terça-feira, 14 de março de 2017

O MAIS TERRÍVEL FLAGELO NA IGREJA

   O sacerdócio na Antiga Lei era apenas figura do sacerdócio deixado por Nosso Senhor Jesus na Sua Igreja. O que a Sagrada Escritura diz dos sacerdotes no Antigo Testamento muitas vezes se aplica também aos do Novo Testamento e, às vezes, até com mais propriedade. É o caso de que tratamos no presente artigo: o castigo da existência de pastores maus, escandalosos e omissos. 

   Consideremos algumas passagens das Sagradas Escrituras: "Ouvi isto, ó sacerdotes, e tu, ó casa de Israel, ouve com atenção; escuta, ó casa real, porque sobre vós se vai exercer o juízo, pois, devendo ser sentinela, lhe tendes armado laços e sido para ele como uma rede estendida sobre o monte Tabor" (Oséias V, 1). Oh! Sacerdote de Jesus Cristo, oh! Pastor de almas, que terrível juízo sofrereis um dia! Oh! Eclesiásticos que escandalizais! Então vós, que sois os protetores natos da inocência, armais-lhe laços? Estendeis as vossas abomináveis redes sobre o mesmo Tabor, sobre esse monte santificado por tantos e tão veneráveis mistérios. 

   "O meu povo tornou-se um rebanho perdido; os seus pastores enganaram-nos e fizeram-nos andar desgarrados pelos montes; dos montes passaram aos outeiros e esqueceram-se do lugar do seu repouso" (Jeremias L, 6).  

   Assim, o mais terrível flagelo que Deus podia empregar para punir uma paróquia, uma diocese, uma província, um país e até todo orbe, seria permitir que lhes fossem enviados pastores escandalosos. Eis o que Deus mesmo diz por um profeta: Como castigarei os pecadores obstinados? Que novo golpe lhes infligirá a minha justiça indignada? Eis o castigo: "Os seus pastores enganaram-nos..." (Jeremias citado acima).

  Observemos que os Pastores na Igreja podem escandalizar também por omissão. Eis o que diz a Bíblia sobre eles: "As suas sentinelas estão todas cegas, todas se mostraram ignorantes; são cães mudos, que não podem ladrar, que vêem coisas vãs, que dormem, e que amam os sonhos. E estes cães tão sem-vergonha não podem saciar-se; os mesmos pastores não têm nenhuma inteligência; todos declinaram para o seu caminho, cada um para sua avareza, desde o mais alto até o mais baixo" (Isaías LVI, 10 e 11). E logo em seguida o profeta acrescenta: "O justo perece, e não há quem lhe dê atenção..." (Isaías LVII, 1). 

   Caríssimos, temos que rezar muito e fazer penitências pelos eclesiásticos desde "o mais alto até o mais baixo".

   Fala-se hoje em um "Deus das surpresas". O próprio Deus, pela boca de São Paulo disse que "Jesus é sempre o mesmo, ontem, hoje e sempre". Portanto, caríssimos, devemos rezar e fazer penitência para conseguirmos a graça da perseverança: seja nosso falar "Sim, sim; Não não"; e rejeitemos toda doutrina nova e estranha. Até as revelações particulares só são aprovadas pela Igreja se estiverem em consonância com a Revelação Pública que terminou com a morte do último Apóstolo. Não pode haver "surpresa" de novidades na doutrina. Como dizia São Vicente de Lérins: "Nove, non nova", Não podem haver doutrinas novas na Igreja, embora possam ser apresentadas de maneira nova.  

   

   

sábado, 11 de março de 2017

A CONFISSÃO GERAL PODER SER PREJUDICIAL, INÚTIL OU ÚTIL

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

1. É PREJUDICIAL:  A confissão geral para os escrupulosos, podemos dizer que é prejudicial. As almas escrupulosas são obrigadas a sujeitar-se, neste ponto, às decisões do seu confessor.

2. É INÚTIL às pessoas que já as têm feito várias vezes com todo o cuidado conveniente, e que continuam a fazer bem as suas confissões ordinárias.

3. É ÚTIL: Salvo raras exceções, podemos dizer que a confissão geral, mesmo que não fosse necessária, é útil a todos os fiéis, principalmente àqueles que nunca a fizeram. Quem já a fez bem feita, sobretudo no tempo mais propício que é o Retiro, e depois ficou inteiramente tranqüilo, não precisa fazer senão confissão extraordinária, ao seja, a partir da confissão geral bem feita. É o que fazem as pessoas que todos os anos têm a graça de participar do Retiro. Só no primeiro retiro se faz a confissão geral. Os santos recomendam a confissão geral nas épocas mais importantes da vida, por exemplo: na primeira comunhão, em tempo de missão, no retiro, antes de entrar para a vida religiosa, e, principalmente no leito de morte.
Caríssimos, nada mais vantajoso que a confissão geral, quando é feita com cuidado e preparada com reflexão e oração, sobretudo quando feita no Santo Retiro. Para várias pessoas é o começo e o fundamento de vida melhor. Uma senhora, fazendo retiro, escreveu a sua confissão geral. Ora, no momento em que acabava de meditar no inferno e estava muito comovida com o pensamento dos suplícios eternos, lançou os olhos sobre o papel em que tinha escrito todos os pecados da sua vida. `A vista de tantas faltas, exclamou: "Oh! quanta lenha para o fogo eterno! Não haveria meio de a destruir?" Esta reflexão determinou-a a renunciar para sempre às frivolidades do século e a levar vida retirada e edificante.

Além disso, a confissão geral repara as negligências e os defeitos que se deixam passar tão facilmente nas confissões ordinárias, alivia essas mil inquietações e essas dúvidas que por vezes assaltam a consciência; anima a alma adormecida no serviço de Deus, vivendo na tibieza e na frouxidão; enfim, redobra o ardor daqueles que trabalham para a sua perfeição. S. Carlos Borromeu costumava fazê-la todos os anos. S. Francisco de Sales, entre outros elogios que faz da confissão geral, diz: "Ele nos inspira salutar confusão da nossa vida passada, e nos faz admirar os rasgos da misericórdia de Deus, que nos excitam a amá-Lo e a servi-Lo com mais fervor".
A confissão geral é muito particularmente uma fonte de paz para o hora da morte. Oh! que consolação para um moribundo ter feito bem as suas contas em plena saúde! O homem sensato tem cuidado de prover a tempo o seu futuro. No reino de Aragão, um fidalgo da corte foi lançar-se aos pés de um missionário, e lhe disse: "Padre, eu queria fazer uma confissão geral". O padre lhe perguntou qual o motivo que o induzia a essa resolução. "Ah! respondeu ele suspirando: não devo morrer? Então, depois de ter levado uma vida tão criminosa, como poderia eu morrer tranquilamente sem ter feito uma confissão geral com todo o cuidado possível? Se espero, continua ele, o último momento, minha mulher, meus filhos, as ocupações, o temor da morte, a moléstia, tirar-me-ão a presença de espírito: que imprudência a minha, deixando para fazê-la no meio de tantas penas e embaraços! Consenti que eu aproveite uma tão boa ocasião".

Caríssimos, procedamos como este homem sensato. Se ouvirmos a voz de Deus, não endureçamos o nosso coração. Aquele fidalgo, ouviu a inspiração da graça, e esta não foi vã para ele. Segui-a imediatamente. Façamos o mesmo! E assim a confissão geral será para nós, como afirmam os santos, um segundo batismo, uma quitação de todas as nossas dívidas para com a justiça divina, um passaporte em regra para a entrada no céu. Amém!

quinta-feira, 9 de março de 2017

SINAIS DA FALTA DE ARREPENDIMENTO E PROPÓSITO

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Consideremos atentamente os sinais certos pelos quais podemos reconhecer se a confissão foi feita sem dor dos pecados e sem resolução de não mais recair neles. Em outras palavras, veremos os sinais que mostram quando não há arrependimento verdadeiro (nem imperfeito=atrição) e não há por conseguinte propósito firme e eficaz de fugir das ocasiões próximas de pecados. Pela confissão Deus perdoa quaisquer pecados; mas nunca perdoa quando há vontade de continuar nos pecados.     

  1.  Quando nos confessamos sem querer renunciar o ódio ao próximo.
  2.  Quando se pode e não se quer reparar uma injustiça grave feita ao próximo, em seus bens ou em sua reputação.
  3.  Quando se reincide no pecado de hábito, quer dizer, quando, advertidos pelo confessor, não deixamos, entretanto, de recair com a mesma frequência nos mesmos pecados mortais do costume, sem nenhuma correção, e sem que sejam empregados os meios de emenda.
  4. Quando nos confessamos sem querer sinceramente deixar a ocasião próxima voluntária do pecado mortal.


Os defeitos que acabamos de enumerar e explicar tornam as confissões inválidas, quer dizer, nulas; e portanto, é preciso renová-las, como se nunca tivessem sido feitas desde a época em que são nulas. São, além disso, sacrílegas quando assim feitas cientemente. O sujeito está consciente de não ter os sinais de arrependimento, sabe que quer continuar fazendo todos ou alguns ou mesmo que seja um só dos pecados mortais e faz a sua confissão assim mesmo. Faz sacrilégio, e, se comunga faz outro sacrilégio.

A esta altura, talvez haja quem pergunte: padre, devo fazer uma confissão geral? Caríssimo, é a tua consciência que cabe resolver esta questão, conforme tudo o que acabamos de dizer.

Ser-me-á impossível, dizeis, fazer uma confissão geral. Tenho já idade: como poderei lembrar-me de todos os pecados da minha vida?  -  Caríssimos, com boa vontade é possível e mesmo fácil fazer uma confissão geral.

Primeiro que tudo, recordai com mágoa todos os anos da vossa vida (Isaías, XXXVIII, 16). Tomai para este negócio o tempo suficiente para vos recolherdes, pois trata-se de uma coisa muito séria.

Para indicar o número dos vossos pecados, eis aqui como podeis fazer. Deixai de lado os pecados veniais, ou não os acuseis senão no fim; não resta, pois, senão a confissão dos pecados mortais, que serão   -  ou casos particulares ou pecados habituais. Se são casos particulares, um pouco de reflexão bastará para vos lembrardes deles. Se são pecados habituais, examinai por quanto tempo durou este hábito  e quantas vezes, pouco mais ou menos, caístes no pecado por ano, ou por mês ou por semana, ou mesmo por dia. Não é verdade que desta maneira é fácil fazer uma confissão geral?

Contudo, se encontrardes alguma dificuldade em fazê-la, dizei ao confessor: "Padre, desejo fazer uma confissão geral, peço-vos que me ajudeis". No mesmo instante, o confessor vos interrogará, de modo que vos basta responder-lhe com sinceridade. Oh! como é consolador para um ministro de Deus ver a seus pés uma alma bem disposta e arrependida! A alegria do padre é indescritível, e levá-la-á para o túmulo. Bem feita a confissão geral, grande outrossim é a alegria do penitente.


Vou contar-vos um fato lido na vida de São Vicente de Paulo: Este grande santo da caridade, foi um dia chamado para confessar um fazendeiro que estava perigosamente doente. Conquanto tivesse sempre gozado da reputação de homem honrado, o padre Vicente de Paulo o excitou a fazer uma confissão geral, para pôr a sua salvação em maior segurança. Ora, o resultado provou que aquele pensamento vinha de Deus, que queria retirar aquela pobre alma do abismo eterno em que ia cair. Era rico mas certamente praticava a caridade para com os pobres. Quem o acreditaria, se não conhecesse a fraqueza do coração humano? Ainda que esse homem tivesse recebido várias vezes os últimos sacramentos, em várias moléstias muito graves, que tivera, achava ele que tinha a consciência carregada de sacrilégios desde a mocidade. Na alegria que experimentava em ter feito a confissão com o padre Vicente de Paulo, ele mesmo anunciava abertamente a todos que iam vê-lo: "Ah! eu estaria condenado se não tivesse feito uma confissão geral, por causa dos pecados que nunca ousei confessar". Morreu três dias depois, com os mais vivos sentimentos de reconhecimento para com Deus. A senhora Duquesa de Gondi ouviu as declarações muito admirada: Ah! que acabamos de ouvir? Se este homem, que passava por um homem honrado, estava em perigo de condenação, que será dos outros que vivem tão mal!". Ela empregou desde então a sua fortuna em estabelecer e fundar missões, considerando-as uma obra necessária à salvação das almas. São Vicente de Paulo fundou a Ordem dos Missionários Lazaristas. 

DESDE QUANDO SE DEVE FAZER O EXAME DE CONSCIÊNCIA?

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Desde a última confissão bem feita.

Antes vamos falar um pouco sobre a CONFISSÃO GERAL.  Sobre ela podemos assim resumir: a confissão geral pode ser necessária, útil, inútil, prejudicial.

Quando a CONFISSÃO GERAL é NECESSÁRIA?

É necessária às pessoas que fazem confissões inválidas.

Não perdoando de modo nenhum os pecados, tais confissões devem ser renovadas desde a época em que foram inválidas e más. Comparando: Se eu ao abotoar minha batina, ou no início ou já tendo abotoado alguns botões nas suas respectivas casas, aí salto uma casa, a partir daí  todos os botões ficarão errados e  depois de já ter abotoado até ao fim é que percebo o erro. Para desfazer este erro, tenho que desabotoar até onde comecei errando, porque foi a partir daí que todas os botões ficaram abotoados erradamente. Para corrigir não basta corrigir só o primeiro ou alguns; tendo que desabotoar todos os errados e depois, abotoar todos certos.  Quando a primeira confissão foi mal feita, é inválida e invalida todas as outras. Assim só uma confissão geral de toda vida poderá corrigir. Quando alguém já tendo feito algumas ou muitas confissões bem feitas e portanto válidas, mas aí faz uma confissão mal feita e inválida, sacrílega, para corrigir, a confissão geral deve abranger todos os pecados cometidos depois da última confissão bem feita, e mais, a primeira coisa que a pessoa penitente deve confessar é aquele primeiro sacrilégio e o número (se não sabe exatamente, pelo menos aproximadamente, de confissões e comunhões sacrílegas (ou se recebeu qualquer outro sacramento neste tempo, todos foram sacrilégios que devem ser contados nesta confissão geral.

Mas quando são más as confissões?

A)   POR FALTA DE FÉ.  Isto acontece por 4 motivos:

1. - Quando se recebe a absolvição na ignorância, mesmo involuntária, dos pontos de fé indispensáveis (por necessidade de meio, i. é, sem eles não se pode salvar), a saber: que há um só Deus; que em um só Deus há três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo; que Deus Filho se fez homem para nos resgatar; que, depois desta vida, Deus recompensará os bons e castigará os maus eternamente (= Deus remunerador).

2. - Quando se recebe a absolvição na ignorância voluntária das coisas necessárias que se deviam conhecer por necessidade de preceito, tais como o Pai-Nosso, o Credo, a Ave-Maria, os mandamentos de Deus e da Igreja, os sacramentos, principalmente aqueles que se devem receber.

3. - Quando queremos fazer uma religião a nosso modo, recusando crer tudo que ensina a santa Igreja Católica, Apostólica e Romana, conservando dúvidas voluntárias sobre a fé, e também vivendo na revolta contra o Magistério Vivo e Perene da Igreja.

B) POR FALTA DE EXAME. Isto acontece quando, depois de uma notável negligência no exame de consciência, se omite a acusação de faltas graves.

C) POR FALTA DE SINCERIDADE. O que se dá quando, por vergonha, por hipocrisia ou por malícia, escondemos na confissão um pecado mortal, ou que julgamos mortal; quando se ocultam circunstâncias necessárias; quando se diminui o número dos pecados mortais cometidos; ou, finalmente, quando se acusa, de propósito, de modo a não ser compreendido pelo confessor em matéria grave.

D) POR FALTA DE CONTRIÇÃO E BOM PROPÓSITO. Como este é o ponto capital, de tal modo que uma confissão feita com todas as condições anteriores, faltando esta, é nula se a pessoa foi se confessar achando que tinha contrição e bom propósito, mas, na verdade, não tinha. É nula mas não sacrílega. Se, porém, se confessa consciente de não estar arrependido e de não ter propósito firme e eficaz, então é sacrílega. Assim, toda confissão sacrílega é nula também, mas nem toda confissão nula é sacrílega. Daí, vamos, na próxima postagem, se Deus quiser, falar sobre isso, a saber, vamos estudar os sinais para sabermos quando a confissão foi feita sem arrependimento e sem propósito firme de não mais recair nos pecados. 

segunda-feira, 6 de março de 2017

COMO FAZER O EXAME DE CONSCIÊNCIA?

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

O exame deve ser feito principalmente sobre os pecados que somos obrigados a confessar. Ora, segundo o Santo Concílio de Trento, é necessário confessar todos e cada um dos pecados mortais, de que houver lembrança depois de ter neles refletido convenientemente e com cuidado, mesmo que sejam secretos e cometidos somente por pensamento e desejo, assim como as circunstâncias que mudam a espécie de pecado.

Na verdade, há na confissão matéria necessária e matéria não necessária. Por exemplo os pecados mortais são matéria necessária; já os pecados veniais constituem matéria não necessária, embora seja louvável contar também os pecados veniais dos quais deve haver arrependimento. Depois falaremos mais sobre isto. Quanto as circunstâncias que mudam a espécie de pecado, darei apenas um exemplo para que todos possam entender: na confissão não bastaria dizer que pecou contra a castidade. Circunstâncias que mudam a espécie: por exemplo, se foi pecado solitário; e se foi com outrem tem que dizer se é casado(a)  (adultério) ou não, se é parente(incesto) ou não, se é consagrado(a) a Deus (sacrilégio) ou não; se é com pessoa do mesmo sexo (sodomia) ou não etc. Assim poderíamos dar exemplos em relação a outros mandamentos.

Caríssimos, se quereis fazer um exame conveniente, retirai-vos para qualquer lugar isolado ou para a igreja. De início, agradecer a Deus por ter esperado até este momento, e rogar-Lhe que faça conhecer a gravidade e o número dos pecados. Lembrar depois dos lugares em que estivemos, das pessoas com quem nos comunicamos, das leituras, dos divertimentos, das ocupações em que tivermos empregado depois da nossa última boa confissão. Devemos, também, refletir em todas a faltas que pudéssemos cometer por pensamentos, palavras e ações; é preciso examinar-nos particularmente sobre os pecados de omissão e sobre as obrigações do nosso estado como por exemplo: sacerdote, pai de família, magistrado, médico, advogado, comerciante etc.. Porque cada estado ou profissão tem obrigações próprias.  Mas para um exame mais exato e mais claro, quando se têm cometido diferentes espécies de pecados, é melhor pôr sob os olhos os mandamentos de Deus e da Igreja, e examinar quais as faltas em cada mandamento.

Quanto aos PECADOS VENIAIS, é bom confessá-los, visto que são também perdoados pela absolvição do confessor, mas não há obrigação disso, pois podemos obter a remissão da faltas veniais, como diz o Santo Concílio de Trento, por outros meios, seja fazendo atos de contrição ou de amor, seja recitando devotamente o Pai-Nosso.

Não havendo matéria certa depois da última confissão é preciso, se queremos receber a absolvição, acusar um pecado da vida passada, do qual se tem verdadeira contrição. Dir-se-á, por exemplo: Eu me acuso especialmente das faltas que outrora cometi contra a pureza (ou contra a caridade, ou contra a justiça, ou contra a obediência). Observem bem isto: o confessor não pode dar absolvição ao penitente que não apresentar pecados a absolver.


Assim, cada vez que uma pessoa piedosa se aproxima do tribunal da penitência, ser-lhe-á muito útil renovar, ao menos de modo geral, a confissão de uma falta notável da vida passada. Demais, é isto um ato de humildade muito agradável a Deus, e excelente meio de afastar toda a inquietação quanto à validade das suas confissões. Por não observar esta norma, muitas confissões são nulas. É claro que o confessor exorta a pessoa a fazer assim. Mas se ela não fizer, ele avisa que só lhe dará uma bênção. Então, para evitar este perigo (confissão nula), já no exame de consciência, se deve propor a confessar tal pecado mais grave da vida passada, excitando-se a uma viva dor desse pecado particular antes de chegar ao confessionário. Caríssimos, este conselho é da mais alta importância. Mas infelizmente não é compreendido ou desprezado por pessoas piedosas. 

sexta-feira, 3 de março de 2017

ATOS DO PENITENTE

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

É evidente que, para a confissão ter valor, é necessário que o penitente apresente todas as boas disposições e faça, antes, durante e depois os atos necessários.

Pois bem! Este sacramento, para ser bem recebido, exige principalmente cinco coisas da parte do penitente:

1.       A DOR dos pecados cometidos, com O BOM PROPÓSITO de não mais cometê-los.

2.       A CONFISSÃO inteira das faltas cometidas. Mas, para que o penitente possa confessar todos os seus pecados, e conceber deles uma verdadeira dor, deve fazer anteriormente com cuidado O EXAME DE CONSCIÊNCIA.

3.       A SATISFAÇÃO, ou o cumprimento da penitência imposta pelo confessor.

Comecemos pelo EXAME DE CONSCIÊNCIA,  que é realmente a primeira coisa que o penitente deve fazer. O que vou escrever sobre este assunto, é inteiramente inspirado nos escritos de Santo Afonso Maria de Ligório, o maior doutor da Igreja em Teologia Moral.

Neste ponto, devemos explanar duas questões: 1ª - Como é preciso fazer este exame? E 2ª - Desde quando se deve fazer?

1. COMO É PRECISO FAZER O EXAME DE CONSCIÊNCIA? Caríssimos, é preciso fazê-lo COM CUIDADO. Neste particular há quem peca por excesso e quem peca por falta. Em outras palavras: há quem se examina demasiadamente, e outros não fazem o suficiente.

Os primeiros são os escrupulosos, que se examinam sempre, e não estão nunca satisfeitos. Assim preocupados, aplicam-se pouco em conceber uma verdadeira dor de suas faltas e o bom propósito de corrigir-se; e depois, estes escrupulosos tornam-lhes odioso o próprio sacramento a ponto de para eles ir a confissão é equivalente a ir a um martírio.

Na verdade, o exame de consciência para a confissão não exige um cuidado extremo; basta que se o faça COM CUIDADO, procurando lembrar-se de todos os pecados cometidos depois da última confissão. Entretanto, como ensina Santo Afonso, este exame deve ser proporcionado ao estado da consciência do penitente: se não se confessou desde muito tempo, e tem caído em várias faltas graves, deve dar-lhe mais cuidado; mas, si se confessou há pouco tempo, e não cometeu senão pequeno número de faltas, seu exame exige menos indagações, e assim são suficientes poucos minutos de exame. Se finalmente, depois de um exame cuidadoso, reste algum pecado do qual não se lembrou, contanto que tenha um arrependimento geral de todas as faltas cometidas, este pecado esquecido é perdoado com os outros: somente, se for lembrado depois, há obrigação de o declarar na confissão seguinte. Não é preciso se confessar logo que lembrou do pecado que tinha esquecido na confissão, basta que na confissão seguinte que fizer, conte o pecado que, na verdade, já está perdoado, mas deve ser submetido ao poder das chaves.

Quando o confessor ordena a uma pessoa escrupulosa que não repita certas coisas na confissão, ele deve calar-se e obedecer. São Filipe Nery dizia: "Aqueles que desejam fazer progressos no caminho de Deus devem obedecer ao seu confessor, que ocupa o lugar de Deus; quem procede assim está certo de não dar a Deus conta do que faz". E São João da Cruz: "Não obedecer à decisão do confessor é orgulho e falta de fé".  Realmente, porque o Senhor disse aos seus ministros: "Quem vos ouve a mim ouve".


Se há consciências escrupulosas, há também as que são laxas. Os escrupulosos, se obedecem ao confessor, se curam e podem estar seguros, porque têm facilidade em chegar a possuir a consciência ideal que é a DELICADA.  Assim, a situação dos que têm consciência laxa, é bem mais perigosa. Pois, cometem pecados mortais sem número, e esquecem-se facilmente deles, porque não se comovem o suficiente. Fazem o pecado com a mesma facilidade ( para não dizer naturalidade), com que se estivessem bebendo um copo d'água. Depois se acusam apenas daqueles que lhes vêm à mente no momento da confissão, de modo que às vezes não é confessada nem a metade das faltas. Tais confissões nada valem; melhor seria que não fossem feitas. Devemos pedir muito a Deus uma consciência reta, certa e delicada!

quinta-feira, 2 de março de 2017

ABSOLVIÇÃO RECUSADA


Caríssimos, Jesus deu aos sacerdotes o poder de perdoar ou não perdoar. O confessor tem obrigação de recusar a absolvição a quem não está arrependido, a quem por exemplo, apesar das advertências paternais do sacerdote, não quer de modo algum deixar a ocasião próxima fumegante de pecado. Só para dar um exemplo: alguém divorciado(a) da(o) verdadeira(o) esposa(o), vive com outra(o) e não quer se separar e deixar a vida adúltera. O confessor deve fazer de tudo para converter esta pessoa que está no adultério, e, não o conseguindo, nega-lhe a absolvição e consequentemente veda-lhe a comunhão. O confessor deve dizer a esta pessoa impenitente que ela está em perigo de condenação, está na ladeira escorregadia do inferno, e, se comungar, estará comendo sua própria condenação.

É muito duro para o confessor, ver-se obrigado a chegar a este extremo! A maior alegria do sacerdote é celebrar o Santo Sacrifício e salvar almas no confessionário. Mas o sacerdote zeloso, deve dizer para Jesus Cristo: - Mestre, fiz o que pude com a vossa graça; agora continuarei rezando e fazendo alguma penitência para conversão deste pecador(a).

Mas, caríssimos, infelizmente, há certos cristãos que murmuram e se irritam quando não recebem a absolvição. Esquecem que o confessor é seu pai, mas é também seu juiz. Conceder muito facilmente a absolvição seria favorecer a desordem em lugar de impedi-la, pois muitos pecadores não compreendem a gravidade do pecado e a necessidade de romper com a má ocasião, senão quando a absolvição lhes é adiada. Além disto, para o pecador indisposto, a absolvição longe de ser um bem seria um mal e em vez de justificá-lo, não faria senão torná-lo mais indigno e mais criminoso diante de Deus. Infeliz do confessor que desse a absolvição, sabendo que deveria em consciência recusá-la! Profanaria o sangue de Jesus Cristo.

Então, que deve fazer o pecador a quem foi recusada a absolvição? São quatro coisas:

1.       Não deve desesperar, pois a recusa da absolvição não tem por fim a perda do pecador, mas antes sua emenda e sua salvação. Quando o confessor se vê obrigado a negar a absolvição, ele faz isto lembrado da palavra do Senhor: "Eu não quero a morte do pecador".
2.       É preciso que se converta deplorando suas faltas, pondo em prática os avisos do confessor, e procurando tornar-se digno o mais depressa possível da misericórdia de Deus segundo aquilo que lemos em Ezequiel, XXXIII, 11: "Quando eu disser ao ímpio: Vós morrereis certamente; se ele fizer penitência, viverá e não morrerá". Aqui é oportuno lembrar que penitência deve ser primeiramente interior, e em consequência desta, devem haver as penitências exteriores. Como diz o Divino Espírito Santo pela boca do profeta Joel: "Deveis rasgar os vossos corações". Daí, de nada adiantaria o pecador fazer até grandes penitências exteriores se não estivesse arrependido interiormente, o que significa ter vontade decidida de deixar as ocasiões do pecado.
3.       Deve orar muito. Sem a oração é impossível arrepender-se, sair do pecado, resistir às tentações; mas Deus nunca recusou sua graça e sua misericórdia àquele que a implora.
4.       É-lhe preciso principalmente a humildade. Pobres pecadores, reconhecei  os vossos erros e Deus terá piedade de vós: "Deus não repele o coração contrito e humilhado" (Salmo 50). Diz São Gregório: "O orgulhoso traz em sua fronte o selo da reprovação". O s humildes, porém, embora tenham sido os maiores pecadores do mundo, são marcados com o selo da predestinação ao Céu. Isto por que?  É que: "Deus resiste ao soberbos, e dá sua graça aos humildes" (1 Pedro, V, 5). "Eu pequei antes de ser humilhado", dizia Davi; depois exclama: "Foi-me bom ter sido humilhado" (Salmo 118, 67-71). Caríssimos filhos espirituais, dizei com Jó: "Eu pequei, ofendi verdadeiramente a Deus, e não tenho sido castigado como o merecia" (Jó, XXXIII, 27).
5.       Se com tais sentimentos, fordes, caríssimos, procurar o confessor, ele vos receberá de braços abertos, e exclamará feliz como o pai do filho pródigo: "Meu filho estava perdido, e ei-lo achado; estava morto, ei-lo ressuscitado" (S. Lucas, XV, 24). Reconhecereis então que o confessor, bem longe de ser vosso inimigo, é ao contrário o vosso mais devotado amigo. Reconhecereis que ele, se vendo obrigado a negar a absolvição, usou da verdadeira misericórdia; se desse, porém, a absolvição sem estardes bem dispostos, aí sim, teria cometido um ato de monstruosa impiedade. Vereis, portanto, que ele vos amava mesmo quando pecador, com os sentimentos do bondoso São Francisco de Sales, que não temia dizer: "Eu amo os homens maus e não há senão Deus que os ame mais do que eu". Amém!


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O CONFESSOR NA QUALIDADE DE JUIZ

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

 A Sagrada Escritura no Evangelho de S. João, V, 22 diz: "O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo poder de julgar...". Também lemos no capítulo 20, 21 a 23: "Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos". Portanto, o poder de julgar e daí o de perdoar ou não, foi dado a Jesus Cristo e este mesmo poder Jesus Cristo o comunicou aos sacerdotes no confessionário. Assim todo confessor é juiz e o juízo que exerce é o do próprio Deus.

São Cipriano, por isso mesmo, chama a confissão de: "O Juízo antecipado de Cristo". Na verdade, Nosso Senhor Jesus Cristo, na pessoa de seu ministro, pronuncia agora por antecipação uma sentença que não fará senão confirmar quando a alma comparecer diante d'Ele no momento da morte. São Cipriano com este expressão "o juízo antecipado de Cristo" quer significar que o homem culpado tem de sujeitar-se a dois juízos: um presente ao qual preside a mais tocante misericórdia; o outro futuro, onde tudo será pesado na balança da mais rigorosa justiça. Portanto está nas mãos do pecador se livrar, por assim dizer, do terrível tribunal da justiça, aproximando-se com fé do tribunal da misericórdia. Tudo que for apagado, remido, perdoado no juízo sofrido durante a vida, será suprimido no juízo que deve seguir à morte. Daí a exclamação de São Bernardo: "O Senhor não voltará sobre uma causa já julgada. O que tiver sido decretado no tribunal da Igreja, está decretado no tribunal de Deus; é uma só e mesma sentença".

Um juiz deve primeiramente  tomar conhecimento da causa que é chamado a julgar; em seguida deve examiná-la e considerar todas as circunstâncias, finalmente deve pronunciar a sentença. É isto também, caríssimos, o que deve fazer o confessor. Ele deve em primeiro lugar conhecer os pecados que o penitente cometeu, deve em seguida avaliar a sua gravidade, assim como atender às disposições do pecador. E, no caso de ter visto as boas disposições do penitente, dá a absolvição e impõe uma penitência proporcional na medida das possibilidades de cada um. Com já tivemos oportunidade de demonstrar, para o confessor exercer corretamente este poder divino de julgar e perdoar, terá que ouvir cada um em particular. Daí a confissão tem que ser auricular.


Finalmente devemos concluir que o confessor é juiz de nossas consciências, de nossas disposições; é juiz, outrossim, da própria absolvição  e é juiz para impor a devida e praticável penitência. Devemos, contudo, observar que Jesus Cristo é Juiz e, sendo Deus, julga vendo Ele mesmo o íntimo de cada um. Assim, por exemplo, perdoou ao homem paralítico. Mas o padre, julga somente pelo que o próprio penitente diz. Não pode julgar além disto. E a conclusão que se tira é a necessidade de o penitente ser sincero. Não o sendo por ocultar pecado mortal, e/ou por não dizer o número dos pecados mortais e/ou as circunstâncias que mudam a espécie de pecado, embora o confessor dê a absolvição, Jesus Cristo não perdoa e ainda pedirá contas ao pecador pelo sacrilégio. 




terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

TENTAÇÃO COMUM DOS ESCRUPULOSOS

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

 Na verdade, o demônio costuma embaraçar as almas escrupulosas inspirando-lhes o temor de pecar, se fizerem o que diz o confessor. É preciso vencer esta tentação, ou, melhor dizendo é preciso vencer estas vãs apreensões. Desde que o confessor aconselhe alguma coisa, todos os doutores e todos os mestres da vida espiritual ensinam, comumente, que é preciso vencer o escrúpulo e obedecer. Aquele que obedece caminha sempre seguro. "Nunca um verdadeiro obediente se perdeu", diz S. Francisco de Sales. E acrescenta: "É preciso contentar-se com saber que se pratica o bem obedecendo ao pai espiritual, sem indagar as razões". Um padre dizia: "Mesmo quando o confessor se enganasse, o penitente não se engana obedecendo e caminha com segurança".

É ao confessor que compete decidir se uma pessoa é escrupulosa ou não. Todos os escrupulosos  pretendem que seus escrúpulos não são escrúpulos, mas verdadeiros pecados. O demônio os engana assim para tornar-lhes odiosa a vida espiritual, para fazê-los abandonar a oração, a comunhão, para conduzi-los pelo caminho largo, e mesmo para fazê-los perder a cabeça. Também, uma pessoa escrupulosa que não obedece está perdida.

Eis aí porque os teólogos ensinam que, quando um confessor ordena agir com liberdade e vencer seus escrúpulos, não somente se pode, mas mesmo se deve obedecer. Demais São João da Cruz declara que "não crer na decisão do confessor, é orgulho e falte de fé". É isto que o escrupuloso deve temer, e não imaginários pecados.

O Padre Tanquerey, grande teólogo, fala sobre os inconvenientes do escrúpulo: "1º - Quando alguém tem a desdita de se deixar dominar pelos escrúpulos, são deploráveis os efeitos que eles produzem no corpo e na alma. Vamos resumir:

a) Enfraquecem gradualmente e desequilibram o sistema nervoso: os temores, as angústias incessantes exercem uma ação deprimente sobre a saúde do corpo; podem converter-se numa verdadeira obsessão.

b) Cegam o espírito e falseiam o juízo: perde-se pouco a pouco, a faculdade de discernir o que é pecado do que não o é; o que é grave do que é leve.

c) A indevoção do coração é muitas vezes consequência do escrúpulo; à força de viver na agitação e confusão torna-se o escrupuloso medonhamente egoísta, entra a desconfiar de toda gente, até de Deus, que começa a olhar como demasiado severo; queixa-se de que o Senhor nos deixe nesse infeliz estado, acusa-o injustamente: é evidente que a verdadeira devoção, em tal estado, é impossível.

d) Vêm por fim os desfalecimentos e as quedas. O escrupuloso gasta as energias em esforços inúteis sobre ninharias, e depois já não tem força para lutar em pontos de grande importância. Daí vem os desfalecimentos. E não encontrando alívio na piedade, vai procurá-la noutras partes, o que, às vezes, é perigoso.

O escrupuloso deve rezar pedindo a Deus a cura desta doença espiritual. Neste ínterim, Deus quer que a alma tire algum proveito: Deve aceitar este sofrimento como uma provação. Assim deve aproveitá-lo para purificar a alma e deve chegar a uma grande pureza de coração. Também ajuda na aquisição da humildade e da obediência. O escrupuloso se corrigindo tem facilidade de chegar a possuir uma consciência delicada, o que é um grande dom de Deus. 




segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

GRANDES AUTORES ESPIRITUAIS E SANTOS FALAM DA OBEDIÊNCIA AO CONFESSOR

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

"É justo, nota São Gregório, que aqueles que obedecem , triunfem de todas as tentações do inferno, pois, submetendo sua vontade aos outros por obediência, tornam-se superiores aos demônios que caíram por sua desobediência". Ao assim se expressar este santo deveria ter em mente esta palavra do Divino Espírito Santo: "O homem obediente será vitorioso" (Prov. II, 21).

O célebre escritor espiritual Cassiano acrescenta que aquele que mortifica sua própria vontade destrói todos os vícios, porquanto "todos os vícios provêm da vontade própria".

"A obediência ao confessor, diz o Padre Perriens, nos faz também vencer todos os artifícios do demônio, que por vezes, sob pretexto de algum bem, nos leva a nos expormos às ocasiões perigosas, ou nos faz empreender certas coisas que parecem santas, mas que podem causar-nos muito mal; por exemplo: às pessoas piedosas, o espírito maligno faz empreender penitências imoderadas; perdem a saúde, depois abandonam tudo e tornam a tomar o caminho largo que seguiam primeiramente. Eis, aí o que acontece a quem age por sua própria cabeça; mas, quem se deixa guiar pelo confessor, não tem que temer semelhantes ilusões. Aquele que obedece perfeitamente ao confessor tem certeza, não somente de salvar-se (se perseverar), mas mesmo de santificar-se. A santificação consiste em fazer a vontade de Deus como o ensina Santo Tomás de Aquino. Ora, santa Tereza declara que a obediência ao confessor é o meio certo de fazer a vontade de Deus. Segue-se daí que aquele que age por obediência ao confessor, agrada sempre a Deus, seja praticando a oração, a mortificação, a comunhão, seja omitindo seus piedosos exercícios. Do mesmo modo, ele merece sempre, seja divertindo-se, seja trabalhando; pois, obedecendo, faz sempre a vontade de Deus. Assim, continua o Pe. Perriens, a obediência ao nosso confessor é a coisa mais agradável que podemos oferecer a Deus, e é o meio seguro de cumprir sua divina vontade".

Santo Henrique Suso assegura que "Deus não nos pedirá conta do que tivermos feito por obediência". Grande consolo para os escrupulosos!

Santa Teresa d'Ávila diz: "Que a alma tome seu confessor por juiz, com a resolução de não mais pensar em sua causa, mas de confiar nestas palavras de Nosso Senhor: Aquele que vos ouve, a mim ouve." E a grande Reformadora do Carmelo, acrescenta que é este o meio certo de fazer a vontade de Deus. Também declara que foi por este meio, a obediência ao confessor, que ela mesma aprendeu a conhecer e a amar a Deus. Não temia afirmar que "a obediência é o caminho mais curto para chegar à perfeição".

São Filipe Néry dizia: "Enquanto se obedece se tem segurança de não dar conta a Deus do se faz". Por conseguinte, se praticais assim a obediência, suponhamos que no dia do juízo Jesus Cristo vos dirija estas perguntas: por que ficastes tranquilo quanto às suas confissões, por que escolhestes este gênero de vida? Por que comungastes tantas vezes? Por que deixastes aquelas penitências? Podereis responder: Senhor, assim o ordenou meu confessor. Então o divino Juiz não poderá senão aprovar o que tiverdes feito.

Aqui me dirijo especialmente às almas escrupulosas. Caríssimos, o(a) escrupuloso(a), em particular, é obrigado(a) a obedecer a seu confessor. Além das razões a acima indicadas, o escrupuloso tem mais esta: que é incapaz de julgar por si mesmo sua consciência e seus atos; e obedecendo, está sempre certo de proceder bem. Dois grandes meios para cura desta doença espiritual: oração e obediência ao confessor. São Domingos, foi tentado de ter escrúpulo justamente por obedecer ao seu confessor. Nosso Senhor Jesus Cristo disse-lhe: "Por que temes obedecer a teu diretor? Tudo que ele diz deve servir para teu bem".

São Bernardo ensina que: "tudo que manda aquele que ocupa o lugar de Deus, a menos que não seja evidentemente um pecado, deve ser recebido como se Deus mesmo o ordenasse". Pode alguém pensar:  - Mas meu confessor não é um São Bernardo. Responde o grande escritor espiritual Gerson: "Não dizeis bem, pois vos confiastes aos cuidados deste homem, não porque seja hábil, mas porque Deus vo-lo deu por guia; deveis pois obedecer-lhe, não como a um homem, mas como a Deus". É óbvio igualmente, digo eu, que neste tempo de crise em que muitos padres progressistas não seguem a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos tomar cuidado! No caso de não haver outro, confesse-se com o progressista, mas prestar bem atenção nos seus conselhos e ordens no confessionário. Caso não estejam em acordo com o que a Igreja sempre ensinou, simplesmente não seguir. E o quanto for possível evitar confessar-se com tais confessores. Na verdade, se o confessor, sendo fiel à doutrina de Jesus Cristo, pode fazer um grande bem às almas, também é verdade que o mau confessor pode fazer um mal enorme. Hoje infelizmente é mister fazer estas advertências, que antigamente os autores espirituais não precisavam fazer, pelo menos assim tão insistentemente. O perigo hoje é muito maior, porque a grande e terrível arma empregada pelos modernistas hodiernos é a ambiguidade. São Bernardo diz: "a menos que não seja evidentemente um pecado". Mas hoje aconselha-se o que é pecado nebulosamente disfarçado nas ambiguidades. Os caríssimos leitores devem já estar adivinhando o porquê destas minhas observações: o perigo atual de padres modernistas ou neomodernistas aplicarem a já famigerada "Amoris Laetitia" nas suas ambiguidades que dão azo às más interpretações. Estas más interpretações não levam apenas a pecados veniais, mas a pecados mortais gravíssimos, quais sejam os adultérios e os sacrilégios. Pior: ao estado de pecado de adultério e ao estado de sacrilégios. Uma coisa (que não deixa de ser grave) é esporadicamente alguém cometer um adultério e depois se arrepender, se confessar e não pecar mais, e outra coisa imensamente mais grave, deplorável e ladeira escorregadia para o inferno,  é alguém viver no adultério. O mesmo se diga dos sacrilégios.



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O PENITENTE DEVE OBEDECER O CONFESSOR QUE ACONSELHA COM A DOUTRINA DE JESUS

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Caríssimos, escutemos o Apóstolo São Paulo: "Obedecei com submissão àqueles que são encarregados de vos conduzir, pois eles velam por vossas almas, devendo dar conta a Deus, afim de que cumpram este dever com alegria, e não gemendo, o que não vos seria vantajoso" (Hebreus, XIII, 17).

Infelizmente pode haver penitentes que discutam com seu confessor, para atraí-lo à sua opinião, e isto faz sofrer o pobre confessor, que é pai espiritual. Mas o Apóstolo os adverte que este proceder não lhes é vantajoso; pois quando o confessor vê que o penitente não se submete ao que diz, e o faz sofrer mil trabalhos para conduzi-lo no bom caminho sem o menor resultado, recusa guiá-lo. E ai do doente que o médico abandona!. Quando um doente não quer obedecer, recusa tomar os remédios receitados, e quer comer o que lhe agrada, que faz o médico? Abandona-o a si mesmo e deixa-o agir à sua vontade. Mas, então, que será da saúde deste doente? Vai de mal a pior, e a morte não está longe. Na verdade, o penitente relutante e desobediente só poderá cair no precipício. O Espírito Santo diz a todos os homens: "Caminhareis no meio de armadilhas" (Ecles. IX, 20). Sim, caminhamos neste mundo, expostos a mil armadilhas, tais como as tentações do demônio, as más ocasiões, os prazeres perigosos, e, mais ainda, as nossas próprias paixões, que nos perdem tantas vezes. Aí estão tantas ciladas, armadas pelo espírito maligno para nos enganar. Quem se salvará no meio de tantos perigos? A Sagrada Escritura responde: "Só se salvará aquele que evitar os laços" (Prov. XI, 15). E diz ainda no Livro do Eclesiástico III, 27: "Quem ama(=procura) o perigo, nele cairá". Ora como se pode evitar os laços e os perigos? Se tivésseis de atravessar durante à noite um bosque cheio de precipícios, sem ter um guia para vos esclarecer e vos indicar os passos perigosos, vos arriscaríeis certamente a perder a vida. É o que acontece no caminho da salvação àqueles que querem seguir seu próprio entendimento. A eles se dirige esta advertência do divino Mestre: "Tomai cuidado que a luz que julgais ter não seja senão trevas" (S. Lucas, XI, 15).  e não cause vossa perda conduzindo-vos não fundo de algum abismo.

Caríssimos, de passagem, vamos refletir um pouco sobre as palavras do Divino Mestre que acabamos de citar: "Tomai cuidado que a luz que julgais ter não seja senão trevas". Esta reflexão, confesso, não estava nos meus planos, pelo menos, neste artigo. Mas veio-me a lembrança das controvérsias  que estão sendo levantadas após "Amoris Laetitia". Infelizmente já para muitos está sendo não luz mas trevas. Pois, é conversa para boi dormir (desculpem-me a expressão) este negócio de dizer que para um adúltero(a) (= casado(a) validamente, separado(a) e amasiado(a) com outra(o) poder comungar deve está "arrependido"(a), e, então, em dadas circunstâncias, a "misericórdia" se contentaria em exigir que o(a) tal continuasse a viver com a(o) amante, mas como "irmãos", isto é, não como se fossem esposos ("modo uxorio"). É claro que em certas circunstâncias realmente seria possível, como em caso de velhice avançada e doença. Mas são casos raros! E mesmo nestes casos é preciso evitar todo escândalo.  O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo disse que a carne é fraca, e por isso é mister fugir do perigo e rezar. E aqui podemos repetir também o que Ele disse: "Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra". E se o homem é fraco em tudo, neste ponto de castidade e pureza, sua fraqueza ainda é maior. Seria mais ao menos assim: Suponhamos que um homem fosse preso numa casa onde não havia senão água barrenta num balde sujo. Passados alguns dias a sede era já muito grande. Mas, o tal homem olhava por balde com água suja, dava meia volta e saía de perto. Mas até que um dia não aguentou mais e bebeu a água suja e que no início era repugnante. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Mas "Amoris Laetitia" em suas ambiguidades, oferece outras "soluções misericordiosas" ainda muito mais polêmicas, que não trato aqui por falta de espaço. Mas "a fortiori" os confessores fiéis à doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo nunca poderão aplicar. 

Por isso, ninguém acredita nisto, e, portanto, é um grande escândalo. E sobre escândalos, o Divino Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo disse: "Ai daquele de quem vier o escândalo!".

Portanto, se o(a) penitente estiver verdadeiramente arrependido(a), deverá fazer a si mesmo(a) uma verdadeira violência, e deixar a(o) companheira(o) com quem vive na mesma casa. Quando isto estiver bem comprovado pelo público, só então, poderá se confessar e comungar. Mas se tiverem filhos? Primeiro eles serão beneficiados pelo exemplo de uma verdadeira conversão de seus pais; segundo deixarão de ser escandalizados pelo viver pecaminoso de seus progenitores. E isto é verdadeira misericórdia.

Alguém dirá: - Mas isto é muito duro e violento. Então ouçam o que disse o Divino Mestre: "Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus adquire-se à força, e são os violentos que o arrebatam" (S. Mateus, XI, 12). Jesus elogiou João Batista dizendo que ele não era uma cana agitada pelo vento. E todos nós sabemos que o Precursor de Jesus dizia para o rei Herodes que este não podia continuar vivendo no adultério.

E quando Jesus Cristo falou sobre a indissolubilidade e unidade (=um homem e uma mulher) do matrimônio os próprios discípulos acharam isto muito duro a tal ponto que exclamaram para Jesus: "Se assim é... seria melhor nem casar". E Jesus não voltou atrás e nem amenizou nada. (Cf. São Mateus, XIX, 3 a 12). E quem teria a sacrílega audácia de tachar Jesus de sem misericórdia?!



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

DEVER DO PENITENTE A RESPEITO DO CONFESSOR CONSIDERADO COMO MESTRE

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Já vimos como o confessor ocupa no confessionário o lugar do próprio Jesus. Donde o penitente deve ouvir o confessor como se fosse Jesus Cristo. No confessionário também se aplicam aquelas palavras do Divino Mestre: "Quem vos ouve, a mim ouve" (S. Luc. X, 16). Caríssimos, pesemos bem estas palavras: elas significam que Jesus Cristo se identificou de algum modo com o confessor para nos ensinar, nos esclarecer, nos dirigir e nos declarar as suas vontades. De modo que obedecer ao confessor é obedecer ao próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. O sacerdote é chamado "alter Christus" , isto é, "outro Cristo". É óbvio que todo padre deve procurar fazer tudo de tal modo que possa dizer com São Paulo: "Sede meus imitadores como eu sou de Jesus Cristo". Se isto é dito para todos, aplica-se especialmente aos padres. Se os padres são "Alter Christus", devem desempenhar seu ministério como Jesus Cristo o fez. Infelizmente não podemos negar que há maus padres; mas estes não são "Alter Christus" no seu ministério de ensinar, são sim outros "Judas Iscariotes". O próprio São Paulo diz que "todos nos considerem como ministros de Cristo"; mas logo acrescenta: "É preciso que o ministro seja fiel". É preciso deixar claro que a absolvição dada por um mau padre é válida. Aqui falamos dos seus conselhos, orientações e ordens, que nem sempre podem ser bons e, portanto, não devem ser seguidos.

 Se o Rei do céu estivesse em pessoa no confessionário, com que fé, com que respeito e submissão não o escutaríamos e não receberíamos seus conselhos, suas ordens e suas decisões? Mas, na verdade, Jesus está em seu ministro fiel para nos falar: "Aquele que vos escuta a mim escuta"; e para nos mostrar a obrigação que nos é imposta de ouvi-Lo, acrescenta: "Aquele que vos despreza a mim despreza".


Caríssimos, como estas palavras são consoladoras para a alma dócil e submissa, mas como são terríveis para a alma rebelde e desobediente! Portanto, quem não obedece ao confessor, está em grande perigo de condenar-se. E quem lhe obedece, está certo de salvar-se, e mesmo de santificar-se. O escrupuloso em particular está seguro de bem agir em tudo que faz por obediência ao confessor. Eis aqui como Santo Afonso desenvolve esta doutrina: 1 - Aquele que não obedece ao confessor está em grande perigo de se condenar. A prova disto está nas seguintes palavras de Jesus Cristo: "Aquele que vos despreza a mim despreza". Não é uma coisa horrível desprezar Àquele que deu seu sangue e sua vida sobre a cruz para nos salvar? Deus disse a Samuel, desprezado pelo povo hebreu cujo governo lhe estava confiado: "Não é a vós, é a mim que eles desprezam" (1 Reis, VIII, 7). 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O CONFESSOR É MESTRE DA FÉ, DA MORAL E DA PIEDADE

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Na verdade, o confessor é o mestre e o diretor que Jesus Cristo nos deu para nos ensinar o verdadeiro caminho do céu. Donde, devemos receber seus salutares ensinamentos com toda fé, todo respeito e toda a submissão possíveis. Quando Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos seus discípulos: "Ide e instruí a todas as nações, e ensinai-lhes a observar tudo o que vos mandei; e, - eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mat. XXVIII, 19) Ele se dirigiu tanto aos pregadores como também aos confessores. O confessor, pois, deve instruir o penitente em tudo que diz respeito à fé, a moral e à piedade. Isto, às vezes, se torna necessário ou útil. O confessor, é, portanto por direito divino, mestre da fé, mestre da moral e mestre da piedade.

Consideremos estes três pontos:

1º - O CONFESSOR É MESTRE DA FÉ: Porque ele deve certificar-se, em primeiro lugar, se o penitente crê e conhece o que é necessário crer, pois que "sem a fé é impossível agradar a Deus" ( Hebr. XIV, 6). Ora, a fé que é necessária para agradar a Deus, não é a fé dos judeus, nem a dos protestantes e nem a dos modernistas, mas é a fé firme e absoluta da santa Igreja católica, fé baseada na autoridade de Deus, a fé acompanhada das boas obras. O confessor deve, portanto, lembrar aos cristãos as verdades da religião, dissipar as dúvidas que assaltam sua inteligência e premuni-los contra os erros que a impiedade propaga. Daí dizer o próprio Espírito Santo em Malaquias II, 7: "Os lábios dos sacerdotes serão os guardas da ciência; da sua boca se há de aprender a lei...". O confessor é "intérprete da vontade de Deus" (Cf. Mat.II, 7); ele é "a luz do mundo" (Cf. Mat. V, 14). Pois, é ele que deve esclarecer as almas. "É o sal da terra" (Cf. Mat. V, 13) para a preservar da corrupção do erro; é ainda "a sentinela vigilante" (Cf. Ez. III, 17) justamente para pôr as almas em guarda contra os ímpios. Por isso o confessor é obrigado a proibir aos penitentes as festas profanas e mundanas (como e aqui em Varre-Sai, a Festa do Vinho), as conversas, as leituras, as escolas que seriam perigosas para a sua fé.

2º - O CONFESSOR É MESTRE DA MORAL CRISTÃ: É encarregado de lembrar aos fiéis a observância dos mandamentos de Deus e da Igreja e o cumprimento dos deveres de estado. Eis o que disseram alguns santos: S. Gregório disse a este respeito: "Ele (o confessor) é especialmente constituído por Deus para indicar o bom caminho àqueles que se desviam". Portanto, deve ensinar a cada um, o mal que evitar, as ocasiões de que fugir, os meios de salvação que praticar. 

S. Bernardo: "O sacerdote é o anjo visível encarregado de conduzir as almas ao céu através dos perigos desta vida". Depois que Nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu, é ao confessor que o cristão cuidadoso pela sua salvação deve dirigir a pergunta do moço do Evangelho: "Que devo fazer para alcançar a vida eterna?" E a resposta será a mesma que deu o Salvador: "Observai os mandamentos... E, se quereis ser perfeitos, ide, vendei o que tendes, dai-o aos pobres: tereis assim um tesouro no céu; depois vinde, segui-me" (S. Mateus, XIX, 17).


3º - O CONFESSOR É MESTE DA PIEDADE: São Gregório de Nyssa chama o sacerdote o "mestre da piedade", e com razão, pois, o confessionário é uma escola em que se ensina às almas a prática de todas as virtudes. Ali, o orgulhoso recebe lições de humildade, o colérico lições de mansidão, o sensual lições de mortificação; lá, o rico aprende a dar as esmolas, o pobre a ser resignado, o magistrado a governar com sabedoria, o superior a mandar sem arrogância, o súbdito a obedecer com humildade; ali, são ensinadas com autoridade toda divina, as virtudes, as práticas e as devoções mais santificantes, tais como a oração, a meditação, a frequência dos sacramentos, a devoção ao Santíssimo Sacramento, à Paixão de Cristo, à Santa Virgem , a São José, etc. Ali no confessionário quantas famílias são levadas a rezar o Santo Terço todos os dias! Amém!

domingo, 12 de fevereiro de 2017

O CONFESSOR APLICA REMÉDIOS GERAIS E PARTICULARES

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

 Papa Bento XIV dizia que os avisos do confessor são mais salutares do que os sermões. Não é difícil compreender isto, porque o pregador não conhece, como o confessor, as circunstâncias pessoais que colocam este em melhores condições para fazer a correção e aplicar o remédio ao mal. E estes remédios podem ser gerais e também particulares.

Primeiramente vamos ver quais os REMÉDIOS GERAIS:

1º - AMAR A DEUS: pois este é o fim para o qual nos criou. Quem vive no amor de Deus, isto é, em estado de graça, é feliz mesmo neste mundo, ainda que tenha escassez dos bens materiais; quem está privado da graça, sofre desde esta vida um inferno antecipado. E depois, quantos males, mesmo temporais, o pecado arrasta após ele?

2º - RECOMENDAR-SE FREQUENTEMENTE A DEUS, à Santa Virgem, a São José, a seu anjo da guarda e a seu Santo protetor; rezar todos os dias o Santo Terço; rezar três Ave-Maria de manhã e à noite, dizendo: "Maria, minha boa Mãe, preservai-me hoje de todo pecado".

3º - FREQUENTAR OS SACRAMENTOS: Principalmente confessar-se logo que tenha tido a infelicidade de cometer um pecado mortal.

4º - MEDITAR SOBRE OS NOVÍSSIMOS, MORTE, JUÍZO, INFERNO E PARAÍSO.  Este conselho é dado pelo próprio Espírito Santo: "Em todas as vossas obras, meditai nos vossos novíssimos e não pecareis jamais" (Eclesiástico, VII, 40). Cada qual deve pensar na sua própria morte, no seu juízo, se está preparado para o céu ou no caminho do inferno. Em tudo o que for fazer devo pensar assim: que vale isto para a eternidade? para a feliz ou para a infeliz? Fazendo assim a gente não peca. Andar sempre na presença de Deus.

5º - TER O PENSAMENTO EM DEUS SOBRETUDO NO MOMENTO DAS TENTAÇÕES: Nestes momentos devemos dizer: "Deus me vê".

6º - RENOVAR CADA MANHÃ A RESOLUÇÃO DE NÃO OFENDER A DEUS: Dizer sempre com São Filipe Nery: "Senhor, que vossa mão me ampare hoje, sem o que cairei e posso vos trair".

7º - FAZER TODAS AS NOITES O EXAME DE CONSCIÊNCIA: Depois do exame, fazer o ato de contrição e de bom propósito. Procurar lembrar a Paixão e Morte de Jesus e assim ter mais facilidade em conseguir fazer um ato de amor, de contrição perfeita.

REMÉDIOS PARTICULARES: Estes devem ser apropriados aos vícios ou aos defeitos que dominam cada penitente. Assim compreendemos que só o confessor, que é o depositário dos segredos dos corações, tem condição de prescrevê-los e faz isso com toda prudência.

Caríssimos, estes remédios tanto gerais como particulares merecem da parte dos penitentes a mais séria atenção. Se não os empregar, não se curarão espiritualmente.

Quero terminar apresentando-vos, caríssimos, uma espécie de parábola: Um médico muito hábil foi chamado um dia para tratar de três pessoas atingidas da mesma moléstia mortal. "Eu tenho, lhes disse ele, excelentes remédios; se seguirdes fielmente minhas prescrições, eu garanto que ficareis curados em poucos dias". Receberam os doentes a receita sem dizer palavra; ela se compunha de duas espécies de medicamentos, uns fáceis de tomar, outros amargos e repugnantes. O primeiro doente fez exatamente tudo que o médico tinha receitado, e, oito dias depois, ocupava-se alegremente com seus trabalhos. Estava curado. O segundo, menos dócil, não quis tomar senão as poções agradáveis, recusando obstinadamente as amargas, conquanto fossem muito mais eficazes. Mas quinze dias não tinham passado quando se anunciava sua morte. O terceiro foi mais rebelde ainda; não quis submeter-se a regime algum, nem reprimir seu apetite e sua sensualidade. Também no fim de três dias, morreu.
Estes três doentes são a figura de três espécies de pecadores, que vão declarar ao confessor suas enfermidades espirituais. O primeiro segue à risca tudo que lhe é imposto pelo representante de Jesus Cristo: oração, fuga das ocasiões, frequência dos sacramentos, pensamento sobre a morte, enfim, não omite nada. E assim por mais arraigados que estejam seus maus hábitos, em pouco tempo se cura.
A segundo espécie de pecadores se compõe daqueles que querem fazer só uma parte do que o confessor manda, mas não tudo. Por ex. não querem fugir de certas ocasiões próximas de pecado. Ou então renunciam os xingamentos e blasfêmias, mas não às injustiças que vinha cometendo. Continuam sem reparar e praticando outras, por causa da avareza. Nem um São Paulo, dizia S. Filipe Nery, conseguiria curar tais pecadores.


A terceira classe de pecadores se compõe dos que nada querem fazer. Até prometem fazer o que o confessor mandou. Mas não fazem nada: não rezam, não fogem das ocasiões. A estes tais se aplicam as palavras do profeta Jeremias: "Se um etíope pode mudar a sua pele, ou um leopardo as suas malhas, podereis vós também fazer o bem, vós que não aprendestes senão a fazer o mal"? (Jeremias, XIII, 23). Daí a sentença terrível do mesmo profeta, sentença que se aplica também a tais pecadores: "Medicamos Babilônia, ela não sarou; deixemo-la...porque a condenação que ela merece chegou até aos céus..." (Jeremias, LI, 9).

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O CONFESSOR É MÉDICO DAS ALMAS

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Os males acometidos contra as almas podem ser considerados doenças. E neste caso, qual é o médico? É o confessor. Devemos, ainda considerar que as enfermidades espirituais são muito mais funestas do que as corporais, porque podem conduzir a morte eterna. Assim, os fiéis devem procurar o remédio para suas paixões, para as suas más inclinações, para os seus vícios, enfim, para seus pecados, no confessionário. Ali está um pai, como já vimos, mas está também o médico das almas. Foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem estabeleceu o sacerdote para ser o médico das almas.

Caríssimos, que missão sublime esta do confessor! Dizia Jesus Cristo: "Não são aqueles que passam bem que têm necessidade de médico, são os doentes"  e acrescentava: "Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores". Nosso Senhor enviou o confessor para curar aqueles que têm o coração contrito (Cf. S. Lucas IV, 18). Jesus Cristo, Médico incomparável, Ele restitui a vista aos cegos, a audição aos surdos, a palavra aos mudos, a saúde aos doentes, e mesmo a vida aos mortos.

O médico tem quatro deveres a cumprir para com o doente:
1.       Deve procurar bem conhecer sua moléstia.
2.       Quando a conhece, deve dar ao enfermo sábios conselhos para induzi-lo a se tratar e a evitar tudo quanto é prejudicial.
3.       Deve prescrever-lhe remédios eficazes e apropriados à moléstia.
4.       Deve com bastante frequência examinar ao seu doente para certificar-se se suas prescrições são executadas, se os remédios produzem efeito, se não é preciso prescrever outros.
Ora, aí estão precisamente os deveres do confessor em sua qualidade de médico das almas. Vejamos hoje, os dois primeiros destes quatro deveres do confessor como médico das almas:

·         1º - Deve procurar conhecer bem as moléstias de seu penitente: O confessor primeiramente deve indagar a origem e a causa das enfermidades espirituais de seu penitente. Para conhecer a gravidade do mal, ele deve informar-se dos hábitos viciosos, das ocasiões que o fazem cair no pecado; deve saber desde que tempo está sujeito a este vício, em que lugar, em que circunstância, com que espécie de pessoas caíra nele. É claro que os penitentes já devem explicar isto, mas, se o não fazem, o confessor com muita prudência e delicadeza, procura ajudar os seus doentes espirituais. Isto porque esses conhecimentos lhe são necessários para saber quais os avisos e quais os remédios que deve dar ao penitente. E assim, este não deve nem estranhar nem achar ruim que o confessor lhe interrogue sobre estes pontos. O bom confessor que ainda não conhece bem seu penitente, tem obrigação de fazer estas perguntas, e o penitente deve, por sua vez responder com sinceridade, porque isto é indispensável para a cura da sua alma.  Nós gostamos dos médicos que fazem muitas perguntas porque demonstram que realmente se preocupam com a nossa saúde. O mesmo devemos pensar ao relação aos médicos das nossas almas, que são os nossos confessores.


·         2º - Assim tendo todo conhecimento necessário, o confessor dá sábios conselhos para induzir o penitente a se tratar e a evitar tudo quanto é prejudicial: Portanto, depois destas perguntas (que explicamos logo acima no nº 1) o confessor, bem instruído da origem e da gravidade do mal, passará a dar os avisos sérios e com mansidão, primeiro porque é médico e segundo porque é pai. Na qualidade de médico o confessor é obrigado a fazer advertências. Deve mostrar aos penitentes carregados de maiores iniquidades, a malícia dos seus pecados, as funestas consequências a que eles arrastam, os castigos que eles merecem, os pesares amargos que experimentarão  por causa deles na hora da morte, as graças preciosas que desprezam, a triste sorte que os ameaça na eternidade. Mas, os penitentes não devem se assustar, pois o confessor deve também, a exemplo do bom Samaritano, misturar o óleo com o vinho para curar as feridas, isto é, deve misturar a doçura à severidade, e mesmo a doçura deve exceder a severidade. O confessor sabe que no confessionário, mais do que em qualquer outro lugar, vale a sentença de São Francisco de Sales: "Pegam-se mais moscas com uma gota de mel, do que com um barril de vinagre". Não esqueçamos nunca que, no confessor, a qualidade de médico está sempre inerente à de pai. Se fosse pai segundo o sangue como acontece no Oriente, seria mais difícil, mas é pai espiritual, é pai pela bondade, e talvez seria melhor dizer que alma do confessor é "mãe"! Amém!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O PADRE É PAI ESPIRITUAL

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

PADRE, DAI-ME A VOSSA BÊNÇÃO PORQUE PEQUEI!

Caríssimos, é assim que iniciamos as nossas confissões: Padre, isto é, pai, dai-me a vossa bênção porque pequei! O penitente chama o confessor de pai e, justamente porque pecador, ele pede bênçãos paternais! Pai! esta palavra diz tudo. "Pai, se tendes o poder de restituir-me a vida da graça, abençoai-me". E o padre, que é verdadeiro pai espiritual, aceita esse título tão suave de pai, e se mostrará verdadeiramente pai. Comovido com a súplica de seu filho, ele diz, fazendo o sinal da cruz: Que o Senhor esteja em vosso coração e sobre vossos lábios, afim de que façais uma sincera e inteira confissão de todos os vossos pecados; em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. E o penitente, que já deve ter rezado o ato de confissão, o mesmo que se reza antes da Missa ao pé do altar, faz a sua confissão dizendo  todos os seus pecados por pensamentos, palavras e obras, dizendo o número dos que são mortais, e mostrando as circunstâncias que mudam a espécie dos pecados mortais. Então, o confessor com toda bondade de pai, vai dar os conselhos. Só em casos muito raros o confessor toca nos pecados que acabou de ouvir. Só o faz na hipótese de fazer algum pergunta necessária, mas sempre no sentido de bondosamente ajudar o penitente a fazer uma boa confissão. O confessionário não é lugar de censuras e, muito menos, de descomposturas. O confessor fala pensando como Jesus falaria estando em seu lugar. O padre dá ao penitente seus carinhosos conselhos, e depois diz com todo fervor de seu amor: Que o Deus Onipotente tenha piedade de vós, e que depois de vos ter perdoado vossos pecados, vos conduza à vida eterna. Assim seja! Acrescenta ainda: Que o Senhor Onipotente e misericordioso vos conceda o perdão, a absolvição e a remissão de todos os vossos pecados. Assim seja!Depois disto ele levanta a mão e pronuncia as palavras poderosíssimas da absolvição...


Caríssimos, é um momento solene! Pois, os laços infernais que ligavam o pecador, foram quebrados, o demônio sai de sua alma, o inferno fecha-se sobre sua cabeça, outra vez seu nome é inscrito com letras de ouro no livro da vida, a veste de inocência lhe é restituída com todos os seus méritos passados; a augusta Trindade o olha com complacência; os anjos exultam de alegria; e eis aí a sua alma bela, pura como no dia de seu batismo. O penitente se retira. Ele se tinha ajoelhado filho do demônio, se ergue filho de Deus. E o confessor? Só pensa nestas maravilhas operadas na alma de seu penitente. Não pensa em mais nada; só nesta alegria de fazer tanto bem em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. A alegria do confessor é realmente a de um pai que recupera seu filho. Muito mais do que isto, sente a alegria inefável de ter feito as vezes de Jesus: sente a alegria de ter sido um pai, pois, gerou novamente um filho para Deus. Amém!

sábado, 4 de fevereiro de 2017

O CONFESSOR É PAI MESMO PARA OS GRANDES PECADORES

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Como o pai do filho pródigo, assim com toda ternura e bondade deve o confessor acolher até os maiores pecadores. Vamos, hoje, meditar nesta tocante parábola do  filho pródigo, feita pelo divino Mestre para mostrar aos fariseus a razão pela qual Ele recebia os pecadores e até tomava refeição com eles. Na verdade, com esta finalidade, Nosso Senhor Jesus contou três parábolas: a da ovelha tresmalhada, a do filho pródigo e a da dracma perdida. S. Lucas relata-as no capítulo 15 de seu Evangelho. A do filho pródigo vai do versículo 11 a 32:

"Um homem tinha dois filhos, o mais novo deles disse a seu pai: Pai, dá-me parte dos bens que me toca. Ele repartiu entre eles os bens. Passados poucos dias, juntando tudo (o que era seu), o filho mais novo partiu para uma terra distante, e lá dissipou os seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, houve naquele país uma grande fome e ele começou a sentir necessidade. Foi, pois, e pôs-se a serviço de um dos cidadãos daquela terra. Este mandou-o para os seus campos guardar porcos. Desejava encher o seu estômago dos frutos que os porcos comiam e ninguém lhos dava. Mas, tendo entrado em si, disse: Quantos diaristas há em casa de meu pai, que têm pão em abundância e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus diaristas. Levanto-se foi para seu pai. Quando ele estava ainda longe, seu pai viu-o, ficou movido de compaixão, e, correndo, lançou-lhe os braços ao pescoço e beijou-o. O filho disse-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Porém o pai disse aos seus servos: Tirai depressa a veste mais preciosa, vesti-lha e ponde-lhe um anel no dedo e os sapatos nos pés; trazei também um vitelo gordo, matai-o, comamos e banqueteemos-nos, porque este filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi encontrado. E começaram a banquetear-se.

Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando veio e se foi aproximando de casa, ouviu a sinfonia e os coros, chamou um dos servos e perguntou-lhe que era aquilo. Este disse-lhe: Teu irmão voltou e teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o recuperou com saúde. Ele indignou-se e não queria entrar. Mas o pai saindo, começou a pedir-lhe ( que entrasse). Ele, porém, respondendo, disse a seu pai: Há tantos anos que te sirvo, nunca transgredi nenhum mandado teu e nunca me deste um cabrito para eu me banquetear com os meus amigos; mas, logo que veio este teu filho, que devorou os seus bens com meretrizes, lhe mandaste matar um novilho gordo. Mas o pai disse-lhe: Filho, tu estás sempre comigo, tudo o que é meu é teu; era, porém, justo que houvesse banquete e festa, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido e foi encontrado".


Todo pecador deve ter esta confiança na bondade do Pai do Céu, como a teve o filho pródigo. Diz Mons. Gaume: "Ei-lo que se dirige, conduzido pelo remorso, pelo arrependimento e pela esperança, para a casa de Deus. Diante dele está um tribunal sobre o qual a fé lê esta consoladora inscrição: A Misericórdia! Neste tribunal está sentado um juiz: é o vigário de caridade de Jesus Cristo, revestido com as suas entranhas de compaixão. O pecador lhe diz: Dai-me vossa benção, padre, porque pequei. Que confiança! Ele é pecador, e, porque pecador, pede bênçãos. Sim, porque aos olhos de Deus, o filho pródigo que diz: "Eu pequei", é digno de bênçãos paternais". Amém!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

FUNÇÕES DO PADRE COMO CONFESSOR: 1º - UM PAI

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Considerando que o padre ocupa o lugar de Jesus Cristo, torna-se claro que ele deve como Nosso Senhor Jesus Cristo, cumprir quatro grandes funções para com seus penitentes e  estes, por sua vez também devem ver no padre confessor 1º -um pai; 2º - um médico; 3º um mestre; 4º - um juiz (mas sabendo que no confessionário está para perdoar sempre que o penitente esteja bem disposto).
O Santo Cura d'Ars dizia que o padre é o "amor do coração de Jesus" e que quando virmos um padre devemos pensar em Jesus. Infelizmente, hoje há padres que de maneira nenhuma lembram Jesus. Mais um motivo para os fiéis terem todo apreço pelos padres fiéis à sua sublime missão, máxime no confessionário. Não podemos entender como um padre não goste de atender confissões. Pois, no confessionário, ele é pai, e como tal deve se comportar. No púlpito, as vezes, deve se mostrar bravo como leão, mas no confessionário, nunca! Deve ter sempre a bondade de um pai, deve ser um cordeiro, para melhor tirar os pecados das almas contritas.

Dizia Nosso Senhor Jesus Cristo: "Como meu Pai me enviou, eu vos envio a vós". É como se Jesus dissesse: Meu Pai me enviou para salvar as almas, Eu vos confio a mesma missão redentora.  -  Mas para salvar as almas, é preciso primeiro que tudo, amá-las, e amá-las com ternura assim como Jesus Cristo as amou.

São Paulo dizia aos primeiros fiéis: "Eu vos gerei em Jesus Cristo" (1Cor. IV, 15). O Apóstolo chama-os "seus filhinhos" e diz claramente: "O nosso coração dilatou-se e vós ai estais folgados" ( 2 Cor. VI, 11). Diz ainda que ele pensa sem cessar em todos eles: "Eu vos tenho no coração, e Deus é testemunha das muitas saudades que tenho de todos vós na terna afeição de Jesus Cristo"(Filipenses I, 7). Diz ainda: "Eu oro sempre por vós. Continuamente me lembro de vós, em todas as minhas orações" (Rom. I, 9). Na Epístola aos Gálatas IV, 19 diz: "Filhos de meu amor, sofro por vós como que as dores de parto, até que Jesus Cristo se forme em vós". E na Epístola aos Romanos XII, 15: "Misturando minhas lágrimas com as vossas lágrimas , e minhas alegrias com as vossas alegrias". Na 1ª Epístola aos Coríntios: Eu estava livre, e eis-me nas cadeias, fazendo-me escravo de todos, afim de vos ganhar todos para Jesus Cristo". Na 2ª Epístola aos Coríntios: "Daria de boa vontade tudo que tenho, dar-me-ia a mim mesmo ainda por vossas almas". Mesmo quando censura, S. Paulo se mostra um pai bondoso: "Tornei-me pois vosso inimigo por vos ter dito a verdade?" (Gál. IV, 16). Mas ele mostra o fim que o leva a mostrar a verdade, mesmo que isto desagrade a natureza humana: "Em vos suplico, em nome de Jesus Cristo, reconciliai-vos com Deus" (2 Cor. V, 20). Por isso, mais na frente vai dizer: "Eu vos amo com um amor de zelo, de um zelo como o de Deus".


Caríssimos, assim falava São Paulo, porque procurava imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo: "Sede meus imitadores como eu o sou de Jesus Cristo". E todo confessor formado como São Paulo na escola do Coração de Jesus, fará o mesmo. Amém!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O SACERDOTE É O PORTEIRO DO PARAÍSO

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

É São Próspero quem chama o confessor de "Porteiro do Paraíso". Ele pode, pois, livrar os pecadores da prisão eterna do inferno, e abrir-lhes o palácio da Jerusalém Celeste. Que honra para o sacerdote! Qual seria vossa admiração por um homem que tivesse a faculdade de limpar leprosos com poucas palavras!? Pois bem! O sacerdote opera maravilha muito maior quando pronuncia sobre um pecador bem disposto estas palavras: Ego te absolvo a peccatis tuis; pois no mesmo instante, ele torna limpa e branca como neve aquela alma, que, por seus pecados, estava imunda e enegrecida pelo piche do pecado. "A justificação de um pecador, diz Santo Agostinho, é obra mais admirável do que a criação do céu e da terra". "O Senhor, diz o cardeal Hugo, parece dizer ao padre que absolve um pecador: Por mim, criei o céu e a terra; dou-vos porém o poder de efetuar uma criação muito mais excelente. Eis aqui uma alma em estado de pecado; criai nela um coração puro, e fazei que, de escrava do demônio, se torne minha filha. Por mim, fiz a terra produzir frutos, mas vos dou um poder muito mais nobre; fazei que o pecador produza frutos de boas obras. Privado da graça santificante não é ele outra coisa senão uma árvore seca; dai-lhe a seiva da vida divina pela absolvição, e ele produzirá frutos dignos da vida eterna".

O Senhor dizia a Jó: "Tens tu como Deus um braço todo poderoso e tua voz é trovejante como a sua?" (Jó 40, 4). Ora, quem é que possui um braço semelhante ao de Deus, e que como Deus, faz ressoar a sua voz semelhante ao trovão? É o padre. Quando ele dá a absolvição, serve-se do braço e da voz de Deus para quebrar as correntes daqueles que estão na escravidão de Lúcifer, para recalcar no fundo do abismo os poderes infernais e para impor silêncio aos demônios bramando de raiva porque tem de deixar ir em liberdade as almas reconciliadas com Deus, seu legítimo senhor.

O sacerdote opera o milagre da ressurreição não de corpos mas de almas. Na verdade o confessor ressuscita tantos mortos quantas absolvições dá aos pecadores suficientemente dispostos pela atrição, pecadores que pelo pecado grave haviam morrido espiritualmente. Quando, pois, a alma está privada da vida sobrenatural da graça, é escrava do demônio que não espera senão o julgamento de Deus para a encerrar no sepulcro eterno do inferno.

Suponhamos, caríssimos, que um pecador esteja próximo a morrer; de repente, tocado por uma luz do alto, reconhece o seu estado, concentra-se, e, deplorando o mal que cometeu, pede com grandes lamentos que o arranquem das garras do leão infernal. Quem livrará esta pobre alma obsequiada pela graça da atrição? Ainda que se reúnam todos os poderosos da terra com seus exércitos, e ordenem ao demônio que abandone essa alma, o demônio não fará senão escarnecer de uma tal ordem, pois, os poderosos, reis, presidentes e generais, não têm poder senão sobre as coisas temporais. Mas aparece um sacerdote, mesmo o mais pobre e o menos digno de todos do clero; este sacerdote, só por estas palavras: Ego te absolvo a peccatis tuis, forçará o demônio a abandonar sua presa; transformará esse pecador  em justo, fará dele um predestinado.


Em verdade, caríssimos, podemos dizer com S. Próspero, que os sacerdotes são as "Portas da Cidade Eterna", e com o escritor espiritual Salviano: "Toda a nossa esperança e nossa salvação se acham nas mãos dos sacerdotes!" Aí entendemos porque São Clemente chama o padre "Deus da terra"; querendo dizer com isto que ele ocupa neste mundo o lugar de Deus. Amém!