oh! "Vinde a nós, Pai dos pobres, distribuidor dos bens celestes, Consolador cheio de bondade, doce hóspede da alma, conforto cheio de doçura"! Amem!